Além de mim escrita por Lara Queen


Capítulo 16
Capítulo 16


Notas iniciais do capítulo

Saíram alguns spoilers sobre a nova temporada de Miraculous, e um deles é sobre o primeiro episódio que simplesmente destruiu uma de minhas teorias. Pois é, gente... Não sei se fico feliz ou decepcionada. Se vcs não sabem do que tô falando, deem uma olhadinha no youtube, pois há um vídeo de 4 minutos que vazou sobre o 1 ep. Me digam aí nos comentários o que acharam ;)

Sei que demorei uns trezentos anos para postar ( tanto que já até apareceu a exclamação de mais de 45 dias), mas agora eu voltei com esse ultimo capítulo.
Me desculpem também por não ter respondido nenhum comentário. Eu estava desesperada para postar o ultimo capítulo, e prometo que assim que eu puder eu responderei cada um de vcs. Por favor, não deixem de dar a opinião de vocês, porque é isso que me dá forças para continuar a escrever. Cada palavra, elogio, tudo tem um grande significado para mim.

Primeiramente, minha ideia para esse capítulo era ser narrado em terceira pessoa para tentar inovar e enxergar os dois pontos de vista dos personagens, mas aí eu percebi que não sou boa nisso, então continuei com a narração em primeira pessoa mesmo. Depois, comecei o capítulo no ponto de vista da Marinette, mas não estava ficando do jeito que eu queria. Cheguei até dois mil palavras, mas o resultado não me agradava de jeito nenhum. Reescrevi de novo, e de novo, e de novo... Até que eu pensei: “Vou deixar no ponto de vista do Adrien mesmo, pq adorei escrever com ele”.

E tá aí o resultado.

Espero que gostem e boa leitura.



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Capítulo 16

 

O GATO

Marinette esteve desaparecida por mais ou menos vinte e quatro horas. Encontrei seus pais em frente à padaria junto com um monte de policiais que cercavam a área. Assim que a encontraram inconsciente em meus braços, correram desesperadamente em minha direção, arrancando-a de mim. O rosto de sua mãe estava banhado em lágrimas, claramente preocupada e perguntando-me constantemente o que havia acontecido. O pai a carregava, distribuindo beijos em sua testa, aliviado por finalmente terem-na encontrado.

“Ela foi akumatizada.” Disse vagamente. “Agora está tudo bem, ela não se lembrará de nada do que aconteceu.”

Eles disseram que a última vez que a tinham visto foi na noite passada. Estavam ocupados desde cedo preparando uma entrega especial para um casamento, que mal notaram o sumiço da filha. Perguntei se mais alguém, além dos policiais, sabia de seu desaparecimento. Eles negaram, e agradeci internamente por isso.

“Por favor, não digam nada a ela. O evento pode ser traumático a ponto de não ser lembrado de jeito nenhum.” Dei uma exagerada para que ficasse bem claro.

Eles estranharam meu pedido, mas balançaram a cabeça em concordância. Quando desviaram os olhares de mim por alguns segundos para observarem mais uma vez a filha adormecida, aproveitei a brecha e saí de fininho. Estendi o bastão e pulei para o telhado mais próximo, mas o suficiente para que eu me escondesse e os espiasse por um tempo.

Eu esperei demoradamente as coisas se tranquilizarem, até ter a oportunidade perfeita para adentrar o quarto de Marinette.

 

 

 

***

 

 

 

Agora ela dormia profundamente em sua cama, os cabelos negros espalhados pelo travesseiro e as mãos esparramadas próximas ao rosto. Os lábios carnudos estavam levemente abertos, soprando algumas mechas caídas em sua face. Eu invejava toda a sua serenidade durante o sono, pois diferente dela, minha mente estava um caos sem fim. Eu a observava em um canto do quarto, escondido entre as sombras como um gato de rua em busca de abrigo. Permaneci ali por um tempo, encolhido e submerso em minha bolha de pensamentos, envolvido pelo silêncio da madrugada. Havia resquícios de luz alaranjada dos postes, que vinham da janela, clareando um pouco a beira de sua cama lilás e rosa. Uma brisa gelada atravessou o quarto, trazendo consigo o frio do inverno que se aproximava naquela noite. Em breve nevaria, cobrindo toda a cidade com um manto branco e cristalizado. 

Eu não era muito fã daquela estação, pois me trazia a melancolia e as recordações de momentos familiares que eu tanto sentia falta. Principalmente do natal, que era para ser uma época feliz e divertida com a família, mas que havia tempo que eu não desfrutava.

A felicidade aos poucos era sugada de mim. Uma dor latejante que crescia cada vez mais, causando um vazio em meu peito. Doía tanto, que conseguia sentir os olhos pinicarem pelas lágrimas que insistiam em cair. Era uma mistura embaralhada e confusa de sentimentos, divididos entre a raiva, culpa e tristeza.

Raiva de meu pai, culpa pela Marinette ter sido akumatizada e tristeza pela solidão que novamente reinaria em mim. A solidão que vivi por dois anos, como uma noite sem estrelas, cego pela escuridão e perdido no meio do nada. 

Quando recebi aqueles poderes, foi como se um farol tivesse surgido para me guiar, trazendo-me a tão cobiçada liberdade. Assim que entrei na escola e fiz minhas amizades, estrelas começaram a brilhar em meu céu, trazendo-me carinho e razão. Mas quando conheci a Ladybug... Ela foi a maior das minhas estrelas. Ela foi o meu sol, mostrando-me o dia e o céu azul que brilhava em seus olhos. Tão bela quanto a primavera, cheia de cor e harmonia.

Mas agora... Estaria condenado novamente ao meu inferno pessoal. Ladybug e Marinette eram a mesma pessoa, e saber que a mesma poderia estar me odiando dava-me uma agonia sufocante. 

Suspirei alto e cansado. 

Marinette remexeu-se na cama, trocando de posição. Agora ela estava virada para cima, uma das mãos descansando na barriga e a outra mão sobre a testa. Soltei a respiração que nem havia percebido que prendia, com medo de que ela acordasse e me expulsasse dali. Dei um pequeno sorriso ao ver tamanha graciosidade de seus traços serenos, como uma bela adormecida alheia ao cavaleiro que observa seu sono.

Dei alguns passos silenciosos em direção à sua cama, saindo de meu esconderijo para observá-la mais de perto. Sua pele alva estava arrepiada, provavelmente pelo frio que fazia. Levei minha mão até seu rosto, afastando alguns fios que tampavam seus olhos e puxei o cobertor para cima, protegendo-a de pegar um resfriado.

Meus olhos caíram para seus lábios, ainda abertos pela respiração lenta e constante. Eram tentadores e viciantes, convidando-me a saboreá-los pela última vez antes de meu fim iminente. Antes de voltar a encarar a dura realidade que me aguardava. Continha-me para não beijá-la ali mesmo, não querendo me aproveitar de sua inconsciência para saciar minha vontade latente. Ela esbanjava pureza e inocência, assim como seu símbolo de joaninha que trazia paz e sorte. Uma bela dama de vermelho, a cor da paixão que ardia em mim por admirá-la profundamente. Quanto a mim... Minhas vestes negras remetiam ao azar que carregava. Tudo virava pó com apenas um toque de minhas garras. Um gato vira-lata que vagava pelas ruas, procurando um refúgio e amor que me carecia.

Passei a língua sobre os lábios secos e cortados, trazendo uma ardência junto ao sabor metálico do sangue. Fiz uma careta de dor, unindo as sobrancelhas infelizes.

Nossa batalha fora árdua. Se ela não tivesse resistido ao controle mental, por muito pouco eu poderia ter morrido em suas mãos. Os ferimentos sumiriam com o tempo, mas cada detalhe daquela noite ficaria marcado para sempre em minha memória, assim como seus olhos rubros de ódio e os gemidos de sua dor momentânea, quando meu pai... Quando Hawk Moth a torturou para conseguir o que queria.

Não sabia como encararia Gabriel Agreste assim que o encontrasse novamente. Várias perguntas rondavam em minha mente, sem uma resposta clara. Estava com medo de nosso futuro. Se um dia eu o perdoaria ou se carregaria eternamente o meu ressentimento. E ele? Será que havia desistido completamente de seu plano absurdo, ou foi apenas uma decisão do momento pelo choque em saber que eu era Chat Noir?

Estalei a língua e sentei-me na cama, afundando o colchão e sentindo o calor que emanava do corpo da joaninha. Decidi afastar esses pensamentos por ora e aproveitar aqueles minutos de paz e silêncio que eu tinha ao seu lado. Ela remexeu-se novamente, mostrando o estado de seu punho direito, com um leve hematoma que em breve desapareceria. Do jeito que era estabanada, logo pensaria que havia batido a mão em algum lugar sem perceber, o que era comum de acontecer.

Sorri com o pensamento, segurando gentilmente sua mão. Ela não se mexeu. Olhei para ela e respirei aliviado - agradecendo por seu sono ser pesado -, afagando seus dedos entre os meus e beijando-os como costumava fazer.

Caminhei até a janela, olhando para o céu e me preparando para partir, por mais que todas as células de meu corpo implorassem para ficar. Queria estar ali, cuidando dela o tempo todo para garantir sua segurança. Tateei o bastão em minha cintura, apertando um botãozinho verde, estendendo uma pequena abertura onde se encontrava os miraculous da joaninha e da borboleta. Até aquele instante, era o lugar mais seguro que havia encontrado para guardá-los.

Eu deveria contar a Marinette o que aconteceu? Ela não se lembraria de nada assim que acordasse, como todos os outros akumatizados. Aproveitaria que seus pais não diriam nada sobre o ocorrido e a pouparia da verdade e da vergonha que eu sentia de meu pai, um homem louco e egoísta que abusava do sofrimento das pessoas para fazer o bem próprio. Devolveria os brincos e por fim sairia de seu caminho.

Se ela questionasse sobre o desaparecimento repentino de Hawk Moth, diria apenas que não sabia de nada. Inventaria uma desculpa sobre a possibilidade de ele ter desistido depois de tantas derrotas, o que em parte não era uma mentira. Mas Marinette era inteligente, e demoraria bastante para acreditar, o que daria umas boas horas de discussão.

E sobre nossa ligação? Ela tinha todo o direito de saber que nossas almas estavam conectadas por um fio invisível e que estávamos destinados a nos conhecer desde o princípio. Também a pouparia disso? Qual seria a sua reação quando descobrisse? O destino era irônico e bastante cruel quando queria. Pergunto-me, se tivéssemos descoberto as nossas identidades de outra forma, não estaríamos passando por aquela situação tão complicada. Ou se todo aquele sofrimento estava fadado a acontecer. Se soubéssemos a verdade desde a época que nos conhecemos, as circunstâncias poderiam ter sido outras. Então, de fato, a culpa não era só minha.

Coloquei os miraculous em cima da escrivaninha, onde havia os encontrado antes de tudo. Seria como se nada tivesse acontecido.

Teria que admitir que sentiria falta de Tikki e toda a sua doçura. Ela era um ser adorável e cheio de sentimentos; também uma ótima conselheira e com o espírito protetor de uma mãe. Depois de um tempo longe de sua portadora, ela acabou retornando ao seu miraculous. Era de se esperar que algo assim acontecesse em alguma hora, mas fiquei triste por não poder me despedir decentemente, já que ela fez tanto por mim em tão pouco tempo. 

Dei uma ultima olhada para a garota antes de voltar-me para a janela. Respirei profundamente, fechando os olhos e sentindo os mesmos arderem e um nó se formar em minha garganta. Inclinei-me sobre a batente, buscando a coragem em meu interior para sair dali.

Foram-se segundos... 1, 2, 3... 7, 8, 9...

Estava pronto para saltar, mas algo me impediu.

Uma voz baixa e sonolenta; melodiosa como sinos.

Meus pés pesaram impedindo-me de dar mais um passo, parecia que uma força sobrenatural me puxava para baixo, mantendo-me preso ali. O ar ficou rarefeito e meus pulmões começaram a implorar por mais oxigênio.

Virei-me lentamente para trás, onde a morena estava sentada na cama, esfregando as pálpebras e abrindo levemente a boca para dar um bocejo. Depois, permiti-me mergulhar no oceano que eram seus olhos azuis, que agora me encaravam confusos e amedrontados.

Fiquei estático em meu lugar, olhando-a intensamente e sentindo o sangue correr freneticamente por minhas artérias. Tudo ao redor de nós tinha deixado de existir, restando somente nós dois ali.

— O-o que faz aqui?

— E-eu... – Minha voz perdeu-se no início, sem saber exatamente o que dizer. Não conseguia pensar em uma desculpa plausível para ter invadido seu quarto durante a noite, principalmente depois de uma discussão e sem precisar revelar o que tinha realmente acontecido naquela noite. – Eu vim... ver se você estava bem.

— Por quê? – Ela questionou num tom sofrido e baixo, os olhos brilhando pelas lágrimas acumuladas. A testa estava franzida, mostrando o tanto de mágoa que ela carregava.

Engoli saliva, vacilante.

— Sinto muito, Marinette. Eu... não devia tê-la forçado a nada, ou não estaríamos nessa situação.

Ela não disse nada. Comprimiu os lábios em uma linha, pondo a mão no busto e agarrando a gola da blusa, onde seu coração batia. Ela fechou os olhos, e um filete de lágrima escorreu por sua bochecha. Em um movimento ligeiro, agachei-me ao lado de sua cama, segurando a beirada do colchão, enquanto ela recuava um pouco assustada com a minha proximidade repentina. 

— O seu rosto... O que...?

— Não importa. Você não precisa saber. – Respondi rapidamente. 

O quarto estava escuro o suficiente para ela não conseguir enxergar a gravidade dos meus machucados. Eu, por outro lado, tinha uma visão mais aguçada graças aos meus poderes. 

— Como está se sentindo? – Perguntei preocupado.

— Estou bem. – respondeu abruptamente e desviando o olhar para as mãos que agora repousavam no colo.

— Grande mentirosa – eu disse suavemente. – É óbvio que não está. Suas palavras contradizem com seu semblante.

— Por favor, eu quero ficar sozinha. Não era nem para você estar aqui. 

Suspirei.

— Eu irei embora assim que tudo estiver esclarecido. 

Ela levantou uma das sobrancelhas. Marinette se mantinha hesitante, os ombros encolhidos, o corpo rígido e a cabeça um pouco abaixada. Ela ficou em silêncio, abrindo uma brecha para que eu começasse a falar.

— Pode até não acreditar em mim, mas a verdade, Marinette, é que você tem um grande significado em minha vida. Aqueles poucos instantes que passamos juntos em cada batalha, cada patrulha ou até mesmo na escola, são de grande valor para mim. Então eu te farei um único pedido, e sua resposta pode mudar o rumo de nossas vidas. E isso só dependerá de você. – fiz uma breve pausa. Meu coração batia tão rápido, tão forte, que quase podia senti-lo quebrando minhas costelas. Os olhos aquosos e claros me fitavam atentamente, me induzindo a continuar. – Eu suplico, fico de joelhos e imploro para que me dê uma chance de amar as suas duas metades como uma só. 

Ela arfou, surpresa e afobada. Lá estava eu, novamente propondo para nós dois uma oportunidade de sermos felizes juntos. Eu queria tentar, pelo menos.

O silêncio retornou, deixando-me apreensivo. Estava ofegante, quase perdendo o controle. 

Ela desviava o olhar de mim a cada segundo, tão perdida nos próprios pensamentos, que era possível ouvir sua respiração alta e desenfreada. Ela procurava por uma resposta em meio a toda confusão de seu subconsciente. Eu podia quase sentir o que ela estava sentindo, só não sabia dizer se era pela nossa ligação ou se era pura coincidência.

Ela soluçou baixinho, agora olhando para mim com os olhos marejados.

— Eu te amo, Adrien. Amo até mais do que a mim mesma. Mas... eu não o mereço. Você está confundindo os seus sentimentos. O amor que sentes pela Ladybug é diferente do que tens por mim.

Balancei a cabeça negativamente com descrença. Parecia que mil flechas me atravessavam, me fazendo sangrar até a morte. Cada palavra era uma fisgada dolorosa.

— Por que você tem que complicar tanto? Será que não percebes que minha vida sem você não tem sentido? Se você me deixar... Eu não vou conseguir aguentar, Marinette! – Falei mais alto, sem me importar se os pais dela ouviriam.

— Não, Adrien! Pare de se iludir! Se me amasse mesmo, nunca teria me rejeitado! Agora que sabe a verdade, está tentando voltar atrás. – Ela disse no mesmo tom.

— Se eu não a tivesse rejeitado como Adrien, você também nunca me amaria como Chat Noir.

— O problema é que eu já te amava! Eu amava o Chat Noir! – Ela quase gritou. - Mas esse amor estava adormecido dentro de mim... Já pensei na possibilidade de retribuí-lo antes que fizesse a proposta. 

Fiquei imóvel, surpreso pela revelação. Por um momento eu havia perdido o fôlego.

— Você... Me amava?

— Seu amor pela Ladybug é platônico, uma fantasia. Você a idealizou como uma garota perfeita e forte. E eu... – Ela soluçou. – Sou um ser defeituoso, um desastre ambulante. 

Ela abaixou os olhos, as lágrimas encharcando seu belo rosto. Passei as mãos pela cabeça e esfreguei os olhos, o nervosismo fazendo meu corpo soltar espasmos. Então eu percebi que também chorava.

— Você está errada, Marinette. Ninguém é perfeito. Eu não ligo para essas coisas. É por isso que lhe imploro por uma chance. Por favor...

— Eu não posso... Não agora. Você não entende...

Ao ouvir aquilo, fechei os olhos e permiti que mais lágrimas inundassem minha máscara.

— Eu não entendo mesmo. Você procura motivos para não querer estar comigo. Fica se autodepreciando sem necessidade. Eu estou aqui – Segurei seu rosto – para dizer-lhe todos os dias o quanto és bela, maravilhosa, e o ser humano mais incrível que já conheci. Você é a minha luz nos dias mais sombrios, a força que eu preciso para continuar vivendo bem e feliz. Mari...

Ela encolheu-se novamente, devido ao sentimento confuso e intenso que eu deixava transparecer em minha voz embargada. Ela segurou minha mão, relutante, e a tirou de sua face, desviando o olhar. Aquilo apertou fortemente meu coração, esfarelando-o como pó. Até que não sobrasse mais nada.

— Desculpe... Você merece alguém melhor do que eu. – sussurrou sem olhar diretamente para mim.

— Não... Mari... Eu não quero estar com outra pessoa. Eu quero você.

Só por pensar em estar longe dela me deixava insano. Não suportaria... Não viveria. Não queria voltar para a escuridão de minha vida. Era vazia e sem sentido. Sem pai, sem mãe e sem Marinette. A dor crescia, me dilacerando lentamente, mal me deixando respirar.

— Vai embora. Deixe-me sozinha. – Ela virou o rosto, encolhendo as pernas e abraçando os joelhos por cima do cobertor.

— Como pode desistir de nós tão facilmente? – perguntei franzindo o cenho infeliz.

— Pare...

— Não faça isso comigo, meu amor. – Segurei seu queixo, insistindo para que ela olhasse diretamente para mim. – Eu te amo muito e não sou capaz de te deixar sabendo que também sente o mesmo.

Fui me aproximando lentamente dela, esperando que a mesma me empurrasse para longe. Ela não se mexeu, permitindo que eu chegasse mais perto. Nossos rostos estavam tão próximos, as respirações misturadas, sua pele tão quente em minha mão por cima da luva.

— Adrien... – Suplicou.

— Mari... – sussurrei, acariciando seu queixo com o polegar, tão perto que não pude me conter.

Tomei seus lábios nos meus, beijando-a tão desesperadamente como se fosse o ultimo de nossas vidas. Ela consentiu, passando as mãos pelo meu rosto, me puxando para ela como se tentasse nos unir como um só. Tão diferente da primeira vez, tão urgente e sofrido. Nossas lágrimas se misturando, salgando nossas bocas. Segurei-a de maneira possessiva, não querendo soltá-la de jeito nenhum.

Nossa ligação estava mais forte, aguçando meus sentidos e intensificando as sensações.

Queria que tivesse durado mais, mas a falta do oxigênio se tornou um obstáculo para nós.

Ela relutou um pouco, tomando consciência do que estava fazendo.

— Por favor, não.

Então eu parei, sentindo culpa pelo meu egoísmo. Nossas respirações estavam ofegantes e o frio já fora esquecido pelo calor de nosso beijo.

— Entendi... Você realmente não quer.

Levantei-me e recuei alguns passos, retornado ao meu controle. Ela abraçava o próprio corpo com firmeza, impedindo-se de desabar diante de mim; pelo menos não completamente. Mas minhas pernas por pouco cederam ao chão, tive que me apoiar na parede para não cair.

— Eu te deixarei em paz, se esse for realmente o seu desejo.

— Só vá.

Assenti contrariado. Andei lentamente até a janela, contestando com cada pedaço de meu corpo. A gravidade me puxava com força para baixo, quase fundindo meus pés ao piso. Não conseguiria ficar longe dela, mesmo que tentasse. Era difícil, quase impossível. Doía tanto, que se eu pudesse, arrancaria meu coração para que aquela sensação acabasse.

Olhei para ela uma ultima vez.  A mesma pressionava o rosto no travesseiro, segurando o tecido com força suficiente para rasga-lo. Era impossível entender o que ela conseguiria com aquilo tudo. Nós dois só estávamos nos ferindo mais.

Com o coração encolhido em meu peito e sem mais a capacidade de enxergar o que estava na minha frente, apoiei-me na batente da janela e mergulhei na noite, sem querer voltar para casa. Eu estava definitivamente morto por dentro. Sem esperanças, sem forças, sem nada.

Sem coração. Sem alma. Completamente despedaçado.

 

 

 

***

 

 

 

Meu corpo estava exausto a ponto de não conseguir mais andar. A tristeza me dominava até chegar à insanidade. Tudo o que eu via era o breu, o vazio de minha alma; meu coração estraçalhado, em pedaços no chão. Queria entender como uma garota conseguia fazer tamanho estrago em mim.

Mesmo que eu carregasse toda a dor, eu não parava de saltar entre os prédios. Fugir como um louco, procurando uma paz inexistente para mim. Mas para onde ir? Para casa? Encarar o meu pai depois de tudo?

Estava tão disperso, afundando em meus próprios pensamentos tenebrosos, que mal havia notado até onde meus pés me levavam. Quando dei por mim, estava apoiado na batente da janela de meu quarto, encarando meu reflexo sombrio no vidro. Adentrei na semiescuridão do cômodo com cautela para não alarmar minha chegada. Sabia que meu pai me esperava em algum lugar da casa para que pudéssemos conversar, mas eu não estava preparado. Minha mente estava perturbada demais para ter uma conversa sensata. Era como se tudo estivesse desabando em cima de mim de uma só vez, e eu não estava sabendo como lidar com o caos que se alastrava.

Dei alguns passos para o meio do quarto e desfiz a transformação. Minhas pernas cederam e cai de joelhos no piso, cansado, dolorido e devastado. Mordi o lábio machucado, sem mais me incomodar com a ardência que se estendia por minha face. Na verdade, não conseguia sentir mais nada além da dor que pulsava em meu peito.

Grunhi em desespero, sendo esmagado pela angústia. Passei as mãos pelo rosto, enxugando as lágrimas que umedeciam o sangue seco. Segurei a respiração, querendo evitar mais um ataque de pânico. Meus ouvidos zumbiam altos pelo silêncio que se instalava pela casa, e uma leve vertigem se apossava de mim, deixando-me zonzo.

Fui para a beirada da cama e tentei normalizar minha respiração. Os olhos felinos de Plagg brilhavam aflitos em meio a negritude. Coloquei uma das mãos na gola da camisa, acompanhando cada batimento em meu peito. Fechei os olhos e esperei que aquela sensação ruim passasse.

O sol de minha vida havia ido embora. Agora eu estava cego por sua luz. A escuridão me sugava de volta para o mundo de trevas e não havia mais nada me guiar. Teria que conviver com aquilo por tempo necessário. Esperaria por Marinette, não importando quanto tempo demorasse. Eu a receberia de braços abertos assim que ela quisesse.

Eu a amava muito, e isso era tão certo, tão verdadeiro... Ela era a joaninha de minha vida.

— Como se sente? – Perguntou o Kwami, assim que me acalmei.

— Eu estou... bem. – Falei, seguido de um suspiro cansado.

— Não, você não está. Você está péssimo. Sua cara, pior ainda. Não sei como a Marinette não notou o seu estado. – Ele disse, tentando aliviar a tensão com a sua sinceridade exagerada.

— Não é tão grave assim. A máscara conseguiu disfarçar bem os machucados, e a escuridão ajudou bastante nesse quesito.

— Queria entender o motivo de você não ter contado nada para ela. Sobre a ligação entre os dois e o akuma. Não irá conseguir esconder isso por muito tempo. E ainda tem o Hawk Moth... Não contará para ela que ele foi derrotado?

— Vou poupá-la disso. Ela já sofreu o bastante, e não precisa saber que foi akumatizada. E pior ainda, que meu pai foi o culpado disso. – Falei desanimado.

— Mas Adrien...

— Eu sei – cortei. – Mas não acho que seja uma boa hora para isso. É muita coisa acontecendo de uma vez, e jogar isso em cima dela só pioraria as coisas. Ela é sensível e não suportaria tanta pressão.

— E como você está suportando?

Joguei meu corpo para trás e encarei o teto de meu quarto, que tinha um resquício de luz que vinha da rua.

— Eu não sei. – Arfei, sentindo meus pulmões arderem.

Depois de alguns segundos do silêncio que chegava a incomodar, Plagg se pronunciou.

— Não poderá adiar mais a conversa com seu pai.

Entortei a cabeça para olhá-lo enquanto o mesmo sobrevoava sobre o quarto e me encarava de volta. Engoli em seco sabendo que ele estava certo. Meu coração batia desenfreado só em pensar no que faria. Fechei os olhos e assenti para ele. Fiquei deitado por mais alguns minutos, descansando meu corpo dolorido e rígido.

Levantei-me da cama e espreguicei-me. Gemi sentindo minhas articulações estalarem.

— Boa sorte, garoto. – Plagg disse assim que parei em frente a porta. – Você vai precisar.

— Obrigado... – Falei em voz baixa, colocando a mão na maçaneta.

Abri a porta e olhei para o corredor vazio e quieto. Dei alguns passos para fora, receoso. Não era para eu estar com medo, mas não conseguia evitar. Afinal, mesmo que se tratasse de meu pai, aquele homem ainda me dava arrepios. Ele ainda tinha a aura de Hawk Moth e não deixava de ser o vilão da história.

O medo aos poucos era substituído pela raiva. A persistência para encontra-lo e colocar todas as fichas na mesa de uma só vez. Queria entender a real, saber se ele estava mentindo para mim e usando minha mãe como um pretexto para conseguir o poder dos miraculous, e que sua ideia estava muito além de nossa reconstrução familiar.

Havia algumas luzes acesas que me guiavam para a extremidade do corredor. A última porta que dava para o escritório de meu pai. O lugar que desde sempre considero uma zona de perigo. Minhas memórias de lá não eram agradáveis, pois era onde eu costumava receber broncas e castigos. A porta estava sempre fechada para que ele não fosse incomodado, pois passava o tempo trabalhando e planejando novas maneiras para expandir os seus negócios.

Atravessei o corredor a passos rápidos e curtos. Meu corpo inteiro suava de nervosismo e minha respiração estava ofegante. Assim que cheguei à porta destrancada – confirmando que ele realmente me esperava –, abri-a calmamente.

As lâmpadas fracas e pálidas iluminavam parcialmente o lugar, dando um ar de suspense. As grandes janelas mostravam a noite estrelada e uma boa visão da cidade e da torre Eiffel ao fundo. Um dos vidros estava aberto permitindo que o vento gelado preenchesse o cômodo. Ignorei a sensação aterrorizante que me tomava, subindo como um frio na espinha.

Não demorei muito para encontrar Gabriel de costas para mim e olhando para o quadro de minha mãe que estava pendurado atrás de sua mesa de trabalho. Notando minha presença, desviou seu olhar da pintura para me encarar intensamente. E sem desgrudar os olhos de mim, contornou a mesa e parou no centro da sala. Continuei congelado na entrada, segurando a maçaneta com a mão esbranquiçada pela força que eu usava.

Ficamos em silêncio por um tempo apenas encarando um ao outro. Uma parede invisível havia surgido entre nós separando-nos ainda mais, como se nosso distanciamento habitual não fosse suficiente em nossas vidas. Agora que a verdade fora revelada, não sabia como me reaproximar dele, aliás, nem sabia se queria. Tinha vários motivos para estar ressentido, e não era só por ele ser o Hawk Moth.

— Acredito que você queira saber como eu consegui o meu miraculous. – Ele se pronunciou aparentemente cansado de nossa quietude, lembrando de que me devia uma resposta. A menção a isso fez o bolso da minha calça pesar magicamente, imaginado que o objeto tivesse surgido ali depois que desfiz a transformação. Não fiz muita questão de me mexer para ter certeza disso.

Balancei a cabeça em afirmação, observando-o atentamente enquanto o mesmo apoiava-se na beirada da mesa da escrivaninha. Fechei a porta atrás de mim e fiquei encostado na madeira, cruzando os braços e semicerrando os olhos para ele. Respirou fundo piscando algumas vezes, olhando para algum ponto da sala antes de começar.

— Eu fui um dos destinados a ser o portador do miraculous da mariposa. Junto com outros portadores, nossa função sempre foi proteger o mundo do mal, não importando quais fossem os riscos.

Entortei um pouco a cabeça e uni as sobrancelhas. Desde que eu e Ladybug começamos a proteger a cidade, nunca tínhamos ouvido falar de algum outro herói pelas redondezas. Por acaso havia alguma organização secreta de heróis e não fui avisado de nada?

— Ainda há maldade neste mundo. Pessoas que são corrompidas pelo excesso de poder e que se aproveitam disso para coisas além do nosso real dever. Pessoas como eu, que os utilizam para o próprio benefício. – Aos poucos sua voz sumia enquanto falava a ultima frase. As íris cinzentas agora me fitavam com remorso, analisando os machucados em meu rosto.

— Onde estão os outros portadores? – indaguei no mesmo timbre baixo.

— Não há muitos por aqui. Há anos que não ouço falar de outros portadores até então. Mas sei que estão espalhados pelo mundo. – Ele ajustou os óculos no nariz.

Andou até onde o quadro da mamãe estava, colocando as mãos na lateral da moldura, puxando-a como se fosse uma porta de armário. Dentro havia alguns livros velhos e vários objetos estranhos que eu desconhecia. Meus olhos se arregalaram em surpresa quando vi um pequeno porta-retratos com uma foto de minha mãe ao lado do que parecia ser uma presilha de pavão. Ele pegou o objeto e um livro grosso empoeirado e os levou para cima da mesa.

Descruzei os braços, sentindo o meu corpo tremer novamente. Meu cérebro raciocinava rapidamente, encaixando algumas peças e entendendo o que aquilo significava. Meus pés se moveram sem que eu percebesse, guiando-me até a frente da mesa para ver o que havia no livro. Olhei para cima e deparei-me com meu pai admirando a presilha com uma expressão terna, surpreendendo-me com uma minúscula sombra de sorriso enquanto seus olhos refletiam a nostalgia que aquilo lhe trazia. Talvez fosse a primeira vez em anos que eu o via daquele jeito, fazendo-me estranhar aquele ato incomum.

A presilha era delicada, assim como a sua possível portadora. Era formado por penas verdes e com várias pedrinhas azuis, e ao centro tinha a ave pintada num azul cobalto. Era algo incrivelmente belo.

E foi então que caiu a ficha.

— Eu amei sua mãe com todo o meu coração. Quando nossas vidas se cruzaram, ela já havia me enfeitiçado com sua energia otimista, sua beleza encantadora e pura. Ela era como os dias de primavera, como os lírios que cresciam no jardim. Ficava cada dia mais linda.

Ele dizia aquilo sem tirar os olhos da presilha, como se pudesse vê-la ali em suas mãos. Demonstrava tanta emoção em cada palavra, que eu era incapaz de acreditar que aquele era mesmo o meu pai. Naquela época, meu pai não era muito de demonstrar sentimentos, mas ainda assim não deixava de ser afetuoso com a esposa. Comigo era mais rígido, mas sabia sorrir de vez em quando. Depois que mamãe se foi, ele se fechou de vez para o mundo. Nada mais poderia derreter seu coração de gelo. Nem mesmo eu, que era o seu único filho.

— Mamãe era uma heroína... – Sussurrei atônito.

— Sim, ela era. – Confirmou.

— E foi por isso que ela foi embora?

Ele desviou o olhar da presilha para me encarar.

— Possivelmente.

— Mas por quê? O que ela tinha de tão importante para fazer e ir embora sem ao menos explicar o motivo?

Ele não falou. Acho que nem ele sabia a resposta. Pôs a presilha ao lado do livro velho e apoiou ambas as mãos na borda da mesa para se equilibrar. Por um momento eu pensei que ele estivesse escondendo a verdade de mim, mas dava para ver que estava mais perdido e confuso do que eu – se é que era possível. Ele já deve ter se perguntado isso várias vezes durante esse período.

— Também queria saber como você tem tanta certeza de que ela está morta.

— Porque eu sei.

Aquela resposta idiota só enlaçou ainda mais o nó que crescia em minha garganta.

— Isso não é uma resposta. – Eu disse impaciente.

— Escute, Adrien... Eu cheguei a um ponto de minha vida a qual eu não me importava com mais nada além de encontrar a sua mãe. Eu precisava conseguir os miraculous nem que fosse a ultima coisa que fizesse. Eu estava louco, obcecado, com desesperança achando que havia perdido Clary de uma vez por todas. Quando um de meus informantes disse que havia uma pista sobre ela na China, parti imediatamente para seu encontro. – Ele pausou, colocando as mãos em frente ao rosto tenso. – Quando cheguei lá, não havia mais nada além de sua presilha entre escombros.

Afastei-me da mesa, sentindo um pânico repentino. Era uma bomba explodindo atrás de outra, e não havia mais como piorar o meu estado. O nó em minha garganta agora me sufocava. Já estava conformado com a minha perda havia tempos, mas a afirmação definitiva daquilo não deixava de doer. Eu devia ter aprendido a lição: não me deixar ser levado pela expectativa.

Os olhos de Gabriel estavam opacos sobre mim, olhando para meu rosto machucado com culpa e preocupação. Analisava cada uma das minhas feridas a distância – agindo como um pai que deveria se importar –, contendo o impulso de avançar um passo na minha direção. Eu imaginava que ele fosse me abraçar, e no fundo eu queria que ele o fizesse. Minha vida estava indo de mal a pior a cada segundo.

Eu estava fadado ao caos e ao sofrimento.

— Uma presilha não é o suficiente para provar isso. – Eu disse com frieza evidente. – Tem que haver um corpo, testemunhas, qualquer coisa que pudesse...

— Mas não há. Clary nunca tiraria seu miraculous, e isso só mostra que há grandes chances de eu estar certo.

— Mas também há chances de estar errado.

Ele ficou mudo. Os músculos de sua mandíbula se contraíam pela tensão.

— Mas eu lhe peço para não criar esperanças, ou acabará se decepcionando mais uma vez. – Ele disse recuperando o controle.

Empurrou o livro sobre a mesa para a extremidade onde eu estava.

— O que é isso?

— Só pegue o livro. Aqui tem várias informações que você pode precisar.

— Por que está dando isso para mim?

— Eu fiz muitas coisas horríveis, e me arrependo amargamente de cada sofrimento que causei a essas pessoas. Não cumpri um dos maiores propósitos da minha vida que era cuidar de você. Não sou mais o merecedor do meu miraculous, pois a maldade ainda está dentro de mim em algum lugar de meu coração. Não sei quando poderei perder o controle novamente, então estou confiando a você este livro que contêm tudo que há de importante sobre o poder dos miraculous.

— Você não vai perder o controle. Não permitirei que você saia de seu caminho novamente. – Falei com convicção.

— Então você me perdoa? – Perguntou com a voz rouca.

Pensei por alguns segundos.

— Um dia, quem sabe.

Ele curvou um dos cantos da boca, aparentemente aliviado com a possibilidade. Peguei o livro e dei uns passos para trás.

— E como está a garota?

Senti uma pontada aguda em meu peito. A ferida em meu coração que ameaçava abrir-se novamente. Travei os meus músculos, querendo evitar desabar só em pensar em...

— Ela está bem.

— Sinto muito por...

— Por favor, eu não quero falar sobre isso. – Apressei-me em dizer.

— Entendo.

Ele não disse mais nada, e nem eu queria continuar estendendo a conversa. Meu corpo já não se aguentava mais em pé de tanto nocaute que levei em pouco tempo. Apoiei o livro por baixo do braço e mordi o lábio inferior com força. Sem mais nada para dizer, virei-me de costas, indo até a porta.

— Ainda pretende ir embora? – Ele perguntou, fazendo-me parar.

— Sim. – Disse por cima do ombro.

Saí da sala sem esperar por uma contestação. Eu nem me importava mais com o que ele achava. Eu precisava sair dali. Não suportava mais a atmosfera densa daquele lugar. Eu queria a minha tão cobiçada liberdade, sair da gaiola e viver a minha vida. Arrumaria minhas coisas e procuraria por um lugar para ficar no dia seguinte. Quanto antes eu me mudasse, melhor seria.

Fui para meu quarto e me joguei na cama. Abracei um dos travesseiros com força, afundando o rosto sobre o mesmo, esperando que as lágrimas viessem, mas nada saiu. Não restava mais nada para derramar. Então eu fiquei ali, me perdendo em um estupor e aguardando para que o sono me levasse para longe daquela realidade.

Mas era difícil.

Tudo de ruim que eu sentia só se multiplicava. Algo afiado parecia perfurar minha carne, me rasgando por inteiro. Eu queria gritar até não poder mais, extravasar toda a angústia que eu guardava. Mas não adiantaria, porque era impossível que aquilo fosse me ajudar em alguma coisa.

Foi a noite mais longa de minha vida. Nem se comparava a de quando minha mãe partiu.

Embora eu estivesse totalmente esgotado, revirei-me na cama em busca de uma posição mais confortável e que não incomodasse os meus membros doloridos. Nesse meio tempo, minha suposição estava correta, pois o pingente de borboleta havia caído de meu bolso. Peguei-o e fiquei segurando-o com força. Aquele maldito miraculous precisava de um lugar melhor para ser protegido, mas não sabia mais aonde coloca-lo. Não estava com disposição para sair da cama e resolver esse pequeno problema, porque nem forças eu tinha para isso. Minha mente estava em um turbilhão, trabalhando de forma agitada. Esperei o que parecia ter levado horas, e finalmente fui vencido pelo cansaço, junto ao miraculous que repousava em minhas mãos.

E a escuridão de minha vida me puxava para cada vez mais fundo.

Até que não houvesse mais nada para me salvar.


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Notas finais do capítulo

Enquanto escrevia, fiz algumas análises para ver se não estava faltando alguma coisa. Então... Sabe os pais da Marinette? Eu quase tinha esquecido a existência deles. Eles tiveram uma aparição ligeira no início do capítulo, pois seria muito estranho se os pais dela não notassem o desaparecimento de mais ou menos vinte quatro horas da filha, ou eu os chamaria de desnaturados. Coloquei de qualquer maneira, pois não queria que esse mero detalhe estragasse completamente os meus planos para a próxima fic. E por pouco também não me esqueço dos machucados do Chat, kkkkk. Desculpe se estiver uma droga, mas o resto do capítulo compensou... ou não. Sou muito esquecida, então é possível que eu tenha deixado algo passar despercebido. Por favor, me avisem se tiver algo faltando, para que eu possa concertar.

Acho que a parte mais complicada desse capítulo, tirando as minhas outras tentativas de começa-la, foi a da conversa entre pai e filho. Foi difícil, porque nem eu sabia como colocaria essa conversa. Se ele teriam uma briga duradoura ou só um diálogo para se resolverem. Afinal, Adrien ama seu pai, mesmo que ele tenha feito muitas coisas erradas. Gabriel não deixa de ser um humano que é facilmente levado pelas emoções, e isso é normal para qualquer um. A perda pode afetar as pessoas de várias formas, e essa foi uma das maneiras de Gabriel de tentar lidar com a sua dor.

Pois é gente... Acabamos essa primeira parte, e talvez muita gente vá querer sair me xingando por ter terminado o capítulo desta forma. Não me odeiem por favor, pois a próxima fic será mais intensa, cheia de novidades, conflitos e MUITO AMOR!

Quando eu estava planejando um final para a fic, ainda estava escrevendo o capítulo 6. Estava dividida entre um final feliz e um final triste para os dois. Não queria que fosse algo clichê, mas também queria que fosse algo que motivassem vcs a continuarem me acompanhando. Não desistam de mim, pois eu prometo que na próxima eu darei um final decente para vcs ♥

Voltarei em breve para postar os meus agradecimentos e a sinopse temporária da fic. Se eu conseguir, também mandarei o link da capa para vcs verem.

Muitíssimo obrigada por tudo e aguardarei os comentários de vcs :3

P.S. Fiquei bastante surpresa pelo número de comentários que recebi no capítulo passado. Obrigada mesmo, pois a fic chegou ao total de 103 comentários, 96 acompanhamentos e 15 favoritos. Estou mega feliz pelas 6 recomendações e espero receber mais uma para me motivar e ficar sorrindo que nem boba.

Kisses :*



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