Réglisse escrita por Ana Barbieri


Capítulo 10
Nothing could be sweeter.


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura, meus amores!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/723971/chapter/10

Quase um acidente. Ambrósia mal tocava o asfalto da rua com seus pés, quando um carro realizou uma curva fechada e fê-la pular para trás em choque. Malditos no-majs... com suas invenções que deveriam servir-lhes como a magia servia a um bruxo. Consideravam-se absurdamente brilhantes por elas, sem darem-se conta do quanto eram limitados. Acostumada ao ritmo de Nova York, contudo, a bruxa não conseguia desprezá-los totalmente. Havia beleza na maneira com a qual levavam suas vidas, de fato, não muito longe das de milhões de magos. Ainda assim, suas pontuais, mas inafastáveis diferenças forçavam-nos a agir como completos estranhos, embora muitos se misturassem bem entre eles. Os Eilonwy sempre foram uma família de personalidades reservadas.

As Goldstein, por outro lado, assentavam-se bem naquele quadro, Brosie pensava ao passo que corria para alcançá-las do outro lado da rua. Reconhecia estar atrasada, porém, sua palavra para com Queenie Goldstein lhe era muito mais cara do que seu histórico de pontualidade.

— Queenie, espere! – sua voz saiu abafada, pela pressa e consequente falta de ar, contudo, conseguiu a atenção de seu alvo loiro. – Preciso falar com você. – disse mirando Porpentina pelo canto dos olhos. A legilimente sorriu com gentileza.

— O que foi, Brosie? – indagou, de braços dados à irmã.

— Falei com o senhor Abernathy. Ele concordou em lhe conceder uma segunda chance! Disse que pode voltar ao posto imediatamente... se quiser... – respondeu Ambrósia, feliz consigo mesma. Naqueles últimos dias, havia cometido algumas falhas intencionais, não grandes o suficiente para colocar sua própria posição em risco, mas suficientes para que a presença estimulante da senhorita Queenie Goldstein fosse sentida. Além disso, deixara de caprichar no café para que se lembrassem do quanto a loira se excedia em prepará-lo com perfeição. Tamanha era sua alegria por tais feitos, que Queenie não conseguiu manter-se indiferente aos pensamentos da jovem; seus olhos e o brilho que emanava deles contribuindo na facilidade de sua leitura.

A legilimente sorriu maliciosamente, contudo, ao observar que existiam outros motivos para o sucesso de sua amiga. Tudo indicava que, além disso, nos últimos dias, Abernathy ouvira seu conselho para que concedesse uma chance aos sentimentos de Ambrósia e a convidara para sair. Tomar sua sugestão acerca da recontratação de Queenie também fora resultado de seu desejo pessoal de demonstrar seu caráter bondoso para sua possível futura companheira. Tina apertou a mão da irmã carinhosamente, chamando sua atenção. A loira sabia o que ela queria dizer sem ao menos precisar de uma leitura mental. Sair pela manhã para trabalhar finalmente trazia verdadeira felicidade para a caçula Goldstein. Passar as tardes com Henry e Jacob, aprendendo suas velhas receitas de família e lhe ensinando as suas pessoais...

Não precisa abrir mão se não quiser... estamos nos saindo bem...” Pensava Porpentina e sua irmã assentiu, concordando. Todavia, já sabiam melhor para ignorarem como seria mais cômodo se Queenie voltasse para o MACUSA. Evitariam responder às perguntas desconfortáveis, ela permaneceria com um álibi incontestável de serviços prestados ao seu mundo, caso viessem a descobrir... Muito melhor do que, mais do que quebrar a maior regra da comunidade mágica nova-iorquina, também abandoná-la completamente para viver como uma no-maj. Sim, a legilimente sabia, precisava voltar. Abraçou Ambrósia, ao passo que esta retribuía timidamente.

— Não foi nada... – balbuciou, corando. – Então, vamos juntas? – inquiriu animadamente. Queenie e Tina se entreolharam.

— Preciso ir falar com meu atual empregador antes. – disse a loira olhando de uma para a outra. Ambrósia assentiu, colocando-se ao lado da Goldstein mais velha.

— É claro. Explico tudo ao senhor Abernathy. – assegurou-a com um aceno amigável de mão. Despediram-se, por fim. Queenie tomando a direção oposta das duas bruxas. A padaria já se achava em polvorosa e Jacob sorriu abertamente ao vê-la, sendo retribuído pelo próprio abrir luminoso de lábios de sua namorada.

— Preciso falar com você. – murmurou ela, tomando um pacote de suas mãos e passando a uma freguesa.

— Num minuto. – respondeu ele, aceitando o dinheiro das mãos de um rapaz. As manhãs eram sempre mais agitadas, porém finalmente conseguiram escapar para os fundos. – Então...? – indagou com um quê preocupado.

— Estou pedindo demissão. – foi a resposta dela, sem rodeios. Os olhos de Jacob se abriram mais, em surpresa e ele riu baixinho, levando-a ao riso também. – Sim... uma amiga do trabalho falou com meu antigo chefe e... conseguiu minha vaga de volta...

— Mas você odeia trabalhar lá. – pontuou Jacob sem se conter. Henry passou pela porta dos fundos e acenou para ambos, tornando a dar instruções a quem quer que estivesse consigo do lado de fora em seguida. Queenie suspirou, tomando as mãos do padeiro entre as suas.

— Eu sei, honey... – murmurou cabisbaixa, mas sem perder o pequeno sorriso no canto dos lábios ao tornar a erguer seus olhos para ele. – Vou aparecer o tempo inteiro... vocês nem vão reparar que fui embora... – comentou com uma risadinha melodiosa. Jacob acompanhou-a, mas permanecia sério em seus olhos, levando uma de suas mãos até o rosto dela.

— Não estou preocupado com isso... – disse simplesmente, com um leve erguer de ombros. Queenie sorriu, inclinando-se para beijá-lo de leve nos lábios, unindo sua testa à dele. Ultimamente, não apenas ela parecia capaz de ler a sua mente, mas o próprio no-maj, por sua vez, a compreendia muito mais sem que precisassem falar muito. Sensatez. Jacob sabia que isso não faltava à sua Queenie, embora fosse bastante impulsiva em alguns momentos; e ela estava sendo sensata. Precisava voltar a trabalhar com os seus... mesmo que isso não fosse o que a fizesse extraordinariamente feliz. Talvez, com o tempo, eles encontrassem outra alternativa. Uma que a mantivesse ligada ao mundo mágico, feliz e ao seu lado... – Eu entendo, senhorita Goldstein... e, bem, acho que lhe devo...

— Se você me der qualquer dinheiro, Jacob Kowalski, eu saio por aquela porta sem olhar para trás e amaldiçoo seus descendentes! – exclamou ela, batendo de leve nas mãos dele.

— Agora, essa é uma maneira de ameaçar os seus filhos. – brincou o no-maj, rindo audivelmente, ao que ela tornou a bater em suas mãos e em um de seus ombros, mas sem perder a própria alegria.

— Jacob...! – ralhou entre risos, com as bochechas vermelhas, sendo puxada para outro beijo. Seria bom poder voltar àquilo um dia ou mesmo encontrar outro campo onde pudesse ser feliz em uma carreira, como seu namorado e sua irmã. No entanto, naquele momento, era suficiente. Ela estava feliz... extraordinariamente feliz. – Preciso ir... – disse separando-os. Ele assentiu, sorrindo, liberando-a de seu abraço, com um último beijo em sua mão. – Almoço?

— Torta ou strudel? – foi a resposta dele, enquanto tomavam seus caminhos, sabendo que não tardaria antes que se vissem novamente.

℘℘℘

A senhorita Goldstein não possuía muitas amigas. Ainda mantinha contato com algumas colegas de Ilvermorny, não obstante sua melhor amiga sempre ter sido Tina. Dentro do MACUSA, porém, não fora capaz de construir muitos laços. Seu departamento em maioria formado por homens; as poucas mulheres que apareciam deixando muito claro em seus pensamentos o que achavam da loira Goldstein. Feliz golpe do destino que houvesse trazido Ambrósia para ela... muitos negariam que fosse feito para durar. Afinal, Queenie apenas se prontificara por ela a fim de conseguir um álibi, um alicerce para seu esquema. Todavia, acabara sendo presenteada com sua primeira amizade em anos e no lugar menos provável, visto seu descaso para com ele.

— E então eu entupi o banheiro e fiz com que nenhum dos feitiços do zelador funcionasse. Quando Finn desceu... a situação estava incontrolável e então eu disse... Queenie era melhor em feitiços do que eu. – contava Ambrósia em sussurros para uma risonha senhorita Goldstein, enquanto ambas subiam com duas bandejas de volta para o departamento. – Espero que não fique magoada, Queenie... eu não quero... não quero dizer que... – a jovem apressou-se a acrescentar, sem conseguir concluir em voz alta... “que limpar banheiros é tudo o que você sabe fazer ou que por isso devesse fazer falta...”

— Não se preocupe. – falou a loira, apaziguadora. – Então... Finn? – inquiriu com um sorriso esperto, a outra corando violentamente.

— Foi pouco depois de você sair... ele me convidou para almoçar e... bem... temos um encontro hoje... – revelou a senhorita Eilonwy, colocando uma mexa de cabelo atrás da orelha.  

— Oh, Brosie! Isso é ótimo! Hoje à noite?! Ele disse onde...?

— Não... está todo misterioso a respeito, mas imagino que seja um local frequentado por trouxas e esteja com medo do que vou pensar, mas ele sabe que não ligo muito... quero dizer, quando foi a última vez que alguém me chamou para sair? Não tenho mais nenhuma ideia de como...

— Não é algo que alguém se esqueça! É simples! Vocês saem, conversam, riem, se divertem na companhia um do outro! – rebateu a loira, empolgada. “Claro, pra você é fácil...” – Ora, senhorita Ambrósia, quanta negatividade! De forma alguma é diferente para mim! Passamos pelas mesmas preocupações e, às vezes, pelos mesmos embaraços...

— Você não teria problemas em encontrar algo que te deixasse linda, por exemplo. – comentou Ambrósia, provocando-a com um arquear desdenhoso de sobrancelhas, sem contudo afetar a legilimente. Queenie abriu a boca para protestar, mas calou-se. Mais uma vez observou o perfil de Ambrósia, seu nariz arrebitado, os lábios finos e os olhos pequenos e azuis, olhando sempre à frente, determinados... escondendo grande fragilidade.

— Eu poderia... bem, se você quiser, Brosie... eu poderia te ajudar com isso. – sugeriu Queenie, fazendo sinal para que um elfo abrisse a porta para elas. Ambrósia analisou a proposta pelo canto de seus olhos, percebendo que a legilimente não pretendia caçoar. Os olhos da loira, na verdade, ardiam em expectativa.

— Mesmo? Quer dizer... eu não sei... você pode ter algo melhor para fazer com seu tempo... é Sexta à noite, afinal de contas... – ponderava Brosie, repousando a bandeja que carregava em cima de um dos carrinhos de café.

— Bobagem, Brosie! À que horas vocês marcaram de se encontrar? – indagou a loira.

— Às sete. Ele virá me buscar em casa... mas, Quennie...

— Então, vamos direto à sua casa! Vou avisar Teenie que não jantarei com ela hoje. – anunciou a loira, batendo um dos ombros contra o da outra carinhosamente. Ambrósia agradeceu mentalmente, com um suspiro extasiado, recebendo um sorriso gentil em troca.

℘℘℘

Jacob estava sozinho quando ela entrou, sorrindo abertamente ao retirar o chapéu e o casaco, ajeitando os cachos com as pontas dos dedos. Ele enrolava pasteizinhos nas mãos, abrindo o próprio sorriso enquanto a admirava de longe. Sobre uma das bancadas, metade de um strudel cheirando maravilhosamente bem. “Almoço...” Pensou o padeiro, sendo ouvido por sua namorada que, habilmente, cortou um pedaço e começou a comê-lo com uma das mãos, sentando-se em um dos bancos ao lado dele.

— Como foi? – perguntou o no-maj, fitando a massa.

— A presença de uma amiga, de repente, fez tudo ser um pouco mais tolerável. – a bruxa respondeu, depois de engolir o pedaço de strudel que estava em sua boca. – Isto está maravilhoso! – elogiou, puxando o resto do folheado para perto de si, fazendo menção de cortar outra fatia.

— Nem de longe! – riu Jacob. – O seu é muito melhor! – sentenciou, com um aceno elogioso de cabeça que fez a loira rir baixinho. – Então, quem é essa amiga?

— Ambrósia Eilonwy. Você não comeu, comeu? – interpôs com um arquear esperto de sobrancelhas.

— Eu queria que acreditasse em mim quando digo que: testar a mercadoria é uma forma de alimentação. – retrucou o padeiro na defensiva. Sua namorada, contudo, jamais acreditaria nisso, fatiando outro pedaço e levando-o à boca do namorado que aceitou sem hesitar.

— Ela tem um encontro hoje à noite e prometi ajudá-la a encontrar a roupa perfeita... mas, na verdade, espero fazer mais do que isso... – comentou, parecendo pensar em voz alta. Jacob observando-a interessado. – Brosie é o tipo de pessoa que é maravilhosa, mas não sabe... espero lembrá-la disso...

— Bem, se alguém consegue é você, senhorita Goldstein. – disse Jacob com uma piscadela divertida, aumentando o sorriso da outra. – Gentileza sua... muito gentil da sua parte... – acrescentou brandamente. “Quem dera eu poder dizer o mesmo...” pensou ele, alto demais. Os olhos dela decaíram por um momento e o padeiro parou imediatamente, repousando as mãos em punhos sobre o balcão sujo de farinha. – Queenie... eu...

— Eu também gostaria, Jacob, mas você sabe porque...

— Eu sei, eu sei. – cortou ele, frustrado. – Eu só... eu queria... eu quero fazer isso propriamente, Queenie... como manda o figurino. – acrescentou rapidamente, suas orelhas ficando um pouco vermelhas. Ela sorriu; tão afetuosamente que soava absurdo como algo tão simples era capaz de revelar tamanha beleza em um coração. Jacob já se sentia tão em casa naquele sorriso e dentro daqueles olhos... – Na verdade, acho que... acho que tive uma ideia...

— Eu vi. – observou a senhorita Goldstein. – Às oito?

Jacob assentiu.

Era um encontro.

Fugindo do natural, Ambrósia não vivia com uma colega de quarto. Ela alugava seu próprio apartamento, pequeno, mas bem mobiliado e vivia tranquilamente no subúrbio de Nova York; alguns quarteirões a mais do próprio bairro de Porpentina e Queenie. Chegando juntas, ela arremessou seus mocassins com tanta intimidade para o meio da sala de estar, suspirando aliviada ao sentir seus pés livres, que Queenie realmente sentiu-se visitando o apartamento de uma velha amiga. Manteve, contudo, os próprios pés calçados. Brosie ofereceu a ela um gole de água de riso e em seguida guiou-a até seu quarto.

A cama estava impecável e a legilimente sentou-se confortavelmente sobre um baú localizado aos seus pés, enquanto a anfitriã abria o guarda roupa e dava alguns passos para trás pondo-se a analisar seu conteúdo de forma crítica.

— Como é possível comprar uma roupa e mesmo assim nunca achar que é boa o suficiente? – perguntou-se, pensando alto. – Quer dizer, eu experimentei cada um destes vestidos... eu... eu achei que ficaram bons o bastante para comprá-los e agora forcei você a vir até aqui só... só para revalidar esse pensamento? – a loira riu da linha de raciocínio da amiga, mas foi obrigada a acenar concordando. Roupas compradas em lojas raramente diziam muito sobre quem as adquiria. Talvez por isso ela gostasse tanto de costurar e criar seus próprios vestidos.

— Aquele é bonito! – exclamou, apontando para um espécime verde água bordado que já havia sido separado em um cabide na porta do guarda roupa. Ambrósia fitou o vestido num misto de aprovação e horror.

— Certamente é mais novo do que outros que tenho aqui, mas ainda acho que não seja o ideal... fico um pouco apagada com ele... – tentou se explicar, alisando o tecido com a palma da mão.

— Vamos escurecê-lo então. – prontificou-se Queenie alcançando a varinha dentro da bolsa. Com um pequeno gesto, o tecido se transfigurava do verde água para um verde escuro encorpado muito bonito e que, de fato, revelava o melhor nos detalhes do design. – Prontinho. O que acha?

— Eu sou tão burra! – exasperou-se Ambrósia. – Nunca pensei em... quer dizer, mal temos tempo para pensar nas possibilidades de transfiguração quando estamos no colégio, mas... por esse ângulo faz todo o sentido! E nada no tecido foi estragado... Queenie, você é muito talentosa! – ela falava como uma menina que vai a sua primeira loja de vestidos de noite, fitando a legilimente maravilhada. Queenie se resumia a rir de sua reação exagerada, incitando-a a experimentá-lo.

A roupa certa realmente carregava seus próprios poderes mágicos. Naquela cor, Ambrósia Eilonwy não ficava de forma alguma apagada e quase se conseguia ver o sinal de uma cintura bastante fina.

— Santa Morrigan! Essa... essa...

— Sim, é você! – assegurou-a Queenie, apertando seus braços gentilmente. – Por acaso você não teria alguma poção alisadora, teria?

— No banheiro, embaixo da pia. – respondeu Brosie, sem conseguir tirar os olhos de si e inconscientemente passando as mãos por seu cabelo. – O que vai fazer com ele? – indagou curiosa. Queenie retornara com um hobbie e um vidro de poção.

— Primeiro cubra-se com isso e o resto deixe comigo. – pediu simplesmente. Pelos próximos minutos, elas conversaram e riram, enquanto a legilimente trabalhava em seu penteado. Ondas vincadas por todo o comprimento.

— Quem te ensinou tudo isso, Queenie? Sua mãe? – inquiriu Ambrósia num momento, fazendo os dedos de sua cabeleireira hesitarem por um milésimo de segundo.

— Não... minha mãe não teve tempo de me ensinar... na verdade, eu ia ao salão com ela e gostava de folhear as revistas. Foi nelas que aprendi. – respondeu taciturna. Brosie acenou, acariciando a mão num cacho estrategicamente deixado para trás perto de sua bochecha.

— Bem, de qualquer forma, é um talento e tanto! Nunca ninguém conseguiu me deixar tão bonita assim!

Queenie sorriu. Os olhos da jovem certamente brilhavam diferente ao passo que se admirava ao espelho. Talvez, houvesse atingido seu objetivo afinal. Algumas mulheres olhavam por cima daquilo que chamavam de frivolidades, mas a loira reconhecia a importância que um segundo de vaidade poderia fazer a autoconfiança de uma mulher. Provavelmente, nunca mais Ambrósia Eilonwy deixasse suas poções alisadoras esquecidas embaixo da pia do banheiro.

℘℘℘

Ela aparatou no beco, a alguns metros da porta dos fundos e bateu. Jacob abriu a porta, esperando-a num terno bem alinhado. De fato, tudo em sua aparência estava meticulosamente alinhado e a loira o amou por isso. Não que fosse um fator importante, porém, a ausência de qualquer sinal de farinha ou de todo outro detalhe que o ligasse à sua profissão, de alguma forma, tornava tudo aquilo ainda mais emocionante. Ainda trajando o casaco com o qual passara aquele dia no MACUSA, adiantou-se para pedir um momento a sós no lavatório, depositando um beijo na bochecha dele antes de correr. Mirando-se no espelho, suspirou... não estava digna do esforço despendido por Jacob. Por outro lado, ainda tinha sua varinha na bolsa.

Retirando o casaco, analisou seu vestido. O que poderia fazer? Lembrou-se, então, de uma imagem que havia visto em uma revista de alta costura uma vez. Um modelo bastante elegante, com o desenho de uma estrela de sete pontas na saia, bordado, obviamente, à mão. Poderia executá-lo usando aquele que vestia como base. Havia tecido suficiente e a seda da combinação em baixo substituiria o de cima. Com um toque, foi seu resultado. Um vestido de seda rosa com, ao invés de uma estrela de sete pontas, um Occami de asas abertas bordado com o tecido azul de seu modelo anterior.

— Queenie, está tudo bem? – ela ouviu-o batendo à porta, admirando-se por um segundo antes de sair. Ao vê-la, ele soltou um suspiro, avermelhando-se. – Wow.

— Você também está muito elegante, honey. – respondeu beijando-o de leve nos lábios. Ele a encarou atordoado por um instante, analisando o desenho no vestido – reconhecendo a ave e acreditando ser um toque pessoal encantador. – Achei que fosse gostar.

— Podemos? – disse oferecendo seu braço direito a ela, que aceitou prontamente, entre risos. A parte da frente da padaria estava iluminada com várias velas, uma pequena mesa posicionada ao centro com duas cadeiras uma de frente para a outra posta da melhor forma possível e um rádio provendo a trilha sonora para o ambiente. Os olhos da legilimente voltaram-se indubitavelmente apaixonados para seu parceiro, que apertou carinhosamente sua mão em resposta. Como manda o figurino. Ele puxou a cadeira, deixou-a confortável e em seguida saiu para trás do balcão, de onde trouxe uma garrafa de vinho.

— Jacob!

— Ah, ah, esta noite é somente sobre surpreender a moça mais bonita de Nova York. Nada além disso. – ralhou ele, servindo-a de uma taça. Depois, tornou a sair, retornando munido de uma travessa com entradas.

— Você pensou em tudo... – murmurou ela, levando uma à boca. Estava delicioso. Levava batata e legumes, mas era leve. – Isto está incrível! Pelo menos me deixe ajudar com a...

— Já cuidei de tudo. – assegurou ele acenando gentilmente com as mãos. – Agora, como era mesmo aquela música...? – indagou começando a cantarolar o hino de Ilvermorny, ao que a loira respondeu continuando a melodia com as palavras certas. – Como é lá? A escola de magia?

— Oh, Jacob, é maravilhosa! Fica nas montanhas, escondida dos no-maj. Uma vista linda, rodeada por uma floresta, em Massachusetts. – ela respondeu bebericando um pouco de vinho e comendo outra entrada, acompanhada por ele. – Existem quatro casas, em homenagem à família da fundadora e cada aluno é escolhido para entrar em uma delas. Teenie foi escolhida pela Pássaro Trovão.

— Como Frank? O pássaro que Newt libertou quando esteve aqui? – indagou o no-maj, maravilhado. Queenie acenou que sim, animada. – Incrível! E você também?

— Não, nem sempre irmãos pertencem à mesma casa. O que só reforça a individualidade de cada bruxo. Minha casa é a Pukwudgie. – explicou a legilimente.

— O que é um Puk... Pukwi...?

— Pukwudgie, - começou Queenie rindo, achando uma graça a tentativa dele. – São criaturas pequenas de rosto cinzento e orelhas grandes. Protegem a escola há gerações. Representam o coração de um mago. – disse muito orgulhosa. Jacob assentiu, concordando.

— Henry ficou desolado quando contei que você havia nos deixado. Podem ou não podem ter havido lágrimas... ele me pediu para não contar, mas houve. – comentou jocoso, fazendo-a rir baixinho.

— Farei uma torta enorme de maçãs para ele, para compensar. Gosto muito dele.

— É um bom rapaz. – concordou o padeiro, fitando-a com um sorriso encantado. Queenie retribuiu, levando uma de suas mãos até as dele. – Tenho sorte em somente conhecer as melhores pessoas de Nova York. Aliás, sua irmã...?

— Sabe. Acha que somos dois adolescentes loucos e inconsequentes, mas sabe. – informou ela.

— Adolescentes loucos e inconsequentes. – repetiu ele, apertando a mão dela com carinho. – Gosto dessa definição. Eu com certeza nunca fui um adolescente inconsequente, mas... louco...

— Como é estudar numa escola no-maj? – ela perguntou, puxando a cadeira para mais perto dele.

— Não muito diferente, imagino – disse, dando de ombros, mas ela o encarou encorajadoramente e ele se pegou prosseguindo. – Quero dizer, acho que todos tivemos professores absurdamente exigentes, provas para as quais não nos sentíamos preparados e, no final, as amizades que fizemos compõem a melhor parte do quadro... meus amigos e eu corríamos após o horário, fazendo barulho ruas adentro... implicando uns com os outros, nos desafiando... – falava com grande nostalgia e afeto sobre aquela época, levando Queenie a reconhecer a semelhança com as suas recordações de Ilvermorny.

O encontro prosseguiu com ambos discutindo suas infâncias, as memórias sobre seus pais, os planos que possuíam para o futuro e até mesmo o que seus eus do passado pensariam dos adultos que ali se sentavam. De forma geral, estariam orgulhosos. Jacob trouxe o prato principal, uma carne maravilhosa acompanhada de legumes e ervas finas, e eles comeram discutindo as probabilidades de receitas que nunca haviam explorado. Queenie decidida a aprender a fazer macarons ou a conseguir uma passagem para Paris a fim de experimentá-los e Jacob concordou que o próximo grande desafio certamente envolveria desossar um pato sozinho, ao que ambos riram audivelmente.

— Esse vestido. Criação sua? – inquiriu ele, de repente. Ela assentiu. – Não vou mentir... não gosto da ideia de vê-la enfornada naquele lugar outra vez, mas entendo. – disse, abrindo as mãos em trégua quando ela fez menção de protestar. – É só... é isso que deveria estar fazendo! Bruxas também não gostam de se vestir? Não existem... modistas... bruxas?

— Sim... a maioria de grandes famílias de puro sangue... bem esnobes.... – assentiu a legilimente, incomodada.

— E...? Não vão torcer o nariz quando virem o seu talento.

— Quem sabe um dia... – cedeu Queenie com um sorrisinho esperto. Ficaram em silêncio por um instante, e então a música no rádio mudou. – Ah, eu adoro essa...

Jacob prontamente se colocou de pé, oferecendo sua mão a ela.

— Não sou o melhor dançarino, mas... – antes que terminasse, Queenie o interrompeu com um beijo, posicionando-se nos braços dele em seguida. Dançavam de rostos colados, lentamente, obedecendo ao ritmo da música e permitindo que as palavras do cantor os conduzisse. – Pode ser um pouco cedo, mas... eu te amo, Queenie... – Jacob murmurou sem quebrar o contato de suas faces, seus olhos fechados, em paz. “Vamos fazer funcionar...

— Não, não é cedo demais... e acho que nunca será nem tarde demais... eu também te amo, Jacob... – ela murmurou em resposta, também de olhos fechados, em paz. – Vamos fazer funcionar... – concordou em voz alta, sentindo-o trazê-la mais para perto.

There’s something wild, about you child that’s so contagious... Let’s be outrageous... Let’s misbehave!

You know my heart is true and you say you for me care... Somebody’s sure to tell, but what the hell do we care?

They say that bears have love affairs and even camels... We’re merely mammals. Let’s misbehave!

 

 

 

The End


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Bem, primeiramente, gostaria de dizer que o ritmo para a letra da música ao final vocês encontram neste vídeo: https://youtu.be/EFqZ7M8gq1U

Segundo, gostaria de agradecer, do fundo do meu coração a todos os leitores desta fanfic. Os fantasmas e os comentaristas. Àqueles que ainda irão ler ou que me mandam seu amor no privado, pois adoram um anonimato! Obrigada a cada uma destas pessoas maravilhosas por tornar esta história tão mais especial e importante para mim. Jacob e Queenie ainda são um casal novo, muita informação ainda está por vir e esperarei por ela antes de escrever qualquer outra coisa. Dessa forma, espero ter conseguido passar o quanto sou apaixonada por esses dois e um pouco da profundidade que Rowling ainda deve explorar. Espero que estes dez capítulos tenham significado algo, de verdade, pois foi tão maravilhoso desenvolvê-los! Estar com estes personagens... é a melhor parte do trabalho, junto ao momento de ouvir as opiniões de vocês, meus caros leitores.

Agradecimentos especiais à minha beta, Diih Franco. Gracias, amiga, por me ouvir enquanto tentava estudar para suas provas, por analisar minhas ideias e me oferecer soluções à dilemas que eu mesma crio na minha cabeça. Nossa parceria significa o mundo para mim!

Enfim, é isso, meus amores. Espero que gostem deste desfecho... que é só o começo. Beijos ♥

Ana Holmes



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Réglisse" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.