Era o final daquela festa, só restavam naquele grande salão, um grupo de jornalistas reunidos no pé da escadaria e alguns convidados curiosos, que gostariam de ver ao vivo o que Korra diria.

“Se puder fazer a gentileza, eles tem algumas perguntas...” Tarlok disse, conduzindo-a até ficar no centro de todas as atenções. Da ultima vez, foi como lançar uma corça no meio de leões famintos; Mal sabia Tarlok que essa corça agora estava num ambiente familiar, e conhecia o terreno melhor que qualquer um desses leões.

“Com todo o prazer.” Ela disse sorrindo para as câmeras de maneira irônica.

Tarlok, se sentindo vitorioso, se afastou e deixou que os repórteres fizessem o trabalho de joga-la pra sua força tarefa.

“Avatar Korra, você testemunhou Amon tirar a dominação das pessoas em primeira mão, que ameaça você acha que ele representa para os cidadãos inocentes de cidade república?”

Sem nem pensar duas vezes, Korra se pôs a fazer um discurso “Eu acho que ele é apenas um resultado- ou melhor, uma ilustração de tudo o que deu de errado nessa cidade. Ele não estaria com um poder tão grande, se não tivessem pessoas com necessidade dessa ‘revolução.’” Fez aspas com os dedos, e levantou a mão impedindo outros repórteres de fazerem mais perguntas. “Eu odeio admitir, mas mesmo com seu senso distorcido de justiça, ele tem um ponto.” Olhando pra Hiroshi, ela continuou “Eu não concordo com ele quando diz que dominação é um mal que apenas serviu para causar guerras, mas eu definitivamente consigo ver como está afetando a vida dos não dominadores em cidade república” Olhando novamente pro repórter, ela franziu o cenho, e de maneira mais ríspida disse: “Eu ‘presenciei em primeira mão’” Repetiu propositalmente as palavras do jornalista “como membros de gangues podem causar grande dano à pessoas trabalhadoras, só por não terem um meio de se defender. Já passou da hora de alguém fazer algo quanto à esse problema, e eu sinto muito que não dominadores sintam que Amon é a resposta.” Atentos à cada palavra que Korra estava dizendo, os jornalistas anotavam aquilo compulsivamente, até mesmo os que não fizeram a pergunta. Todos estavam impressionados com tudo o que ela estava dizendo. Ocupados demais para interromper, os jornalistas acabaram dando espaço para Korra continuar falando “Ele está usando o medo, e ódio dentro do coração das pessoas, para juntar seguidores e se autopromover como um líder altruísta, quando na verdade ele é apenas um homem vingativo, e amargo. Ele não vai, e não PODE dar a vocês a paz que procuram, porque ele tem a ideia errônea de que dominação é a causa de todos os problemas; EU sou o Avatar, e restaurar paz e equilíbrio é o motivo pelo o qual eu nasci.” Suspirando, ela percebeu que estava falando até demais. Temendo que talvez seus amigos pudessem desconfiar de sua mudança, ela deu de ombros pra fingir casualidade e finalizou “Eu realmente penso que Amon é uma ameaça a todo e qualquer dominador desse mundo. Mas não creio que ele é a única coisa que deveríamos estar nos preocupando agora.”

Tenzin estava com seu queixo no CHÃO. Ele viu o sorriso do Tarlok quando os jornalistas se juntaram para fazer perguntas, afoitos, e curiosos. Tenzin percebeu o plano do conselheiro imediatamente. Ele esperava que Korra cedesse, e se juntasse à força tarefa assim que se sentisse pressionada demais. Depois dessa resposta, porém, começou a acreditar que ela não estava com medo, e realmente focava apenas na dominação de ar. Korra tinha tudo sob controle. Ao ver a expressão de choque no rosto do Tarlok, Tenzin decidiu apreciar o show.

“Porque se recusou à entrar pra força tarefa de Tarlok? Como o Avatar, não deveria estar indo atrás do Amon?” Outro jornalista perguntou.

“Como o AVATAR, eu tenho um compromisso com as pessoas de cidade república. Devo manter CADA UMA DELAS segura: Dominadores, ou não dominadores. E mais importante, tenho que tentar faze-los co-existir em paz, como sempre foi no passado. Eu irei atrás do Amon, assim que ele começar a ir atrás de pessoas inocentes apenas porque elas são capazes de dominar. Até agora, ele só capturou criminosos, então eu simplesmente farei meu melhor pra chegar até esses alvos antes dos chi-bloqueadores, e leva-los até Lin Beifong. Eu não aprovo o que Amon tem feito, mas eu acredito de verdade que alguém deveria estar fazendo algo pra parar essas brutalidades que acontecem por aí. Tem um limite para o que a Policia consegue fazer sem minha ajuda, mas agora que estou aqui, acredito que nós podemos fazer cidade república um lugar melhor para se viver.”

Lin arregalou os olhos quando teve seu nome mencionado. Gostaria de tomar como afronta, mas o que a Avatar estava fazendo ali era algo que ajudava muito a situação crítica em que a cidade se encontrava. Dominadores estavam pondo suas esperanças na força tarefa, enquanto não dominadores estavam cada vez mais e mais inclinados em se juntar aos igualitários. É como se nenhum dos dois confiassem mais nos policiais dominadores de metal (o que ela acreditava ser a intenção de Tarlok desde o começo). Os cidadãos estavam divididos, como se suas ‘classes’ os tornassem seres diferentes. Mas agora com esse discurso da Korra, se pondo contra ambos os lados, reforçando o poder da polícia de cidade república, dizendo a todos, de maneira sutil o quanto confiava na polícia com a tarefa de capturar as tríades.... Alguns radicais não teriam mais razão pra se sentir desconfiados. A chefe Beifong odiava admitir, mas estava começando a admirar aquela garota abusada.

“Porque está fugindo da luta?”

Se Korra não tivesse certeza antes, ela estava completamente certa agora que Tarlok pagou todas aquelas pessoas para fazerem aquelas mesmas perguntas. Ela riu levemente, imaginando a reação do conselheiro, com seu plano falhando espetacularmente.

“Bem, eu não to fugindo de luta nenhuma. Amon é livre para vir atrás de mim qualquer momento que desejar. Digo, isso se ele quiser provar à todos o quão hipócrita ele é, fazendo de alvo uma pessoa inocente só pelo o fato de que tem dominação, da mesma maneira que criminosos fazem com pessoas inocentes não-dominadoras. Eu é quem não vou perder meu tempo, indo atrás de um homem que se esconde na sombra de suas próprias mentiras. Tenho coisas mais importantes pra fazer, e não envolve caçar uma pessoa que não quer ser encontrada.”

Asami arqueou uma sobrancelha, impressionada com a resposta ousada da Avatar. Parecia que ela realmente não temia a morte... ou, Asami sorriu, ela realmente tinha confiança no seu poder. Interessante, Asami pensou. Se tinha algo que a garota de olhos verdes apreciava nas pessoas, era auto-confiança. E Korra parecia ter de sobra.

“Então você acha que a dominação profissional é mais importante do que lutar uma revolução?!”

Segurando seus cotovelos, na frente do corpo, ela deu de ombros e respondeu tranquilamente “Dominação profissional é algo que eu faço por diversão. Um Hobby, se assim quiserem chamar. É como eu gasto meu tempo livre. Não esperam que eu trabalhe o tempo todo, esperam? E sem contar que, eu uso essas lutas pra melhorar ainda mais minhas habilidades. Então não é tempo perdido. Bolin inclusive me ensinou uns golpes muito impressionantes!” Acenando em direção ao seu amigo, ela riu quando o viu levantar os polegares em aprovação. Olhando para o lado um pouco, lá estava Asami, e o sorriso de Korra se tornou muito mais sóbrio. De repente o som das câmeras se tornaram estáticas, e não existia mais nada além dos olhos verdes que a prendiam, refém daquele momento.

Um dos repórteres tossiram, e só então Korra voltou a prestar atenção nas perguntas “Perdão, pode repetir?”

“Como acha que Avatar Aang teria lidado com isso?”

“Ah, essa pergunta, a melhor de todas.” Ela riu, fazendo os repórteres se entreolharem, sem entender a graça. Quando a atenção deles voltou pra Avatar, ela já tinha se recuperado, e estava pronta pra responder. A vontade dela era de dizer “Como vou saber, não conheci ele”, mas decidindo dar uma resposta mais madura, e seguir a linha do que estava fazendo até agora, ela humoradamente disse: “Certamente, não sozinho.”

Quando continuaram a encara-la como fosse louca, Korra completou “Avatar Aang teve pessoas o apoiando durante sua jornada, e da mesma maneira, tenho pessoas que me ajudam.” Após sorrir novamente em direção aos seus amigos, ela se permitiu olhar pro Tenzin pela primeira vez pra ver sua reação. Ao ver o sorriso bem-humorado na face do seu mestre, soltou um ar que nem notou que havia prendido.

Corado, Mako desviou o olhar quando Korra respondeu a última pergunta. Era impressão dele ou ela estava olhando em sua direção? Duvidou. Ou era ele ou Asami, e Mako não acreditava que sua namorada teria feito Korra travar daquela maneira. Estava impressionado com a sutileza que Korra respondia aquelas perguntas, quase como se estivesse preparada.

Ela estava diferente, e Mako suspeitava da maneira como estava agindo. Querendo ou não, Korra estava conseguindo chamar sua atenção, e ele não podia deixar isso acontecer. Estava namorando agora, e Asami era uma garota incrível... O problema, era que Korra já estava conseguindo confundir sua cabeça.

“Você está com medo do Amon?” Outro alguém perguntou. E esperançoso, Tarlok observou Korra atentamente, aquela pergunta era seu golpe de mestre... Ele sabia que Korra estava aterrorizada. Era perceptível, da vez em que ele a viu reagir quando mencionou Amon... Korra teria que ceder agora... Ela simplesmente teria...

De todas as possibilidades, a última coisa que ele esperava era forma fria, na qual Korra respondeu à pergunta. No mínimo, ele estava na expectativa de ter um protesto agitado, que futuramente ele poderia relatar à todos como falta de confiança, mas nem isso conseguiu.

“Não. Eu não tenho medo do Amon” Ela descruzou os braços e assumiu uma expressão determinada que não deixava espaço pra questionamentos. Iniciando um novo discurso, ela usou suas mãos para gesticular conforme falava “Eu não tenho medo dele, pois sei que o que o torna forte são seus seguidores, e qualquer que seja a mente genial que faz todos os equipamentos pro seu exército. Ele é apenas um homem. O que me assusta de verdade é o efeito que seus discursos de ódio contra dominadores têm. Eu tenho medo da alienação que as pessoas sofrem por causa de suas palavras. Pessoas estão sendo manipuladas, e se deixando levar pelo desejo de vingança. Eu não temo Amon, tenho medo do dano que ele causa à sociedade em geral, por fazer pessoas acreditarem que dominadores e não dominadores não podem co-existir. Se algum de vocês for imprimir isso e publicar, por favor publiquem isso: Eu, Avatar Korra, peço para que todos os chi-bloqueadores aí afora reconsiderem por quem lutam, ou pelo o que lutam. Re-avaliem seu conceito de justiça, e pensem nas consequências de suas ações. Porque eu posso assegurar vocês que vingança cega não é justiça, e isso não trará vantagem alguma à sociedade. Vocês estão apenas ajudando Amon a dividir ainda mais as pessoas.” Korra olhou diretamente pro Hiroshi, apenas por alguns milésimos de segundos pra ver sua reação; Não sabia se sua sobrancelha franzida era seu jeito pensativo, ou enraivecido. Com esperanças de que aquele seu discurso ajudaria na decisão não só do Hiroshi, mas também na de muitos não dominadores por aí, continou: “Eu peço que vocês continuem lutando, mas não por Amon. Lutem por vocês mesmos, por suas famílias, e seus direitos. Faça o que é certo, e largue seus uniformes que representam uma divisão. Ajudem a restaurar a união de pessoas que jamais deveriam ser julgadas como diferentes pelo detalhe da dominação, acredite em mim quando digo que vou lutar por TODOS vocês. ” Korra disse, sentindo a adrenalina acelerando seus batimentos cardíacos. Lágrimas umedeceram seus olhos, apenas pela emoção do momento. Ela viu nos olhos daquela plateia uma determinação positiva, que a incentivou em seu discurso. Sentia uma energia que arrepiava os pelos dos seus braços. Ela queria, precisava que as pessoas ali entendessem que ela estava sendo mais que sincera. Precisava alimentar ainda mais aquela determinação:“Eu cheguei pra estabelecer o equilíbrio, e eu não. Vou. Falhar.” Olhando para todos os jornalistas uma última vez, pra ter certeza de que terminaram de escrever e já não tinham mais perguntas, ela fez um sinal positivo com a cabeça e se virou para falar com Tarlok “Espero que tenha sido o suficiente” Falou com falsa doçura, sorrindo ironicamente.

Tarlok estava fumegando de raiva. Ela não apenas falhou em se juntar à força tarefa, como também estragou todos os seus planos para as próximas leis que havia planejado instaurar. Se ele aprovar qualquer uma das leis que tem em mente depois de tudo o que foi dito naquela noite, os outros conselheiros jamais aceitariam, e se aceitassem, todo o ódio da população seria direcionado ao concelho... Que garota INFURIANTE!

Korra sabia que seu discurso teria algum tipo de efeito, mas ela não poderia imaginar como aquela noite realmente impactou a vida das pessoas de cidade República. Ela praticamente iniciou uma nova revolução, com um apoio maior que a força tarefa de Tarlok.

Ela acabou de mudar o curso da Guerra. 

E as consequências pra isso ainda a pegariam completamente de surpresa.