Além de mim escrita por Lara Queen


Capítulo 10
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Hey!!
Esse capítulo teria sido maior, mas acabei apagando algumas cosas desnecessárias. Mas enfim, tudo bom com vcs?
Eu sou uma pessoa cheia dos clichês, então com esse cap não seria diferente. Me desculpem se estiver meio bobo, mas é que eu gosto :3
Espero que gostem e boa leitura :)



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Capítulo 10

A JOANINHA

Estava chovendo. 

Uma chuva forte e que não passaria tão cedo. Quando acordei, pensei que o tempo estivesse limpo, levando em consideração o céu estrelado da noite anterior. Então como o tempo pôde virar tão de repente?

Olhei para a janela com pesar. Havia esquecido meu guarda-chuva em casa – como todas as outras vezes. Eu deveria ter ouvido minha mãe assim que saí de casa. Grunhi, repreendendo-me mentalmente por ter sido tão tola.

“Marinette, não se esqueça do guarda-chuva”, ela disse na cozinha, enquanto eu descia as escadas correndo.

“Não se preocupe, mãe. Não vai chover”, foi o que eu disse. Assim que coloquei o pé para fora de casa, a chuva caiu. E não teria como voltar, porque já estava atrasada.

Tinha sorte por morar perto da escola, o que era bem contraditório já que quase sempre chegava atrasada. Depois que cheguei, tentei entrar discretamente na sala sem que a professora percebesse. Fui pega no flagra e ela quase me levou para a diretoria. Por sorte ela considerou, assim que implorei por uma chance de tentar me explicar.

Dei a desculpa mais esfarrapada que tinha.

“Meu gato ficou doente e tive que levá-lo para o veterinário. Por isso que me atrasei.”

Ela revirou os olhos e bufou. Já estava acostumada com minhas desculpas. Não querendo mais discutir, apontou para a minha cadeira para que me sentasse de uma vez.

Suspirei, abaixando a cabeça e me apoiando sob os braços. Sabia que Alya estaria me encarando com um olhar reprovador.

— Queria saber o que você faz durante a noite, para no dia seguinte chegar atrasada. – Ouvi-a resmungar ao meu lado.

Todas as noites eu faço patrulhas pela cidade como uma super-heroína, ao lado de meu parceiro Chat Noir. Nada de mais...

Como eu gostaria de dizer isso.

— Marinette, preste atenção! – Levantei a cabeça rapidamente com o susto. A professora me encarava como se quisesse jogar o apagador em mim. Os alunos encaravam a situação com pavor. Aquela mulher dava medo até mesmo a aqueles que não estavam envolvidos.

Não era uma má aluna, mas estava muito cansada. Queria muito descansar, nem que fosse por um minuto. Depois de me ameaçar com seu olhar, virou-se novamente para o quadro, fazendo-me voltar a respirar de alívio. Para ela estar com tanta implicância comigo, não deveria estar no seu melhor dia. E quando estava?

Olhei para a mesa da frente e reparei algo incomum. Não havia ninguém sentado ali, a não ser Nino. Franzi a testa e encarei o vazio com curiosidade. 

Adrien havia faltado.

Talvez eu não tivesse notado antes, porque fiquei o tempo todo com a cabeça abaixada, com medo de olhar para sua direção e vê-lo com uma expressão indiferente em relação a mim. Mas ele não estava lá para eu ter certeza. 

Tentei não me importar com isso, mas queria muito saber o que aconteceu. Ele ficou doente? Havia perdido a hora? Ou não queria me ver...?

A primeira e a segunda questão eram mais válidas. A terceira seria impossível. Tudo bem, ele estava chateado comigo, mas ninguém seria tão infantil a ponto de faltar aula por causa de uma discussão. A não ser que ele estivesse muito abalado.

Mas esse não era o caso.

Peguei meu caderno e um lápis e comecei a copiar a matéria que estava no quadro. Vez ou outra me distraia, desenhando florzinhas e corações na borda da folha. Estava dispersa demais para continuar prestando atenção na aula. Os motivos eram óbvios.

Meus pensamentos variavam entre o que poderia ter acontecido com Adrien, e sobre o ocorrido na noite passada.

Chat Noir.

Eu comecei a gostar dele sem perceber. Até mesmo amá-lo. Queria saber quando foi que tudo aquilo começou. Foi tão intenso e repentino, que me sentia sendo inteiramente engolida por um tsunami de emoções.

Amá-lo não era tão ruim. Muito pelo contrário, conseguia ver todas as noites sendo finalizadas com risos, assim como a nossa ultima. 

Seus olhos, seus lábios, seu sorriso atrevido... Parecia que tudo era capaz de me enfeitiçar. O toque leve de suas garras em minha pele me causava arrepios e um extremo deleite.

Eu estava mesmo apaixonada.

Meus devaneios foram interrompidos pelo sinal da próxima aula. A professora ignorante tinha saído para que outra ocupasse seu lugar. A professora de biologia tinha o costume de demorar a entrar na sala, então os alunos costumavam ficar conversando e fazendo bagunça enquanto aguardavam. Quando me abaixei para pegar meu livro na mochila, uma figura ofegante surgiu apoiando-se na porta.

— Me desculpem o atraso. Acho que dormi demais.

Adrien caminhou até a mesa na minha frente e se sentou, cumprimentando Nino. Mas antes disso, ele olhou de relance para mim, fazendo-me desviar rapidamente os olhos para outro canto. Senti meu coração disparar e um calafrio percorrer meu corpo. 

— Ora, ora, Adrien Agreste. Parece que alguém está pegando manias da Dupain-Cheng.

Sentia meu sangue borbulhar ao ouvir meu nome sendo pronunciado com tanto desgosto pela Chloe. Olhei para ela irritada, e a mesma me encarava de volta com um sorriso zombeteiro. Depois olhou para Adrien, que estava ocupado demais a ignorando. 

Levantou-se de sua cadeira e parou em frente à mesa dele para conseguir sua atenção. Ele continuava a ignorando, copiando do caderno do Nino as matérias da primeira aula que havia perdido. Chloe o fitava impaciente. Ela debruçou-se sobre a mesa com um sorriso malévolo, como se tivesse tido uma grande ideia.

— Adrien, é verdade que você deu um fora em Marinette? – Havia conseguido o seu objetivo, pois Adrien a encarava sem conseguir reagir.

A sala inteira havia ouvido, e tudo estava em um completo silêncio. Minha boca abriu-se sem que eu percebesse, pelo choque que havia levado. Fechei minhas mãos em punho, louca para socar aquele rostinho bonito de loira oxigenada.

— Não seja ridícula, Chloe. Isso não te diz respeito. – zangou-se.

— Então é verdade... – Alargou ainda mais o sorriso. Ficou admirando as unhas, fingindo não se importar com a ignorância dele. – Se você tivesse aceitado os sentimentos dela, diria que tens muito mau gosto. Você merece coisa melhor, realmente. O que teria de mais numa garota que não consegue nem andar sem tropeçar nos próprios pés?

Eu estava com tanto ódio, que queria gritar, chorar e me espernear no chão até aquela vontade passar. Mas não adiantaria de nada. Meu corpo tremia tanto, que parecia que meu sangue estava em estado de ebulição. Meu rosto deveria estar vermelho, e era possível imaginar fumaça saindo de meus ouvidos.

Ela andou na minha direção e ficou parada do lado da minha cadeira. Apoiou um braço na mesa e se abaixou para olhar no fundo dos meus olhos, ainda com seu ar diabólico. 

— Você achou mesmo que tinha alguma chance com ele? Olha só pra você. É um desastre em forma de gente. Não se compara a ele. Não se compara nem a mim. Por que ele te amaria, hein?

Por que ela tinha que ser tão má? Por que estava me torturando?

Desviei o meu olhar dela e notei que todos me encaravam esperando que eu a respondesse. 

Adrien também me olhava, só que de uma forma que eu não sabia explicar. Parecia preocupação, medo. Ele queria que eu fizesse alguma coisa, que eu reagisse, mas não conseguia pensar em nada. Sentia-me uma inútil, uma ridícula, uma completa idiota.

Por que ele retribuiria meus sentimentos?

Ela tinha razão...

Eu não era bonita, não era forte ou corajosa sem a Ladybug. Não conseguia me defender sem a máscara. Não tinha autoconfiança e havia me apaixonado por um garoto que nunca me amaria. Pelo menos não da maneira que eu queria. Toda a raiva que sentia estava sendo extravasada pelas lágrimas. Fechei os olhos com força para detê-las, mas no processo acabei soltando um soluço.

Chloe ria com sarcasmo, a voz ecoando pela sala. Ela se divertia com o meu desespero, minha falta de palavras e com minha vontade incessante de chorar sem me importar que todos estivessem vendo.

— Viram só? Ela é fraca demais para ouvir algumas verdades. Só sabe chorar.

Ela queria mostrar para o mundo que eu era fraca, e que estava me contorcendo aos seus pés. 

— É apenas uma mosquinha se achando uma borboleta. Você não é nada, Marinette. Nada comparado a mim.

Eu não era nada.

— Marinette, diga alguma coisa! – Alya berrou ao meu lado, mas era uma voz muito distante para mim. 

Não estava conseguindo respirar. Meu estômago se revirava, fazendo-me sentir vontade de vomitar. Tudo parecia girar, enquanto Chloe continuava a me rebaixar.

— Ela não vai dizer nada porque sabe que estou dizendo a verdade.

Eu queria correr dali, fugir para longe e nunca mais voltar. Também queria que um buraco se abrisse magicamente no chão para que eu pudesse me enterrar. 

Por que a professora não chegava logo e começava a aula? Pelo menos toda a atenção sobre mim seria desviada. Aí eu poderia ir ao banheiro e me trancar lá pelo resto do dia.

Quando pretendia me levantar e correr, fui surpreendida com uma voz enfurecida. Encolhi-me na cadeira, com o coração acelerado e angustiado.

— Pelo menos diferente de você ela tem caráter. Ela é boa, gentil e trata as pessoas com carinho. É generosa e uma ótima amiga. E você? Só porque é rica e é filha do prefeito, acha que pode tratar os outros como se fossem ninguém? Você pode não aceitar, mas quase foi a ruína de muitas pessoas dessa sala. E não permitirei que seja de mais uma. – Ralhou.

Eu encarava aqueles olhos verdes com uma mistura embaralhada de sentimentos. Choque, surpresa, admiração... Adrien havia me defendido sem que eu pedisse ajuda – pelo menos não em voz alta. Todos o encaravam, espantados. Principalmente Chloe, que não estava acreditando que ele havia levantado a voz para ela. Arfou assustada, afastando-se da cadeira e me dando espaço para correr. 

Passei pela porta com a mão na boca, indo em direção ao banheiro feminino. No meio do corredor, acabei esbarrando na professora que carregava um monte de livros para começar sua aula.

— Marinette, aonde vai? A aula já vai começar.

Tarde demais. Deveria ter chegado antes, foi o que pensei.

Não olhei para trás, apenas abri a porta e me tranquei em uma das cabines. Sentei na tampa do vaso e encolhi as pernas, abraçando os joelhos e chorando como uma criança assustada. Eu estava mesmo muito magoada. Chloe havia tocado na minha ferida.

Minha autoestima era uma droga, e ela fazia questão de enfatizar os meus defeitos.

Ouvi algumas vozes abafadas pelo lado de fora do banheiro.

“Adrien, não! Você não pode entrar!” Era Alya.

“Eu não me importo! Preciso falar com ela.” Encolhi-me ainda mais, prendendo outro soluço que queria escapar. 

“Deixa que eu falo. Ela não vai querer ver você.”

“Alya, eu preciso ver se ela está bem!” Adrien abriu a porta com brusquidão e pude ouvir o som dos passos aproximarem-se da minha cabine.

Houve um minuto de silêncio com apenas o barulho das minhas fungadas. Alguém bateu na porta, chamando minha atenção.

— Marinette... – Adrien começou. – Por favor, abra a porta. A gente quer te ver.

— Quero ficar sozinha. – Choraminguei.

— Mari, amiga, não faça assim. A gente só quer te ajudar.

— Não quero que me vejam assim.

Adrien suspirou e bateu na porta mais uma vez.

— Se você não sair, serei obrigado a arrombar a porta. Você quer isso? – Sua voz era calma, mas ainda tinha um leve tom de ameaça.

Não respondi. Eles não precisavam ver o quão humilhada e fragilizada eu estava. Não gostava que as pessoas me vissem daquele jeito. 

— Mari, tudo o que a Chloe disse foi uma completa mentira. A gente te ama e você é tudo para nós. Não tem que ficar dando ouvidos para aquela loira de farmácia. – Alya murmurou, com um toque de aborrecimento ao referir-se à Bourgeois.

Coloquei a mão nos olhos, enxugando-os. Tentei respirar com calma, o peito subindo e descendo rápido no processo. O coração estava apertado pela agonia.

— Quando eu disse aquelas coisas para ela, cada palavra foi sincera. Eu ainda poderia ter dito mais, mas foi só o que consegui pensar de primeira. Você é atenciosa, carismática, espontânea, divertida, inteligente, engraçada... Tantas coisas que eu fico sem fôlego para falar. Além de ser linda e graciosa.

Adrien estava tentando me tranquilizar, mas por alguma razão, uma sensação familiar me preencheu. Algo que lembrava um abraço. Era quente, caloroso e macio. Envolvia-me com tanto afeto, quase palpável.

Era semelhante ao que sentia quando abraçava o garoto mascarado. O gatinho que também tinha seu lugar em meu coração.

Era esse o poder do amor?

Levantei-me, dando um passo para frente, surpresa. Apoiei a mão na porta, encostando a testa na mesma e fechando os olhos. Eu queria mais daquilo. 

Levei um susto quando senti a porta tremer com brusquidão.

— Você não me deu escolha, Marinette. Eu vou arrombar isso. Então é melhor que não esteja no caminho – falou determinado.

— Adrien, espere! Vai se machucar! – Alya tentou impedi-lo.

Ele chutou uma, duas, três vezes. Eu deveria pará-lo, ou ele acabaria se ferindo.

— A-adrien! – Gaguejei. Então ele finalmente parou. Coloquei a mão na fechadura e abri a porta lentamente. 

Alya me puxou para um abraço e eu retribuí. Fiquei olhando para Adrien por cima do ombro dela. Ele me olhava de volta, com um pequeno sorriso no rosto. Parecia que aquela discussão nunca havia acontecido, sendo deixada completamente no esquecimento. Continuava a me tratar da mesma forma de antes. Meus olhos umedeceram-se, dessa vez pela emoção.

Ele ainda se importava comigo.

— Por que ainda está chorando? – Alya perguntou.

— Porque eu tô feliz... por vocês serem os meus melhores amigos.

— Ai amiga... - Ela me apertou ainda mais, quase tirando o meu ar. Depois de alguns segundos, ela afastou-se de mim. Seus olhos também estavam úmidos. – Viu o que fez? Vou borrar a maquiagem.

Ela passou o dedo por baixo dos olhos rindo. Acompanhei sua risada, mesmo que eu não estivesse com a melhor cara. Então acho que acabou saindo como uma careta tosca.

— Precisamos voltar para a aula. – Ela disse.

Eu e Adrien concordamos. Alya foi na frente e fez um sinal com a cabeça. Não havia entendido o que aquilo significava. Foi então que Adrien segurou meu antebraço, pedindo silenciosamente para que eu ficasse. 

Encaramos um ao outro por um longo tempo. A ideia de ficar longe dele já tinha ido por água abaixo. Foi apenas por um dia. E foi o mais longo da minha vida. Eu senti culpa, medo, aflição, e sem necessidade. 

Cometi um deslize. Um erro que fez com que eu me arrependesse amargamente. Pensei que estava fazendo o que era melhor para mim, mas estava terrivelmente enganada. Por sorte eu tinha Chat Noir para me salvar. Aquele gatinho tinha sido o suficiente para me cicatrizar. Para eu me apaixonar novamente.

Mas eu ainda amava muito o Adrien, e aquilo aparentemente nunca iria mudar.

— Nós estamos perdendo o segundo tempo. – Pronunciei-me. Ele colocou a mão na nuca, com o rosto corado.

— Eu sei, mas queria falar com você. Pedir desculpas por ter te ignorado ontem e hoje também. Sei que eu parecia meio indiferente, mas por dentro estava realmente mal. Queria deixar isso no passado e tentar voltar com as coisas como eram antes. 

Ele me olhou apreensivo, esperando que eu dissesse alguma coisa. Fiquei com cara de paisagem, tentando raciocinar o que ele disse. Depois de segundos de silencio, finalmente decidi falar.

— Nada vai ser como era antes. – Eu disse fazendo uma pausa proposital, vendo sua expressão mudar de repente. – Mas podemos começar de novo, do zero. Eu também estava péssima com essa minha ideia absurda de acabar com nossa amizade. Quero fazer diferente, transformar o que sinto em outro tipo de amor. Sem ressentimentos, sem mágoas, mas de uma forma natural, com risos e...

Ele me abraçou. Não consegui completar a frase. Fiquei estática, com os olhos arregalados e sentindo meu rosto esquentar. E retribuí seu gesto com todo carinho do mundo. Estava definitivamente decidida a seguir em frente da maneira correta. 

Foram maravilhosos segundos sentindo o seu aroma delicioso. Um cheiro tão adocicado, que me fazia virar os olhos e delirar. Estranhava toda aquela familiaridade. Estava tentando lembrar-me de onde vinha aquilo, pois chegava a me incomodar.

Adrien espantou meus pensamentos, puxando-me para fora do banheiro feminino. Um grande medo instalou-se em mim. Não queria entrar na sala com todos me encarando, depois daquela cena ridícula. Ele percebeu isso e apertou ainda mais o meu braço, motivando-me a continuar. 

— Vai dar tudo certo, Mari.

Balancei a cabeça e respirei fundo. Ele abriu a porta e entrei logo atrás. Avistei Alya acenando e Nino na sua frente, com um sorriso de lado. Os alunos me observavam, fazendo-me encolher os ombros atrás de Adrien.

— Marinette, já está melhor? Você saiu correndo, então pensei que estivesse passando mal. – A professora parou de escrever no quadro para me receber. 

Ela era muito legal. Importava-se com seus alunos, tratando a todos com muito carinho e afeição. Dei um pequeno sorriso, balançando a cabeça e andei até a minha mesa. Detestava aquela sensação de estar sendo observada por vários olhos curiosos. Olhei para a outra fileira e encontrei Chloe de braços cruzados, olhando para o garoto da minha frente. Ela estava com um bico mal-humorado que chegava a me dar raiva.

Uma humilhação daquelas não tinha perdão. Não desejava o mal para ninguém, mas ela era um caso à parte. 

O resto da aula ocorreu normalmente. Na hora do intervalo, fomos para o refeitório juntos, unidos como nunca. Alya parecia comemorar que as coisas tinham voltado ao normal. Bom... Quase.

Era um recomeço.

Eu e Alya fomos comprar nossos lanches primeiro, enquanto os meninos guardavam lugar na mesa. Comprei um pacote de biscoitos e um suco de morango, já Alya pediu por um sanduiche natural e suco de uva. Enquanto retornávamos, demos de cara com a loira oxigenada, vulgo Chloe Bourgeois. Sabrina estava atrás dela segurando uma bandeja cheia de comida para as duas. A loira ainda nos encarava com desdém, como se fossemos míseros insetos em seu caminho. Não me importei, contanto que ela não mexesse comigo novamente.

— Marinette, você poderia levar minha comida lá para a mesa? – Alya perguntou de repente enquanto observava as meninas passarem. 

— O que pretende fazer? – Indaguei, pegando seu sanduiche e suco com dificuldades junto ao meu lanche. 

Ela arregaçou as mangas e estalou os dedos, andando em direção à Chloe. Antes que eu pudesse raciocinar, o erro já estava feito. A loira estava caída no chão, com a mão no rosto e a expressão assustada. Marca de dedos finos começaram a se formar na face da garota. O refeitório inteiro parou o que estava fazendo para ver o que acontecia. 

— Nunca mais se atreva a magoar minha amiga! Se fizer isso de novo, vai ser muito pior do que somente um tapa! – Exclamou, massageando a palma da mão. 

— Você ficou louca, sua quatro olhos descarada! Como se atreve a me bater desse jeito? Vou contar para o meu pai! Você vai ver só! – Levantou-se e saiu correndo do refeitório.

— Isso mesmo, pode correr! Não é só eu que quero te encher de tapas! – Alya gritou, enquanto Chloe batia a porta com raiva, marchando junto a Sabrina.

Minha amiga recebeu uma salva de palmas, enquanto eu apenas a olhava, chocada. Todos naquele lugar já haviam sofrido nas mãos da Bourgeois. Finalmente havia surgido alguém para fazer justiça com as mãos, literalmente. Andei até a sua direção e devolvi o seu sanduiche.

— Sua maluca, você vai se encrencar.

— Pelos menos lavei minha alma. Posso até ser suspensa, mas não me arrependo de nada. – Bateu as mãos uma na outra, rindo. Balancei a cabeça negativamente, sem acreditar no que ela havia feito.

Quando voltamos para a mesa, Nino levantou-se para abraçar a ruiva. 

— Eu sou o seu maior fã!

— Não consegui me segurar. Estava louca pra enfiar a mão na cara dela. – Ela ria de forma maligna.

— Já parou pra pensar nas consequências disso? – Cruzei os braços, encarando séria.

— Você pensa demais. Relaxa, ok? Eu vou ficar bem. - Apoiou o braço no meu ombro e piscou um olho para mim. 

Revirei os olhos e sentei, começando a comer os meus biscoitos. Joguei alguns discretamente na bolsa para que Tikki também pudesse comer. Os outros conversavam e riam, deixando o ar mais leve. Nino implicava com o loiro, enquanto o mesmo revidava com piadinhas. Adrien estava mais radiante, com um sorriso que não saía de sua face. Ele não notou que eu estava o observando, mas Alya sim. Cutucou meu braço e fez sinal com a cabeça como quem diz “desista de uma vez”. Abaixei os olhos, constrangida, e dei um gole no meu suco para disfarçar. 

Voltamos para a classe e o tempo passou voando. Parecia que todo o peso angustiante que carreguei nos últimos dias não estava mais ali. Sentia-me leve, livre. Quando a aula do dia acabou, ainda estava chovendo. 

Aos poucos os alunos iam embora, enquanto eu estava embaixo da marquise esperando a chuva passar. Uma brisa fria envolveu o meu rosto, causando arrepios na minha pele. Abracei meu corpo, tentando inutilmente me esquentar.

Eu devia ter ouvido minha mãe.

Adrien parou ao meu lado, abrindo seu guarda-chuva preto. Fiquei boquiaberta quando ele o estendeu para mim com um sorriso leve.

A cena estava se repetindo.

— A chuva pode significar uma coisa para você assim como pode significar outra coisa para mim. Naquela tarde você se tornou minha amiga, e eu me tornei algo a mais para você. Desculpe-me por não poder ser o cara da sua vida, mas eu lhe ofereço meu guarda-chuva como sinal de recomeço.

Ele olhou no fundo dos meus olhos, tentando desvendar meus sentimentos. Seu olhar brilhava em esperança, junto ao seu sorriso encantador que me tirava o fôlego. Soltei o ar que havia prendido sem perceber e dei um passo à frente, determinada. Diferente da outra vez, não tive receios em aceitar o guarda-chuva. 

Curvei os lábios em um pequeno sorriso. Ainda assim meu coração batia rápido, as mãos suavam e meu rosto estava quente. Um dia aquelas sensações iriam passar e ficariam guardados no passado. Eu olharia para Adrien com carinho e admiração, e corresponderia seu amor fraternal, era o que eu esperava.

Ele sorriu mais abertamente quando peguei o objeto entre nós. Dei uma pequena risada com seu entusiasmo. O carro que estava parado ali na frente buzinou, chamando a nossa atenção.

— Eu preciso ir. A gente se vê depois, Mari. – Ele acenou e seguiu em direção ao veículo. Antes que ele pudesse entrar, o chamei. 

— Adrien... – fiz uma pausa, pensando no que dizer. – Obrigada pela sua sinceridade e por tudo o que fez por mim.

— É para isso que servem os amigos. – Ele acenou com a cabeça, ainda sorrindo. Entrou no carro e partiu.

Fiquei olhando o carro se afastar, refletindo sobre todos os acontecimentos. Minha vida deu uma grande reviravolta nesses últimos dias. Mágoas, desentendimentos, descobertas e um recomeço. 

O que mais estaria por vir?


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Notas finais do capítulo

Esse capítulo também serve para enfatizar a extrema baixa autoestima da Marinette. Descrevi a Chloe como o diabo encarnado, mas eu até que gosto dela na série. Queria colocar um pouco mais de momentos entre as amigas Alya e Mari, pq as duas são mt fofas. Também queria que Mari e Adrien fizessem logo as pazes pq não consigo ver os dois brigados por muito tempo ;-;.
Eu sei... Mas já? Pois é... Porque a partir daí as coisas vão complicar, e muito para os nossos pombinhos.
A gente se vê na próxima segunda e comentem pra dizer o que acharam ^--^
Kisses :*



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