Além de mim escrita por Lara Queen


Capítulo 15
Capítulo 15


Notas iniciais do capítulo

Volteeei, só que dessa vez com o penúltimo capítulo. Estou postando pelo celular, pq meu pc está Todo bugado, então eu não podia adiar mais a postagem.
O capítulo está grande, provavelmente beirando ao número de 4 mil palavras, o que já deve ser um record para a fic *____*
Mais um motivo pela minha demora é que, além de ainda estar revisando o capítulo e pelo pc bugado, é que tbm tava dando mais tempo para alguns leitores poderem comentar, e juro que fiquei bastante surpresa pelo número que recebi. É bom ver q tenho muitos leitores novos aki, mesmo sendo a reta final.
Sem mais enrolação... Boa leitura :)



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Capítulo 15

O GATO

Era uma fábrica de tecidos abandonada, não muito longe do centro da cidade. Já deveria esperar isso de um super-vilão. Parei em frente ao grande portão de entrada, temendo qualquer coisa que estivesse por trás dele. Os muros eram cinzentos, a tinta descascando e plantas crescendo ao redor; o portão era de metal com duas portas com um grande T desenhado em cada uma delas - provavelmente do falido Tecidos Tenebrae. A pequena borboleta que eu seguia anteriormente havia atravessado magicamente pelo portão como se tivesse sido sugada pelo mesmo.

Aproximei-me a passos largos, o coração disparado em meu peito, esmagando minha caixa torácica. Eu tremia com os ombros encolhidos, mas não era por medo do Hawk Moth em si, mas por tudo estar em minhas mãos para salvar a Ladybug. Ter que carregar aquele peso sabendo que qualquer passo em falso, tudo estaria perdido e nós dois seríamos condenados, só me deixava ainda mais temeroso. Mas eu não podia desistir na metade do caminho, mesmo que uma pequena parte de mim estivesse implorando para fugir.

A única coisa que ainda me fazia seguir em frente era a determinação e a vontade de me vingar do Hawk Moth, que era maior do que qualquer receio que eu poderia ter. Respirei fundo e soltei o ar para me livrar daquela agonia. Mexi no cadeado e constatei que o portão estava trancado.

— Parece que vamos ter que escalar. – Falei para Tikki.

Estalei a língua e ativei as garras. Escalei o muro como um felino e pousei em pé do outro lado. Quando olhei para trás, havia apenas o prédio principal com vários equipamentos enferrujados espalhados pelos arredores. As folhas secas eram arrastadas pelo vento, junto aos fios de meu cabelo que voavam até os olhos. Estava frio, muito frio; e a temperatura abaixaria cada vez mais até o fim do outono. Cada passo que eu dava em direção ao prédio, os segundos se arrastavam como horas.

Quando parei em frente à porta de entrada, não consegui adquirir força e coragem para abri-la. Minhas mãos tremiam e suavam por baixo das luvas.

— Está tudo bem, Chat. É normal sentir medo. – Tikki olhava para mim esboçando um sorriso aconchegante.

— Eu não estou com medo. – Minha voz vacilou, entregando a minha mentira.

— Não há vergonha nisso. Mostra o quão humano você é.

Dei um suspiro cabisbaixo e olhei para os meus pés. Tikki parecia estar sempre certa, como uma sábia que havia vivenciado de tudo desde o princípio, sempre sabendo o que dizer quando mais se precisa. Marinette tinha sorte em tê-la por perto, sendo ajudada nos momentos mais difíceis. Assim como Plagg, eu também o admirava mesmo que ele às vezes fosse muito irritante. Eu já o considerava um grande amigo e agradecia por estar sempre junto a mim.

Meus lábios curvaram-se levemente. Eu não estava sozinho nessa, como a mesma havia dito para mim anteriormente. Tikki e Plagg estavam comigo para me ajudar, e agarraria essa fé que eles tinham em mim. Ergui a cabeça e abri a porta do prédio. Levei a mão até o bastão que estava preso em minha cintura pronto para ativa-lo a qualquer momento.

Estava escuro ali dentro, sendo iluminado apenas por uma lâmpada que piscava e as luzes que vinham do lado de fora, dando um ar de filme de terror para o local. Adentrei ali caminhando lentamente, os olhos vagando por todos os lados, sempre atento.

O lugar era grande e estava bastante empoeirado, com algumas mesas e máquinas de costura velhas largadas pelos cantos. Sem falar no forte cheiro de ferrugem e produtos químicos envelhecidos. Me perguntava internamente o motivo de Hawk Moth ter escolhido aquele lugar para ser o seu esconderijo. Virei para trás com o susto ao ouvir o estrondo da porta sendo fechada pelo vento frio. Passei a mão pelo cabelo, as garras arranhando levemente o couro cabeludo, me sentindo um completo idiota por estar sendo tão medroso.

Balancei a cabeça e continuei seguindo o meu caminho. Bem ao fundo deparei-me com uma escada que levava para o segundo andar.

— Será que ele está lá em cima? – Perguntei para mim mesmo em um sussurro.

— É bem provável...

Olhei para Tikki.

— Olha Tikki... Preciso que você fique aqui em segurança, está bem?

— Mas de jeito nenhum, Adrien! Eu vou com você e ponto! – Ela cruzou os braços, enchendo as bochechas de ar.

— Não poderá fazer nada quando eu estiver lutando. Só me atrapalhará, e não terei como te proteger caso alguma coisa aconteça.

— Eu disse que você não está sozinho. Vou estar ao seu lado de qualquer maneira.

Grunhi impaciente pela tamanha teimosia que teria que lidar.

— Vai ter que confiar em mim. Sei que Plagg também concordaria comigo, então, por favor, colabore. Você é o elemento principal do miraculous da ladybug, e eu não posso arriscar colocar você em perigo.

Mesmo a contragosto, ela concordou soltando um resmungo. Suspirou em desistência e assentiu com a cabeça. Sorri para ela e depois olhei para cima.

Engoli em seco e comecei a subir os degraus, sentindo as pernas pesarem. Segurei-me no corrimão, o corpo fervendo e a adrenalina circulando por minhas veias. Seria uma droga se eu começasse a ter outro ataque de pânico ali, então eu prendi a respiração e procurei ficar calmo soltando o ar em seguida. Assim que ouvi um bater leve de asas com meus ouvidos aguçados, acelerei os passos quase correndo para chegar ao último andar.

Andei pelo salão aparentemente vazio, dando passos leves e evitando fazer muito barulho. O lugar era iluminado pelas luzes dos postes que vinham da janela circular. Caminhei pelo meio do salão, estranhando o fato de ninguém ter aparecido ainda, além das borboletas que sobrevoavam por todo o lugar como pequenas flores brancas e flutuantes.

— Você chegou...

Meus músculos travaram e um arrepio percorreu o meu corpo com pequenas ondas de choque. Aquela voz... estranhamente familiar... Eu não sabia de onde vinha, pois ecoava por todo o salão, seguida de uma risada grossa e maligna que perfurava meus ouvidos como lâminas cortantes.

Ativei o bastão, olhando ao redor, tentando encontrar a origem do som. Sem que eu pudesse evitar, fui surpreendido por linhas que envolviam os meus braços e pernas, deixando-me completamente imobilizado como um casulo.

Comecei a entrar em pânico, me debatendo para tentar me soltar. Resmunguei aborrecido devido a força com que os fios me apertavam, comprimindo os meus pulmões e deixando-me sufocado. Caí ajoelhado no chão, respirando rápido e desesperado.

Sons de passos se aproximavam de mim, junto a uma batida metálica no chão. Ele havia finalmente surgido da escuridão como o verdadeiro mal que se originava das trevas, e parou de frente para mim com um sorriso nada feliz, vendo-me contorcer no chão como uma lagarta.

— Hawk Moth... - falei entredentes, a raiva me dominado. - Me solte! Eu vou acabar com você!

— Eu duvido muito disso. - Ele disse dando uma risada sem humor, levantando o meu queixo com seu cajado para que eu o olhasse. - Derrotar você está sendo mais fácil do que eu imaginava.

A máscara cinza cobria-lhe toda a face e um desenho de borboleta envolvia os seus olhos. Vestia um terno roxo, e um pingente de borboleta jazia em seu pescoço. Seus olhos arroxeados brilhavam como se sentisse a vitória em suas mãos.

O ódio e a raiva preenchiam cada pedaço do meu ser. Queria esmurrar a cara daquele desgraçado e fazê-lo sangrar. Eu o encarava com as pupilas comprimidas em uma linha, os dentes rangendo e cortando os meus lábios. Minhas mãos formigavam para agarrar seu pescoço e esganá-lo.

— Onde está... a Marinette? - Questionei com dificuldades.

Ele deu uns passos para trás, afastando-se o suficiente para que pudesse andar em círculos em volta de mim.

— Você está falando da Ladybug? Ah... ela está bem, não se preocupe. - Murmurou debochadamente. - Foi fácil invadir os pensamentos dela, ver que o causador de toda sua dor... - Ele parou de andar e apoiou o peso do corpo sobre o cajado. - ... foi você.

Aquilo me atingiu de uma maneira inexplicável. Perdi o ar como se tivesse acabado de levar um chute no estômago. Uma surra teria sido melhor do que a verdade sendo jogada na minha cara.

— C-como você... sabia? Como conseguiu... se comunicar comigo? - Os fios me apertavam cada vez mais, me machucando e dificultando a minha fala.

— Marionette... Nosso convidado não está conseguindo falar. Poderia afrouxar um pouco os fios? - Perguntou calmamente, olhando para um dos cantos escuros do salão.

Obedecendo o seu pedido, os fios pararam de me sufocar e comecei a tossir, recuperando o fôlego. Olhei para a mesma direção que ele, e foi como se o tempo tivesse parado por alguns instantes assim que vi a pequena figura sair lentamente das sombras. Arregalei os olhos, extremamente surpreso ao reconhecer quem era.

Minha mente trabalhava freneticamente, incapaz de compreender... Não querendo acreditar que aquela pessoa era...

— Mari... – Minha voz perdeu-se totalmente, chocado.

O que ele fez com você?

Ela me observava seriamente com suas íris, que antes eram tão azuis quanto o céu da manhã, agora estavam rubros como o sol poente. Trajava um vestido de mangas vermelho, todo em renda como a de uma boneca, e ao redor de sua cintura havia um espartilho preto de laços da mesma cor do vestido. Os cabelos pendiam soltos sobre os ombros e usava uma tiara com um pequeno desenho de uma borboleta, e também vestia uma meia calça preta de bolinhas também vermelhas junto com um par de sapatilhas de mesma cor. Seus olhos estavam envolvidos por uma máscara de renda com desenhos de flores negras.

Mesmo naquele estado, apesar das circustância, ainda a achava muito linda. Meu coração batia violentamente em meu peito a ponto de quase machucar, apenas por vê-la assim tão pálida e indiferente, os olhos opacos sem aquele brilho aquoso e cheio de ternura que eu tanto amava. Sentia-me impotente e sem saber como reagir diante dela, e com raiva de Hawk Moth por tê-la transformado naquilo.

Em volta de seus braços, os fios que me prendiam estavam ligados a ela. A mesma andava calmamente na minha direção, enquanto o homem em pé ao meu lado ria com escárnio.

— Agora podemos dizer que vocês estão literalmente ligados pelo destino. - Ele fez uma pausa, notando os meus olhos vidrados na garota. - Marionette combina perfeitamente com ela. Uma boneca frágil e fácil de manipular.

O fuzilei com o olhar, desejando ter visão de calor para, enfim, matá-lo.

Ele me ignorou, começando o seu monólogo com um suspiro.

— Por muito tempo eu estive a observando. Mesmo rodeada de tanta negatividade, ainda não conseguia corrompê-la com o meu akuma. - Mirou-a rapidamente. - Ficava me perguntando o motivo disso até concluir que a mesma poderia ser a Ladybug. Se ela não tivesse tirado os brincos, nunca conseguiria esse triunfo, já que seria muito arriscado se eu a enfrentasse pessoalmente. Então eu deveria agradecer a você por ter me ajudado com essa grande conquista.

Ele continuou:

— Durante essas horas tentei investigar mais a fundo as suas lembranças. É um processo demorado e cansativo, mas que vale a pena. Ela tem uma mente forte e que luta bravamente para bloquear suas memórias, pelo menos as que envolvem a sua verdadeira identidade. Ela está inutilmente tentando proteger você. Mas graças aos meus estudos sobre os miraculous fui capaz de conhecer um pouco mais sobre essa grande ligação entre vocês dois.

"Através dos séculos, sempre houve essa conexão entre as almas da Ladybug e o Chat Noir, então com vocês não seria diferente. Foi pura sorte eu ter conseguido me comunicar com você, já que eu não sabia se daria certo. Digamos que foi um teste bem sucedido."

— Por que você quer tanto os Miraculous?

— Você é tolo demais para entender as minhas ambições. É apenas uma criança brincando de super-herói, achando que pode salvar Paris de mim. Preciso do poder absoluto dos miraculous para concluir os meus planos.

Enquanto ele falava, tentava discretamente cortar os fios frouxos com as garras. Mas meus olhos sempre se desviavam para Marinette, que parecia não notar o que eu estava fazendo. Passei a língua entre os lábios secos com certa apreensão e temor.

— Agora... Me entregue o seu anel e os brincos da Ladybug, ou terei que tirá-lo a força. - Ordenou. Aproximou-se de mim para que eu pudesse ver seus olhos arroxeados, carregados de desprezo.

— Nunca! - Cuspi a palavra, vendo a fúria brilhar em suas íris.

Meu rosto virou-se com o tapa que levei, sentindo a ardência forte em minha face.

— Não seja idiota, moleque insolente! Acha mesmo que pode me desafiar? Está em desvantagem contra mim, o que mais você acha que pode fazer para me impedir de conseguir o que eu quero?

Não respondi. Meu rosto ainda estava virado com a franja caindo sobre os olhos. Precisava improvisar um plano rápido.

Em um ligeiro movimento, soltei-me dos últimos fios que me prendiam, surpreendendo Hawk Moth com uma rasteira. Assim que ele caiu, minhas mãos estavam prestes a pegar o seu pingente de borboleta. Tudo estaria acabado, por fim. Mas Marinette foi mais rápida com um movimento sagaz. Agarrou o meu braço e jogou-me para longe do inimigo, ficando por cima de mim com as duas pernas de cada lado da minha cintura.

Do outro lado, Hawk Moth se levantava enraivecido de tal forma, como se fosse possível ver uma aura negra envolvendo seu corpo. Passou a mão pela cabeça, encarando-me com os olhos em chamas.

— Você vai pagar por isso! - Apontou para mim com os dentes rangendo. Eu poderia rir de sua cara se eu não estivesse tão lascado. - Marionette, acabe com ele!

Então eu encarei aqueles belos olhos escarlate e cheios de seriedade. Ela olhava para mim com a cabeça abaixada, os cabelos soltos caindo para os lados do rosto como uma cortina negra e esvoaçante pelo vento fraco que vinha de algum lugar. Suas sobrancelhas uniram-se pela ira e levantou uma das mãos cerradas para me acertar.

O que eu poderia fazer? Bater nela? Nunca teria coragem disso.

— Você machucou meu coração, então eu terei que machucar você. - Aquela que falava não era a Marinette que eu conhecia. Era outra pessoa, uma desconhecida que se apossava de seu corpo. Ter que ouvir sua voz aveludada e tão amável pronunciar aquelas palavras tão duras era pior do que eu poderia imaginar. Queria acreditar que era apenas o poder do akuma falando.

Antes que o punho dela acertasse minha face, o segurei bem próximo ao rosto, as mãos de ambos tremendo para equilibrar a força.

— Marinette, sei que bem no fundo você não quer fazer isso. - Falei com o tom histérico.

— Isso não vai adiantar. Ela está seguindo as minhas ordens.

Ignorei o homem e continuei encarando-a, suplicando para que me ouvisse.

— Por favor, Mari. Não escute ele... Lute contra isso!

A garota mordeu o lábio e rosnou. Aumentou a sua força e tirou sua mão da minha, pronta para mais uma investida.
Eu não tive escolha.

Dei uma cabeçada nela e a mesma cambaleou para trás, saindo de cima de mim com a mão na testa.

Levantei e fiquei na posição de defesa. Ela veio em minha direção e desferiu golpes que eu tentava desviar. Mas cada tentativa parecia inútil, pois ela era muito ágil e veloz. Ativei meu bastão para me ajudar, mas Marinette usou seus fios para tirá-lo de mim, jogando-o longe.

— Por favor... Pare... Eu não quero machucar você! - Tentei mais uma vez.

Senti meu corpo sendo jogado de encontro ao chão, o estômago se contorcendo pelo chute que havia levado. Coloquei a mão na barriga, tossindo muito e sentindo um gosto metálico na boca. Novamente ela ficou por cima de mim, dessa vez acertando o meu rosto em cheio.
Então eu fiquei ali, permitindo que ela me batesse sem que eu pudesse fazer alguma coisa.

E pensar que aquelas mãos tão delicadas um dia já me tocaram com tanto carinho, e agora estavam manchadas com o sangue que escorria de meu rosto. Eu não a deteria, pois minhas duas metades - tanto Adrien quanto Chat - sabiam que merecia. Ela rosnava a cada soco que me dava, seus olhos refletiam a ira de Hawk Moth, tão vermelhos quanto o sangue que jorrava pelo chão. Tudo em mim doía. Meu corpo e minha alma. Estava destruído, acabado. Eu não faria nada, pois nunca conseguiria machucá-la, pelo menos não mais do que as dores que eu causei em seu coração. E então ela parou para encarar o pequeno sorriso que eu dava com os lábios cortados e rosto inchado.

— Até o fim... estarei aqui... com você. Te amando para sempre. - murmurei com dificuldades.

Eu me entregaria a morte com todo o prazer. Pelo menos minha última visão seria com ela, mesmo que eu lamentasse não poder ver os olhos azuis como o oceano, aquelas duas pedras tão preciosas quanto o mais raro dos diamantes, e mesmo que eu não pudesse ver seu último sorriso tão radiante quanto o sol.

Por fim ela parou, olhando para mim como se sentisse dor. As íris variando entre o vermelho e o azul, ficando numa tonalidade violeta. A mesma parecia lutar consigo mesma, a mão levantada tremendo e evitando me dar mais uma surra.

— Acabe com isso, Marionette, e pegue o miraculous dele!

— Des... culpe... - ela tentou dizer para mim.
Fui surpreendido por um grito desesperado e sofrido. Marinette jogou-se ao meu lado com as mão na cabeça e se contorcendo. Olhei para a cena, sendo internamente devastado. Ele a estava machucando bem diante de mim.

— Por favor, pare! - Berrei com a voz rouca, a mão estendida na direção dela como se tentasse tocá-la.

— Não me desobedeça, garota estúpida! - Hawk Moth bufava, batendo o cajado no chão.

Segundos depois, ela levantou-se arfando com a testa suada pelo esforço, engatinhando em minha direção, ainda mostrando dor nos olhos vermelhos. Fiquei estático no chão, querendo evitar que ela se machucasse novamente. Seus gritos ainda ecoavam na minha cabeça, provavelmente me assombrariam com pesadelos pelo resto da vida.

Ela pegou o meu braço sem olhar para mim, segurando o anel ainda em meu dedo. Fechei os olhos e aguardei o brilho verde, sentindo-me derrotado.

E ele lentamente foi removido.

Por um segundo houve um clarão, e depois o silêncio.

Ainda de olhos fechados, pude ouvir a respiração rápida da joaninha ao meu lado; depois o som de um objeto metálico caindo no chão e um arquejo alto que vinha do outro lado.

— Adrien?

Abri os olhos com espanto. Virei a cabeça para olhar o homem que me encarava assombrado.

— Como... Sabe... quem eu sou?

Talvez fosse uma pergunta idiota, já que meu rosto estava estampado em várias revistas e banners por todo o país.

Para a minha total surpresa ele andou em minha direção a passos rápidos, o corpo tremendo. Estranhei o fato de ele estar assim, porque até alguns minutos atrás ele estava tentando me matar.

— Não chegue... perto de mim. - Falei hesitante, arrastando o meu corpo para trás. Marinette olhava tudo sem entender, com uma clara interrogação na face. Hawk Moth parou, e então pôs a mão no pingente e o retirou da roupa. Coloquei as mãos no rosto, tampando o forte brilho roxo que nos envolveu.

Não consegui me mexer.

Não consegui falar.

Não consegui raciocinar o que estava acontecendo.

— Filho...

Meu pai estava ali, olhando para mim com pesar e culpa.

Esperava que fosse o meu cérebro pregando uma peça, que fosse mais um dos meus pesadelos... Mas não... Era tão real quanto as dores que estava sentindo sobre o corpo.

— Não pode ser você...

Ouvi um baque surdo e olhei para onde Marinette estava. Depois da transformação de Hawk Moth, o poder do akuma já havia perdido o efeito. Agora ela estava desacordada com o rosto sereno, como se dormisse em um sono pesado.

Seria melhor assim. Ela não precisaria ver o que aconteceria em seguida.

— Você tentou me matar. Por quê?

— Adrien, eu... sinto muito. Meu Deus, o que foi que eu fiz?

— Sente muito? - Perguntei com a voz alterada e cheia de sarcasmo. - Como foi que você chegou a esse ponto?

— Me perdoe, por favor. Eu não queria... Eu não esperava que você fosse o Chat Noir.

Tudo parecia tão confuso e sem sentido. Meu pai era o meu inimigo. Ele era um louco, frio e psicótico. Meu estômago embrulhou-se e minha visão começou a perder o foco por alguns segundos.

O silêncio entre nós era preenchido pelo som perturbador de meu coração batendo em meus ouvidos.

— Por quê? Por que você fez isso tudo? – Perguntei com a mágoa evidente e minha face.

Ele tentou dar alguns passos na minha direção, mas eu recuei.

— Eu estava tão cego, tão desesperado... E eu fui capaz de machucar até meu próprio filho. — Falou para si mesmo, olhando para as próprias mãos.

— Por quê? - insisti, com o tom endurecido.

— Porque... eu fiz isso pela nossa família. Posso trazer sua mãe de volta.

Congelei, surpreso. Passei a língua pelo lábio cortado, sentindo o gosto do sangue invadir minha boca. Não poderia ser verdade. Lembrei-me de algumas noites atrás, quando tivemos a nossa última conversa, e de suas palavras frias que fizeram parte do meu mundo desabar.

— Você mesmo disse... - Murmurei entredentes, quase num rosnado. - ... que ela estava morta. Que não havia esperanças em um caso sem solução. Como acha que vai conseguir isso?

— Aquele que possuir os dois miraculous, poderá ter o poder absoluto em níveis cósmicos. Eu posso trazer a Clarisse de volta, eu posso... – Tentou argumentar, mas eu o cortei.

— Não! Ela não iria querer isso! Não dessa maneira... Você se deixou levar pela ambição e a dor da perda. Alimentou-se do sofrimento dos outros para conseguir o que queria, capturou a garota que eu amo e quase nos matou! Como acha que ela se sentiria ao ver tudo o que você fez?! - Gritei a ultima parte com os olhos ardendo e as lágrimas escapulindo.

— Adrien... Eu fiz isso por nós... Tudo voltará a ser como antes, como nós sempre quisemos. Sua mãe aqui, viva e conosco. Não haverá mais pelo que sofrer. Ajude-me a concretizar esse desejo.

— Eu não quero isso...

Grande mentira. Eu queria, sim, a minha mãe de volta. Um pequeno lado obscuro do meu subconsciente almejava isso com todas as forças. Queria me agarrar nesse fio de esperança e ver todos unidos e felizes, sem ter que me importar com as consequências futuras. Mesmo a contragosto, conseguia entendê-lo.

Mas não era assim que as coisas deveriam ser. Ela não se orgulharia em ver todo o sofrimento que foi causado para ressuscitá-la. Minha mãe se importava com o bem de todos acima de qualquer coisa; assim como Marinette fazia.

Estava dividido entre o que era certo e o meu desejo mais profundo. Engoli a saliva e deixei as últimas lágrimas escorrerem de meu rosto. Fiquei pensando por longos segundos sobre a minha escolha. Depois eu ergui o queixo e levantei-me, já decidido.

— Eu não vou me juntar a você nessa loucura. Por favor, pare com isso. Pare de tentar ir contra o destino. Se a mamãe estiver mesmo morta, não podemos fazer nada sobre isso. Se ela estiver descansando em paz, deixe-a. Ela não precisa do desgosto de ver no que se tornou.

Esperava que ele entendesse que tudo o que fez não era o caminho certo a se seguir, mesmo que não pudéssemos ter a mamãe de volta. Doía muito, mas nós dois tínhamos que aceitar seguir em frente e deixar toda angústia no passado.

Ele virou-se de costas para mim, se afastando para perto da janela circular, observando as poucas estrelas que brilhavam no céu.

— Sua mãe já fez tanto por mim, e eu precisava me redimir. Queria entender o motivo de seu desaparecimento, se ela foi sequestrada, mas... Não havia nada. - Seus ombros começaram a tremer e um barulho abafado saiu de seus lábios. - Necessitava de uma forma para consertar todos os meus erros e achei que essa era a solução. Clarisse era o amor de minha vida, e sem ela, eu me sinto perdido. Fui um péssimo pai, não cumpri ao menos o último desejo que ela fez para mim. Cuidar de você era a minha prioridade, e eu acabei fazendo o contrário. Nunca vou me perdoar por tê-lo machucado.

Ele virou-se para mim com os olhos vermelhos e brilhando pelas lágrimas. As íris cinzentas como uma nuvem carregada e prestes a chover.

Gabriel era apenas um homem de coração machucado que não sabia lidar com as próprias emoções. Não mediu as consequências de seus atos, agindo de forma impulsiva, cometendo um erro grave, afastando as pessoas mais próximas de si e ferindo muitos inocentes.

Ele era um pessoa batalhadora e persistente. Quando uma ideia, por mais idiota que fosse, entra em sua cabeça, é impossível fazê-lo parar.

Um mal hereditário, infelizmente.

Apesar disso, ainda não conseguia sentir compaixão. Depois de tanta coisa, tantos desentendimentos, era inevitável o meu total ressentimento. Ainda com o gosto metálico na boca, passei a mão sobre o rosto para tirar o excesso de sangue que ainda escorria.

Agachei-me próximo de Marinette, peguei o anel que ainda permanecia em sua mão, colocando-o novamente no dedo. Observei por breves segundos o rosto adormecido da joaninha e encostei sua cabeça em meu ombro, abraçando-a de forma possessiva e dando um beijo cálido em sua testa por cima da franja.

Quando coloquei o anel de volta no dedo, Plagg apareceu magicamente e em seguida transformei-me em Chat Noir.

— Só quero que desista dessa ideia e entregue seu miraculous. Você não é digno desse poder, e já causou problemas suficientes. – Falei com a voz mais grave do que pretendia. Ele deu um suspiro e olhou para mim.

— Você nunca me perdoará, não é mesmo?

— Pode ter certeza.

Ele pegou o pingente e jogou no chão como se não fosse nada. Ergui uma sobrancelha, mas ignorei. Não achei que ele aceitaria a derrota tão fácil. Talvez ele também concordasse que estávamos fartos de tantas brigas, como se não bastasse muitas outras que tivemos.

Ele olhou para a garota em meus braços e curvou levemente os cantos da boca em um sorriso quase imperceptível.

— Essa ligação... Você deve amar mesmo essa garota.

Não respondi. Ainda abaixado ao lado da garota, peguei o objeto caído próximo de mim, e o analisei por uns instantes.

— Como conseguiu isso? - A pergunta escapou de minha boca.

— É uma longa história. - Deu de ombros.

Eu poderia dizer que tinha todo o tempo do mundo para ouvir, mas sabia que não era exatamente uma boa hora, por mais que eu realmente necessitasse de respostas. Além de precisarmos de um período sozinhos para refletir, também tinha que deixar Marinette em casa, pois seus pais deveriam estar preocupados. Ela não era vista desde a noite passada, o que deveria tê-los deixado loucos pelo seu desaparecimento. Então eu concordei e dei de ombros. Resolveríamos isso depois, quando estivéssemos em casa.

— Antes de eu ir, vou te dar um único aviso: nunca mais chegue perto de mim ou da Marinette. Assim que tudo estiver esclarecido, vou sair de casa.

Ele franziu o cenho.

— Como pretende sair de casa se nem ao menos tem um lugar para onde ir? - contestou.

— Posso dar um jeito nisso. Tenho amigos que podem me ajudar. - dei de ombros.

Virei-me de costas e segui meu caminho para longe dali sem ao menos me importar com sua próxima reação, com Marinette em meus braços, que ainda dormia. Se um dia eu perdoaria meu pai, eu não sabia. Poderia levar o tempo que fosse, mas não aconteceria tão cedo. Sabia que meu pai me amava da maneira torta dele, assim como eu - mesmo que estivesse com muito rancor - também o amava. Ele era o único laço de sangue que havia me sobrado no mundo, e nunca deixaria de ser o meu pai.

Com o miraculous da borboleta pesando dentro do bolso, só me restava saber o que eu faria com aquilo. Hawk Moth foi derrotado e a cidade estava segura. Tantas perguntas rondavam em minha cabeça, mas apenas uma estava implorando por uma resposta clara.

Qual seria o futuro da Ladybug e do Chat Noir dali em diante?


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Notas finais do capítulo

Eu não sei o motivo de ter escolhido uma fábrica como covil do Hawk Moth (já que no início eu pensei numa igreja abandonada), mas era só pra dar uma diferenciada das outras histórias de Miraculous. Eu escolhi o nome Tenebrae por ser uma clara referência ao meu divo Final Fantasy xv, já que é o nome de uma das cidades do jogo. O nome não tem nada haver com tecido, é só nome mesmo pq eu tô sem criatividade.
Outra referência que eu coloquei foi a do filme Capitão América: Soldado Invernal, que é a da surra que o Chat leva da "Marionette" e sua fala "Até o fim estarei aqui com você".
O nome "Marionette" foi inspirada em uma fanart maravilhosa q eu vi no google, mas o visual da personagem foi uma invenção minha.
Acredito que esse penúltimo capítulo poderia ter sido melhor, mas eu não soube construir muito bem o confronto entre Adrien e seu pai. Tipo, na maioria das fanfics, a intensão de Gabriel Agreste é quase sempre a mesma: trazer a sua esposa de volta. Eu estava sem opção, porque é bem verídico e acho essa ideia genial. Por um momento eu cogitei a ideia de fazê-lo "um deus do novo mundo" como em Death Note, mas achei ridículo e sem sentido, já que no primeiro ep aparece Hawk Moth segurando a foto da sra. Agreste.
Eu teria levado a batalha entre Adrien e Gabriel mais adiante, mas acredito que gabriel não teria coragem de lutar contra o próprio filho, vendo que já o fez sofrer demais, e ainda mais pelo mesmo ser muito parecido com a mulher que amou profundamente.
Eu admito que esse final não ficou muito bom e parece que foi feito de qualquer maneira, então desculpa.
Qualquer coisa que eu tenha deixado sem explicação, podem perguntar pra mim por mp ou nos comentários. Eu sou uma pessoa bastante esquecida e às vezes eu me perco na minha própria história com tanta informação.
Ainda acho que também poderia ter explorado mais o lado dark da Marinette, mas não consegui ir além disso, então eu sinto muito caso não esteja na expectativa de vcs.
Por favor, me digam o que acharam e o que pode ser melhorado.


Tenho uma confissão a fazer...
Quando eu deveria estar terminando de escrever o ultimo capítulo desta fic, eu inesperadamente comecei uma nova sobre o universo de miraculous ladybug focada em uma personagem que eu tanto gosto.
Eu sei que muitos não simpatizam com a Chloe, mas eu gostaria de saber se vocês leriam uma fic sobre ela. Acho a personagem muito interessante e que pode muito bem ser explorada por trás de toda a sua arrogância. Até mesmo pensei em colocar o Nathaniel como seu par romântico, já que ele é outro personagem que gosto muito.
E também deveríamos aproveitar a categoria para escrever sobre outras coisas, além da ladybug e chat Noir.
Acho que a Queen Bee também merece um destaque, já que em breve saberemos mais sobre como a personagem irá se redimir e tornar-se uma grande heroína.
Gnt, sério, estou muito inspirada e louca para compartilhar isso com vocês!

Façam uma autora feliz e comentem o que acharam do capítulo e da minha ideia.
Kisses and love you :*