—Escuta aqui Aline, já passou da hora de alguém te colocar no seu devido lugar!

Aline me olhou com uma postura superior e se aproximou um pouco mais tentando me intimidar, percebi que nesse momento um aglomerado de pessoas já acompanhava tudo e isso fazia com que ela tivesse ainda mais vontade de me humilhar.

Hoje não Aline, hoje não!

—E quem você pensa que é pra me colocar no devido lugar sua coisinha insignificante? –Gargalhei alto diante da frase dela e vi que Aline se espantou, perdendo assim a postura confiante. –Quem eu sou? Eu que te pergunto quem é você pra pensar que pode me humilhar? Eu fui criada como uma princesa e sei me portar como uma e você é uma garota invejosa, falsa e fingida. Uma pessoa mesquinha e egoísta que engana pra conseguir o que quer, que fica mendigando e bajulando outras duas falsas pra conseguir algo que nem mesmo chega perto de ser uma amizade verdadeira, mas convenhamos essa é a única maneira de você ter alguém do seu lado, porque você não é boa o suficiente pra ter um amigo.

Aline me olhava totalmente chocada, Maia e Emma possuíam a mesma expressão. Percebi que todos a nossa volta estavam em silencio, afinal durante as ultimas semanas eu havia aguentado as risadas, as piadinhas e as humilhações, tudo calada.

Não dessa vez!

—Escuta aqui garota, você...-Aline tentou falar e recuperar a  postura, mas essa era a minha vez. –Escuta aqui você, eu ainda não terminei de falar. Você sempre teve inveja de mim, porque eu sempre fui melhor que você, eu aguentei toda a sua palhaçada calada Aline, mas agora chega. Eu amo os meus óculos, eu amo a minha inteligência, eu amo a minha beleza, eu amo o meu humor mórbido, é eu me amo do jeito que eu sou. E você? O que você é além de um rostinho bonito? Você não tem nada pra oferecer e me arrisco a dizer que por dentro você é horrível. Você me perguntou quem eu sou e eu te respondo, eu sou a Clary, simples assim. Ao contrário de você hoje eu sei o que é ter pessoas que me amam de verdade ao meu lado. Eu tenho um pai maravilhoso, tenho um irmão que todos gostariam de ter, tenho um namorado que mais parece um príncipe encantado e pela primeira vez tenho uma amiga de verdade.

Pelo canto do olho vi Isabelle se aproximando e se colocando ao meu lado, sorri ao perceber que com aquele gesto ela queria mostrar que estaria lá por mim caso eu precisasse. Emocionou-me perceber que hoje eu sabia o que era ter uma amiga de verdade. –Antes eu sentia nojo de você Aline, raiva, desprezo. Mas hoje eu só sinto pena, porque eu vejo que você é uma pessoa infeliz que não sabe o que é ter o afeto de ninguém.

Virei as costas pra ela e comecei a caminhar pra longe da multidão sendo acompanhada pela Izzy, mas de repente me lembrei de algo e voltei o meu olhar novamente pra Aline.

—Eu realmente espero que um dia você consiga se tornar uma pessoa melhor e apesar de tudo eu não te odeio, mas vamos deixar uma coisa bem clara. Eu espero que você tenha entendido que a partir de hoje eu não vou deixar nem você e nem ninguém me humilhar, eu não ligo pra o que pensa sobre mim, eu não ligo pra opinião de ninguém a não ser a das pessoas que realmente se importam comigo, então fique longe de mim.

Continuei o meu caminho e decidi que já tinha tido a minha cota de escola por hoje, caminhei calmamente até o estacionamento e percebi que Izzy ainda estava atrás de mim. Apesar de tudo eu estava tremendo e respirei fundo antes de me virar pra minha cunhada e me despedir dizendo que estava tudo bem, porém antes de poder falar qualquer coisa ela tomou as chaves da minha mão e entrou no meu carro.

—Pra onde ruiva? –Quase chorei ao perceber que ela não me deixaria sozinha. –Izzy não precisa, é sério. O seu carro ainda está aqui e eu não quero te atrapalhar. –Isabelle apenas revirou os olhos e ligou o carro. –Pra onde ruiva?

Sorri pra ela e desisti de tentar, entrei no carro e coloquei o cinto.

—Starbucks, preciso de um Frappuccino de baunilha urgentemente. –Ela sorriu parecendo concordar com a minha escolha e dirigiu pra fora do estacionamento da escola.

POV ISABELLE

Eu estava mais do que orgulhosa da ruiva, ela havia enfrentado a Aline e mostrado que não era uma menininha frágil. Confesso que a atitude dela foi muito digna, eu não teria essa calma toda com aquela vaca, simplesmente iria virar a minha mão na cara dela e garantir que ela nunca se esquecesse disso.

Clary havia encostado a cabeça no vidro do carro e fechado os olhos, percebi que ela aos poucos estava parando de tremer e agradeci aos céus por isso, eu nunca fui muito boa com essa coisa de sentimentos e ver alguém sofrendo, ainda mais alguém que eu gosto tanto me deixava desesperada.

Sim, eu amava a ruiva como a uma irmã!

Eu a odiei no começo porque achei que ela seria outra Camille na vida do meu irmão, achei que ela era uma patricinha mimada que não se importava com os sentimentos de ninguém, mas eu estava completamente enganada. Clary é uma pessoa incrível e faz o Jace mais feliz do que ele jamais foi, ela se tornou uma boa amiga e sei que assim como ela sempre vai estar lá por mim, eu também sempre estarei por ela.

Chegamos ao Starbucks e a ruiva abriu os olhos quando percebeu o carro parando, ela me lançou um olhar agradecido. Descemos do carro e entramos no local.

—O que você quer Izzy? Deixa que eu faço os pedidos enquanto você escolhe uma mesa pra gente. –Eu assenti e entreguei a minha parte do dinheiro pra ela. –Eu quero um expresso brigadeiro.

Ela balançou a cabeça em concordância e se dirigiu ao caixa enquanto eu escolhia uma mesa mais afastada, sabia que ela não queria estar no meio de multidões agora.

Senti meu celular vibrando e me deparei com uma mensagem do meu irmão.

“Eu já comentei com você alguma vez que eu tenho um amigo chamado Simon que fala muito quando está nervoso? "

Estaquei ao ler a mensagem e antes que pudesse sequer piscar o celular vibrou novamente.

“Já comentei também que o Magnus sempre consegue arrancar dele o que quer que tenha acontecido? “

Bufei frustrada ao perceber que ele já sabia de tudo e estava jogando na minha cara, Alec me conhecia bem demais pra saber que aquilo com o Simon não havia sido simplesmente uma “ficada”, embora eu me recusasse a analisar qualquer coisa ligada a isso agora.

—Huuuum parece que alguém descobriu sobre você e o meu irmão. –Levei um susto ao escutar a voz da ruiva atrás de mim, ela revirou os olhos e depositou o meu expresso na mesa. –Sabia que é feio ficar espionando a conversa dos outros, ruiva? –Ela sorriu arteira e apesar de tudo eu não estava realmente chateada, era bom vê-la sorrindo depois do que havia acontecido. –Eu sei, mas você estava com uma cara tão esquisita, parecia que tinha visto um fantasma então me desculpe, mas foi impossível evitar.

Dei de ombros e comecei a beber o meu expresso que por sinal estava completamente DELICIOSO, eu amava brigadeiro e tudo  que o envolvesse. Clary se remexeu no assento e me olhou de forma inquisidora.

—Então, você e o meu irmão. Não vai me contar mesmo?

A frase dela me deixou desconfortável, afinal eu sabia que se pensasse nisso, as lembranças voltariam.

Flashback On

Observei o casalzinho ir em direção à roda gigante e imediatamente me senti desconfortável perante o olhar do irmão da Clary, eu não entendia o que estava acontecendo afinal eu NUNCA me sentia desconfortável com ninguém, ainda mais com um garoto.

Fala sério, é só o irmão da Clary!

—Então, Simon não é? –Tentei fingir desinteresse, eu não sabia o que estava acontecendo comigo, mas não deixaria ele descobrir. Ele assentiu e ao contrario de mim, o moreno não estava conseguindo disfarçar muito bem o nervosismo.

—Sim e você é a Isabelle certo? –Foi a minha vez de assentir, depois disso ficamos em um silencio desconfortável até que eu decidi acabar com aquilo. –Então, você quer dar uma volta enquanto os dois pombinhos não saem dali? –Ele pareceu um pouco mais animado com ideia e concordou com a cabeça.

Começamos a andar calmamente entre brinquedos, crianças e adolescentes agitados e vez ou outra eu olhava pra ele.

—Então, você é irmã do Alec, certo? Eu estudo com o Magnus, namorado dele. –Eu concordei e comecei a me perguntar como Magnus nunca havia me falado desse garoto, ele sabia que Simon era exatamente o meu tipo e sim eu havia cansado de fingir pra mim mesma que não queria beija-lo.

—Não é uma coincidência, esses dois virem pro mesmo lugar sem saber que o outro também viria? –Simon estava certo, era uma bela coincidência. Coincidência até demais! –Sim, mas com esses dois eu já percebi que tudo de mais estranho acontece, eles são engraçados juntos, mas fico feliz que tenham se encontrado.

—Realmente, minha irmã não sorria assim há muito tempo e eu fico feliz em ver a mudança que o Jace trouxe pra vida dela. –Sorri pra Simon em concordância, eu já não estava mais tão nervosa.

Avistamos uma barraca de guloseimas e meus olhos brilharam em direção ao algodão doce, o moreno seguiu o meu olhar e me lançou um sorriso de canto.

—Você quer um algodão doce? –Eu fiquei espantada com o seu gesto atencioso, mas assenti e caminhamos em direção à barraca.

Simon me mandou escolher um e pagou depois, nenhum garoto nunca havia sido tão legal comigo, com exceção dos meus irmãos é claro.

Uma sensação estranha começava a se apoderar de mim lentamente e eu tentava a todo custo evita-la, não queria sentir isso, não queria nem ao menos descobrir o que isso era.

—Ei, tá sujo bem aqui. –Ele se aproximou lentamente e passou o indicador pelo canto dos meus lábios, foi impossível evitar a troca de olhares e quando dei por mim já estávamos nos beijando.

Quando o folego nos faltou, nos separamos minimamente e minha mente estava totalmente confusa, isso nunca havia acontecido antes.

—Você quer sair do meio dessa gente toda? –Ele estava ofegante e eu não estava muito diferente, balancei a cabeça em concordância e ele pegou minha mão.

Flashback Off

—O que tem pra contar Clary? Nós ficamos e acabou, eu só vi o seu irmão uma vez na vida então pode tirar da cabeça todas os contos de fada que você já leu, porque isso não vai acontecer, as pessoas não se apaixonam do nada. –Ela piscou divertida e tomou um bom gole do Frappuccino. –Será mesmo? Eu meio que me apaixonei pelo seu irmão no dia em que o conheci. Não sabia ainda o que era, mas o sentimento já estava lá e conforme fui o conhecendo melhor fui sabendo dar nome a toda àquela confusão que havia se instalado dentro de mim.

Revirei os olhos fingindo tédio, mesmo tendo ficado assustada ao perceber que me identificava com essa história de confusão de sentimentos.

—Vocês dois são estranhos, então isso não conta. Eu não me apego fácil ruiva, vai ser preciso mais do que um sorrisinho bonito pra me conquistar, tira o cavalinho da chuva, eu e o seu irmão não vai rolar.

Ela revirou os olhos e sorriu. –Que seja, é o que vamos ver!

...

Isabelle nos levou de volta ao estacionamento da escola para poder pegar o seu carro e depois cada uma foi pra sua casa, eu estava me sentindo bem melhor agora, falar todas aquelas coisas pra Aline não foi fácil, por mais que ela merecesse eu não gostava de maltratar ninguém.

Apesar de tudo isso, decidi que não me deixaria ficar triste por causa dela, pelo contrario eu tinha outras coisas com o que me preocupar, como por exemplo, o fato da minha querida cunhada estar gostando do meu irmão. Ela podia negar o quanto quisesse, mas eu conhecia aquela expressão no rosto dela, era a mesma que eu ostentava quando pensava em Jace.

Falando em Jace, assim que cheguei em casa escutei o bip do celular e sorri ao ver que era uma mensagem dele.

“Meus pais vão em uma festa hoje a noite e a Izzy vai junto, Max vai dormir na casa de um coleguinha, então vou ficar sozinho.”

“Você quer vir pra cá?”

Eu respirei fundo, sabia que Jace nunca me forçaria a nada, talvez o convite dele fosse totalmente inocente, minha mente que não conseguia sair da sarjeta, eu o queria, eu me sentia pronta pra isso. Sorri antes de digitar a mensagem.

“Sim, eu quero!”