Réglisse escrita por Ana Barbieri


Capítulo 6
The right people


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura!



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Pelo resto daquela noite, Tina não tivera mais motivos para desconfiar de sua irmã. Sequer detivera tempo para tal, pois Queenie ouviu todo o seu desabafo a respeito do departamento de investigação, aconselhando-a para que se mantivesse paciente. Eles tornariam a enxergá-la como a bruxa capaz que sempre fora e reconstruiriam a amizade do zero. Afinal, quem ousaria falar contra Madame Pickery quando ela está no meio de um sermão? Talvez, eles quisessem falar a seu favor, mas, viram-se encurralados naquela situação na qual o medo é mais poderoso do que a coragem... como acontecia nas cortes superiores bruxas. “Lembra-se de quando fomos assistir a um dos julgamentos?”, inquiriu Queenie. A conversa passou por várias lembranças felizes das duas garotas e aquilo foi suficiente para levantar o ânimo da própria legilimente.

Na manhã seguinte, Sábado, Tina mais uma vez estranhou que sua irmã já estivesse acordada tão cedo. Às oito já ia colocando a mesa para o café e cantarolando o hino de Ilvermony. Normalmente, ambas dormiam até mais tarde e só acordavam lá pelas dez e meia. Queenie avisou que sairia para visitar uma chapelaria, mas Tina não ficou completamente convencida. Nunca imaginara que precisaria seguir Queenie... deveria confiar nela, não é? Sua irmãzinha nunca mentia. Contudo, mesmo com a conversa na noite anterior, Porpentina sabia que algo estava estranho e precisava verificar. Seu instinto protetor era mais forte do que qualquer coisa.

O problema em segui-la, no entanto, era que se não tomasse cuidado, acabaria sendo pega por seus pensamentos. Demasiado altos, dizia Queenie; por ser tão reservada, Tina pensava muito claramente e isso deixava-os muito palpitantes, consequentemente altos. No entanto, em meio a sua caminhada cautelosa, cuidando para manter-se sempre seis passos atrás da caçula, a morena percebeu que todo aquele clichê não seria necessário. Seu maior temor tratava-se de um lugar apenas. A padaria de Jacob Kowalski. Caso não fosse ali, ela acabaria encontrando a coragem para colocar a irmã contra a parede. Se fosse Jacob, a questão tornar-se-ia muito mais complicada... pois tratava-se do coração de sua querida irmã... e até que ponto ela estava no direito e dever de censurá-la?

Em Ilvermorny, a maioria dos garotos ou eram parte do problema ou nada mais do que uma atração passageira. Cedo ou tarde eles acabavam desistindo de Queenie, ou ela própria se afastava por reconhecer o verdadeiro sentimento deles. Certa vez, contara para Tina, ela lera em algum lugar que o primeiro amor raramente era aquele que preencheria seu coração, mas sim aquele que primeiramente o quebraria. Portanto, Queenie evitava se apaixonar. Com Jacob Kowalski, por outro lado, o que ela descobrira não a afastara, mas a aproximara. Se ele era realmente tudo isso, não cabia a Tina julgar. Sua irmã acreditava que sim... ela era a única que precisava de convencimento... “mas você acha que não devo...” De fato, Porpentina não achava que ela devia. Estritamente contra a lei e poderia custar-lhes muito... tanta perseguição quanto a que sofreram durante a estadia de Newt... e ainda assim...

Ainda assim, caso estivesse se encontrando com Jacob, fora isto e nada mais o que a trouxera de volta. Se agora cantarolava, cozinhava, costurava, cuidava de suas madeixas com esmero e se interessava por todos a seu redor, seria resultado da presença do no-maj e ninguém mais. Nem mesmo ela, sua irmã.

Deixou que ela andasse. Parando seis passos antes.

℘℘℘

Na padaria, Jacob acabava de atender uma senhora quando ouviu o som dos saltos batendo contra o chão da cozinha. Som que já parecia compor sua segunda natureza e que, no entanto, quebrara um pouco da sua animação. Desde o incidente da tarde anterior, ele não pensava em qualquer outra coisa senão a expressão de desapontamento e dor nos olhos dela... e de que eram culpa sua. Quando era criança e, como qualquer menino feliz, costumava fazer traquinagens, recordava-se de sua mãe dizendo: “Não estou zangada, apenas decepcionada”. A falta de cor em seus olhos compunha o pior dos castigos. Agora sentia-se exatamente como aquele garotinho matreiro novamente...

Impressionava-o como ela havia lido seus pensamentos e adivinhado o que estava prestes a mencionar. Claro, a senhorita Goldstein não lia mentes literalmente, mas indubitável era que existia uma força misteriosa nela. Sonhava que poderia ser esquecido com vinte quatro horas de diferença, porém, lá estava ela, evitando-o nos fundos. Sem tomar o caminho até a frente da padaria para cumprimentá-lo ou colocar a cabeça no vão da porta e acenar, avisando-o de sua presença. Por fim, o movimento cessou e ele ficou parado atrás da caixa registradora. Queenie na mesma posição diante dos três bolos de casamento que deveriam ser provados naquele dia. O rosado que haviam preparado juntos ao centro... ela estendeu a mão, fazendo menção de tocá-lo...

— Bom dia, senhorita Goldstein. – ele cumprimentou, sem jeito, surgindo ao lado dela com um sorriso tímido.

— Bom dia, senhor Kowalski. – a loira cumprimentou de volta, sem tirar os olhos dos três bolos. – Ficaram muito bonitos... a que horas ela virá prová-los? – indagou taciturna.

— À uma. – respondeu o padeiro, fitando-a preocupado, mas ainda sorrindo. – Ela pediu pelos três, mas tenho certeza de que ela vai gostar mais do seu... – elogiou, arrancando um meio sorriso dela.

— Nosso. – corrigiu ela. – Fizemos ele juntos, lembra-se?

— É... é claro. – assentiu, rindo um pouco. Queenie virou-se para encará-lo, não havia lágrimas em seus olhos, apenas determinação.

— O que pode me dizer sobre meu período de experiência? – sua voz era sempre meiga, mas naquele momento soou um tanto amarga e aquilo aumentou a sensação dele de que se comportara como um menino travesso... havia decepcionado aquela bela jovem de alguma forma...

— Eu... bem... é... – ele levou a mão até o pescoço, sem saber o que dizer. Não fora exatamente um período de experiência ainda... “Oh, não se preocupe, honey... vez ou outra eles descobrem que não sou tão boazinha...” realmente não estava sendo nada boazinha naquele momento... – Senhorita Goldstein, eu gostaria de me desculpar por qualquer coisa que fiz ou... pensei em fazer... que possa tê-la magoado. O que eu posso dizer? Seria um idiota se a dispensasse! Mas, já me sinto um idiota por achar que possa ter feito qualquer coisa para que... que me olhasse assim... por favor, me perdoe...

Os olhos dela lacrimejaram um pouco... se ele ao menos soubesse o que realmente a colocara naquele estado...

— Oh, Ja – senhor Kowalski... – ela começou a dizer, mas a sineta da porta tocou e Henry tinha folga aos Sábados, logo, ambos se encaminharam juntos, num reflexo, para atendê-la. Queenie riu junto a ele enquanto tentavam passar ao mesmo tempo pela porta... e naquela troca de gargalhadas cúmplices, parecia que tudo estava perdoado ou a caminho de ser. – Teenie! – exclamou a loira congelando no lugar, dando espaço para que Jacob passasse primeiro.

Tina fitava-os com a expressão assustada, mas ao mesmo resignada de quem já esperava por aquele final para uma tragédia grega. Seus olhos recaíram sobre Jacob, mas ele não dava sinais de reconhece-la e provavelmente por isso também não deveria reconhecer sua irmã. Muda, a morena tornou a fitá-la. Queenie estava vermelha, porém não se tratava de vergonha. De seus olhos já escorriam grossas lágrimas...

— Teenie... – mas Tina não ficou para ouvi-la, tomando a direção da saída. O som da porta se fechando fez com que a loira desabasse, soluçando copiosamente.

— Senhorita Goldstein! – Jacob correu em seu auxílio, abaixando-se com as mãos na direção de seus ombros, tentando fazê-la colocar-se de pé, mas Queenie não queria. – Senhorita Goldstein, por favor... senhorita Goldstein... Queenie... – ela o fitou ao ouvi-lo pronunciar seu nome e, por alguma razão, ao fazê-lo enquanto assistia-a chorar daquela maneira trouxe de volta o mesmo gosto de alcaçuz a sua boca... – o que...?

— E-era min-minha irmã... eu preciso ir... – desculpou-se limpando os olhos nas mangas de seu vestido. Jacob apressou-se em entregar-lhe seu lenço de bolso, onde ela acabou por assoar o nariz enquanto saía correndo de volta para casa.

Teenie não estava lá. Queenie entrou no apartamento clamando seu nome, mas não obteve resposta alguma. Tudo estava exatamente como deixara antes de sair, exceto Teenie. Ela deveria ter aparatado para outro lugar, provavelmente querendo ficar sozinha a fim de esfriar a cabeça e a loira não a culparia. Resignou-se a sentar em uma das poltronas de frente a lareira apagada, imaginando o que aconteceria em seguida. A morena possivelmente sentia-se traída ao perceber que tudo o que lhe dissera nos últimos dias, com exceção da última noite sobre seus problemas com os agentes do departamento de aurores, foram mentiras. Desde crianças, as irmãs Goldstein sabiam que as únicas pessoas com quem poderiam realmente contar, as únicas que jamais as machucariam, seriam elas mesmas; uma a outra. O mundo parecia engoli-las por terem quebrado tal promessa... e Queenie sentia-se afundando mais, vez que foram os seus ombros os responsáveis. Seria Tina capaz de perdoá-la? Ela se perdoaria por ter mentido?

— Teenie... – sua irmã mais velha estava de volta, uma hora depois e em seus olhos não era possível ler nada... nem em sua mente... pela primeira vez na vida, Porpentina estava tentando usar oclumência contra a irmã. Queenie correu para abraçá-la, seu rosto inteiro rosado pelo choro, mas Tina a afastou, caminhando para o quarto. – Teenie... eu sinto muito... eu não queria mentir pra você! Eu juro Teenie... nunca quis mentir pra você, mas é que... eu precisava ir... eu... Teenie me perdoe... por Morrigan, me perdoe... eu não vou conseguir viver se você me odiar...

— E também não vai conseguir viver se não o tiver ao seu lado? – desdenhou Porpentina, com uma das mãos apoiadas nas venezianas que separavam seu quarto da sala. Queenie soluçou, passando as mãos pelo pescoço, tapando o rosto com elas em seguida, mil pensamentos circulando sua própria cabeça...

— Eu não quero... eu não quero escolher Teenie... eu não vou escolher... eu amo... eu amo você... eu... eu amo... – entre soluços ela tentava se explicar. Sim, de fato, amava aos dois e se o mundo fosse justo como deveria ser, ela realmente jamais teria que tomar uma decisão como aquela. Na sua mente, ela sequer existia.

— Mas pra mim parece que você já escolheu! – ela falava alto, mas ainda tentando conter a voz para que os vizinhos ou a senhora Esposito ouvissem. Mexia em suas mãos com ferocidade, sem saber o que fazer com elas. – Eu não entendo como pôde, Queenie! Como pôde fazer isso se conhece as consequências?! Acha que vão abrir uma exceção para você pelo que fizemos?! Madame Pickery sequer mencionou me colocar de volta ao trabalho, se não fosse por Newt eu nem estaria de volta às investigações! – dava pequenos passos na direção da irmã, as mãos ora apontando para Queenie ora na cintura em frustração.

— Eu... Teenie... acho que eu... que eu o amo mais do que temo as consequências... eu não sei...

— Você não sabe se o ama? – Tina tornou a desdenhar. – Meu Deus, Queenie. Se vai jogar tudo pro alto, poderia pelo menos...

— Eu o amo! – bradou Queenie com raiva, sua irmã havia finalmente baixado a guarda de sua mente e ela conseguira ler seus pensamentos: “poderia pelo menos ter certeza de que é por alguma coisa que realmente quer, pela primeira vez na vida, ao invés de agir como uma tola com cabeça de borboleta!” Tina percebeu e acabou fitando o outro lado. Assim como sabiam que sempre poderiam confiar uma na outra, Queenie acreditava que sua irmã era a única que jamais usaria “cabeça de borboleta” para descrevê-la. Nem mesmo em pensamentos. Contudo, ao mesmo tempo que sentia-se envergonhada, não deixaria que aquele jogo se voltasse contra ela.

— Muito bem, você o ama. Então o que não sabe? – rebateu tornando a exasperar-se. Os olhos de Queenie tornaram a ficar marejados e sem se importar com a briga, correu para os braços de Tina, chorando.

— Ele não se lembra de mim... eu fiquei lá todos esses dias... tentei lembrá-lo de todas as maneiras que pude... ele me esqueceu... ele não vai se lembrar de mim... – soluçava e a irmã não conseguiu afastá-la. “Todas as maneiras...?”, pensou Porpentina, mas Queenie não lhe deu ouvidos. Sabia o que ela queria dizer, contudo. Realmente, não tentara exatamente todas as formas... não o beijara novamente... No entanto, como poderia? Era o seu Jacob e ao mesmo tempo não era...

Tina sentou-a em uma das poltronas, mantendo-se de pé. Conseguia simpatizar com a luta interna de sua irmã, no entanto, tampouco deixava de lado a grande insensatez em todo aquele jogo... Jacob poderia nunca se lembrar dela, e mesmo que lembrasse...

— E o que acontece se ele se lembrar, Queenie? – existiam milhares de perguntas presentes naquela única, porém, aquela que mais atormentava Tina era... “Vai viver no exílio e eles me farão esquecer que tenho uma irmã...? Então, ficarei sozinha?” Sabia que era egoísta da sua parte pensar assim, mas não consistia em como de fato se sentia, afinal, Newt poderia nunca mais voltar. Poderia resolver-se com Leta Lestrange... Então quanto tempo passaria até que seu coração partido remendasse? E além de abrir mão de um amor também abriria mão de outro... sua única família? Como ficaria sem sua Queenie? Sempre lhe lembrando que cachorros quentes não eram um almoço saudável...

— Eu não o amo mais do que amo você... sabe disso. – murmurou a legilimente, segurando-a pela mão. Seus olhos estavam úmidos. – Mas eu o amo... se ele se lembrasse... se fizéssemos isso da forma certa...

— Você pode guardar o segredo da melhor forma possível, Queenie, não dará certo. Assim que eles descobrirem... digamos, assim que você aparecesse com uma criança sua e nenhum sinal de um pai...

— Eles não pensariam nada além do que já pensam. – cortou a loira friamente. O próprio sangue de Tina gelou. “E seria capaz de viver assim... de ainda ser você assim...?” – Teenie..., - ela sorriu, lendo seus pensamentos. Ela era mais parecida com Jacob do que imaginava. – As pessoas certas sempre souberam quem de fato eu sou. E é por isso que eu sou assim. Se eu tenho a certeza, o amor e a confiança das pessoas certas... de que me importa o resto? Eu ainda vou ter você, não vou? Você e as azarações que me ensinou no quarto ano...

Porpentina não pôde deixar de sorrir. Isso explicava porque a estátua da Puckwudgie havia se virado para ela. Nada era mais importante do que a grandeza de seu coração. Enquanto isso, na Kowalski Quality Baked Goods uma noiva se decidia pelo bolo de morango e creme belga para o seu casamento...


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Notas finais do capítulo

E assim finalizamos essa maratona de capítulos. Prometo que os próximos não tardarão a aparecer... estamos nos encaminhando para a rota final, não é mesmo? Contudo, prometo que ainda teremos turning points. Minha maior preocupação é saber se estou conseguindo manter os personagens da tia Jo numa linha verossímil; para tal vou precisar da ajuda de vocês com seus comentários, queridos leitores.

Eu já morri de alta taxa de glicose e também de chorar enquanto escrevia estes primeiros seis capítulos. Espero tocar alguns dos corações jakweenies de vocês!! Um beijoooo bem rosa e até a próxima!!

Ana Holmes



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