—Posso entrar?

Olhei pra porta e vi meu irmão.

—Claro.

Alec se aproximou e sentou-se na minha cama, ele havia chegado hoje junto com o seu namorado Magnus, os dois faziam faculdade em Boston.

—Você tá distraído, desde quando cheguei percebi isso. Aconteceu alguma coisa? –Eu confiava completamente no meu irmão, mas não queria falar disso agora. –Não, só estou preocupado por causa do teste amanha na escola, quero dar o meu melhor. –Alec sorriu pra mim como se soubesse que eu estava mentindo, mas não falou nada. É por isso que eu amava meu irmão, ele sabia respeitar o espaço dos outros.

Ficamos conversando por um tempo sobre banalidades até que ele se levantou e me encarou.

—Jace, você ainda gosta da Camille?

—Sim. –Respondi rapidamente, aquela já era minha resposta automática, mas de repente me lembrei da ruiva e franzi o cenho, Alec pareceu perceber e arqueou as sobrancelhas. –Quer dizer, talvez, não sei, acho que não. –Soltei o ar que estava prendendo, minha cabeça estava uma maldita bagunça. Ele se limitou a dar uma curta risada e caminhar em direção à porta.

Eu apenas me joguei na cama.

—Jace? –Eu conseguia escutar o tom divertido na voz do meu irmão.

—Huuum?

—Qual o nome dela? –Me levantei com tudo da cama e encarei meu irmão, como diabos ele percebeu? Eu apenas suspirei. –Clarissa. –Alec sorriu pra mim e deu uma piscadela. –É um nome muito bonito.

Ele saiu do quarto, me deixando sozinho com os meus pensamentos. Sim, Clarissa era um nome muito bonito, mas ela era linda, por dentro e por fora. Confesso que no dia que a conheci a achei superficial, mas nem isso impediu meu coração de acelerar quando dançamos juntos no baile. Mas conforme os dias se passaram, eu comecei a ver a pessoa incrível que ela era, aquela superficialidade era só uma casca, debaixo daquela cabeleira ruiva tinha uma garota divertida, inteligente e bondosa.

Clary é pequena, tem olhos verdes que contrastam com seus lindos cabelos ruivos e algumas sardas no rosto que a deixam adorável. Eu estava confuso, passei todos esses meses pensando e sofrendo pela Camille, achei que eu a amava, mas agora não tenho mais tanta certeza, afinal não é possível você amar uma pessoa sendo que você não para de pensar em outra, certo?

Sim, eu pensava nela o dia inteiro.

Aquela baixinha chegou do nada me pedindo pra fingir ser o namorado dela e naquele dia eu nem podia imaginar o que aconteceria depois, achei que depois daquela noite nunca mais a veria, mas quando entrei no quarto da Izzy e a vi me esperando, meu coração quase saiu pela boca, fiquei um pouco irritado com minha irmã na hora, eu sabia que ela estava armando pra mim, mas não posso negar que uma parte de mim estava exultante por vê-la novamente. Acabou que, leva-la pra festa foi a melhor coisa que eu poderia ter feito, Camille ainda estava com o Raphael e eu me senti péssimo por isso, então no calor do momento acabei inventando que Clary era minha namorada. Naquele dia quase nos beijamos, mas Jordan interrompeu, eu não sabia se o abraçava por ter me impedido de fazer besteira, ou se dava um soco nele por ter atrapalhado aquele momento.

Fui dormir pensando em tudo que estava acontecendo e hoje acordei com uma vontade sufocante de vê-la, então mandei mensagem pra ela com a desculpa de me ajudar a passar o texto.

Não estava nos planos beija-la, nós estávamos somente lendo as falas, porem quando dei por mim, já estava perigosamente próximo dela. Seus lábios cheios estavam tão próximos, eu já podia sentir o gosto da respiração dela, ela era tão linda, quando dei por mim já tinha puxado Clary pela cintura e estávamos nos beijando.

Eu sempre achei aquela parte do dialogo de Romeu e Julieta meio estupida, mas ali, com a ruiva em meus braços, as palavras saíram facilmente e eu pude finalmente entender os sentimentos de Romeu por Julieta.

Eu estava assustado ao constatar que se a Isabelle não tivesse me ligado na hora avisando que o Alec havia chegado, eu a teria beijado de novo. Por um momento eu queria que Clary estudasse comigo, eu queria que o papel de Julieta fosse dela e não da Camille.

Adormeci com esses pensamentos, enquanto meu subconsciente me dizia sem parar.

“Você está se apaixonando por ela.”

...

—Jace acordaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa... –Abri os olhos, eu ainda estava totalmente grogue, demorei um pouco pra conseguir focalizar em alguma coisa e quando consegui dei de cara com meu irmão mais novo, Max. –Vamos, hoje é domingo e você tá perdendo à tarde do videogame. –Max adorava jogar videogame comigo e com o Alec. –Tarde do videogame? Mas ainda não tá muito cedo pra isso? –Meu irmão apenas me olhou e pegou o meu celular, ligou a tela e virou o aparelho pra mim. O relógio marcava 14h30minhrs. –Puta que pariu, eu dormi todo esse tempo? –Eu já fui pulando da cama e correndo pro banheiro, Max apenas riu e saiu do meu quarto.

Passamos o resto da tarde jogando, meus pais estavam tirando um cochilo e Izzy havia ido ao shopping com uns colegas.

 Já passava das sete da noite quando Alec avisou que iria sair pra encontrar o Magnus e Max pediu pra ir com ele. Eu me levantei e subi as escadas em direção ao meu quarto, mal tinha entrado quando vi Izzy aparecendo na porta.

—Não bate mais não? –Ela olhou pra mim e revirou os olhos. –Como se eu precisasse bater. Agora fica quieto que eu vim te contar uma coisa importante. Sobre a ruiva. –Automaticamente eu me arrumei na cama e comecei a ouvi-la com mais atenção. –O que aconteceu?

Minha irmã se sentou comigo e cruzou as pernas.

—Eu estava no shopping com o pessoal e decidimos ir pra praça de alimentação, eu logo percebi que a Clary estava lá com amiguinhas dela, de repente as três começaram a rir e apontar pra gente, percebi que a ruiva tinha me reconhecido e estava olhando pras amigas sem entender muitas coisa. Você sabe que eu não levo desaforo pra casa, então eu fui tirar satisfação com as patricinhas, uma delas, uma tal de Aline, começou a querer tirar uma com a minha cara e eu já tava pronta pra avançar naquele projeto de puta, mas quando eu menos esperava a ruiva gritou com elas e me defendeu. Falou pra todas entrarem no carro porque elas já tinham feito demais por um dia só.

Eu sorri, sabia que Clary era diferente das outras. –E então?

—E então irmãozinho, eu vi que talvez a Clary não seja a pessoa que eu pensei que fosse.

Nesse momento recebi uma mensagem de Clary e Izzy pareceu perceber.

—E falando no diabo. –Olhei feio pra ela, enquanto a mesma mostrava a língua pra mim. –O que ela queria?

—Perguntou se o meu teste é amanha e desejou boa sorte, queria que ela estivesse lá.

—Ué, então chama ela. Afinal pra todos os efeitos ela não é a sua namorada? Eu e o Alec já vamos ver o tal teste, avisa pra ruiva que se ela quiser a gente passa na casa dela.

Não deu pra segurar, comecei a rir.

—Ai meu Deus, você gosta dela, daqui a pouco vão virar melhores amigas.

—Não enche Jonathan, ela te ajudou quando você precisou e me defendeu hoje, então talvez eu goste um pouquinho dela. –Sorri pra Izzy. –Eu disse talvez Jonathan. –Eu apenas levantei as mãos em sinal de rendição. –Se você contar algo pra ela, eu nego e depois mato você.

Logo em seguida ela saiu do meu quarto e apesar da ameaça, vi que ela estava sorrindo. Minha irmã era a pessoa mais complicada do mundo e de algum jeito a Clary tinha conseguido conquista-la.

Mandei mensagem pra ruiva pedindo pra que ela fosse ao meu teste, ela relutou um pouco, mas eu consegui convence-la. Estava animado com a ideia de vê-la amanha, o que era estranho, considerando o fato de que eu havia passado a tarde com ela ontem. Como era possível sentir saudade de uma pessoa em tão pouco tempo?

...

—E aí cara. –Olhei pra trás e vi o Jordan correndo na minha direção. –Oi, você não tinha treino agora?

—Ah, o treinador liberou a gente hoje, dai vim ver o teste. Mas e a sua namorada? Ela vem?

—Sim e ela não é minha namorada de verdade. –Jordan me olhou confuso. –Como assim?

Suspirei e contei toda a história pra ele, Jordan pareceu bastante interessado e logo começou a rir.

—Cara, só você mesmo pra se enfiar nessas coisas. –Dei de ombros. –Fazer o que né? Agora vamos que daqui a pouco o pessoal deve estar chegando.

Fomos juntos pra sala do auditório e assim que chegamos Jordan foi se sentar, as aulas já haviam acabado, então provavelmente meus irmãos e Clary chegariam daqui a pouco. Eu estava ansioso desde ontem, mal dormi e hoje nem consegui prestar atenção na aula, já tinha desistido de tentar tira-la dos meus pensamentos.

—Jace? –Eu respirei fundo antes de me virar, eu conhecia aquela voz: Camille. –Oi Camille. –Ela sorriu e se aproximou de mim. –Tô ansiosa pro teste, espero que o professor escolha Romeu e Julieta. –Eu apenas assenti, mas de repente me lembrei de algo que eu vinha me perguntando desde quando ela entrou pra aula de teatro. –Por que você decidiu entrar pra aula de teatro tão de repente? –Ele acariciou o meu braço. –Talvez eu goste de teatro. –Eu me afastei e concordei com a cabeça, resolvi sair de lá, quando passei por ela a senti segurando o meu braço. –Ou talvez eu goste de você. –Essa garota é louca? Ela ainda tá namorando o Raphael. Eu estava sem ação, não pelo que ela tinha dito, mas por perceber que eu não me importava nem um pouco, antes eu ficava procurando Camille por todos os corredores da escola, agora eu só queria distância dela.

—Estamos interrompendo algo? –Me virei e vi meus irmãos e Clary, Camille soltou o meu braço e saiu rebolando, logo percebi que Izzy estava quase pulando em cima de mim e Clary tinha uma expressão um pouco magoada no rosto, já Alec me olhava com uma expressão que queria dizer “irmão, em que encrenca você foi se meter”. Respirei fundo e me aproximei deles. –É claro que não tão atrapalhando nada, eu tava esperando vocês.

—Sério? Não pareceu, você estava bastante ocupado com aquela piranha.

—Izzy, menos tá. Ela que chegou do nada pra falar comigo e eu não disse nada demais, apenas falamos sobre a peça. –Minha irmã me olhou feio e saiu puxando Alec em direção à primeira fileira, Clary ficou pra trás e eu me aproximei dela.

—Oi.

—Oi. –Ela tinha um sorriso tímido nos lábios, mas ainda parecia um pouco chateada. –Olha me desculpe à cena com a Camille, ela que chegou e...

—Jace, não precisa se desculpar, você não me deve satisfações.

—Não, eu sei disso. Mas não queria fazer parecer que te chamei aqui pra poder ficar falando com ela, de todas as pessoas você é a única que eu fazia questão que estivesse aqui hoje. –Ela sorriu e se aproximou. Se colocou na ponta dos pés e me abraçou. –Boa sorte. –Eu a apertei contra o meu peito e inalei o cabelo dela, tinha cheiro de morangos. Era estranho como o corpo dela parecia se encaixar perfeitamente no meu. Nos afastamos lentamente e olhamos um pro outro.

Ela estava tão perto, os lábios entreabertos, eu não conseguia mais pensar em nada, então só fiz o que o todo o meu ser me pedia pra fazer. Eu a beijei.

Clary rapidamente passou os braços pelo meu pescoço e eu a segurei pela cintura, parecia que não estávamos perto um do outro o suficiente, eu queria mais, mais daqueles lábios macios, mais do calor do corpo dela junto ao meu, as nossas línguas pareciam estar em uma sincronia perfeita, porém cedo demais, ela se afastou.

Assim que nos separamos, percebi o que tinha feito. Droga Jace. –Éééééér, a Camille tava olhando, pra todos os efeitos somos namorados né. –Ela sorriu pra mim, parecendo atordoada. –Sim, namorados, é claro. Bom, eu vou me sentar com os seus irmãos, boa sorte de novo. –Eu apenas assenti e baixei a cabeça. Que merda, eu não podia ter feito isso, e se ela não sentisse por mim nada além de amizade?  

Senti alguém levantando o meu rosto, era ela. –Você tá bem? –Me esforcei ao máximo e sorri. –É claro, eu vou descer também, me preparar atrás do palco. –Foi a vez dela de assentir.

Assim que passei por ela, a senti segurar o meu braço como Camille havia feito, mas a diferença é que o toque de Clary me causava arrepios. Virei-me pra ela e senti seus lábios se encostando levemente nos meus. O toque não passou de um selinho e quando nos afastamos ela apenas sorriu e caminhou na direção dos meus irmãos.

Eu parecia um idiota sorridente, então logo tratei de me recompor. Fui em direção ao palco e logo os testes começaram, primeiro foi o teste de Romeu e Julieta e graças a Deus não tivemos que fazer o teste juntos. Eu não queria fazer aquela peça com a Camille.

Eu já tinha feito o meu teste e estava atrás do palco esperando que o resto do pessoal terminasse para que pudéssemos começar Hamlet. Olhei pelo vão das cortinas em direção a plateia e vi Clary conversando com um garoto da minha sala, eu nem lembrava o nome dele, Michael, Mathew, sei lá.

Percebi que ele estava todo animadinho pra cima dela, ele não sabe que ela tem namorado não? Pode não ser de verdade, mas ele não sabe disso. Eu vou quebrar a cara desse imbecil em dois tempos, meu sangue estava fervendo, já estava enxergando tudo em tons de vermelho. Percebi Alec olhando pra cena e logo depois pra mim, o chamei e meu irmão se levantou discretamente e veio em minha direção.

—Você não tá vendo aquela palhaçada ali não Alexander? –Meu irmão parecia espantado com o meu tom, mas logo começou a rir. –Eu tô vendo, mas você quer que eu faça o que? –Como assim fazer o que Alec? Como assim? –O que você acha? Acaba com aquilo. Tira ela de lá, leva ela pra dar um passeio em Júpiter, sei lá. Faz alguma coisa antes que eu saia daqui e arrebente aquele idiota. –Meu irmão me olhou e assentiu, dava pra ver que ele segurava a risada. –É, parece que meu irmãozinho tem uma nova paixão.

Nem deu tempo de responder, ele saiu rapidamente e o vi parando em frente à Clary e a arrastando pra fora do ginásio. Eu consegui respirar melhor depois disso.

Precisei de alguns minutos pra perceber o que eu tinha feito, meu Deus, eu surtei porque o cara estava conversando com ela, só isso. Olhei em direção ao auditório novamente e vi Izzy me olhando, ela estava sorrindo perversamente, parecia se divertir com a situação. Ela com certeza tinha percebido a minha cena, só esperava que Clary não tivesse visto nada.

Fechei a cortina e me sentei pesadamente no chão. Droga, eu tentei negar, tentei acreditar que eu poderia estar começando a sentir algo por ela, mas diante disso, não dava pra fingir pra mim mesmo, não existia essa historia de estar se apaixonando. Eu já estou.

Eu estou completamente apaixonado pela Clary.