A mão do colosso não ia permanecer congelada por muito tempo, Korra sabia disso. Sua respiração acelerou, e seu coração foi tomado pelo terror do que estava prestes a acontecer. Naonãonãonãonãonão... Pensava Korra... Sai daí Asami! Sai daí! Korra não conseguia mover um músculo sequer de seu corpo. Estava paralisada. Ela queria desesperadamente poder manter aquele braço imóvel pra sempre, queria de alguma forma desbloquear a mágica habilidade de dominar platina... Mas ela não conseguia fazer nada além de assistir, em pura agonia, o momento em que o traje-mosquito da Asami foi esmagado... "Asami!!!" Gritou em desespero. Sua voz falhando por conta do esforço feito com sua garganta. Isso porém, não a impediu de gritar de novo "NÃO!!!!"

Korra despertou de seu pesadelo, arfando. Seu coração batia fortemente contra sua costela, fazendo doer tanto fisicamente, como emocionalmente. A avatar precisou de alguns segundos para conseguir controlar sua respiração. Resquícios do pesadelo... não- da realidade que ela que deixou pra trás, ainda permaneciam em sua mente. Aparecendo como um flash, sempre que ela fecha os olhos. “Pelo visto não vou dormir mais hoje” murmurou pra si mesma.

Só então notou que sua cadela urso polar a encarava. Korra sorriu e chamou Naga para perto, acariciando quando colocou a cabeça em seu colo. "Que bom que nosso quarto não fica perto do da Jinora, hein garota?"

A cadela exalou ar pela narina, de maneira curta, como se concordasse com a dona. Isso trouxe um sorriso pro rosto de Korra, que aos poucos tentava esquecer aquela lembrança que a assombrava, e focava no presente em que vivia. "Eu vim do futuro, Naga! Consegue acreditar?"

A expressão da cadela-urso-polar não mudou. Korra se perguntava se 'futuro' tinha o mesmo significado pros animais, assim como tem pros seres humanos. Naga ao menos não parecia nem um pouco afetada com a informação. O entusiasmo de Korra não era compartilhado... ou talvez sua cadela estivesse com sono. Poderia ser isso também. Usando suas curtas unhas pra acariciar atrás das orelhas de sua velha amiga, Korra a mimou por mais alguns segundos, antes de se levantar e sair pra tomar um ar fresco. Não é como se fosse conseguir dormir mais, de qualquer jeito. Decidiu não olhar as horas, pois saber o tempo não faria diferença pra ela naquele momento.

Em passos lentos, se dirigiu a área de meditação, tomando cuidado pra não fazer ruídos e acordar os acólitos. Um suspiro deixou os lábios da avatar, assim que ela pôs os pés do lado de fora, com a brisa fria arrepiando sua pele. Ela não queria pensar mais naquele dia. Ele não vai mais acontecer. Pensou Korra, disposta a deixar pra trás... Mas não consegue. Não é como um pesadelo, que depois de acordar nos esquecemos dos detalhes, e a sensação ruim é esquecida depois de alguns minutos consciente. Não. A dor da perda ainda estava lá, Korra ainda lembra, vividamente, qual é a sensação de ter perdido algo mais precioso que sua dobra... Lembra-se da angústia. Ela sentia o abandono naquele exato momento.

Não estar perto da Asami faz com que a Avatar se sinta ansiosa. Ela precisava ver a engenheira pra ter certeza de que nada ruim aconteceria a ela. Tem a sensação de que precisa estar perto pra protegê-la. Por esse motivo, a ansiedade que a atingiu durante o sono não passou ainda. O medo de que algo de ruim pudesse acontecer a sua Asami... Outro suspiro deixou seus lábios.

Não é como se ela pudesse chamar Asami de 'sua', apesar de seu coração pertencer a engenheira.
Mako é quem tinha o privilégio agora.

Korra pausou em sua caminhada por um momento, olhando o Gazebo pra onde se dirigia, e onde (no passado/futuro) considerou confessar seus sentimentos. Teria Asami sobrevivido, caso ela soubesse o quanto Korra a amava? Teria ela saído daquela situação, se tivesse alguma idéia do que sua morte faria com a dominadora? Mais um suspiro.

Não adiantava ponderar essas coisas, não mais. Agora ela tem uma chance de fazer diferente, ela ganhou mais uma chance de restaurar o equilíbrio em sua vida, e é nisso que se concentraria.

Quando mais uma vez o vento de inverno a fez estremecer, Korra se deu conta que não trocou seus trajes de dormir pelos casuais do dia a dia. Outro suspiro, agora de frustração, foi liberado. Korra se sentou em posição de meditação, e antes que começasse a pensar num plano de ação contra os igualitários, usou sua dominação de fogo para manter-se aquecida, concentrando-se em sua respiração.

Inspirou: De dentro pra fora seu chi fluia, esquentando seu sangue, aumentando a temperatura do seu corpo. Expirou: Era como se o seu corpo inteiro fosse coberto por chamas. Inspirou, segurou a respiração por um tempo, e exalou, fumaça quente saiu de sua boca, acariciando sua pele como brisa de verão. Um arrepio satisfatório percorreu seu corpo, agora ela suspirou aliviada.

Korra relaxou sua postura, mas manteve o exercício de respiração, pois ajudava a esvaziar a mente. Precisava focar no que era importante, sem se distraír com emoções descontroladas.

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Anos. Foram anos de estudo e planejamento. Anos desenvolvendo sua técnica, e aperfeiçoando seu caráter. Amon é resultado de ANOS de preparação. E de repente uma adolescente metida à justiceira, mal preparada, e convencida, aparece com um discurso complacente que desfez todo o progresso que ele fez desde que chegou a cidade república... Irritado é pouco. Amon está fumegando.

"Qual o plano de ação, senhor?" Seu Tenente perguntou, pronto pra agir.
Não era o momento pra perder a calma. Amon é alguém de compostura impecável, sensato, e calculista. Amon não se irrita. Amon não fica nervoso... Amon é um líder irrepreensível, e confiante. Amon não falha. Amon não falha!

Se apenas Noataq conseguisse manter esse papel o tempo todo...

O mascarado respirou fundo, e se concentrou em limpar sua mente de pensamentos mundanos... Ele precisava se recompor. Eu sou Amon. Eu sou Amon. Eu sou Amon. Eu sou Amon. Eu sou Amon... Repetia em sua mente, como um mantra.

Sem falha, levou apenas alguns segundos para que ele tomasse controle de suas emoções, e incorporasse o papel. Ele era Amon. Tudo estava sob controle. "Entre em contato com Hiroshi. Devemos assegurar a fidelidade de nossos aliados." Perder alguns chi-bloqueadores não faria tanta diferença a longo prazo. Ele tinha certeza de que, quando a pressão psicológica se tornasse demais para a jovem avatar, os não-dominadores veriam como ela é uma criança, tentando se passar por adulto. Brincando com fogo. "Quanto mais cedo operarmos, mais cedo podemos nos livrar dessa ameaça"

Mas se Hiroshi abandonasse a revolução agora... esse sim seria um verdadeiro baque pro movimento. Amon retornaria a estaca zero. A lealdade do Industrialista Sato, deveria ser mantida a qualquer custo.

A qualquer custo.

"Sim, senhor" O som dos passos de seu tenente ecoava conforme ele se distanciava.
Quando o silêncio era a única coisa que podia se ouvir, Amon retirou sua máscara.

Noataq nunca se sentiu tão vulnerável, desde que incorporou Amon pela primeira vez.

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O céu não estava mais tomado pela escuridão. Tons de laranja anunciavam a vinda da alvorada. "Já acordada?" A voz do mestre Tenzin resoou no gazebo em que Korra se encontrava. Há muito tempo ela terminara de pensar em um plano de ação, e agora, observava com um sorriso no rosto aquele show que a natureza apresentava.

"Estava com a cabeça cheia." Korra disse com um sorriso que transmitia exatamente o contentamento que sentia naquele momento.

Depois de criar estratégias pra desestabilizar o movimento igualitário, e o poder que Tarloq exercia sob o conselho, Korra voltou a refletir sobre a nova chance que estava tendo. Voltou a pensar sobre todas as possibilidades em aberto, e algo que ela não tinha pensado antes... Sua conexão com as vidas passadas.

Ela ainda não tentou contatar nenhuma delas, mas sentia através de Raava, que ainda estavam acessíveis.

"Aquele baile foi mesmo um evento memorável!" Disse Tenzin, orgulhoso da maturidade demonstrada pela avatar. "Você falou como uma verdadeira diplomata. Seu pai ficaria orgulhoso." Retribuiu o sorriso tranquilo de Korra.

Imaginar a reação de seu pai ao ler sobre sua estreia como avatar, a enchia de orgulho. Um sorriso mais aberto tomou conta de seu rosto. Ela adoraria que seus pais estivessem em cidade república pra acompanhar as mudanças que ela estava prestes a fazer.

Por um breve momento também se lembrou de Zaheer. O que ele diria sobre esse discurso? Soltou uma leve risada, ao imagina-lo gargalhando como da última vez que apresentou suas ideias. "Você acha que o que eu disse ajudou em alguma coisa?" Perguntou se referindo às decisões do conselho. Nesses dois dias subsequentes, ela pode ver que ao menos no povo seu discurso surtiu efeito... estavam inspirados.

Suas palavras impactaram as pessoas, de uma maneira que ela não esperava. Se elas pensassem ao menos duas vezes, antes de depositar suas esperanças em movimentos extremistas, Korra já contava isso como vitória.

Tenzin se sentia extremamente aliviado com a maneira imparcial que a Avatar se posicionou. Viu como isso afetou positivamente a moral do Departamento de Polícia de Cidade República. "Com toda certeza, Korra. Agora eu ganhei o apoio que precisava pra vetar as decisões absurdas anti-nao-dominadores que Tarlok tem pressionado no conselho por um tempo."

Essa era a abertura que Korra precisava "Sobre isso Tenzin... Eu quero fazer parte das decisões tomadas pelo conselho."

Tenzin arregalou os olhos, estupefato. "K-Korra, não é assim que funciona. Eu agradeço o seu apoio, mas fazer parte do conselho é uma responsabilidade que não cabe a uma jovem adolescente. Não duvido que você tenha aprendido muito desde que chegou em cidade república, mas as decisões que tomamos no conselho são delicadas. Algo que exige muita maturidade. Você tem aprendido, mas não é o suficiente."

Korra sabia que não seria uma tarefa fácil, convencê-lo de que precisava fazer parte do conselho, mas ela já tinha preparado argumentos pra isso. Entrar no conselho através dele com o apoio de mais dois conselheiros, era mais fácil do que ameaçar Tarlok com a informação que ela tinha sobre Yakone. Ela queria manter essa carta na manga, pelo máximo de tempo possível.

Então tentaria ser o mais convincente agora, pois daria a Korra mais vantagem contra Tarlok no futuro. "Tenzin, seu pai era mais novo que eu quando teve que lidar com uma guerra, e os efeitos após a mesma. Ele quem fundou cidade república e o conselho. Desde que Sokka morreu, os não dominadores perderam um representante, eu quero preencher esse vazio."

Tenzin odiava ter fatos históricos sobre seu pai usados como comparativo daquela maneira. "Não é a mesma coisa!" Disse exasperado. "Naquela época não tinha ninguém que pudesse fazer aquele trabalho, então ele teve que tomar a responsabilidade pra si. O conselho é autossuficiente, Korra. Não precisamos do avatar pra tomar decisões..."

Korra sorriu de lado, era nesse ponto que queria que ele chegasse "Vocês certamente podem não precisar de mim. Cidade república pode não precisar de mim, mas é meu dever de Avatar fazer parte do cenário político. Eu preciso que as pessoas olhem pra mim, e vejam o que tenho feito para melhorar a vida delas. Eu acredito que minha voz ganhará mais força, caso eu tome parte nessas decisões. Eu preciso disso, Tenzin." Pensava já no seu futuro, enquanto falava. Pois para se envolver com a reforma política do reino da terra, precisaria de influência. "Se eu quero que as pessoas ponham as esperanças em mim, eu quero que eles vejam que eu tenho feito mais que jogar no campeonato de dominação profissional. E acredite, Tarlok ainda vai usar isso contra mim."

Tenzin sabia disso. E por essa única razão ele pausou em seu protesto pra considerar o que Korra estava pedindo.

Ela percebeu que o mestre do ar estava considerando as opções. Era hora do argumento final "Minha presença vai ser um apoio garantido pras suas decisões. O quão ruim isso poderia ser?"

Tenzin tinha que concordar, era uma boa solução. Korra não precisaria decidir nada, apenas ficar a favor dele, e contra Tarlok. Isso poderia funcionar. Mas ele tinha que deixar bem claro pra ela no que estava se metendo "Você vai ter que acordar nesse horário para algumas reuniões emergenciais" arqueou uma sobrancelha, esperando a reação dela.

Korra riu, percebendo que ele já havia concordado, e respondeu "Já acordei mais cedo que isso pra fugir pros treinos de dominação" brincou "Quando um certo alguém me forçava a meditar antes de sair de casa, sabe."

Tenzin sacudiu a cabeça, imaginando Korra levantando no alto da madrugada pra escapar despercebida. "Não sei por que não estou surpreso"

"Qual é Tenzin, vai dizer que esse é o maior sacrifício que vou ter que fazer?"
O mestre careca sorriu divertidamente, e mexeu na sua barba, procurando maneiras de arrancar uma reação mais... Korra. Agora que ele parou pra pensar, essa atitude em geral, não é nem um pouco semelhante à garota teimosa de semanas atrás. Teria Amon a assustado tanto, ao ponto de fazê-la amadurecer tão repentinamente? Foi o choque de realidade? Isso significa que assim como seu pai, Korra perdeu sua juventude precocemente. De repente ele já não se sentia mais tão divertido. "Você pode me acompanhar pra próxima reunião do conselho. Não posso te prometer nada, pois dependo do apoio da maioria... e já descontando o voto do Tarlok, temos que torcer pra que ele não influencie os outros a votar contra."

Korra sabia disso, e estava preparada pra ocasião. Tinha certeza de que, com o apoio de Tenzin, seria apenas uma questão de carisma e bons argumentos pra convencer os outros "Está de saída?" Perguntou, olhando pra suas próprias roupas por um momento, "Se tiver pressa eu te alcanço depois"

Tenzin decidiu que seria melhor se chegassem juntos ao conselho, atrasados ou não, ajudaria a mostrar uma frente conjunta. "Não tenho pressa. Vai se trocar, e pode trazer a Naga se quiser também."

Korra sorriu, era exatamente isso que precisava. "Não vou demorar." E com isso andou a passos largos, de volta pro seu quarto.

Tenzin desejava de todo o coração que a criança dentro daquela adolescente não tivesse morrido. Não suportaria ser responsável por tal perda.

Mal sabe ele que dentro de Korra existe apenas a determinação reconstruir o sistema governamental do reino da terra, acabar com senhores de escravos, líderes opressores, e fazer da lótus vermelha uma organização que se manteria mesmo depois de sua morte. Já se foi a garota cujo as prioridades eram apenas as crises que a atingiam na cara e a pegavam desprevenida. Ela agora projeta para que todas as suas ações tenham efeitos a longo prazo... onde ela estará no controle de todas as coisas.

Mas Tenzin não tem como saber disso. Então, ao ver o sorriso brilhante no rosto de Korra retornando, ele se sente tranquilo. Talvez não fosse tarde demais pra que sua aura jovial fosse preservada, e bem-desfrutada.

"Vamos?" Perguntou a avatar caminhando tranquilamente, ao lado de sua cadela-urso-polar.

"Oogi!" Disse Tenzin, em resposta. Sorrindo de volta para Korra, contagiado por sua animação.