" O vento frio chocava-se na minha pele. Meu corpo estava quente por causa do casaco de tricô que eu vestia o qual minha vó havia feito com muito carinho. O frio me envolvia e fazia minha mente viajar para mundos distantes, um astronauta nadando pelo imenso céu. - Acho que deve ser solitário lá, papai diz que lá deve ser lindo.  Eu também acho, hoje estou na chácara. Tem muitos coelhos brancos pulando por aqui, eu adoro os seguir e procurar as suas pequeninas tocas e descobrir suas famílias. Mamãe diz que eu... Como é a palavra, mesmo? Di... Diva... Di alguma coisa demais. E também que falo demais sozinho para uma criança, mas ela não entende. Eu não estou falando sozinho sabe? Estou falando com você, meu amigo imaginário. O leitor da minha vida, aprendi essa palavra ontem "leitor" é muito bonita. Quero ser isso quando crescer. Serei o Senhor Leitor, olha que legal. -

— Ei... - Ela disse vindo correndo pra mim, seus cabelos eram diferentes e estranhos. 

— Haha! La vem a curipira! - Eu brinco com ela por seus cabelos de fogo, mas logo ela me corrige dizendo que é Cu-ru-pi-ra. Ela é muito inteligente e minha melhor amiga do rancho. Todo final de ano nós viemos aqui para brincar. Um verão, uma aventura. Ano passado fomos exploradores da floresta. - Hoje seremos ninja. - Mas eu disse pra ela que não daria certo, pois o cabelo dela chama muito a atenção das pessoas, então todos iam descobrir que somos ninjas. E ninja não pode ser descoberto, tem que fazer uns pulos legais e se esconder. Decidimos colocar a cortina como nossos capuzes, mas quando tentei me mexer fiquei preso, tive que fazer força até que o monstro da janela me libertasse, consegui fugir e com meu capuz ainda sem que descobrissem meu rosto. 

Nos corremos pulamos e brincamos por todo o rancho, papai e mamãe estão tomando chá com os pais dela. Eles ficam falando de coisas de adulto e não deixam eu ouvir, meu irmão está com seu Walkman lendo o livro do Harry Potter no nosso quarto. Eu queria um para poder ouvir musicas e me sentir um adulto, mas ele disse que só pessoas legais ganham um e que eu não sou legal. - Eu queria ser legal, aposto que ela me acha legal. E você também né? Você tá aí ainda, né? Por favor, não vá embora. Prometo ser mais gentil com você, eu prometo dividir meu chocolate com você. Tá? Talvez eu vá algum dia, mas por favor não desista de mim. -

Chegamos no melhor lugar do mundo, caminhávamos devagar enquanto nos aproximávamos do pequeno santuário. - Mamãe me contou essa palavra e disse que é a casa desses amigos nossos que tem magia, parecia um ovo grande só que sem uma parte no chão e sem o pintinho claro, né. E tinha os pequenos gnomos e fadinhas lá, sempre que nos vemos deixamos um pequeno pedaço de pão para que eles sempre protejam a gente. - A pequena caverna tinha pedrinhas brilhantes azuis e roxo deixando tudo aquilo diferente do comum, uma cidade de magia. Ao seu redor um caminho de pedras, me sinto dentro do filme da Xuxa e os duendes. Ela sempre fica com um pouco de medo, mas hoje ela que pediu pra virmos aqui. Ela deixou um pão inteiro e fez um pedido pros nossos amigos pequenos. Ela disse que não podia contar pra ninguém, mas em você eu confio. Ela falou que os pais dela tem brigado muito. E ela fica triste, ela queria que eles parassem. Eles provavelmente vão ajudar ela, eles são bons, mas cabeça-dura igual vovô. 

— Que flores lindas! - Ela falou quando correu pra pegar elas, eu também fui. A final qual ninja não ama flores? Eu peguei uma pra mamãe e uma pra vovó e uma pra mim. Ela fez um buquê para botar na sua casa. Me joguei em cima da chuva de flores que caia quando balançávamos bem a árvore. O cheiro doce era muito gostoso e isso chamava os nossos colegas animais pra perto então eu podia brincar com os coelhos de novo e de novo só que agora com minha amiga também.

— Ela disse que não gosta de você, você não fala com ela e ela fica triste que você só fala comigo, mas eu digo que você é tímido, mas ela não entende. -

— Hoje ela me deu um presente, me senti feliz e triste. Por que eu queria também ter algo pra ela, mas eu não tinha nada. Ela pegou a fita favorita do seu pai e ela e me deu, eu disse que não teria como ouvir, mas ela pediu pra eu guardar que algum dia eu poderia a ouvir. Ela tinha um coração vermelho na frente feita com esmalte, ela disse que fez com o da sua mamãe, mas que ela não era tão boa de desenhos quanto eu, mas que ela queria me dar mesmo assim. - A coloquei no fundo do meu bolso e deitamos sobre as flores de mão dada e prometemos ser amigos para sempre.

— Lukas e Emilia, olha a bagunça que vocês fizeram no rancho todo! - Minha mamãe gritou enquanto vinha até nos, em meio de gargalhadas nos levantamos pulando e fugimos como ninjas novamente..."

— Meu Deus! - Levanto rápido e choco minha cabeça no sofá. Eu estava tão cansado ontem que acabei dormindo no chão mesmo. - Como eu pude a esquecer? - Minha melhor amiga na infância, crescemos juntos e eu simplesmente esqueci... Mas também não teria como eu saber nunca a chamei pelo nome inteiro nem ela a mim, sempre nos chamávamos de L e M. Minha cabeça está rodando e meu coração está confuso. - Acho que estou apaixonado por ela, mas... E agora? -

Um pequenino filete de sangue começa a escorrer de meu nariz, o limpo com a manga da camiseta, tentando me manter firme no pensamento, porém foi em vão. Meu corpo enfraquece e perco as forças em minha carne, choco meu corpo ao chão novamente sem consciência.