Mais um dia comum escrita por Jotagê


Capítulo 3
Conto de fadas


Notas iniciais do capítulo

Demorou um pouco, mas saiu. Agora temos uma capa linda feita pela Prince's Design, muuuito obrigado. ♥

E agradeço a vocês que leem, pelo apoio e boa recepção que estão dando à história. Isso me incentiva bastante a continuar escrevendo as desventuras vergonhosas do Tomás.

Só pra situar, esse capítulo acontece na manhã seguinte ao capítulo anterior. Pelo visto, o tempo passa muito devagar no universo das fanfics!

Espero que gostem desse capítulo tanto quanto gostei de escrevê-lo. ♥



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Com o Sol invadindo a janela do quarto e tocando meu rosto, eu acordei para mais um dia, mais cedo do que de costume. Sentei na cama e me espreguicei bem, ainda com as roupas da noite anterior. Por fim, levantei animado e saí cantando — com os pássaros na goiabeira do quintal como backing vocal —, enquanto me sentia a Branca de Neve de olhos puxados e bermuda de moletom. Tudo com um sorriso iluminado que, apesar de precisar urgente de uma escovação, não sumia de jeito nenhum.

Fui ao banheiro e fiz minha higiene pessoal. Descobri que é mais fácil escovar os dentes com um sorriso no rosto, e tudo parecia musical, principalmente o banho. Após vestir um conjunto básico — camiseta vermelha com mangas longas, jeans preto e All Star vermelho —, chequei o cabelo pra certificar que estava bem espetado, e enfim, pronto.

Enquanto eu descia as escadas, minha avó, sentada no sofá, avistou meu sorriso e fez questão de lançar seu comentário maldoso, com uma leve pausa entre as frases para saborear a salada de frutas que ela segurava nas mãos.

— O que há com você? Um sorriso assim não cai bem pra um homem, se você é um. Se fosse no meu tempo, lá na Coreia...

Claro, não seria uma manhã normal sem uma provocação da vovó. Ela nunca perde uma oportunidade de ser rigorosa e zoeira — tão zoeira que parece brasileira, não coreana. Um ponto importante: ela entende português, mas só fala coreano, e só me responde se eu chama-la de halmoni. Mas eu escolhi não ceder a isso naquela manhã, e retruquei ao descer as escadas dançando:

— Eu tô aceso, ! — e era verdade. Após minha conversa com a Laisa, eu me sentia no topo do mundo. Feliz, independente, e disposto a aproveitar essa sensação mesmo que só durasse um dia.

Procurei ao redor e notei que meus pais já haviam saído pro trabalho, mas deixaram um bilhete na geladeira que dizia:

“Tom, seu lanche está na sacola da papel em cima da mesa! Papai e mamãe te amam muito, mas sua mesada ainda está cortada! Bjs, tenha um bom dia!”

Que fofos. Guardei meu lanche, peguei uma maçã da fruteira, segurei a mochila contra o peito e saí andando. Minha avó voltou sua atenção à TV com a cara fechada por ter sido desafiada, ao menos ela não soltou os xingamentos coreanos.

Como eu ainda tinha bastante tempo até precisar pegar o metrô, decidi passar na casa da Laisa. Fui muito bem recebido por sua mãe, que me mandou ao andar de cima onde a Laisa descansava no quarto. Bati na porta e ouvi um demônio de voz rasgada me dizendo para entrar.

Com cuidado e medo pra caralho, eu abri a porta e encontrei minha amiga sentada na cama, enrolada em seu edredom roxo com apenas o rosto descoberto. Ela estava focada em assistir Orange is the New Black — reconheci na hora as vozes da TV —, mas pausou a Netflix quando me viu.

— Tom! — animada, Laisa gritou com esforço, jogando o edredom pra trás e revelando sua camisola bege com estampa de morangos, que chegava acima dos joelhos e deixava à mostra sua pele escura. Seu cabelo castanho estava preso em um coque alto e desajeitado, com os fios da nuca soltos.

— Jesus, que voz é essa? — perguntei, assustado ao descobrir que a voz de Gremlin vinha dela. Olhei para a televisão, onde um episódio de Orange is the New Black estava pausado em uma cena de pegação entre Piper e Alex — Pensei que você estava assistindo um ritual satânico... Mas parece que é só um ritual de velcro, mesmo.

— Bestão! — ela me atirou um travesseiro que por pouco eu não consegui segurar enquanto nós dois ríamos, até ela começar a tossir com força — Eu tô com a garganta inflamada, mano. Essa dengue me pegou de jeito mesmo...

— Ai meu Deus, como assim? Você tá bem? — eu corri e sentei ao seu lado na cama.

Preocupado, coloquei em prática o que aprendi com o que vi de Grey’s Anatomy, até desistir da série. Quase enfiei minha cabeça em sua boca como um domador de leões e coloquei a mão na sua testa, sem nem lembrar pra que isso servia. Ela se afastou pra recuperar seu espaço pessoal, tirando minha mão da sua testa, e disse:

— Não se preocupa, eu tô melhorando. Eu só prefiro ficar de cama vendo Netflix mesmo, mas acho que volto pra escola já na quinta-feira...

— Desculpa por não ter aparecido aqui esses dias. — lamentei, segurando sua mão de uma maneira tão dramática e exagerada que parecia uma fanfic de drama onde aquela cena seria nosso último dia juntos — É difícil me acostumar com essa nova rotina.

— A gente se fala pelo WhatsApp o dia inteiro, não tem como você estar mais presente! — Laisa disse, gargalhando, e me deu um abraço que eu logo retribuí — Agora sai daqui, você tem que ir pra escola e eu quero atualizar minhas séries em paz!

— Ingrata! Quando der, eu te trago um xarope pra essa voz de Gremlin! — eu me levantei aos risos, e corri em direção à porta... E lá vinha outro travesseiro voando em minha direção.

~~~~~~~~~~~~+~~~~~~~~~~~~

Partindo da casa da Laisa, uma caminhada de mais ou menos dez minutos me levou à estação de metrô. Lá, eu me sentei em um dos bancos próximos à parede e esperei chegar. Mesmo com a demora de uns vinte minutos do metrô, talvez eu chegasse na escola tão cedo quanto ontem — sem quase ninguém na minha sala, quando eu entrei.

Sem muita paciência e dominado pelo tédio, peguei o celular do bolso e entrei na internet pra me atualizar nas fanfics... Mano, eu não acredito que o Ethan fez isso! Caham, depois de ler e reler todos os capítulos das histórias que acompanho, eu ouvi o metrô se aproximando.

Guardei o celular e segurei a minha mochila, enquanto levantava indo em direção à porta do metrô, notando que os lugares não encheram muito, pois as poucas pessoas daquele horário se separaram entre os vagões. Segui caminhando até avistar de relance... O desconhecido de ontem?

O vi entrando em um dos vagões ao lado, e na mesma hora, tocou o som avisando que as portas iriam se fechar. Banquei o Barry Allen até o outro vagão, e me atirei pra dentro o mais rápido que pude. Por alguns segundos, senti como se o mundo a minha volta estivesse em câmera lenta, eu estava flutuando com a maior leveza do mundo e a doce brisa passava gentilmente sob meus braços...

Aí eu dei de cara no chão, enquanto as portas se fechavam de vez.

Crianças, não tentem isso em casa. É, casas comuns não têm portas que fecham sozinhas onde você precisa se atirar pra dentro, correndo atrás de um cara desconhecido que você tentou fotografar e então te deu mole... Mas sério, não tentem!

Estirado no piso do metrô, eu vi algumas pessoas se aglomerarem ao meu redor para tentar ajudar. O desconhecido era uma dessas pessoas, mas quando nossos olhares se encontraram, a preocupação em seu rosto se transformou em incômodo, o que o fez dar as costas e voltar para seu assento... Será que eu fiz algo de errado?

Com a ajuda de uma senhora com força impressionante, levantei e bati de leve nas roupas e no rosto pra limpar a poeira, que talvez eu tenha engolido. Ainda com o rosto doído, senti o trem sair do lugar, e eu cairia outra vez, se não segurasse na barra do metrô — mas tá difícil segurar essa barra.

Indo em direção à idosa, notei sua saia azul-clara cobrindo os joelhos e a camisa social de mangas médias de mesma cor. Seu cabelo crespo e grisalho destacava o rosto negro e enrugado. Algo nela parecia familiar, mas eu ignorei e me joguei no assento ao seu lado. Eu só queria relaxar.

Parecia claro que o crush não queria saber de mim, mesmo que eu tenha me atirado no chão por ele. Tentando tirá-lo da cabeça, pensei em puxar assunto com a senhora ao meu lado e agradecê-la, mas fui interrompido antes de poder falar qualquer coisa.

— Não vai falar com ele? Vocês são meu OTP, não pode acabar assim! — ela me encarou e reclamou, aflita. Quando ela completou a frase, enfim reconheci quem era a figura: a velha do k-pop que eu encontrei ontem, só podia ser.

— É complicado, senhora. — já que eu estava no território dela e sem escapatória, decidi seguir o fluxo — Acho que a senhora não shippou o casal canon, dessa vez.

Decepcionada, ela mudou a visão pro moço, e eu a acompanhei olhando pra ele também, mesmo querendo ignorá-lo como ele parecia fazer comigo. Com fones de ouvido ao lado, aquele rosto lindo parecia chateado. Eu só conseguia prestar atenção na bermuda verde se agarrando nas suas coxas, e na camiseta preta tão fofa, com um Pikachu na frente! Tudo só aumentava minha vontade de saber seu o nome em vez de chama-lo de “desconhecido” ou “cara do metrô”... Espera, foco, Tomás!

— Eu não posso obrigar você a nada, sabe... — disse a senhora ao meu lado, em uma voz baixa e suave como um sussurro, me tirando de vez do transe — Mas uma boa conversa resolve muita coisa. Eu boto fé em você, eu boto fé em vocês dois.

— ...Valeu, dona. Um bom dia pra senhora na igreja, aliás.

— Ah, eu não vou pra igreja. Estou arrumada assim pra um evento de animes.

O que aquela moça falou acendeu algo dentro de mim outra vez. Não sobre o evento de animes — que parecia bem interessante, mas não é o caso —, mas sim sobre o simples conselho que ela deu sobre conversar, e sobre como ela acredita em mim.

De algum lugar, me surgiu coragem pra tomar atitude e resolver as coisas. Eu só precisava unir a coragem e a confiança que ganhei, e foi o que fiz. Levantei do banco de súbito, e com a mochila em minhas mãos, fui em direção ao que eu queria, determinado a fazer acontecer. Vi o moreno guardando os fones, e sabia que essa era a minha deixa.

— Oi! — surgindo do nada, eu sentei ao seu lado e o cumprimentei com animação, ao que ele logo respondeu com frieza.

— Oi.


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Notas finais do capítulo

"Continua no próximo capítulo..."

Sim, eu terminei o capítulo com um cliffhanger pra atiçar a ansiedade, porque sou do mal, MUAHAHAHA! Mas agora eu parei de enrolar a história, juro.

Se puderem, deixem um comentário ou review, eu estou aberto a críticas, dicas e opiniões, podem mandar! Espero que tenham gostado, até o próximo capítulo!

Kisu ~



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