Hasta Morir escrita por Ducta


Capítulo 1
Por um segundo apenas




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POV Nico

 

Esperança é a última que morre. Eu estou começando a acreditar nisso. Uma vez que tudo o que eu sentia, tudo o que eu tinha morreu, eu mesmo morri. Só vago pela terra por causa da minha esperança. Eu busco a Angie em cada garota, mas, infelizmente, eu nunca achei. Havia sete anos, sete longos anos que ela havia sumido sem dar nenhuma explicação. No começo Percy e Annabeth me ajudaram a procurar por ela, mas depois de um ano Annabeth convenceu Percy que se Angie sumiu, foi porque não queria ser encontrada. Talvez. Mas isso nunca foi motivo pra eu desistir. Saí do acampamento com 18 anos e me mudei pra Orange County, a cidade de Angie, e aqui estou há quatro anos. Já parei de procurar Angie em hospitais, fichas policiais e coisas do tipo há uns dois anos e meio. Mas ainda não desisti de encontrá-la. Esta noite eu estou sentado em um bar, bebendo faz horas, ouvindo uma mulher cantar a música que Angie cantou no baile do Acampamento. Eu não tive coragem pra levantar minha cabeça e ver o rosto da mulher apenas abaixei minha cabeça e esperei ela terminar. Não chorei. Já tinha muitos anos que eu aprendi a controlar minhas lágrimas.

-Nico, você tá bem? – John, o barman amigo meu, perguntou ao final da música.

-Ótimo. –Eu disse, me levantando e indo em direção a chuva que caía sem parar lá fora.

Assim que saí, fiquei alguns minutos parado na chuva observando um carro preto parar na frente do bar. Uma moça saiu do bar, sorrindo. Ela me olhou por um segundo apenas, mas foi o suficiente. Eu reconheci aqueles olhos na hora.

-Tchau John! – ela gritou e correu pra dentro do carro.

Eu fiquei lá parado digerindo a minha visão. Era ela. A Angie. Minha cabeça começou a rodar pro uns segundos, mas depois eu voltei a pensar e entrei no bar de novo.

-John, quem era aquela mulher que acabou de sair daqui? – Perguntei meio afobado, molhado até os ossos, confuso.

-Angelina, ela canta aqui toda quinta-feira. – Ele respondeu me olhando confuso.

-Toda quinta? – eu perguntei colocando minha cabeça pra pensar. Eu passava todas as minhas noites nesse bar, como eu nunca reparei nela?

-É ela está aqui tem uns cinco anos.

- Droga! – eu gritei atraindo alguns olhares.

-Que foi Nico?

-Você sabe onde ela mora, tem o telefone dela, alguma coisa? – Eu pedi, quase implorei ao John.

-Não, ela aparece quando quer.

-ok – eu disse saindo do bar de novo.

Ela estava do meu lado o tempo todo. Sempre ali. Porque eu nunca olhei praquela cantora? Porque ela nunca veio falar comigo? Será que ela também não havia me visto?

Milhares de perguntas explodiram na minha cabeça enquanto eu caminhava pela chuva. Pensei em ligar pra Percy e Annabeth, mas achei melhor não. Eles deveriam estar concentrados nos preparativos do casamento deles, não iria atrapalhar.

Ela só aparecia nas quintas, então quinta-feira eu iria estar lá no bar, esperando por ela. Falaria com ela novamente. Minha alma se encheu de esperança novamente. Esperança que estava dando seus últimos sinais de vida.

Os dias se arrastaram, a festa da faculdade no sábado foi um porre, transar com a Lucy dentro do laboratório de química não teve graça, ficar bêbado na segunda de manhã não foi tão legal quanto antes, faltar na faculdade o resto da semana e dormir até tarde foi desinteressante ao ponto de me fazer quebrar minha televisão.

Quinta-feira. Finalmente. Tomei um banho gelado pra passar a ressaca, fiz a barba, tomei alguns analgésicos e fui pro bar.

Ela não estava lá e não apareceu a noite toda. Não apareceu na quinta seguinte e nem na outra e nem na outra. Ela sumiu de novo. Um mês inteiro.

-Que você tem Nico? – Lucy me perguntou no domingo de manhã.

Ela estava com a cabeça encostada no meu peito, nós ainda estávamos deitados.

-Nada. – Eu respondi secamente.

-Porque você escreveu essa música em espanhol na sua parede? – Ela perguntou olhando pro mesmo lugar que eu. Minha parede que ficava de frente pra cama. Eu havia escrito a música que Angie cantou. Aquela música parecia ter sido feita pra esse momento da minha vida.

-Sozinho recordando enquanto os segundos vão passando. Não sei como você pode esquecer. A chuva cai na janela desenhando seu olhar. Um instante é uma eternidade. – Eu disse me levantando da cama deixando uma Lucy amargurada lá. Lucy não era minha namorada só uma garota da faculdade com quem eu gostava de transar. Mas eu sabia que ela não sentia o mesmo por mim. Então, eu não dava esperanças a ela, só noites de prazer.

Sim, eu havia me tornado frio novamente. A única vez que eu deixei alguém me conhecer ela foi embora sem nem dizer adeus e eu fiquei anos procurando por um fantasma do meu passado. Não cometeria o mesmo erro outra vez. Então eu me cobri com a mesma máscara fria de antes e segui a vida da melhor maneira possível.


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