Réglisse escrita por Ana Barbieri


Capítulo 5
The best sister in the world


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/723971/chapter/5

Independentemente do que fosse dito a respeito das diferenças culturais entre no-majs e bruxos, ambas as raças possuíam um traço em comum que unia a todos os seres humanos com corações bombeadores de sangue: a alegria de marcar a Sexta-feira em um calendário. Exatamente naquela semana, aquela seria uma compensação extra para Porpentina. Três meses antes ela ficara estática por retornar e novamente sentir-se viva ao fazer aquilo que nascera para fazer. Nada completa mais do que a sensação de fazer aquilo que realmente se gosta, seu pai havia dito uma vez; sua filha concordava. Não obstante, aquele trabalho em específico trazia certas complexidades com as quais muitas vezes não conseguia lidar. A mais notável delas: seus companheiros de departamento.

Por muito tempo, ela trabalhara com aquele grupo, acreditando fazer parte de uma verdadeira equipe, formada por aurores capacitados e leais uns aos outros, trabalhando a fim de fazer o que é certo para o mundo... ela sempre fora uma idealista, afinal. Contudo, quando chegara um momento para se fazer o que era certo – retirar o pobre garoto das mãos de uma mãe abusiva – Porpentina estava sozinha, mas isso não era incomum. Por vezes, um auror precisava agir por conta própria durante uma missão. Por outro lado, ao enfrentar Madame Pickery para explicar-lhe os motivos que haviam levado às suas ações, nenhum daqueles amigos dera um passo para defendê-la. Embora sempre houvesse sido mais reservada do que a maioria, ninguém seria capaz de dizer que a agente Goldstein não possuía mais nada além de boas intenções.

Ainda assim, nenhum deles parecera lembrar-se disso enquanto assistiam-na esvaziar sua mesa. Sendo assim, quando retornara, o clima dentro do departamento estava tenso... cheio de ressentimentos, culpa e palavras duras que jamais seriam ditas... ao menos não enquanto ela não fosse provocada diretamente. Assemelhava-se muito ao primeiro dia em Ilvermorny. Tendo passado a maior parte da sua vida convivendo apenas com Queenie, sempre lendo sua mente – por consequência antecipando seus pensamentos – Tina tinha dificuldades em fazer novas amizades. Naquela primeira noite, a morena detestara o fato de que havia sido selecionada para a Thunderbird. Por que não conseguira impressionar a estátua de Puckwudgie e, assim, ficar com sua irmã? Detestara a escola aquela noite. A diferenciação só lhe parecera certa um ano depois.

Ela realmente era uma aventureira. Detestara o trabalho burocrático no escritório de registro de varinhas. Amava ser uma auror e toda a experiência de campo. Sem hesitar, se interessara pela história de Newt, oferecendo-se prontamente para ajudá-lo em sua busca, fascinada por aquelas criaturas quando passou a conhecê-las melhor. De fato, na maioria das vezes acontecia assim entre ela e as pessoas. A partir do momento em que as conhecia melhor, acreditava nelas, tentando enxergar sua beleza. Havia muita em Newt e, provavelmente, por isso sentia-se tão balançada por ele... também gostara da companhia do senhor Kowalski; por muito tempo, só o que desejava fora a aprovação da presidente. Obtivera isso por milésimos de segundos em seu sorriso ao restabelecê-la em seu cargo. No entanto, levaria muito mais tempo para superar a ilusão de que estivera em uma equipe...

Por isso, ansiara tanto aquela Sexta-feira, pois, naquela semana, discutira com um de seus companheiros, Williams e finalmente algumas daquelas palavras duras foram proferidas. Surpreendera Tina que Queenie não houvesse lido a sua mente. Após anos pedindo para que não fizesse isso, quando finalmente começara a ficar irritante, não lhe parecia possível que sua caçula fosse ouvir. Queenie não fazia por querer, mas sim porque se importava. No fundo, Tina gostava, pois assim não precisava falar e sua irmã saberia exatamente pelo que estava passando. Todavia, naquela semana, fora como se a loira estivesse ocupada em seu próprio mundo... mas um mundo feliz, vez que retornara a costurar, ouvir música e cozinhar. Deveria haver uma troca, não? Quando Queen estivera entristecida, Tina estivera lá por ela... agora ocorria justamente o contrário, mas aparentemente a loira não reparara. Talvez devessem sair para almoçar juntas e conversar...

— Senhor Abernathy, – cumprimentou sem jeito, devido a todas as vezes que saíra sem permissão do serviço – onde está minha irmã, pensei em sairmos juntos para almoçar...? – indagou olhando ao redor, mas sem sinal de Queenie, apenas uma outra garota, também loira. Abernathy também parecia bastante interessado na localização da senhorita Goldstein mais nova, seus olhos brilhavam com frustração... quase colérico.

— A senhorita Goldstein esteve aqui esta manhã e sumiu pouco depois. – respondeu, ansioso. – Combinamos uma nova escala para que ela pudesse cuidar-se melhor do que quer que a estivesse afligindo nestes últimos tempos... aliás, não acredito que esteja sendo uma irmã mais velha muito considerada, Goldstein...

— Eu faço tudo o que posso, senhor Abernathy, mas, minha irmã, assim como outro ser humano, tem direito a certa privacidade para suas emoções... – retrucou Tina com impaciência, confusa – Nova escala? O que quer dizer?

— No começo desta semana, Queenie me pediu para ser liberada às Terças e Quintas. Eu atendi, conquanto ela estivesse presente nas Segundas, Quartas e Sextas, mas, como pode ver, ela dá suas escapulidas... troçando completamente da minha gentileza. Eu me preocuparia se fosse você, Goldstein. – comentou Abernathy com certo veneno na voz, dando as costas para Tina. Ela não insistiu em estender a conversa, mas, por óbvio, preocupara-se. O que sua irmã estava fazendo? No fundo, ela conhecia a resposta... mas pelo bem de ambas, preferira se manter positiva e aguardar o momento certo para abordá-la...

℘℘℘

Ambrósia Eilonwy estava atravessando a rua para o Macusa naquela manhã de Sexta-feira, com os pés já cansados dentro dos mocassins de salto alto, pois o comboio havia pifado no meio do caminho e todos os passageiros se viram forçados a caminhar pelo resto do trajeto até seus trabalhos; quando sentiu um braço enlaçando-se dentro do seu com gentileza. Mesmo assim, o gesto encheu-a de receios. Fortes o suficiente para que tentasse alcançar a varinha dentro de seu casaco, mas reprimiu-os ao perceber que se tratava apenas de Queenie Goldstein. A jovem era realmente bela, compreensível que todos os rapazes tivessem uma queda por ela. Ambrósia não era feia, mas tinha um rosto que costumavam chamar de comum. A jovem Goldstein poderia ser descrita de muitas formas, mas certamente nunca comum.

— Bom dia, Queenie. – cumprimentou Ambrósia, desconfiada.

— Bom dia, Brosie. – respondeu a loira, com um sorriso extremamente amável. – Não tive tempo de agradecer-lhe por ser tão gentil em aceitar minha sugestão para o senhor Abernathy... sequer me dei ao trabalho de saber a sua opinião... – ponderou Queenie soando bastante culpada, levando um sorriso amável para os pequenos lábios da senhorita Eilonwy.

— Mas, Queenie, é claro que eu não iria me zangar. Mantive meu emprego, não é? Foi muita consideração sua interceder... embora o senhor Abernathy esteja preocupado que, mesmo com a divisão, você ainda não pareça exatamente pronta para o trabalho... – retrucou mirando-a de soslaio, ao passo que adentravam o Macusa juntas.

Desceram o elevador para o escritório, senhor Abernathy já esperando por elas. A loira reparou o leve corar nas bochechas de Eilonwy quando ele as cumprimentou e não pôde deixar de sorrir. O amor estava em toda a parte, não é mesmo? Começaram o dia com suas tarefas habituais, dividindo-se entre os dois banheiros presentes na repartição. Até o relógio bater as nove horas. No dia anterior, ela permanecera até um pouco mais tarde na padaria a fim de definir a questão dos bolos de casamento com Jacob... e a bem da verdade, ambos se divertiram tanto na companhia um do outro que fechar o expediente não parecia uma opção feliz. Em todo caso, haviam combinado que ela retornaria às nove.       

— Brosie, venha cá. – chamou do banheiro que acabara de limpar. Ambrósia arqueou as sobrancelhas diante do sussurro dela, mas obedeceu. – Preciso lhe pedir um favor... e também da sua palavra de que não vai contar para ninguém...

A expressão no rosto de Eilonwy passou rapidamente de neutra para estarrecida.

— Queenie... eu não posso... quer dizer, o senhor Abernathy é nosso chefe... não posso mentir para ele, se me perguntar aonde você foi... posso perder meu emprego... e você também se ficar saindo assim! – exclamou mantendo a voz baixa como a dela. Queenie bufou em frustração.

— Acredite em mim, não estou fazendo nada de errado... é uma boa causa, excelente causa... mas preciso de ajuda, Brosie... por favor... você é tão boa, eu sei que é! Posso confiar em você...

— Talvez, Queenie, mas não sei mentir sob pressão... na verdade, sou péssima nisso! – lamentou Ambrósia, agradecendo o elogio internamente, pois sabia que Queenie conseguia ler mentes e, portanto, o coração das pessoas. A legilimente, por fim, sorriu.

— Se me ajudar, eu posso ajudá-la com o senhor Abernathy. – sugeriu com um sorrisinho malicioso, mas meigo. A outra corou violentamente. Nunca percebera, no entanto, que a leitura de Queenie poderia ser tão profunda... ou que fosse se importar em ler alguém como ela...

— Não seja absurda, Goldstein!

— Por favor, Ambrósia! Até às três e meia! – implorou a loira. Ambrósia pareceu considerar e, por fim, assentiu. Queenie beijou-a na bochecha e saiu o mais rápido que pôde.

℘℘℘

Henry estava parado nos fundos, com os braços cruzados, fitando o bolo de casamento de morango e creme belga recém terminado com um pouco de cobertura açucarada por cima. Para qualquer outro que adentrasse, seria uma visão deveras engraçada. Um rapaz de pouco mais de dezoito anos, parado, analisando um bolo como se fosse a peça mais importante para o desvendar de um mistério. Na cozinha, ainda se via sinais da tarde que seu chefe e a jovem ajudante de cozinha haviam passado juntos. Marcas de mãos nas mesas, formas fora do lugar – Queenie insistira em ajudar na limpeza e ainda não sabia onde cada coisa ficava – e Jacob cantarolando uma música bastante engraçada desde que chegara.

— Senhor Jacob... o senhor tem sido muito bom comigo desde que me contratou... – começou o garoto, sem jeito, seguindo-o com os olhos.

— É bom saber, Henry. – respondeu o padeiro, de nítido bom humor. Henry sorriu amarelo e inspirou fundo. – Mas, existe alguma coisa que você queira me perguntar...?

— Não é bem uma pergunta... chefe... é mais uma observação... mas, o senhor pode achar que estou sendo... insensato? – retrucou tropeçando nas palavras, olhando para todas as direções, exceto os olhos de Jacob. Este, riu do embaraço de seu empregado, encorajando-o a continuar, curioso. – Quero dizer, o que eu sei? Sou apenas um rapagão... um garoto... mas... não sei... não me acho burro... quero dizer... o senhor gosta dela, não gosta? Digo, eu também gostei dela... é boa gente... mas... entende? O senhor, gosta mesmo dela... não gosta?

— Henry...

— Não estou me metendo, senhor! Como eu disse, foi só algo que notei... sabe? Minha mãe diz que sou bom nessas coisas... quer dizer, não precisa ser o mais brilhante da ninhada para saber que ela realmente gosta do senhor... e eu sei que o senhor é um cara legal que nunca faria nada para magoar ninguém, afinal, estou trabalhando aqui há três meses... bem, eu só acho que ela gosta do senhor e também acho ela muito legal... e ela é... WOW! E, bem... eu não a deixaria escapar, entende? – ele respondeu, se arrependendo amargamente logo em seguida, mas, precisava deixar claro que não havia nenhum bobo ali. Em todo caso, suas intenções eram boas. Talvez por isso Jacob não o mandava para o meio da rua, imediatamente. Pelo contrário, houve um silêncio tortuoso no qual nenhum dos dois fez ou disse nada... – Sinto muito, senhor Jacob. Retiro tudo! Vou cuidar do estoque agora... – cortou o menino saindo da frente dele com um aceno nervoso de cabeça.

Jacob piscou por alguns minutos, antes de se recompor. Não culpava Henry por suas palavras. A tarde anterior havia deixado abertura para várias interpretações... ou uma única interpretação, aparentemente. Todavia, ele não queria ser o tipo de chefe que se apaixona por sua funcionária e a importuna ou mesmo assedia. O que sua finada avozinha diria se o visse agora? Provavelmente que se envergonhava dele. Como poderia ser diferente? Embora não houvesse feito nada inapropriado, também não havia imposto limites para as gentilezas em excesso da senhorita Goldstein... afinal, é possível negar qualquer coisa para aquele sorriso? Talvez estivesse caído por ela, era óbvio que sim. Até Henry notara... mas, não estava certo. Se não é certo, não é decente...

— Bom dia, senhor Kowalski! – cumprimentou Queenie, chegando pelos fundos, com passos leves. – Bom dia, senhor Talbot! – também cumprimentou ao ouvir os passos de Henry na despensa.

— Ei, Goldy! – gritou ele em resposta, fazendo-a sorrir. Ele finalmente parecia aceitá-la em seu meio. Jacob a fitava em estudo, pensando como fazê-la entender que o que quer que estivessem fazendo, estava errado... e por mais que ela não se importasse com as opiniões dos outros, ele não se daria ao luxo de manchar sua reputação. A legilimente acabou lendo tais pensamentos e sentiu o calor subindo até suas bochechas, deixando-as rosadas...

— Serão três bolos para a prova, então, senhor Kowalski? – indagou timidamente, numa expressão melancólica. Jacob limpou a própria garganta e saiu de seu transe.

— Exatamente, senhorita Goldstein. – respondeu tentando parecer mais profissional do que de costume. Aquele tom lembrava condescendência. O mesmo que recebia de seus professores de Ilvermony. – Escolhi as outras duas a partir da sua... da sua sugestão para que complementassem...

— Senhor Kowalski, acho que estou um pouco doente hoje. – interpôs a loira, abruptamente. Henry ia saindo da dispensa até o carro de um dos fornecedores, estancou para ouvir. – Acho que não é boa ideia ficar aqui atrás... vou para a frente e, se me permitir, gostaria de sair um pouco mais cedo... repousar...

— Ah, claro. – assentiu Jacob, sentindo um grave aperto no peito. Não entendia o que havia ocorrido... ela entrara tão cheia de vida e, de repente, fora como se nunca houvesse sorrido em sua vida. Ele sequer comentara suas opiniões com ela, como poderia ter partido seu coração assim tão gravemente? “Sempre tive um dom especial para ler as pessoas”, dissera no dia anterior. Teria seu rosto tamanha expressividade que ela lhe adiantara as palavras antes mesmo que encontrasse uma maneira de explicar-se? De toda forma, o descaimento na leveza dela fora sua culpa.

Queenie permaneceu na frente da loja até as três e meia. A cada quatro pessoas que atendia, duas lhe perguntavam se havia alguma coisa errada. E ela respondia que não, com a sombra de um sorriso confiante. Às três e meia, ela retirou o avental e saiu. Não se despediu de nenhum dos dois. Jacob apenas lançou um olhar preocupado a Henry. Este, simplesmente deu de ombros, mas, no fundo, ele sabia mais do que seu patrão poderia imaginar.

℘℘℘

Antes de retornar ao escritório, Queenie passou no banheiro do andar térreo a fim de secar seus olhos e lavar o rosto. Ambrósia a esperava, ansiosa.

— Sua irmã esteve aqui... – comentou e ia dizendo mais, mas foi interrompida pela chegada do senhor Abernathy.

— Queenie, onde esteve? Acha que pode ficar indo e vindo desta maneira e que não haverá consequências?!

— Me desculpe, senhor Abernathy... eu... eu... – não conseguiu encontrar nenhuma desculpa, agitada demais pelos pensamentos de Jacob. Embora compreendesse-os, apenas o levavam para mais longe dela... e Tina havia ido até ali, provavelmente suspeitava de alguma coisa... foram apenas alguns dias, mas, todo aquele enlace parecia a estar consumindo mais do que uma maldição de encarceramento. Queenie estava apaixonada... perdidamente apaixonada... por alguém que talvez nunca fosse se lembrar dela...

— Queenie...? – chamou Abernathy com brandura. Ela estava chorando. Ele virou-se para Eilonwy, que apenas deu de ombros, conjurando um copo d’água, o qual a legilimente rejeitou. – Sua irmã não sabe cuidar de você, Queenie –

— Está tudo bem, senhor Abernathy. Ela só está agitada... vou cuidar dela, senhor, não se preocupe. – disse. As duas loiras saindo em direção a um dos banheiros. – Oh, Queenie, o que aconteceu? Por que está...?

A loira a abraçou, sufocando-a um pouco. Geralmente, teria chorado com Tina, mas ainda guardava aquele segredo de sua irmã e Ambrósia fora muito gentil servindo como sua cúmplice daquela vez. Padecer daquela dor sem ter um confidente... a sua confidente, a estava matando... “Vai ficar tudo bem.”, murmurava a senhorita Eilonwy, dando tapinhas em suas costas. Em seguida, conjurou outro copo d’água, forçando-a a beber. Alcançando algumas folhas de papel higiênico para que limpasse as lágrimas e assoasse o nariz vermelho.

— Ele tem uma queda por você... Finn... – comentou Ambrósia, cabisbaixa. – Uma semana na linha e ele nem vai se lembrar do quanto esta parece ter sido confusa. – acrescentou, tentando passar-lhe confiança. Queenie tentou devolver o sorriso que lhe era oferecido, mas ao invés disso, analisou-a um pouco. Ambrósia imaginou que estivesse lendo sua mente e corou, afastando-se alguns passos... quase saindo do banheiro. A loira pensava que: eis uma moça gentil e solícita, amorosa, mesmo com alguém com quem mal trocara algumas palavras em sua vida... tinha os lábios finos, o nariz um pouco arrebitado e sobrancelhas finas, mas o conjunto lhe assentava bem, pois seus olhos pequenos e azuis escondiam um brilho próprio...

— Senhor Abernathy. – chamou Queenie mais tarde naquele dia, antes de sair. Ele foi até seu encontro ainda chateado com suas saídas. – Acho que foi uma excelente ideia manter Brosie conosco... ela foi muito gentil comigo e... acho que o senhor deveria dar uma chance a ela...

— Chance? Do- do que está falando, Queenie?

— Acho que o senhor sabe... – respondeu a legilimente, simplesmente, fitando-o significativamente, mas sem seus sorrisinhos habituais, deixando Abernathy mais consternado do que de costume. Ele fitou a senhorita Eilonwy ao longe e tornou a olhar Queenie, que conseguiu sorrir de lado. – Alguém que realmente se importa conosco, senhor Abernathy, é algo difícil de encontrar... não sabe a sorte que teria. Nos vemos na Segunda. – disse saindo calmamente.

℘℘℘

As irmãs Goldstein não se falaram durante todo o trajeto de volta para casa, tampouco durante a preparação do jantar. De fato, Tina ainda tinha a cabeça cheia e não sabia como abordar a irmã que nunca havia lhe escondido nada durante todos aqueles anos, a respeito de uma possível mentira. Em sua própria cabeça, Queenie ainda enfrentava as cenas daquela tarde na padaria, o que teria que dizer a Teenie para ganhar tempo e o quanto aquelas mentiras machucavam seu bem mais precioso. Sua relação com sua irmãzinha mais velha.

— Eu sinto muito, Teenie. – comentou Queenie, após o jantar. Tina ergueu os olhos da louça para a sua direção, secando os pratos.

— Pelo quê? – indagou Porpentina, tentando parecer neutra. Queenie levou uma das mãos para o ombro da irmã.

— Eu devia ter percebido que você não estava bem... sinto muito pelo que Williams disse...

— Tudo bem. Você também esteve ocupada... – falou, hesitando em sua consternação frente a insistência de sua irmã em não tocar no assunto do escritório. – Por que pediu folgas ao senhor Abernathy? Vive dizendo que mal trabalha e de repente quer uma folga? Ele poderia ter lhe dado folgas permanentes! – exclamou, soltando um dos pratos com força para dentro da pia. Queenie tremeu. – O que andou fazendo? – perguntou sem rodeios.

— Voltei a costurar! – respondeu a loira, sem pensar. – Você sempre comentou como sou boa nisso... e... estou cansada daquele lugar, Teenie... cansada de como... de como aquele lugar nos faz sentir como se não valêssemos nada...

Aquela resposta pegou Tina de surpresa, e não foi como se Queenie estivesse mentindo. De fato, aquela era a maneira como sempre se sentira a respeito do seu trabalho no Macusa. Contudo, sua irmã apenas sabia o que ela contava. Realmente, Teenie era a bruxa de carreira na família e a loira nunca desejara algo tão impressionante para si. Porém, omitia um pouco dos seus próprios sentimentos ao resumir que seu emprego era apenas "nada glamouroso". A morena apenas permaneceu calada, apertando carinhosamente o braço da caçula em compreensão. Nunca questionara Queenie a respeito de no que ela realmente gostaria de trabalhar, afinal, ela sempre fora bastante independente naquelas decisões. Tagarelava possibilidades horas a fio, quando menina... a morena não conseguia entender o que a teria levado a contentar-se a limpar banheiros...

Por um segundo, Tina imaginou que Abernathy estivesse certo e ela não cuidara bem de sua rainhazinha...

— Você é a melhor irmã do mundo, Teenie. – murmurou Queenie, lendo sua mente, com os olhos embargados.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Ambrósia Eilonwy é minha personagem original, criada para os propósitos de meu insensato coração e eu irei protegê-la.

Espero que estejam gostando, beijos!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Réglisse" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.