Mais um dia comum escrita por Jotagê


Capítulo 8
Coxinhas


Notas iniciais do capítulo

Capítulo novinho e saído do forno, especialmente pra vocês! Acho que este capítulo fluiu bem fácil na hora de escrever, só que eu não fiquei satisfeito com a primeira versão e fiz vários ajustes até chegar onde eu queria. Não posso postar qualquer coisa, né?

Vou ~tentar~ postar capítulos quinzenais, mas quem sou eu na fila do SUS pra poder garantir algo nesse mundo?

Espero que gostem!



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— Lucas?! — o que eu faria, além de exclamar de surpresa? Afinal, na minha frente estava o primeiro e felizmente único, Lucas Albuquerque, usando uma camisa xadrez em tons diferentes de vermelho e mangas curtas, com uma calça jeans preta e apertada acompanhando.

Seus sapatênis vermelhos gritavam “o papai chegou”, e por algum motivo, ele estava de óculos escuros à noite. O cabelo preto e liso estava no mesmo penteado de sempre, médio dos lados e volumoso em cima. Novidade...

Parecia pronto pra dançar quadrilha, cantar em um show de sertanejo, ou me seguir e controlar minha noite. Eu o conheço bem, afinal, ele é meu ex, além de playboy-filhinho-de-papai em tempo integral. Mas agora, novas informações pra Pokédex: ele gosta de aparecer sem avisar em quase-encontros e é tão íntimo do meu crush que o chama de Jotaboy!

— Tá fazendo o que aqui? — perguntei, forçando um sorriso que não permanecia firme no meu rosto. Tentei disfarçar, lançando uma provocação pra mostrar que estava tudo bem, mas não estava. Senti minha noite e minha vida amorosa acabando ali — A diretora disse “sejam bem-viados”, não “sejam bem-enrustidos”.

— Nem vem, eu perguntei primeiro! — Lucas reclamou, ignorando a afronta, o que me fez estranhar. Ele não desperdiça uma chance de discutir. Será que começou a terapia de controle de raiva ou só está indisposto?

Seu rosto bronzeado, sem fugir da palidez natural, parecia confuso de verdade. Mas em dois segundos, ele fez o que eu rezei pra que não fizesse: jogou a merda no ventilador “Potência Turbo Máximo”. Falei cedo demais, ele estava mais do que preparado para discutir.

Nem num encontro com outro cara eu escapo do Lucas! Foi o tempo de ele fazer um facepalm, frustrado, pra levantar a voz ao me dar bronca do jeito mais infantil possível — e olha que nosso namoro era baseado em “voxinea di bebê”. Que garoto instável, parece comig--... Digo, com alguém que eu conheço.

— Eu te chamei pra vir comigo, mas você nem me ouviu e ainda me mordeu! Doeu, sabia? Na língua e no coração! — Lucas, o rei do drama de Gay of Thrones, atacou com o que faz de melhor: chantagem emocional.

— Se você perguntasse se eu queria sua língua enfiada na minha boca, isso não aconteceria! — respondi, esgotado e com o maior cinismo possível pra mostrar meu desprezo por aquele fingimento. Antigamente, eu cairia nesse joguinho, mas hoje não funciona mais.

Não sou briguento ou problemático — me chama de problemático e eu te pego na saída! —, mas o Lucas sabe puxar os outros pras brigas. Não digo que eu nunca tive culpa de nada, mas nenhum de nós facilitava. Quando terminamos, eu fugi disso, mas o estresse acumulado e o medo de arruinar tudo tomaram conta e me pressionaram a discutir.

— Você não aceitaria nem se eu insistisse! — ele argumentou, e muito mal.

— Exato! — exclamei, sem me intimidar. Levantei do banco de concreto e o Lucas se afastou, sem desmanchar a carranca. O encarei e levantei as sobrancelhas repetidamente, desafiando-o a continuar. Silêncio e tensão...

— O que foi isso? — João não esperou pra quebrar o gelo com a pergunta. Ele tentou se inteirar, desnorteado no meio de tantas informações que foram jogadas sem filtro na cara dele. Nós o ignoramos sem notar, enquanto ele assistia de camarote.

— O Tomás é meu ex. O japa delícia que eu vivo falando... — Lucas nem me deu chances de falar nada e já lançou uma bomba de verdades, que surpreendeu até a mim. Processando o novo apelido, tentei decidir se me sentia ofendido ou lisonjeado — Aquele cara que eu beijei, hoje.

— Coreano-brasileiro, Lucas! Não é difícil! — eu o corrigi, cotovelando seu braço. Talvez eu estivesse mesmo ofendido, ou só quisesse descontar minha raiva e frustração em ter sido desmascarado. De qualquer maneira, as verdades estavam na mesa.

...

João respirou fundo, fingiu que nada havia acontecido e pediu um minuto pro Lúcifer. Ele o despistou dizendo que íamos comprar coxinhas e me levou ao banheiro masculino da escola, que não estava movimentado. Afinal, quem desconfiaria de coxinhas?

— Então você é o “japa delícia”? — João perguntou, andando de um lado pro outro, ainda tentando entender a situação, ou talvez sem querer entender. Não posso culpa-lo, nem eu tive tempo de me acostumar com o apelido — Que sorte eu tenho, eu conheço um cara legal e ele acaba sendo o ex do meu melhor amigo!

— Isso é racista e ofensivo! — reclamei, deixando claro como fiquei ofendido. Se esse apelido pegar, já estou pronto pra fazer uma coreografia completa de k-pop na cara do Lucas — Em minha defesa, o Lucas foi um namorado tão ruim que eu nem considero um relacionamento.

— Olha, eu sei que nós não temos nada... — ele suspirou, ao parar de andar de lá pra cá até ficar na minha frente, e prosseguiu — Mas eu quero que você seja honesto. Sua honestidade foi uma das coisas que mais chamou minha atenção.

Aquilo me lembrou dos problemas que tive sendo honesto. Mas também, os problemas maiores que tive ao mentir e esconder. Estraguei o terno do meu pai, tive uma discussão besta com o Lucas e coloquei tudo a perder com o Jota. Se eu quebro a cara de qualquer jeito, por que não do jeito certo?

— Eu não sou descolado, sou um Harry Potter genérico! Mas você é engraçado e autêntico, eu surtei só de pensar que você estava afim de mim — ele riu de leve e colocou a mão em meu ombro, ao jogar as verdades na mesa — Eu usei coragem que nem sabia que tinha pra falar contigo. Sabe, você vacila e eu também, mas isso pode ir pra frente se tiver honestidade.

— Você aprendeu muito em três dias, hein? Três dias que pareceram três meses, aliás. O que é isso, uma long-fic eterna? — tentei aliviar a tensão com algo que eu conheço bem: piadinha ruim de fanfic.

Pareceu funcionar, já que eu o fiz abrir aquele sorriso lindo e relaxante mais uma vez, e senti a vontade de continuar fazendo isso dali em diante. Só posso agradecer às várias fanfics de Sterek que eu li, por me guiarem no caminho do fandom e me ajudarem neste momento! Amém, Teen Wolf!

Pra ser sincero, eu nunca vi a situação tão claramente, não notei como somos tão parecidos e tão diferentes até nos conhecermos melhor. Eu não conhecia aquele João Tadeu inseguro e vulnerável, tão próximo do que eu sou acostumado a viver. Mas eu estava feliz em conhecer, em saber que ele confia em mim e que quer algo pra nós dois.

— Olha, João — um pouco acanhado, eu quebrei o clima de risos e aproveitei a onda de honestidade pra tentar me explicar. Se eu deixasse o assunto para depois, talvez tudo se complicasse ainda mais — Sobre o beijo, eu...

— Você não queria, eu sei — ele me interrompeu, surpreendendo, antes que eu pudesse falar qualquer coisa. Espera, agora tenho a Laisa e o João fazendo seus paranauês paranormais na minha vida? — O Lucas me contou detalhes bem gráficos. Gráficos demais. Eu notei de cara que o japa delícia não estava muito afim, mas como eu coloco juízo naquela cabecinha?

— Deve ser fácil, é uma cabeça oca mesmo — debochei, com uma risada longa e exagerada. Talvez eu tenha grunhido sem perceber, mas parei aos poucos ao notar que ele não achava tanta graça. Esqueci que eles são melhores amigos... Mudança de assunto de emergência, já! — Falando no Lucas, eu preciso dizer uma coisa.

— Eu também... — ele concordou, e me deixou imaginando se havíamos pensado na mesma coisa. Mas antes de surgir qualquer suspense ou discussão sobre quem falaria primeiro, fomos direto ao ponto de uma só vez.

— É melhor não contar pra ele sobre nós!

— Socorro, percebe a conexão? — exclamei, animado de um jeito que ele talvez não entendesse. No instinto, levantei a mão esperando um “toca aqui”, como a Laisa e eu costumamos fazer desde sempre quando pensamos igual. Pra minha surpresa, ele retribuiu o highfive e gargalhou com animação, o que me deixou uma pulga atrás da orelha — Espera, você quer que eu seja honesto e minta pro Lucas?

— ...É? — João hesitou por um segundo ao responder, como se duvidasse de si e do que estava fazendo. Depois de uma pausa curta pra pensar, ele se reafirmou com mais certeza — É! O Lucas é como meu irmão, eu não quero magoar ele...

— Tô dentro! — nem deixei minha mente processar a proposta pra concordar, apesar de o esquema não parecer ter tanto sentido. Mas quem sou eu pra contestar? — É divertido brincar com a masculinidade frágil do Lucas... Mas se ele sente algo por mim, como diz, eu não quero machucar o coração do coitado. Ainda somos amigos, eu acho.

— Chamando doutor Hans Chucrutes, esperando na sala 42! — ouvi chamar a mesma voz feminina e anasalada de antes pelas caixas de som, que alcançavam o prédio inteiro, mesmo de longe. Escutei algo batendo com força no chão, lá fora, como se alguém corresse de sapatos ou tênis, não identifiquei. Tudo parecia familiar, mas não tive muito tempo pra pensar antes de ela continuar, nervosa — Ai, essas tecnologias complicadas! As apresentações começam em dois minutos e os participantes devem ir ao camarim!

João e eu apertamos as mãos, selando com cumplicidade o nosso plano Feito pra Ajudar o Lucas a Superar o Sofrimento™ — F.A.L.S.O.S.™, pra encurtar. Não demorou até encontrarmos o Lucas vagando pelo jardim da escola enquanto esperava por nós, e fomos até ele, pra entrarmos juntos.

— Ué, cadê as coxinhas que vocês foram comprar?

 


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Notas finais do capítulo

"Ué, porque você saiu do país, mudou de identidade, fez dez plásticas no rosto e voltou depois de cinco anos se chamando Hector de la Santidad?"
"É... Fui comprar coxinha!"

Se quiserem deixar um comentário ou review, estou aberto a críticas e opiniões! Respondo com carinho cada comentário que recebo! Até o próximo capítulo! Kisu ~



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