Hasta Morir escrita por Ducta


Capítulo 14
Contagem regressiva




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POV Percy 

 

Eu estava quase surtando. A minha filha, minha filhinha! Prestes a nascer e eu nem sequer podia entrar na sala de trabalho de parto. Claro que eu ouvia os gritos de Annabeth, e de vez em quando a minha mão escapulia para dentro do bolso onde estava a minha espada Contracorrente. Eu sabia que ela não adiantaria de nada naquele lugar, mas era reconfortante saber que estava ali.

Me lembrando de uma canção que a minha mãe costumava cantar junto comigo quando eu era pequeno para contar os passinhos desajeitados que eu dava, eu comecei a dar os mesmos passos, só que mais firmes, e comecei a fazer algo de útil, para desviar a minha atenção dos gritos de: 'Força! Força!'

- Um, dois, feijão com arroz.

Eu senti a saudade que sentia da minha mãe me sufocando. Ela tinha ido num maldito lançamento do segundo livro dela, só que esse tal lançamento era na Suécia. Suécia! Minha mãe me abandonou no dia do nascimento da minha filha para ir dar autógrafos na Suécia!

- Três, quatro, macarrão no prato.

Mais dois passos, apesar de eu já ter dado uns dez enquanto praguejava blasfêmias sobre a Suécia. Minha mãe tinha dito que voltaria só na sexta feira, daqui a dois dias. Eu bufei. Suécia...

- Força, Annabeth! Sabemos que você consegue! - A voz da médica era um tanto abafada, mas eu ouvi tão claramente que quase invadi a porta a chutes.

Além do mais, claro que ela conseguia.

E de quem diabos foi a idéia de me deixar de fora daquilo tudo?

Ah, sim, minha.

- Cinco, seis, molho inglês.

Annabeth gritou.

Eu nunca descobrirei como consegui agüentar tanto tempo sem surtar. Minhas mãos tremiam e minha cabeça girava um pouco só de tentar imaginar o quanto devia estar doendo. Os gritos dela soavam abafados, como se ela tentasse se conter, mas sem sucesso. Tentei enfiar as mãos nos bolsos, e me forcei a continuar contando.

- Sete, oito, comer biscoito.

- AÍ VEM A CABECINHA! - berrou alguém, animado. Eu sabia que não era a doutora, porque a voz era de homem.

Céus.

Eu não ia me surpreender se o pessoal da CNN estivesse vendo meu bebê nascer e eu não. Eu já tinha ouvido tantos gritos diferentes de 'Força!'... Eu me forcei a olhar para longe da porta fechada, e vi um bebedouro. Água. Era daquilo que eu precisava. Tão rápido que eu acho que perdi alguma coisa, eu corri para lá e enfiei um copo debaixo da torneirinha do bebedouro.

Esqueci de contar a última coisa, porque virei o tal copo na minha boca com tanta avidez que quase engasguei.

- NASCEU! É UMA MENINA! - Babacas, é claro que é uma menina.

Minha cabeça parou de girar, eu me senti levemente mais tranqüilo. A água, independentemente de onde fosse: normal, rio, mar, fonte, lago, sempre me fazia sentir melhor.

Tocaram meu ombro e eu me virei para trás, com os olhos arregalados.

Era uma enfermeira que com um sorrisão, me chamava.

- Sua filha nas...

Eu a deixei falando sozinha.

- Nove dez, comer pastéis - terminei, atravessando a porta com os dois últimos passos da minha contagem.

Vi Annabeth afastando um cacho loiro para o lado e segurando um embrulinho branco. O lençol onde a criancinha estava embrulhada tinha algumas manchas de sangue, mas eu fingi que era parte da estampa.

Abracei as duas delicadamente. Annabeth enterrou o rosto no meu peito, e eu dei um beijo no topo da cabeça dela, feliz que o sofrimento tinha acabado. Então olhei para a minha filha. Ela tinha os olhos verdes, só que diferentemente dos meus, os dela pareciam o mar quando estava calmo, tranqüilos, inocentes. Tinham alguns fiapos de cabelo loiro na cabecinha delicada.

Em silêncio, ela me entregou o embrulho. Eu sorri para a nenezinha, que me deu um sorriso desdentado de volta. Ela tinha me reconhecido. Sabem os deuses como.

-Alethia – Eu disse praticamente babando na minha pequena. Annabeth sorriu e uma lágrima rolou silenciosa por seus rosto.

Depois disso, Annabeth foi mandada pro quarto e Alethia veio logo depois, dessa vez sem sangue e vestida em um macacão rosa-bebê. Eu fiquei sentado lá com as minhas duas princesas até que recebemos visita.

-Licença. – Angie pediu abrindo a porta.

-Entra Angie – Annabeth disse em voz baixa.

Angie entrou com Nico – que segurava o filho - logo em seguida.

-Ah que coisa mais linda! – Angie esclamou em voz baixa olhando pra Alethia que dormia nos braços de Annabeth. – Parabéns gente. – ela disse me abraçando e depois beijou a testa de Annabeth.

Nico me deu um aperto de mão e beijou a testa de Annabeth.  Justin estava acordado; ele tinha cabelos pretos como os de Nico e olhos castanho – caramelo como os de Angie.

-ih, olha lá Nico, seu filho já tá olhando pra minha filha! – eu disse sorrindo ao ver a direção do olhar do meu afilhado.

-ah, fala pro tio que a Alethia é muito linda né filho? – Angie brincou com o filho que deu um meio sorriso banguela, deixando Angie e Annabeth derretidas.

 

Angie e Nico não puderam ficar muito e depois de algumas horas eu fui expulso do quarto por uma enfermeira.

- A sra. Annabeth precisa dormir. – Ela disse enquanto outra enfermeira passava por mim com Alethia nos braços.

-E ainda vão levar minha filha pra longe de mim? –Eu perguntei indignado.

Annabeth riu com gosto.

-Ela só está indo pro berçário Percy.

-Não vejo de vocês irem pra casa.

-Eu sai de lá hoje de manhã e você já quer que eu volte? – ela perguntou sorrindo.

-Só de pensar que vou ficar três noites sem você e sem minha princesinha, já me bate uma tristeza sabia?

-Ownt! Você vai sobreviver, acredite. E do jeito que você é, amanhã as cinco da manhã você já vai estar aqui não é? – ela disse rindo

-Sim, eu vou. – eu respondi rindo com ela.  

 

Era como eu disse: eu não via a hora de ter elas duas em casa. Por mais que eu fosse desajeitado com crianças e segurar Alethia – que era tão molinha e tão frágil – me desse aflição, eu queria provar a mim mesmo que eu seria um bom pai e um bom marido.

Quem diria que eu sobreviveria a duas guerras, casaria, seria pai? Nem eu mesmo podia acreditar nisso, mas aqui estava eu, totalmente despreparado pra essa nova fase da minha vida.

 

 

Fim


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