Marcas de uma Lágrima escrita por Android


Capítulo 5
Capítulo V


Notas iniciais do capítulo

“Eu... Já nem sei, minha senhora, nesse momento... Bem, eu sei quem eu era quando acordei esta manhã, mas acho que mudei tantas vezes desde então... Mas o que sei é que tudo isso parece muito estranho para mim.
CARROLL, Lewis. Alice no país das Maravilhas.



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Eu não quero ser normal. Já passaram quase três meses e muita coisa mudou. Eu não me sinto mais o mesmo, acho que nem sou mais, até meu cabelo mudou de cor. Pouco tempo para dizer que tanto mudou, mas não está quase nada igual. Chris acabou se afastando de mim, rola um boato na faculdade que ela possa estar grávida, não acho que seja verdade. Nos muitos anos que a conheço, ela pode ser muito perdida e sei lá, mas não acho que ela se descuidaria de tal modo. Luan está namorando, ele não conversa comigo sobre isso, mas acho que as coisas não estão normais. Mas o que será que deve ser normal? O normal não é mudarmos todo dia um pouco, como aquela metáfora do rio que ouvi uma vez no ensino médio... Não sei! Acho que estou perdido. 

Finalmente decido que é hora de levantar, os últimos dias de férias estão chegando e eu já não aguento mais ficar enfurnado dentro de casa. Como no automático, procuro meu celular ao meu redor na cama, mas ele não está lá. Jogo a cabeça de volta no travesseiro tentando lembrar onde eu havia o deixado e é quando me veio à cabeça que meu primo do interior que estava vindo morar conosco chega hoje. E aquela é o tipo de brincadeira típica dele. Ao lembrar dele me veio a memória as mil e umas tardes divertidas que tivemos em sua fazenda e isso molda um sorriso em meu rosto, coloco-me de pé ainda em cima da cama e com um salto vou ao chão.  

— Marcos? - Grito ao sair caminhando do meu quarto ainda só de cueca, meus olhos o encontram sentado no sofá como a mais inocente ovelha no pasto. Chacoalho minha cabeça em ver tamanha interpretação de tal sonserino.  

— Vem aqui seu pestinha e devolva meu celular - Me jogo em cima dele dando socos em sua barriga de brincadeira e bagunçando seu cabelo, ele não para de rir tentando se desvencilhar de meus braços que agora fazem cócegas nele. Apesar de ser do interior ele não é como aqueles caipiras, ele é muito mais esperto que muitos da cidade, se apostar mais até do que Vih. Não temos quase nem dois meses de diferença de idade, mas sempre nos tratamos como irmãos e não como primos. 

— Me solta, sua baleia! - Diz ele em meio a gargalhadas tentando me empurrar para o outro lado do sofá. Caímos os dois rindo no sofá enquanto minha mãe briga conosco achando que estamos brigando. 

— Sua namoradinha não parava de mandar mensagens, Luk isso... Luk aquilo... Precisa ser igual eu e ter um só amor.. - Diz ele girando meu celular em sua mão. 

— Mas sua namorada é tão chata e você sabe que eu não gosto dela! Agora me devolve isso - Retiro o celular de sua mão vendo que havia várias mensagens de Ana. Quase não nos falamos durante as férias, ela viajou pra visitar sua vó em algum lugar longe, não lembro onde é, mas somos aquele tipo de amigos que não importa o quanto tempo fiquemos sem nos falar sempre iremos falar como se nada nem nenhum tempo tivesse sido passado. 

— Já falou que ama ela? - Marcos sorri ao falar e seus cabelos castanhos caem sobre seu rosto. Nós somos tão parecidos que acho que se vissem nós na rua juntos dirão que somos irmãos, a única diferença acho é o sorriso bobo e o olhar despreocupado dele. 

— Para de besteira, é só uma amiga minha e que você vai conhecer quando começar as aulas daqui dois dias. Você não precisa comprar algo? Podemos ir para o beco diagonal se quiser! - Ele me olha sem entender o que eu estou falando, mas decidi entrar no jogo e ficamos por quase horas falando de como seria as aulas de Hogwarts e que ele não havia comprado nada ainda e mais um monte de coisas que só quem é fã de Harry Potter entenderia...  

Finalmente percebemos que já era quase três horas da tarde e não almoçamos ainda, decido por levar Marcos em um dos muitos lugares que eu gosto na cidade. Prontamente ligo para Victor para irmos ao boliche, queria muito que meu melhor amigo e meu melhor primo se tornassem amigos, seria como um sonho.  

Chegamos e fui logo atordoado com um murro de memórias em meu rosto, aqueles letreiros em neon, o cheiro de cera das pistas de boliche, o clima naquele local me fazem lembrar minha infância onde meu pai costumava levar eu e meu irmão todos os finais de semana para lá, para termos um momento só nosso. Como a infância era boa e doce, quem diria que hoje eu não veria meu pai a muitos anos e nunca havia retornado aquele lugar com meu irmão.

— Vai ficar parado aí, ou vai vir dar um abraço no seu amigo, aqui? - Grita Vitor acenando para mim perto do balcão. - Você do nada ficou aí parado, ficou embasbacado com minha beleza que você não via a tanto tempo? - Continua ele enquanto sorri. 

 - Claro, muita beleza. Só uma madame poderia ser tão bela assim. Vem cá, sua puta. - Envolvo ele em meus braços dando um abraço apertado, acho que o ambiente e as memórias estam me deixando sentimental demais e até melancólico, sei lá. 

— Se vai ter abraços também quero! - Diz meu primo já se aproximando e cumprimentando Vih. - Prazer, Marcos! Vih? Que apelido mais gay! Não tem algo mais normal não? - Caindo em gargalhada Marcos continua, seu jeito é muito bobo e chega até a ser fofo de vez em quando. 

— Vai se fuder! Prazer. Vamos jogar isso ou não? Já aviso que sou campeão de boliche no Wii, então se preparem para perder para mim! - Victor balbucia calçando seus sapatos de jogar. Sempre achei uma frescura esses sapatos, mas eles são tão legais e dão um estilo antigo pra nós e pro local. Sinceramente boliche pra mim é totalmente nostálgico. 

Aparentemente o campeão de Wii não sabe como jogar direito e ficou em último, eu e meu primo competitivos natos lutamos até o último ponto para saber quem é o vencedor e o pior que ele vence, fico irritado, mas vale muito a pena e nos divertimos para caramba. Na saída do boliche uma visão um tanto quanto estranha, porém reconfortante preenche minha cabeça.

Sentados na praça de alimentação do shopping estão Luan e Chris, como em um encontro. Acho que era por isso que ambos se afastaram de mim, acharam que eu não apoiaria o namoro ou algo do tipo, mas finalmente eu respiro aliviado por saber que Chris havia se livrado daquele traste que a tratava como um animal.   

Aceno de longe para Chris e faço um sinal de positivo com a mão tentando mostrar que estou feliz por ela, ela sorri de volta daquela forma simples e singela que só ela sabe fazer, seus olhos azuis são lindos e só naquele momento reparo que quando ela fica com vergonha, suas bochechas coram fazendo algumas pequenas sardas preencherem seu rosto. Solto uma gargalhada ao ver que ela ficou acanhada, mas logo me retiro com os meninos para dar mais privacidade aos novos pombinhos. 

Vitor nos leva em casa, e logo vai embora. Me jogo na cama cansado e muito feliz, e é então que lembro que eu não havia respondido Ana e então pego meu celular para conversar com ela. 

Mensagem de Whatsapp: 

Oiii ana, desculpa não te responder antes. 

Acabei saindo com o povo e não respondi 

Sorry 

Sem problemas, só tava meio 

Sei lá kkk 

Aninha... 

Já pensou em fugir de todos os problemas? 

Só eu e vc e irmos dividir alguma coisa em NY? 

 Sim 

... 

Tava pensando isso aqui agr 

@_@ 

Mas eu n posso 

Vc sabe 

Vc vai mesmo? 

Sim :c 

 

Uma lágrima solitária escorre em meu rosto ao ler a resposta dela, respiro fundo tentando conter tudo que sinto. Minha mente se preenche de dúvidas e complexos e em meu peito, meu coração dói... Não sabia o que farei, mas acho que não tem o que fazer. Agora é só esperar.


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Notas finais do capítulo

Se tiver algum erro me avisa pra eu poder arrumar ♥
Passei um tempinho sem escrever e tentei melhorar com as dicas que vcs me deram, espero que esteja melhor e que vocês gostem.
Bjs :*



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