O Conde escrita por Manta do Deserto


Capítulo 15
Capítulo 15


Notas iniciais do capítulo

Oi gente!! Tenho até vergonha de dar as caras por aqui depois de tanto tempo que sumi e não postei. Sei que vocês querem me matar! >_
Não tenho como dar uma explicação boa para isso. Faculdade. Família. Trabalho. Falta de inspiração, tudo isso tem influenciado no atraso, era pro cap ter saído há mais tempo, mas enfim... não consegui, peço que me desculpem! >_< Não posso prometer que conseguirei postar mais nas próximas semanas, sinto muito T-T
Bom... façam uma boa leitura! Espero que o cap esteja grande e bom o suficiente para servir como um pedido de desculpas! *o*

PS: POR FAVOR LEIAM AS NOTAS FINAIS! CONTEM UMA EXPLICAÇÃO A RESPEITO DO PRÓXIMO CAPITULO!



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Dedico este capítulo a Mesquita-san que viveu perguntando (em off) quando ia sair o novo capítulo


E também a Miss D, a única leitora que depois de todo esse tempo sem ver atualizações, me enviou uma MP e incentivou a postagem do novo capítulo

Acho que vocês fizeram a diferença! Muito Obrigada!






Sakura POV







Hmmm... o resmungo já era o oitavo que eu dava por conta da incrível dor de cabeça que eu estava sentindo desde que acordei para descer para o desjejum, o que nem fazia tanto tempo assim. Eu e TenTen acordamos atrasadas e nem fazíamos ideia de onde Shion estava. Naquela manhã tomamos banho juntas na tina para economizar tempo e trabalho de ter que buscar mais água.


TenTen parecia um pouco melhor que noite passada, embora ainda não parecesse com a morena com quem cresci. Ela parecia chateada, mais frágil, magoada. Com certeza também não estava em condições de falar a respeito, mas eu não a forçaria; para tudo se tem um bom motivo, quando achasse o momento certo ela havia de me contar o que aconteceu e eu só rezava para que não fosse nada grave de mais. Afinal, cansada e com fome como eu estava a única coisa que eu menos precisava era de uma amiga com o humor fora do normal me dando motivos para dar-lhe puxões de orelha como se ela fosse uma criança.

Enquanto ela passava o sabão no rosto, lhe espirrei água, provavelmente também molhando o chão, mas isso não importava muito. Ela reclamou que a água entrou nos olhos e nariz, que estes arderam e que iria me matar. Foi quase isso que fez. Primeiro também espirrou água em mim, eu fechei os olhos, claro, e tudo não passaria de uma brincadeira infantil, isso se a tina não fosse tão pequena. Quando Ten se mexeu bruscamente para se levantar, acabou acertando a minha testa. Eu já tinha até esquecido que aquele corte existia até senti-lo doer.

O pior mesmo foi quando TenTen notou que o corte sangrou um pouco, formando um ponto vermelho no pano que impedia que ficasse exposto, e tentou tirá-lo para ver como estava. Quando o pano foi puxado eu tive certeza que o sangue seco da ferida tinha grudado no curativo improvisado. Doeu, foi suportável, mas incomodo mesmo assim. A impressão que eu tive foi que o corte teria aberto mais um pouco, mas acho que foi só impressão.

–-Pela sua cara isso não está muito bom – disse sem ao menos conseguir encostar na ferida com a ponta do dedo.

–-Como você conseguiu isso aqui? Parece que depois do corte jogaram pimenta em cima – respondeu. Ela quis dar um pouco de humor à frase, estava curiosa sobre como eu havia conseguiu o corte. Não deve estar nada bom...

–-Vou sobreviver? – quis seguir a brincadeira.

–-Vai. Dependendo de quantos pontos da agulha você vai conseguir suportar – ela riu, seu humor havia melhorado, graças aos Céus, e eu tinha certeza que foi por causa da careta que eu fiz. Rir à custa da desgraça da melhor amiga, TenTen nunca ia mudar.

E agora cá estamos nós duas quase correndo pelo corredor dos criados para tentar ainda comer alguma coisa. Se é que ainda há alguma comida. Aqueles homens, os cavalariços e os trabalhadores braçais comem como animais! Ainda assim alguns deles eram uma visão de masculinidade que não havia como não reparar. Céus, estou conversando muito com Ino...

Escutei um suspiro e logo reparei que havia sido meu. Sendo sincera, não sei se foi por causa dos meus pensamentos com os cavalariços ou se por causa, novamente, da dor de cabeça que eu estava sentindo e que teimava em me lembrar de que eu estava prestes a ter minha pele costurada. Os pelos da minha nuca se arrepiaram ao pensamento.

–-Pensei que tinham desistido de comer – disse Guren assim que entramos na ala da cozinha.

Ainda haviam alguns criados por lá. Kiba e Ino estavam se digladiando e mal vi Gaara quando ele saiu da cozinha pela porta dos fundos e... é impressão minha ou assim que TenTen viu Ino aquela aura negra do início da manhã tinha voltado?

–- Aqui – Guren tinha voltado com pão e queijo e uma caneca com leite quentinho - achei melhor guardar por precaução para os que perdessem a hora e... Sakura o que foi esse corte? Você está pálida.

–-Humm... – foi só o que consegui responder.

Se eu já estava tonta e pálida provavelmente era por causa dos pensamentos com a agulha naquela ferida. Tenho certeza que era possível curá-la sem precisar usar aquele objeto pontudo e minúsculo. Eu poderia me acostumar com o corte, talvez. Pelo menos Tsunade não está aqui... TenTen devia ter se descoberto um pouco sádica; percebi depois que ela fingia que ia me bater e depois dava risinhos irritantes.

Voltei a atenção para o meu café da manhã, ainda tínhamos que trabalhar afinal. Mal posso esperar para que esses nobres vão embora logo, só assim para podermos visitar aquele velho do Jiraiya. Uma mordida no queijo e dois goles no leite foi o suficiente para me distrair da porta da cozinha. Lembro vagamente de ter escutado uma conversa paralela enquanto tentava arrancar de TenTen o motivo daquela aura estranha quanto viu Ino, mas ela se calava; outro motivo para eu desconfiar da situação.

Quando dei por mim, Tsunade me virou pelo ombro e segurou meu queixo, dando uma boa olhada em minha testa. Agora na cozinha estavam apenas os ajudantes de Guren, que estava ao lado da governanta do castelo segurando uma garrafa com liquido amarelo e outra com liquido quase transparente. Kiba também estava lá, um pouco atrás da cozinheira, com uma caixinha com linhas e agulhas. Ai, Céus! Céus!

–-Guren, - Tsunade olhou a cozinheira - misture um pouco das ervas que estão no pote ali em cima com água morna. Traga um pano fino também – e voltou o olhar para mim –. Não está ruim, mas vamos limpar isso direito, por menor que seja pode infeccionar cedo ou tarde – Eu fiz careta; estava me sentindo uma criança tola.

Kiba sentou no meu lado e deu um assobio como se quisesse chamar atenção. Olhei de canto para ele, pouco interessada no que ele fosse falar. Eu só queria sair dali.

–-Se meteu em briga com quem? – ele debochou.

–-Tsc... - Não preciso esconder nada deles, não é? Afinal até Tsunade havia dito para eu ter cuidado com aquela ruiva nobre Com a mesma pessoa que fez Ino desmaiar...

Não vi direito, mas tive quase certeza de que o sorriso de Kiba sumiu quando ele olhou para Tsunade. A irritação de TenTen era quase palpável, ela devia ainda estar achando que eu teria batido a cabeça em algum lugar; iria querer saber o que realmente aconteceu mais tarde, mas eu não diria nada até que ela me conta-se algumas coisas. Depois que eu disse o motivo do corte Tsunade também ficou com cara de poucos amigos. O clima havia ficado um pouco estranho naquela cozinha...

Guren voltou com a mistura num potinho e o pano que a governanta pediu.

–-Sasuke tem que saber disso – disse Kiba se levantando e indo para a porta.

–-Melhor ficar quieto Kiba, por favor! Não quero mais problemas, mesmo querendo revidar – respondo rápido. O conde pode ter dito que tratava seus criados como se fossem da família, mas a ruiva era a noiva dele afinal... Olhei para Tsunade, ela continuava séria. Isso é normal vindo dela?

–-Mas...

–-Sakura tem razão Kiba, por mais que me doa admitir, fique quieto por aqui. Sasuke ao que parece continua sendo o mesmo bobo apaixonado e lady Karin, pelo visto, continua sendo noiva dele. De nada vai adiantar falar com Sasuke se ele fechar os olhos e os ouvidos sobre tudo o que dissermos a respeito daquela menina – disse Tsunade pondo fim ao assunto. Kiba se calou e voltou para o lado dela muito a contragosto pelo que pude perceber.

Tsunade limpou a ferida enquanto eu me distrai com a conversa que se seguiu. Ainda ardia um pouco, mas era uma dor suportável. Por um momento suspirei aliviada quando ela se afastou, graças ao Todo Poderoso! Não vai ser preciso fechar nada, ou pelo menos era o que eu pensava até que meus olhos acompanhassem Tsunade e vissem que ela mexia na caixinha que estava com Kiba minutos a trás.

–-Tsu-Tsunade... Tsunade isso é mesmo necessário? – acho que meu sangue sumiu do meu rosto, pois Kiba fez questão de me segurar sentada. Estava à beira do pânico!

–-Sim se você não quiser que fique pior. Já disse: é um corte pequeno e aparentemente inofensivo, mas pode infeccionar se ficar aberto – respondeu a governanta calma, enquanto tentava por a linha no buraco da agulha. Céus! Céus!

–-Sakura – TenTen me chamou e pôs a mão no meu ombro, me estendendo a garrafa com liquido transparente – se controla. Vai ficar tudo bem. Ela não vai te machucar – ela disse baixinho. Queria me acalmar, mas não surtiu efeito.

Prontamente tirei a garrafa das mãos de TenTen e bebi um longo gole, sem parar para respirar e só quando tirei a garrafa da boca foi que olhei para Ten e lembrei que ela, apesar de me torturar falando da costura mais cedo, também tinha péssimas lembranças de objetos pontudos; ao menos o suficiente para tentar me manter calma. Tsunade estava estranhando o meu comportamento, assustada como da primeira vez que vi o conde, ainda mais depois que bebi todo o conteúdo alcoólico em poucos segundos. Eu nunca fui forte para bebidas, engoli rápido de mais e o álcool não tardou a fazer efeito, eu já estava tonta.

–-Sakura não vai doer, prometo – disse Tsunade se aproximando e eu me inclinei um pouco sobre a mesa, pondo a garrafa com liquido amarelo entre nós duas. A governanta deu um suspiro e tentou me explicar – As ervas que passei depois de limpar o corte vão anestesiá-lo. Você não vai sentir coisa alguma – Mas para mim não é o suficiente!

–-Prefiro... prefiro não arriscar! – e derramei parte do liquido no corte para depois beber o que restou com a mesma velocidade que bebi o anterior.

TenTen só acompanhou com o olhar quando Kiba e Tsunade tentaram me segurar para tirar a garrafa das minhas mãos; nesse momento me levantei muito rápido e quase caio, álcool parecia só estar esperando que eu me levanta-se para se manifestar. Me mantive em pé com um pouco de dificuldade até conseguir beber o restinho na garrafa, mas ainda precisava de mais até minha mente e meu corpo esquecerem momentaneamente a época em que vivi numa casa para crianças órfãs.

Tsunade fazia aquilo para meu bem, eu sabia, mas meu corpo teimava em lembrar dos furos e costuras feitos a sangue frio como uma forma de castigar as crianças mais travessas. Crianças como eu e Tenten... até as que não faziam nada pagavam pelos erros das outras.

Meus olhos procuraram avidamente outra coisa para beber, embora dessa vez a tontura tenha tirado a força das minhas pernas e Tsunade e Kiba tenham me segurado e me deitado no banco longo da mesa de refeições. O álcool não me deixava distinguir muita coisa agora, estava tonta, meio desorientada, aquelas bebidas eram realmente muito fortes.

Senti alguém sentando de modo que as coxas pudessem deixar minha cabeça imóvel. Percebi depois a sombra loira de Tsunade se abaixar um pouco sobre mim, mas o pequeno brilho daquela agulha se destacou. Num clamor involuntário sussurrei o nome de TenTen e ela tentou me acalmar, mas eu mal escutei o que ela disse. Minha mente estava focada num dia em que costuraram uma ferida minha com uma agulha um pouco maior que a que Tsunade usava, o problema maior foi que a ponta até a metade daquele objeto pontudo tinha acabado de sair do fogo, a ponta estava de um vermelho vibrante. Deram os pontos a sangue frio de uma maneira bem lenta e costuraram tão mal que me rendeu uma cicatriz escura e tufada no quadril. Era apenas uma das coisas ruins que aconteciam com os órfãos.

Eu devo ter começado a lagrimar com a lembrança e escutei TenTen me acalentar, com as coxas ao redor da minha cabeça agora mais frouxas. Já acabou, já acabou. Pronto, ela me dizia, mas me senti fraca, tonta, sem forças até para levantar a cabeça, sem conseguir distinguir muita coisa ao redor. O que inferno tinha naquelas bebidas? Como Tsunade havia dito, eu não senti nada, se por causa da bebida ou das ervas que ela passou no corte, eu não tinha certeza. Pergunto quantos cortes ela já havia tratado para ser tão rápida e indolor.

–-Consegue sentar? – Tsunade me perguntou e a algum custo consegui me mover o suficiente para dar a entender que queria sentar. Ten e Kiba me ajudaram e me seguraram para que eu ficasse parada e não caísse do banco – É nisso que dá beber álcool para mistura de tempero de carne – ela frisou a parte do tempero. Estava explicado o meu estado de torpor. Até onde eu sabia, tempero de carne com álcool precisava ser bem mais forte que o normal para que o álcool, que dava um gostinho na carne, não fosse perdido ao ser fervido com a comida.

Tsunade fez um chá, atrapalhando Guren na cozinha até que ela reclamasse, e me fez bebe-lo. Disse que ajudaria a por para fora a bebida e a não me sentir mal mais tarde quando o torpor passasse. Foi quando eu estava bebendo o chá, sendo apoiada por três pessoas para continuar sentada, que uma pessoa, um tanto quando inesperada na cozinha entrou. O Sol ainda estava meio escondido, nobres nunca acordavam tão cedo, não quando tinham dezenas de servos para fazer o trabalho matinal. Ainda assim, a voz do conde se fez presente na cozinha. Pelo pouco que eu escutei, se é que escutei direito, ele pareceu uma criança entrando com toda a energia e dizendo que queria ovos no dejejum.

–-E o café da manhã ainda vai demorar a ser servido, não aguento! – Guren gargalhou e Tsunade soltou um riso do meu lado. Foi quando o conde pareceu notar meu estado e se ajoelhou na minha frente. O chá estava muito quente, mas consegui dar o último gole – O que foi que aconteceu? – ele perguntou preocupado. Acho que estava olhando do meu corte para Tsunade – Quem fez isso com ela? – ele adotou um tom de quem iria punir alguém da maneira mais péssima possível.

Eu acho que já estava em condições de me sustentar sozinha, eles me soltaram e Tsunade tratou de inventar uma desculpa que eu não tenho ideia de qual foi; estava muito ocupada reparando nas expressões do conde. Nem eu nem TenTen éramos de passar as tardes a aprender o nome dos nobres, no geral eles tinham nomes longos e complicados, mas esse conde era diferente: Sasuke Uchiha. É um nome bonito e soa forte, combina com ele. Mas o que eu estou pensando?! Pisco algumas vezes tentando afastar esses pensamentos, mas da feita que Sasuke volta a me analisar e toca próximo ao meu corte eu passo a reparar em outras coisas. Não sei com que cara eu estou, mas deve ser uma engraçada para ele estar dando um sorriso divertido, ele fala alguma coisa não sei para quem e eu só consigo prestar bem atenção na boca dele se mexendo.

Sasuke estava com a máscara habitual, talvez ele achasse que assim ele ficava menos assustador, podia até ser, mas agora a única coisa que importava era aquele toque quente e carinhoso na minha cabeça, um afago; era aqueles lábios se movendo... Céus! Se era influencia dos conselhos de Jiraiya, das conversas com Ino, da bebida para tempero, não sei! Não sei! Só sei que se eu dormir e acordar, certamente não irei me lembrar do beijo que acabei de dar em Sasuke. Com uma das mãos segurei seu maxilar e o puxei para mim. Sim, beijei-o. E não foi um mero roçar de lábios, acho que de algum lugar eu também tirei forças, imaginação, ou seja lá o que for, para pressionar minha língua nos lábios dele.

Ele devia estar surpreso, não retribuía, nem tentava me afastar. Estava estático. Foi como se tudo estivesse em um silencio repentino por alguns segundos até que ouvi alguém arfar de susto, como se tivesse se dado conta do que estava acontecendo. Senti-me ser puxada e Sasuke caiu sentado no chão. Tenho certeza que estava com um sorriso bobo e dessa vez eu tenho certeza que foi por causa da bebida E do beijo. No estado em que eu estava acho que poderia facilmente rir da cara que o conde estava fazendo e da cara de todos a minha volta, mas então um formigamento no meu estômago começou e parecia que tinha algo preso nele e que precisa sair. E foi o que aconteceu.

O chá que Tsunade me deu realmente funcionou, e rápido. Tudo o que eu havia comido e bebido minutos antes foi cuspido para fora e Sasuke se levantou bem na hora. Lá estava eu perdendo as forças de novo, enquanto um me segurava sentada e outro segurava meu cabelo para trás. O que aconteceu depois? Acho que senti água descer pela minha boca, ouvi pessoas falando rápido, minha vista começou a embaçar e escurecer e depois... bem, acho que caí no sono.



Mikoto POV




Não era muito apropriado uma anfitriã ainda estar na cama muito depois do sol ter nascido. Havia coisas a fazer para que os servos ficassem organizados e não passassem por alguma situação humilhante. Graças aos Céus, Tsunade existe para tomar as rédeas enquanto eu nãoestou por perto. E por falar em humilhação, ainda existe um problema que eu tenho que resolver eu mesma. Por isso assim que estava pronta para sair do quarto tomei o rumo do corredor que me levaria até o salão principal, já pensando em como abordar a situação sem discutir, afinal, o que menos precisava era outro escândalo como o que meu filho fez ao encontrar o tio.


O barulho no grande salão era audível, denunciando que eu estava demasiado atrasada. O almoço já devia estar sendo servido e os músicos que acompanhavam minha família a tempos tentavam tocar algo de acordo com a ocasião, não muito rápido, nem muito lento, algo que pudesse dar um toque a mais nas conversas e cochichos nas mesas longas e não tornar a refeição entediante. Por Deus, onde eu estava com a cabeça ao ter convidados eles para cá?Passar a temporada aqui, sem Sasuke querer realmente, só esta me trazendo problemas.

–-Condessa! – era Gaara correndo pelas escadas até me encontrar no topo. Ele fez uma breve reverencia, por mais que eu dissesse e dissesse que não era necessário. Ele sempre seria formal – Boas notícias! Talvez as coisas se animem por aqui – ele deu um dos seus raros sorrisos, eu fiquei surpresa, a noticia realmente devia ser boa.

–-Diga, sou toda ouvidos – respondi interessada e retribuindo o sorriso.

–-Minha irmã vai chegar ao fim da tarde, pode ajudar a entreter os convidados – ele disse com uma animação que estranha para a pessoa dele. Mas como a irmã dele poderia ajudar? Sozinha?!Não, não, não! Franzi a testa confusa e cruzei os braços esperando uma explicação melhor.

O ruivo percebeu o que eu havia entendido quando disse que a irmã poderia entreter os convidados e tratou de se corrigir. Vê-lo sem jeito era até uma graça. Ele tratou se de expressar melhor.

–-Minha irmã é casada com um cigano, condessa. O grupo deles está viajando pelas proximidades então tomei a liberdade de escrever a ela e pedir por uma apresentação. Temari disse que adoraria mostrar como se dança de verdade – ele deu um riso contido.

Não era novidade que muitos servos não gostavam dos nobres, não por motivos de dinheiro e status, mas por causa da arrogância dos mais ricos, e pela expressão do rapaz eu podia jurar que se pudesse ele esfregaria muita coisa na cara e no orgulho dos nobres. Talvez a arte de dançar fosse uma delas. Olhei discretamente para o salão abaixo; de noite haveria um baile e eu já podia imaginar os casais nobres com seus passos de dança decorados e bem sincronizados e os narizes empinados enquanto os criados dançavam espontaneamente, com passos exagerados e cantando. Isso era uma coisa que meu falecido conde gostava em mim.

Tendo morado maior parte da minha vida na fazenda da família, brincando com filhos de criados, acabei adquirindo alguns costumes deles; a dança era um desses costumes. Eu me sentia livre dançando como eles. Não era como se eu não gostasse dos meus amigos lá em baixo, lógico, alguns eram mais gentis e compreensivos que outros, mas ainda assim os costumes que envolviam nossa classe abastada eram rígidos de mais. Ter liberdade na maneira de agir era uma coisa que somente camponeses sabiam o que era, e por isso eu gostava tanto deles.

Voltei a pensar nos ciganos. Eram nômades, deviam saber tanto da vida quanto qualquer um ali naquele salão, deviam fazer e dizer o que queriam, criar suas crianças livres, dançar do que jeito que o corpo pedisse. Seria um choque de culturas e tanto, mas de repente me peguei pensando em “por que não?”. Por mais arrogantes que fossem, eram apenas pessoas moldadas para ser como eram, porque segundo devem ter-lhes dito quando crianças, “o mundo era assim, porque devia ser assim”. Nobres eram nada mais que pessoas que também precisavam de alegria e não sabiam onde conseguir. Quem sabe eles só não sentissem inveja dos camponeses por não poderem ter a única coisa que queriam? Um pouco de liberdade. Apenas um pouco de tempo para esquecerem que o mundo era como era.

E então eu comecei a aceitar que a ideia dos ciganos não era ruim.

–-Gaara – ele me olhou atento – quero falar com a sua irmã. Diga que estamos esperando por eles, sim.

Vi os olhos dele brilharem. Ele estava feliz.

–-Prometo que não vai se arrepender, condessa! – ele já havia se virado para seguir pelo corredor oposto, mas eu o chamei de volta.

–-Ah, Gaara, por acaso sabe onde está Sasuke?

Ele balançou a cabeça.

–-Quando o vi, ele estava saindo a cavalo com Neji e Kiba bem cedo. Foram em direção ao vilarejo. É só o que sei.

Agradeci e ele se foi. Era hora de descer para o salão. Cumprimentei os convidados, pedi perdão pela demora e brinquei um pouco com o meu atraso. Alguns riram, outros reprovaram. Era sempre assim. Fiquei a conversar com algumas senhoras amigas enquanto fazia minha refeição. Guren se esmerou no ganso recheado. Os homens foram uns dos primeiros a começarem a se retirar, deviam estar indo se exibir caçando aves ou esbanjando sua riqueza apostando nas cartas, os mais jovens indo em direção as moças e alguns casados preferiram acompanhar a esposa de volta ao quarto ou a qualquer outro cômodo. Corei quando perto da escada vi o Duque subindo com um pequeno grupo. Mas o que...?! Tratei de desviar o olhar e a atenção, acho que ele não deve ter percebido; acompanhei as mulheres até o jardim onde elas se deliciavam com alguns morangos.

Já ia me juntar a elas, adorava morangos, mas minha atenção foi detida quando percebi Karin conversando mais adiante com um pequeno grupo de moças. Pedi licença às senhoras e fui até onde a lady estava. Pacientemente me aproximei enquanto o grupo me olhava admirado; as moças menearam a cabeça e me cumprimentaram, fiz o mesmo e me virei para Karin.

–-Karin, querida, se importa em caminhar comigo um pouco?

–-Eu adoraria, lady Uchiha - ela prontamente concordou, me acompanhou devagar pelo jardim e conversamos sobre qualquer banalidade até próximo as roseiras, quando eu consegui empurrar o assunto para qualquer coisa que tivesse haver com criados. Ela mudou a postura, ficou mais rígida e tentou abanar o leque suavemente em intervalos curtos. O assunto a deixava incomodada, podia-se perceber, mas ainda não havia provas de que havia sido ela quem machucou Sakura, por mais que ela fosse a primeira da lista mental que eu havia feito na noite anterior.

–-Certamente que é uma atitude desprezível aplicar castigos físicos em outra pessoa – respondeu Karin – Eu não sei o que eu faria se visse uma cena dessas na minha frente – ela deu um sorriso um tanto nervoso.

–-Não é cena para uma moça como você assistir, certamente – me curvei sobre a roseira e peguei uma das flores – Vi uma vez na casa de meu tio quando ele ainda era vivo, o criado nunca mais acordou – olhei para Karin – Conheço você desde pequena Karin, peço que, para como futura senhora Uchiha, você não deixe sua raiva tomar conta de suas ações, ela pode ter consequências irreparáveis – disse como que dando um conselho para uma futura integrante da família, tentando ser afável, mas que na verdade estava dando um aviso – E como em breve você será dona desde castelo, você também será responsável pelos que vivem nele e nos campos – olhei um pouco para a flor em minhas mãos e quando levantei o olhar para Karin, fiquei mais séria e ela mais tensa, quase sem respirar – Noite passada quando estava indo para meus aposentos uma das serviçais apareceu machucada, sangrava até, e isso é uma coisa que, enquanto eu for senhora desde castelo, não será tolerado. Sabe alguma coisa a respeito disso, Lady Karin?

–-Não, senhora. Se soubesse de algo teria tomado providencias imediatamente!

Ela tentou falar com entusiasmo, mas exagerou. Ela estava mentindo, estava nervosa e incomodada de mais para estar falando sinceramente. Nunca gostei da pessoa de Karin, em especial do pai dela, antigo negociante de meu marido. Não me sentia bem deixando tudo aquilo que os ancestrais de meu falecido marido tinham deixado para trás nas mãos dela, mas Sasuke a amava e na família respeitamos a escolhas de nossos filhos. Se ele queria Karin, ele a teria, com ou sem consentimento, eu só esperava que ele estivesse fazendo a escolha certa. Afinal ela o abandonou em vez, certo? O que impediria de fazer o mesmo novamente?

–-Fico feliz que se importa tanto, - dei meu melhor sorriso, cínico. Karin sabia que eu tinha percebido que a culpa era ela, mesmo sem ter provas concretas - assim se faz uma boa patroa. Então, caso se repita, espero que possa cuidar de tudo também, da melhor maneira possível. Sei que muitas das moças aqui são suas amigas, mas nada justifica aplicar um castigo em um servo de minha casa. Como futura senhora deste castelo espero que você avise suas amigas para que isso não se repita – entreguei a rosa na mão dela quando fiz menção de me retirar e, ainda sem estar longe o suficiente, fiz questão de dizer mais: - caso contrário, eu mesma cuidarei para que a lady responsável seja devidamente castigada de acordo as leis desta Casa.

Aquela havia sido a minha palavra final e eu duvidava que incidentes como os da noite anterior voltassem a acontecer, pelo menos enquanto eu estivesse no castelo. Não olhei para trás, estava satisfeita só de ter visto a cara nervosa mal disfarçada de Karin. Fui me encontrar com as senhoras e tentar descontrair; o corpo ainda vibrando por ter imposto minha autoridade como senhora do castelo depois de muito tempo longe, mesmo sabendo que, por ter feito isso com minha futura nora, poderia ocasionar na minha saída permanente do castelo assim que eles se cassassem. Se, cassarem...

Suspirei antes de alcançar as senhoras; não queria ter pensamentos pessimistas com relação ao futuro. Por hora eu só quero alguns morangos.



Karin POV




Aquilo era demais! Um dia inteiro sem conseguir falar com Sasuke, sem poder descontar minha irritação em algum criado e sendo tratada com indiferença pela anfitriã. Tudo culpa daquela ratinha rosa! Tenho certeza que ela deve ter contado sobre nosso último encontro para lady Mikoto, caso contrário ela não teria ido me ver para passar-me um sermão. Bom, pelo menos não foi Sasuke. Não sei por que ele os trata como se fossem da mesma família. Que idiotice! Eles foram feitos para servir aos nobres! Só isso! É só para isso que prestam!


A festa no salão de bailes ainda demoraria a acabar. Saí de lá assim que dancei a primeira quadrilha, alegando que estava indisposta e consegui fugir daquela multidão infeliz. Por que todos estão tão felizes afinal? Quando Sasuke voltou nenhum deles se importou em vir aqui. São todos falsos! Não se pode contar com ninguém. Deixei escapar um suspiro irritado enquanto começava a tirar os adereços do cabelo, eu não estou em posição de pensar desse jeito. Não sou tão diferente deles...; as criadas que passavam pelo corredor limitavam-se a me dar passagem, encostando-se na parede e curvando o corpo. Enquanto eu não encontra-se aquela ratinha eu ficaria bem e arrumaria outro jeito de extravasar. Não me atreveria a procurar a cama do conde como fiz noite passada só para ser dispensada. Ai que ódio!

Com todo meu mau humor ordenei a uma das criadas que me preparasse uma tina para o banho; ela me olhou um pouco amedrontada e correu para fazer os preparativos. Sinceramente, odiava quando me olhavam com medo, mas no mundo as coisas eram assim: para sobreviver existem aqueles que mandam e aqueles que obedecem. Qualquer rebelde deve ser punido. Ou seja, servos obedeciam para ter a proteção do seu senhor, rebeldes implicam em dor e mortes; punições aplicadas pelos seus senhores. A posição deles nunca vai ser melhor do que já é. Basta que continuem obedecendo e tudo vai ficar bem. Basta que fiquem fora do caminho dos senhores.

Foi no meio dessas reflexões que senti-me ser puxada para dentro de um quarto; meu pescoço foi firmemente segurado por trás e lábios ávidos tomaram-me num beijo que eu conhecia bem demais. Não demorei a agarrar o colete para prender o lorde perto de mim. Aahh, que belo modo de extravasar... Apoiei as mãos nos ombros um pouco mais estreitos que os de Sasuke quando fui levantada e deitada na mesa mais próxima e foi só quando senti o volume perto das coxas que lembrei quase abruptamente que aquilo não podia estar acontecendo!

–-Pare! Suiguetsu, não! - praticamente ordenei e empurrei-o, mas foi só o suficiente para que ele pare-se de me beijar e me olhasse.

O suspiro que ele deu e o olhar frustado era de dar dó em qualquer um. Como eu adoro esses olhos... mas preciso resistir... o que tornou-se quase impossível quando ele se inclinou me abraçando e apoiando a cabeça em meu ombro. Já estava praticamente rendida! O que uma noite faria de mal mesmo?

–-Por que não, Karin? - Suiguetsu perguntou completamente relaxado sem se levantar. Ora essa, o que ele queria que eu dissesse?! Ele me conhecia melhor que meu próprio pai, como eu poderia simplesmente mentir?

–-Porque não – respondi sem me importar em explicar. E ele levantou, fitando-me irritado e deixando que eu ficasse desconfortável.

–-Diga de uma vez que é por causa de Sasuke! Antes da temporada iniciar você não me evitava, muito pelo contrario! Então por que agora que estamos aqui as coisas mudaram?!

–-Não seja ridículo! Tudo está como deveria estar desde o início – saí de cima da mesa e já me encaminhava para a saída quando ele puxou-me pelo braço. Forçando a olhá-lo – Aquilo foi um erro! - nunca doeu tanto tocar nesse assunto, mesmo que indiretamente. Suiguetsu afrouxou o aperto; sim, ele estava magoado e sim, as palavras a seguir não poderiam vir em momento mais inoportuno:

–-Eu te amo Karin – meu lorde se aproximou o suficiente para que eu pudesse sentir sua respiração em minha testa – E eu vou descobrir por que está agindo assim...

Você não pode investigar seu idiota! Se investiga-se faria o possível para impedir e isso não podia acontecer. Ele seria morto se tentasse! Por Deus, como eu poderia alertá-lo? Como?! Como dizer para ficar longe de mim? Longe de mim?! Coloquei a máscara de indiferença e desprezo que eu dedicava somente a criados novamente. Levantei e me afastei, ficando de costas para a porta.

–-Como se você pudesse fazer alguma coisa seu inútil. Hump! O que aconteceu foi só por diversão, éramos jovens tolos. Fique longe de mim, Suiguetsu. Não tem como eu me interessar por alguém como você!

–-Por que você não...! - ele já estava prestes a me segurar quando se assustou com a porta se abrindo. Percebi que ele tremeu.

–-Creio que a senhorita já disse que não tem interesse em você, meu jovem.

Não consegui olhar para trás e encarar aquela pessoa. Depois de tanto tempo sendo criada pelas governantas, aquela voz do visconde ainda me causava arrepios, mas não era para menos; ele tinha fama de já ter matado por bem menos do que defender o desejo de uma moça, talvez por isso Suiguetsu tivesse ficado um pouco assustado. O visconde é ardiloso. Espero que a presença dele seja o suficiente para deixar Suiguetsu longe de mim.

–-Vou ter que repetir pequeno lorde? Não me obrigue a tanto – ele procurou imitar um tom calmo, mas na verdade soou bem ameaçador. Suiguetsu estava paralisado e eu só queria que ele saísse dali!

–-Papai eu...

–-Quieta! – o visconde engrossou o tom e eu me calei – E você rapaz? Está esperando convite por acaso?

–-Sinto muito senhor – Ah! Ele reagiu! Ótimo! Vá embora de uma vez! – Já estou de saída – Suiguetsu fez uma breve reverencia em respeito a meu pai e depois me olhou como se pudesse desvendar qualquer segredo meu – Estou corando?! – Desculpe o incomodo – ele disse aquilo com pesar e se retirou, deixando-me a mercê de papai. Eu continuava de costas para a porta. Não quero encará-lo!

Senti-o se aproximar as minhas costas, a presença dele me dava arrepios.

–-Quanto a você, pequena erva daninha, não se aproxime dele de novo. Siga o plano como acertamos – ele parecia uma cobra falando ameaçadoramente. Papai prendeu algo em meu cabelo e eu não tardei a perceber que era um antigo broche de minha mãe. Precisei de força para segurar o choro que já me subia aos olhos – E eu juro que não acordará com o cadáver de Suiguetsu em sua cama – ele afagou minha cabeça, mas a sensação foi horrível.

Depois que o visconde deixou um breve beijo na minha bochecha, que poderia ser encarado como um gesto carinhoso para qualquer um que visse de fora, ele me deixou sozinha e só então eu chorei como a muito tempo não fazia. Por que eu fui nascer nessa família maldita!



Madara POV




Que ridículo Madara. E era mesmo, entrar sorrateiramente no antigo escritório de meu irmão, Fugaku, como seu fosse um intruso, uma ameaça àquela família. E não é isso mesmo o que eu sou? Suspirei cansado, acendi a lareira e sentei na poltrona de frente para o fogo. O salão estava animado com aqueles ciganos afinal; um pouco de distração era muito bem vinda aquele castelo. Minha perna agradeceu logo que sentei, ela não era a mesma desde o acidente com o cavalo... eu já não conseguia me manter de pé por muito tempo sem ficar apoiado na bengala.


O fogo trepidou. Apoiei a cabeça no punho, o cotovelo no braço na poltrona. Aquela era a mesma sala onde tive o desentendimento com Sasuke logo que o encontrei. Fazê-lo acreditar será o mais difícil... tão orgulhoso e teimoso quanto um Uchiha devia ser, embora nem sempre ele tenha sido tão arredio comigo. Itachi era mais apegado a mim, mas não era para menos; Mikoto também. Ao menos ela parecia ser. Outro suspiro, estou ficando velho; um velho “muito bem conservado” como diriam as molecas dos bordéis; para ser mais preciso, como Maika costumava falar cada vez que eu a possuia. Bons tempos...

Estava tudo muito silencioso e sombrio. Só faltava começar a chover para completar aquele cenário deprimente de minha pessoa, mas nem tudo é perfeito. Afundei-me na poltrona ainda sentindo o gosto da água ardente na garganta e deixei minha mente vagar por lembranças, algumas felizes, outras nem tanto. Olhos vidrados no fogo, era como se as chamas tomassem a forma dos meus pensamentos, cada movimento rápido era um novo personagem de momentos passados.

Por mais incrível que eu pudesse achar, a primeira imagem que vi nas chamas foi a da forma sensual e juvenil de Maika dançando para mim. Era realmente uma pena que uma jovem na flor da idade tivesse que se vender para poder sobreviver. A alcoviteira da Terumi tentava ser o que as garotas chamavam de “boa chefa”, trava-as como se fossem suas filhas, se é que ela trataria uma filha como uma prostituta. Enfim.... Maika não era feliz naquele bordel, como já era de se imaginar, mas segundo ela, eu era o único cliente com quem mantinha conversas depois do coito; foi assim que descobri o quão energética e cabeça-dura essa menina era.

Desenvolvi um carinho especial por ela com o tempo. A garota me lembrava, e muito, em temperamento a noiva de meu irmão, a atual condessa Uchiha. Mikoto... ah como eu era hipócrita..., se é que ainda não o sou. Usando o corpo de Maika enquanto pensava em Mikoto gemendo meu nome e se contorcendo de prazer. Muito injusto com a minha pequena morena de olhos castanhos... e para resguardar a mim e àquelas duas tornei-me o que sou hoje, frio, sozinho e sem herdeiros; esse ultimo detalhe já não em importava muito, a única com quem eu queria tê-los já não sentia nada por mim. Agora tudo não passa de um sonho distante...

O fogo balançou novamente e as imagens das duas se misturaram e deram lugar a cara carrancuda de Fugaku. Sorri sem humor tinha se tornado parte de mim; lembranças de meu irmão reprovando-me a todo hora por causa de travessuras com as moças, empregados e parentes vieram a tona. Sempre discutíamos... nunca nos demos muito bem de qualquer forma e a situação só piorou quando a moça que seria minha noiva, minha melhor amiga, fora prometida à Fugaku. Quase nos matamos lutando por Mikoto e foi então que ela resolveu dar um basta nas brigas aceitando as ordens de nossos pais e se casando com meu irmão.

“Irmãozinho tolo...”, foi exatamente isso que ele me disse quando tivemos nossa ultima briga, do mesmo modo que ele costumava dizer quando éramos crianças; com a voz carregada de censura e desgosto por eu ser o mais indisciplinado. Eu havia prometido que não poria os pés no castelo novamente. Trabalhei muito na cidade, fiz bons contatos e em pouco tempo já era agraciado com o título de duque, algo que Fugaku jamais imaginou que eu fosse capaz de conseguir em tão pouco tempo. Quebrei minha promessa sobre o castelo e voltei com um pedido de paz, mas na verdade queria apenas ficar junto de Mikoto e de Itachi. Fugaku continuava me olhando do mesmo jeito e era possível ver que não me queria ali e que não se dava bem com o filho.

O riso do meu primeiro sobrinho invadiu meus ouvidos, o mais velho sempre foi apegado a mim, meu irmão devia sempre ter ciúmes quando estávamos juntos, mas ainda assim Itachi sempre respeitou Fugaku. Me incomoda até hoje que o pequeno tenha adotado a mania de Fugaku de falar “irmãozinho tolo...” quando Sasuke nasceu, era como se eu me visse no mais novo cada vez que escutava aquilo. Eu entendia perfeitamente como ele se sentia ao escutar o mais velho falando aquilo. Menosprezado e subestimado... não era de se admirar a irritação de Sasuke, que só veio se entender melhor com o irmão depois de ser um homem feito. Diferente do pai e do tio... A incrível vontade de chorar que sentia cada vez que me lembrava de Itachi e de como havia morrido veio novamente, mas não deixei que as lágrimas caíssem. Tão jovem, um exemplo de homem.

Ai, ai... hum! E seguiu-se um longo suspiro enquanto me levantava para me apoiar próximo a lareira sem deixar de fitá-la. Eu sempre tive uma certa fascinação pelo fogo, ele me acalma. Sei que disse que não me importava mais em não ter herdeiros, mas infelizmente essa era uma questão que estava me dando muita dor de cabeça nos últimos anos. Minha riqueza era demasiado grande e eu precisava deixá-la com alguém antes que meu tempo se esgotasse. Sem um herdeiro, o único para quem eu poderia deixar minha fortuna e minhas posses, que carrega-se o nome do clã, seria Sasuke. E ai esta minha atual dor de cabeça...

Esse sobrinho me odeia desde que voltamos da guerra, não que ele me amasse antes, e se não me expulsou do castelo fora justamente por causa da ajuda de Mikoto, agora eu nem sabia se ele aceitaria conversar comigo normalmente. Levando em consideração a recepção dele da ultima vez, eu creio de vá ser bem difícil... Ele não me deixava falar, era sempre o primeiro a ter a palavra e o último a falar, um monólogo praticamente. Sasuke era teimoso como a mãe e eu não queria entrar em um embate com ele. Eu era mais velho, mais sábio, mas com minha perna manca não poderia usar de força para que ele me escutasse. Mikoto teria que me ajudar, mesmo ela tendo bons motivos para me querer longe. Ela só procura ser mais simpática que o filho.

Essa questão familiar foi uma das coisas que resolvi repensar durante guerra. Enquanto lutava percebi coisas que não conseguia ver antes e tudo graças a um amigo de meus sobrinhos. O nome do jovem era Naruto Uzumaki se bem me lembro. Ele foi como um voluntário, era nada mais que um camponês que morava nas terras dos Uchihas, mas seu grupo foi o principal responsável pela nossa vitória. Ele foi um grande guerreiro, morreu como tal e me ensinou o valor de ter uma família unida, coisa que eu nunca tive.

Passei noites pensando nas conversas que tivemos até o ponto que decidi mudar minha vida. Queria me entender com Fugaku, acertar as coisas com Maika, pedir desculpas a Mikoto, mas nada disso deu certo. Antes de conhecer Naruto eu tinha planos sem nenhuma boa intenção para com uma pessoa em particular e ela não podia voltar para casa, de jeito nenhum. Eu era o comandante do batalhão, podia organizar as frotas do jeito que quisesse, então por que não colocar meu irmão nas linhas de frente?

Infelizmente uma verdadeira tragédia aconteceu antes que eu pudesse impedir. Sasuke foi o único que sobreviveu. E era esse o sentimento de culpa que eu trazia comigo desde nossa volta. Meu irmão e Itachi haviam morrido, Mikoto queria minha cabeça numa bandeja quando soube da notícia e, segundo Terumi, Maika havia morrido quando voltei para o território da família há muitos anos. A atual situação financeira de Sasuke não era das melhores, a mãe dele sabia e se eu tinha uma chance de me redimir, mesmo que pouco, era agora; dando para esse sobrinho teimoso todas as minhas posses, ele herdaria tudo e ficaria estável novamente. Com o nome no clã agora mais forte do que nunca naquelas terras. O que me leva ao problema atual: como fazê-lo me ouvir e aceitar?

–-Você está muito pensativo Madara – aquela voz arrastada que eu bem conhecia se fez presente à porta. Tsc! – Isso não é um bom sinal. – Hum!– Bebida? – ofereceu-me uma das grandes canecas.

–-O que quer aqui Orochimaru? – perguntei sem dar muita atenção a ele, dando um grande gole na cerveja.

–-E isso é jeito de falar com um amigo? – aquela cara de coitado que ele fez me deu vontade de rir, mas eu apenas bufei e dei um meio sorriso. Sentei na poltrona e apontei para que ele sentasse na cadeira perto da mesa – Bom... a julgar pelo seu sumiço no meio da festa eu só posso crer que Sasuke esteja envolvido nesse seu mau humor. Estou certo?

–-Desde quando lê mentes?

–-Desde quando você é tão previsível?

Tsc! Infelizmente com a minha demora na resposta ele continuou:

–-Já lhe dei a solução, mas parece que você não entende.

–-Como se eu pudesse ter um filho a essa altura, meu caro – ri, ele tinha ficado aborrecido comigo me fazendo de desentendido.

–-Sabe que não falo disso seu velho desprezível – sibilou – A união de Sasuke e Karin é mais que o momento perfeito para você dar-lhe suas conquistas de presente de casamento. Ele não poderá recusar na frente dos convidados; seria visto como um ingrato!

Dei outro longo gole na bebida.

–-E o que lhe faz pensar que meu sobrinho se casará com sua filha? Até onde me lembro ela foi a primeira que saiu correndo quando ele voltou.

–-Karin é muito sensível, assustou-se com o estado do noivo só isso – ele também deu uma atenção a bebida – Mas está disposta a se aproximar dele novamente. Ela mesma me contou que os sentimentos por ele nunca mudaram e que esta disposta a voltar o compromisso.

Bem, a aproximação dela de meu sobrinho é inquestionável. E se eu aceitasse essa sugestão seria só uma questão de tempo e paciência até que o casamento fosse realizado e eu pudesse enfim concluir o que vim fazer. É uma solução de longo prazo, mas que funcionaria. Eles já se namoraram afinal, poderiam pular algumas partes do cortejo e ir direto ao ponto.

Eu havia realmente reparado que eles estavam juntos no inicio na temporada, mas não esperava que eles já estivessem reatados, pelo menos não assim tão rápido depois de como ela o deixou depois do término do noivado há alguns anos. Não é possível... bem, Sasuke pareceu bem distante dela nas poucas vezes que eu o vi apesar de Karin se ver bem receptiva a qualquer coisa que meu sobrinho fizesse. Muito estranho esses dois...

Olhei da caneca para Orochimaru, que me olhava como se esperasse uma resposta positiva a sua ideia; eu não daria esse gosto a ele. Deixar-me influenciar por um visconde? Que ridículo! Levantei-me, deixando o restante da bebida sobre a mesa e fui andando para a porta, mancando enquanto me apoiava na bengala.

–-Pensarei a respeito – respondi simplesmente e sai. Eu tinha certeza que ele estaria furioso, mas não fiz questão de olhar para ver o resultado da minha resposta.

Hum! Eu sou um duque! Por que haveria de me importar?


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Notas finais do capítulo

Bom gente que tal o capitulo? Agradou? *-* Eu sinceramente, depois que o terminei, achei que ficou Muito estranho por ter pulado do pov da Mikoto pro da Karin =/
Err. Bem! Vocês devem ter percebido que os o dia nesse cap passou de forma mega rápida. Não sei se foi só eu, mas senti falta de falar mais coisas antes do pov da Karin, achei que faltou um pov do Sasuke pelo menos, mas como eu estava com pressa de postar acabei não pondo =/. Enfim, os povs da Sakura e da Mikoto foram feitos como se fossem de manhã e os outros dois de noite, deu pra perceber que ficou um vaco imenso, né? Por isso mesmo o próximo capitulo não vai ser como se fosse um outro dia (como eu venho tentando fazer), vai ser a continuação deste mesmo dia para tentar tapar esse buraco que eu acho que ficou.
Para o próximo cap eu estou pretendendo por povs da TenTen, do Neji e do Sasuke. Dependendo de como for o andamento ou posso por povs de mais personagens, só não sei de quem xD rsrsrs
Bem era isso gente! õ Espero que vocês não desistam da fic, assim como eu não pretendo desistir! *o*
Lembrem que críticas construtivas, opiniões e sugestões sempre serão bem vindas! Principalmente as sugestões! Quem sabe elas não me ajudem a escrever os próximos capítulos? =D

Até a próxima! õ
Bjinhos ! ;***