Data de registro 7 01 2 - Lapis é incrível! escrita por Laís Cahill


Capítulo 1
Capítulo Único




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— Peridot, venha aqui comigo! — disse Steven, puxando a outra pela mão.

— O que é? — perguntou Peridot, desconfiada.

— A Lapis quer te dar uma coisa! Mas não pode olhar! — falou, cobrindo os olhos da amiga com as mãos.

— Oh.

Assim, os dois passaram a porta do celeiro.

— Tadaaa — comemorou o garoto, ao soltar Peridot.

Lapis Lazuli estava esperando do lado de fora, segurando com as duas mãos uma caixinha com fita na frente do corpo, na altura do peito. Ela sorriu quando viu a amiga.

— Oi, Peridot.

— Lapis! – respondeu a outra, curiosa — O que você trouxe?

— Eu... eu comprei isto quando a gente foi pra cidade vender nossos legumes. — ela olhou para o embrulho — Achei que você ia gostar.

Mais cedo, na cidade, o trio faturou algum dinheiro com os legumes que não tinham rosto, mas apesar disso se mostraram muito úteis. Na volta, Lapis se deparou com um eletrônico na vitrine de uma loja. Olhando para aqueles papéis em sua mão que havia aprendido ser o objeto de trocas daquele planeta, pediu para os outros seguirem logo para casa, pois ela iria depois. Feito isso, entrou na loja. Peridot não tinha desconfiado de nada.

— Vai, Peridot, abre! — Steven incentivou, animado.

A gem verde pegou o presente e rasgou logo o pacote. Quando viu o que era, seu olhos brilharam e ela ficou sem ar.

— É um gravador! — ela vibrou, dando pulinhos — Aaahhhh, eu adorei! Eu tenho meu gravador de volta, yaaay!

Steven e Lapis começaram a rir da reação da amiga, mas ela continuou:

— Data de registro 7 01 2 , Lapis é incrível!! — anunciou, apertando o botão para gravar sua voz — Ela me deu este presente, não é, Lapis?

— É! — A outra respondeu, rindo.

— Eu amei! Hum... Como é que se diz quando a pessoa te dá alguma coisa?

— Obrigado? — lembrou Steven

— Obrigado, Lapis! — Peridot sorriu para a amiga.

Lapis esfregou o ombro com a mão oposta, um pouco envergonhada.

— É o mínimo que eu deveria fazer, depois do que eu fiz com o outro...

— Ah... — Peridot desanimou um pouco ao lembrar daquilo — É.

Um clima desconfortável tomou conta do ambiente. Ninguém sabia o que dizer.

— Hum, gente... — falou Steven — ...está ficando tarde, eu tô indo pra casa, ok?

— Ok, tchau. — Lapis respondeu.

As duas gems observaram o menino caminhar para sua casa em silêncio. O sol estava se pondo, fazendo o céu ficar rosado e projetando longas sombras atrás das construções.

— Eu fiquei bem chateada. Aquele dia. — falou Peridot

Lapis olhou para o chão.

— Desculpa. Eu ainda não confiava em você.

— Quando você quebrou o meu antigo gravador... — Continuou a outra – Todos os meus instintos diziam para atacar você. Aquela coisa era meio que uma parte minha, e você despedaçou. Mas eu queria tanto que você se desse bem comigo que não fiz isso.

— Bom, deu certo, não deu? — Lapis sorriu, olhando para a amiga.

— É, deu. — ela riu, hipnotizada pelo sorriso da outra.

Havia algo de poético em como a brisa estava suave aquele fim de tarde, misturada com o ar morno de verão e o céu em tons de laranja e púrpura. A saia de Lapis balançava ao vento e sua pele adotava o laranja do sol, além do azul usual. No andar de cima, a TV estava ligada e começou a tocar uma música ao fundo.

As duas estenderam suas mãos simultaneamente uma para a outra e começaram a dançar. Ambas estavam nervosas, principalmente Peridot, já que nunca tinha formado uma fusão antes. Sem querer, ela tropeçou em uma pedra e caiu em cima de Lapis. Elas começaram a rir enquanto tentavam se levantar, e suas pedras começaram a brilhar, assim como o resto de seus corpos.

Lapis ainda ria quando despertou do transe que era a situação. Sua expressão mudou de alegria para terror em um instante e, num impulso, jogou a outra para longe.

— Não! — gritou, protegendo o rosto com os braços.

No chão, Peridot olhou para a amiga, assustada. Dentro de alguns segundos, a respiração de Lapis se acalmou e ela pôde falar novamente.

— Eu... eu não posso fazer isso.

Dito isso, desatou a correr até o seu quarto.

— Lapis!! — Peridot gritou, mas já era tarde.

O rosto de Peridot começou a queimar, mas ela o esfregou com a mão e mandou ela mesma parar de ser estúpida. O gravador tinha caído no chão, mas por sorte não tinha sido danificado. A gem o limpou com as mãos, e se pôs a gravar.

— Data de registro 7 02 2. Eu sou uma clod.

E ficou rebobinando a fita para dizer a mesma coisa até que o sono viesse.

“Eu sou uma clod.” Rebobinando. “Eu sou uma clod.” Rebobinando. “Eu sou uma clod.”

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Amethyst se assustou e cuspiu uma chuva do salgadinho que estava comendo.

— O quê? Você tentou se fundir com a Lapis?

— Cala a boca, Amethyst! — disse Peridot, tampando a boca da outra — Quer que todo mundo ouça?

Tarde demais. Garnet estava passando pelo quarto de Steven e parou para ouvir a conversa.

— Hehehe, oi, Garnet. — Peridot tentou disfarçar com um sorriso amarelo e as mãos ainda na boca de Amethyst.

— O que está acontecendo?

— Ela tentou se fundir com a Lapis! — denunciou a gem Roxa.

— Ah, sua... — Peridot deu um tapa na outra.

— Ai!

— Acalmem-se. — Garnet mandou, entrando no quarto — Peridot, por que está com vergonha disso?

— E desde quando você passou de “Fusões são um truque barato” para “Vamos nos fundir”?? — completou Amethyst.

— Eu não sei!! — gemeu ela, pondo as mãos no rosto para se esconder. — Eu não sei nem por que eu quis me fundir, muito menos por que a Lapis tá brava comigo!

Garnet se sentou na cama, ao lado das outras.

— Você não precisa ter um motivo para se fundir. Talvez você só estivesse curiosa.

— Você já chegou a se fundir com alguém, Peridot? — perguntou Amethyst

— Não. — ela respondeu, com um misto de raiva e vergonha.

— He, não é tão complicado quanto parece. Na verdade é bem simples.

— Talvez o problema seja comigo. — Peridot se desesperou — Talvez eu não consiga me fundir.

— Bobagem! — respondeu a outra.

— Para pra pensar, Amethyst! — ela pegou a amiga pelos ombros — Nem mudar de forma eu consigo! Por que ia conseguir me fundir??

— Bem, você não pode desistir sem tentar, né? — Amethyst deu de ombros.

— Amethyst está certa, Peridot. Tente de novo. — Incentivou Garnet.

— Isso é, se ela quiser se fundir comigo, né? Será que ela não quer se fundir porque sou eu?

— Talvez ela simplesmente não queira se fundir com ninguém... — ponderou Amethyst.

— Faz sentido. Ela não tem um histórico de fusões muito bom. — disse Garnet.

A gem verde ficou pensativa. É, talvez fosse isso. No entanto, Lapis Lazuli ainda assim estava magoada com ela. Esse foi o assunto de grande parte de seus pensamentos durante o dia.

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Já era noite e todo mundo estava em suas camas. No celeiro não era diferente. Lapis estava deitada em seu colchão, no entanto, sem dormir. Peridot, que tinha arranjado umas boias salva-vidas para dormir em cima, estava a observando discretamente. Gems não precisavam dormir, mas a noite na Terra era tão monótona que elas acabaram adquirindo esse hábito.

O olhar de Lapis Lazuli estava perdido nas estrelas. Sua cabeça estava em Homeworld, em seu tempo por lá. Pensou no tempo em que esteve presa. Primeiro em um espelho, depois na nave da Jasper e, por último, no oceano. Foi em meio a tudo isso que Peridot arrastou sua cama improvisada para perto dela. Um período em silêncio foi seguido por uma pergunta:

— Hum... Você quer conversar?

— Não... — respondeu a gem azul, sem olhar para a outra.

— Ah... Ok, então. — Peridot brincou com seus próprios dedos, sem saber o que dizer.

— Boa noite, Peridot.

— Boa noite...

Silêncio.

A gem verde ficou encarando a nuca da outra, que estava virada para a janela. Lapis fechou os olhos, para tentar dormir, mas ouviu a outra aproximando sua cama ainda mais.

— Eu gostei muito do presente que você me deu ontem... Achei que nunca mais teria um gravador. — a ouviu murmurar.

Lapis surpirou. Ela já sabia onde Peridot queria chegar.

Enquanto pensava no que ia falar, ela notou algo estranho no céu noturno. Apertou os olhos para ver. Uma estrela de brilho avermelhado parecia estar crescendo.

— Peridot. O que é aquilo? — disse, se sentando no colchão.

— O que? — a outra surgiu atrás de seus ombros para olhar para o céu.

— Parece... Um olho vermelho.

Peridot pareceu lembrar-se de alguma coisa.

— Espera... Steven já me contou sobre um olho vermelho no céu antes! Ele disse que só conseguiram destruí-lo com o canhão da Rose Quartz!

— Tá, mas nós não temos o canhão da Rose! — disse Lapis, com medo — E essa coisa está se aproximando rápido demais!

A bola de luz estava ficando preocupantemente grande, quase do tamanho da lua. Havia uma pupila vermelha e sextavada mirando para onde elas estavam.

— Lapis, faça alguma coisa! Você controla a água! — Gritou Peridot.

— Calma!

Um jato água emergiu do pequeno lago que havia fora do celeiro e seguiu direto para o olho. Demorou para o jato o alcançar, porque ainda estava longe, mas quando isso aconteceu, não pareceu surtir nenhum efeito.

— A água... Evaporou!? — exclamou Lapis, abismada.

A bola de fogo continuava avançando implacavelmente.

— Peridot, seus poderes de metal não podem empurrar essa coisa?

A luz batia no rosto da outra, cegando os seus olhos. Um vento forte jogava seu cabelo para todos os lados.

— Você tá brincando? Isso está caindo muito rápido, não tem como parar!

Os segundos passavam e ninguém fazia ideia de como destruir aquele meteoro. Ele iria fazer o celeiro virar uma cratera em chamas, e junto com ele metade de Beach City.

— Nós vamos... Simplesmente morrer aqui...? — Lapis desesperou-se, enquanto seus olhos refletiam o brilho da estrutura metálica imensa.

No meio de tudo isso, surgiu uma luz na escuridão.

— Lapis! Eu tenho um plano! — Peridot exclamou, chacoalhando os ombros da outra — Eu tenho um plano!

A gem azul olhou para a outra com expectativa.

— Funda-se comigo, Lapis! É o único jeito!

Lapis bufou e balançou a cabeça.

— Você tem que estar brincando, Peridot... — ela se virou para o outro lado — Uma fusão? Você faz a mínima ideia do que isso significa para mim? — E então se virou de volta, furiosa — Eu fiquei presa por semanas debaixo do oceano lutando pra manter Jasper fundida a mim! E de repente... de repente uma fusão resolve tudo, é isso?

— Mas Lapis... Não é porque foi assim com a Jasper que vai ser assim todas as vezes! — Peridot suplicou. A cada segundo, sua pele parecia refletir mais o brilho do meteoro. — Me dê uma chance de salvar todo mundo! Confie em mim. Não custa nada tentar.

Lapis ficou surpresa com as palavras da amiga. Então, olhou para baixo e, quando voltou a olhar para a outra, pareceu se decidir. Estendeu a mão.

— Uma chance.

Quando suas mãos se juntaram, o mundo pareceu parar, e o pânico sumiu. Nesta outra dimensão, elas fizeram passos de dança e podiam jurar que estava tocando uma música. No final, Lapis levantou Peridot com um  braço levantado e segurando sua mão, e o outro enlaçado em sua cintura. Suas testas se uniram, e seus corpos pareciam não ser mais feitos de matéria e sim de energia. Aos poucos, seus membros foram se unindo e então até suas mentes.

Com um clarão, as duas silhuetas que existiam deram lugar a uma maior. Ela era alta, tinha quatro braços e um óculos de pontas alongadas cobria seus dois olhos. Sua cor era predominantemente verde-água. Um par de asas aquosas surgiu em suas costas e assim ela alçou voo.

Rapidamente, ela alcançou a altura do olho gigante, que estava caindo rápido como um relâmpago. Posicionou-se à sua direita e pôs em ação seus poderes de telecinese. Com esforço, puxou a esfera como um ímã. Logo, o olho desviou de sua trajetória e foi para a direita. Como um satélite faz em volta de um planeta, a esfera fez a curva e voltou-se para o céu com a mesma intensidade com que descia.

Completamente suada pelo calor do fogo e pelo esforço físico, ela desceu para a terra, onde encontrou o resto das Crystal Gems reunidas e olhando para a bola de fogo. Steven, que estava mantendo uma bolha-escudo ao redor de todos na esperança de ajudar, logo a desmanchou ao avistá-la.

— Quem é você? — perguntou ele, maravilhado.

— Eu sou Turquoise. — ela sorriu — Prazer em conhecer, Steven.

Era estranho como tudo parecia incrivelmente pequeno deste modo. Steven não era mais alto do que seu joelho. Tudo relacionado a “ser Turquoise” era estranho: Sua nova aparência, seus poderes, os pensamentos se misturando...

— Então Peridot e Lapis realmente... — murmurou Garnet, feliz.

De repente, a fusão começou a desestabilizar, como se tivesse perdido o equilíbrio em uma corda bamba. Ela se deformou e as duas gems caíram no chão. Peridot pulou para cima de Lapis, quando levantaram.

— Nós conseguimos! — comemorou. As duas começaram a rir ao girar em um abraço.

Ao perceber os olhares de todos ao seu redor, Lapis corou e colocou a outra no chão.

— Hum, então, o que isso quer dizer? — Pearl se perguntou.

— Que a Turquoise salvou todo mundo? — sugeriu Steven.

— Não. Quero dizer, aquele olho gigante e vermelho.

— Quer dizer que eles sabem onde estamos. — afirmou Garnet.

Pearl concordou com a cabeça.

— E não estão mais procurando pela Jasper, estão atrás de nós.

Todos ficaram em silêncio, vendo a esfera metálica se afastar cada vez mais.

— Quer saber? — disse Amethyst — Não importa. A gente dá um jeito.

— É! — riu Steven — Como a gente sempre dá.

— Olha... Eu devo admitir que fico cada vez mais surpresa com que conseguimos fazer. — Lapis falou.

— Lapis, eu sou quem está por aqui faz mais tempo e vou dizer que nunca paro de me surpreender. — riu Pérola.

— Abraço em grupo! — gritou Steven, e todos foram se abraçar. Até quem não gosta (muito) de abraços.

As risadas e comemorações duraram até bem depois do olho ter desaparecido, colossal e inconsciente, na escuridão do espaço para nunca mais voltar.


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Notas finais do capítulo

E aí? Gostaram da Turquoise? :3 Faz sentido o argumento de, como não consegue mudar de forma, Peridot talvez não fosse capaz de se fundir? O que acharam? Quero saber!



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