Don't bless me father escrita por Undisclosed Desires


Capítulo 22
Capítulo dezenove: Introdução às aulas de biologia celular - Criofratura de membrana.


Notas iniciais do capítulo

EAE GALERINHA! QUEM NÃO ESTÁ ATRASADA?? ISSO MESMO, EU!!!



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Instituto de Ensino Eastern - 11:35 am - Diretoria.

A diretora Lucy Hernandes era uma pessoa bem calma à sua maneira. Um pouco fingida, talvez, mas dirigir uma escola causava a perda da própria alma. Todo dia, por volta de antes do almoço, ela pegava uma xícara de café na secretaria e passeava pelos corredores - como se para conferir a paz, como se para presenciar as nuances de dor e sofrimento nos rostos dos alunos. De qualquer forma, as duas coisas lhe causariam prazer naquela ocasião. Muito mais prazer do que estava sentindo naquele momento.

Fitou cada um dos oito adolescentes - três meninas sentadas e cinco meninos de pé atrás das cadeiras - que haviam brotado em sua sala. Sua sala de paz e harmonia. Ambos possuíam caras consternadas. Lucy tomou um gole de seu café já frio.

— Eu quero saber... - Começou, a voz ficando mais alta a cada palavra pronunciada. - quem é que vai me contar que inferno está acontecendo?

Aline, não conseguindo ficar quieta por mais tempo, pôs a língua pra trabalhar. - Diretora... Eu não deveria estar aqui, não tenho nada a ver com o assunto. Foram todos esses anencéfalos que causaram o tumulto, eu sou apenas mais uma vítima.

Clary, que estava separada da menina apenas pela cadeira de Isabelle, chiou e bateu com as mãos no encosto do sofá. - Vítima? Ah, minha filha, se tem uma pessoa menos vítima aqui nesta sala, essa pessoa é você.

— Deixa de ser mentirosa, garota. - Aline retrucou. Isabelle apenas começou a conferir as próprias unhas. - Eu estava quieta no meu canto, vocês que começaram a aprontar pra cima de mim.

— Não me chame de mentirosa! - Clary berrou, furiosa. Jace pôs a mão no ombro da menina. Isabelle seguiu conferindo as unhas.

— Quem fala a verdade não merece castigo! - Foi a resposta da mais nova. - Ia até perguntar se sua mãe não te ensinou que mentir é feio, mas lembrei que você não tem uma.

A reação de Clary veio na hora, o sangue nas veias queimando enquanto ela pulava por sobre Isabelle para tentar esmurrar a menina. - Começa a cantar! - Ela ordenou, puxando um chumaço do cabelo da outra. - Que você vai subir agora mesmo!

— AAAAAII SOCORRO ELA VAI ME MATAR!! - Aline começou a berrar, recebendo a agressão e usando o máximo que pôde de seus braços para arranhar a outra menina. Isabelle chegou a cadeira pra trás, passando a rodinha no pé de Magnus.

— PUTA. QUE. PARIU. MEU PÉÉÉ, DESGRAÇA! - E, segurando o pé, começou a pular numa espécie de choro.

— Olha como você fala com ela! - Simon soltou.

— OLHA O QUE ELA FEZ COM MEU PÉ! - Bane gritou em resposta.

Enquanto isso, Jace e Sebastian seguravam as pernas e a cintura de Clary, enquanto a mesma - com os braços ainda livres - estapeava, socava ou puxava todo e qualquer pedaço de pele ou cabelos expostos de Aline, que tentava se esconder atrás de Alec, que acabava sendo atingido pela baixinha.

— Clary! Meu Deus! Deixa ela em paz! - Jace berrou, puxando mais as pernas da menina.

— Eu vou é quebrar a cara dela!

— Diretora! Faça alguma coisa! - Alec suplicou após receber outro soco desavisado. Tentou tirar Aline das próprias costas, mas ela não saía por nada. - Me solta, demônio!

— Vai lá! - Magnus falou pra Simon. - Fala pra ele não tratar ela assim também!

— EU VOU MATAR VOCÊ! - Era a voz de Clary novamente.

— Quer saber? Chega! - Sebastian berrou, puxando a menina pra cima, fazendo a mesma ficar balançando as pernas e os braços tentando se soltar para voltar pro combate. - Parem de se atacar, caramba!

— Sororidade, manas. - Izzy debochou.

— É bom quando não é com você, né? - Disse Alec, se afastando de vez de Aline.

— Tá vendo só, diretora? - A menina soltou com a voz de choro. Clary desistiu de lutar contra Sebastian. - Essa menina é uma selvagem!

— SILÊNCIO! - A diretora se pronunciou pela primeira vez desde que a briga começou. Durante, ficou apenas parada encarando com perplexidade a situação. - Vocês duas, antes mesmo de qualquer coisa sobre o que aconteceu antes, estão a semana inteira de castigo!

— Mas isso não é justo! - Aline berrou.

— Vai ser justo quando eu matar você. - Clary estava fora de si mesma e ainda assim cercada por Sebastian. Mesmo que quisesse voltar a atacar a menina, não conseguiria.

Jace pareceu então notar quais braços continham a mesma e o bicho verde do ciúme mordeu ele bem no rabo. Maldito Sebastian, se aproveitando da situação.

— Tá vendo, diretora-

— Silêncio! - Não gritou desta vez, mas o efeito foi ainda mais efetivo. - Srta. Lightwood, vejo que está sendo calma e racional. Por que você não me explica o que aconteceu em primeira mão?

Isabelle triunfou. Seu plano tinha dado certo. Parecer calma e comedida nunca antes fora tão difícil. Clary havia batido em alguém que não era ela, aqui era o suficiente para querer gargalhar da situação. - Tudo bem, diretora. O dia começou normalmente, sabe, nada novo sob o sol. Mas durante a troca de aulas, quando fomos ao corredor, todos os armários estavam revirados e pichados. 

— Não se esqueça do "Aline galinha" que você pichou no meu!

— Silêncio, Aline! - Lucy Hernandes falou.

— Aiai, como se a gente não tivesse visto essa cena quinhentas vezes na sessão da tarde com "Meninas malvadas", sua Regina George despeitada.

— Shhh! E por que os inspetores trouxeram todos vocês até minha sala? Todos vocês fizeram isso?

— Claro que não, Sra. Hernandes.

— Srta. - Ela disse com um sorriso que deveria tê-la feito soar mais jovem do que aparentava ser.

— Sério? Não foi isso que essa ruga aí acabou de dizer. - Alec soltou sem pensar.

— O que o senhor disse, sr. Lightwood?

— Que não foi isso que essa sua-

Magnus botou a mão sobre a boca dele. - Ele é um idiota, prossigamos.

— Enfim... - Izzy continuou. - O alvoroço começou com todo mundo catando suas coisas pessoais e tentando encontrar quem foi que arrombou todos os armários e os pichou. Até que um dos jogadores de futebol, passando em frente ao armário de Magnus, encontrou uma foto de um dos colegas jogadores em posição reveladora e, de repente, começou uma caça ao armário pra ver se encontravam mais alguma.

— E encontraram?

— Várias. Os jogadores não ficaram muito satisfeitos com a exposição. Aí começou o festival de homofobia, que resultou em todos os expostos indo juntar Magnus na porrada - o que teria acontecido se meu irmão não tivesse pulado na frente pra defender e Sebastian foi junto. Mas os inspetores acharam que foram eles quem começaram a briga, então cá estão eles.

— O que, de fato, justifica a presença dos três aqui. E o resto?

— Calma, diretora, que a história já vem. - Izzy prosseguiu. - Apenas dois armários estavam fechados e limpos. O meu e o de Clary. A galera ficou revoltada e acabaram arrombando nossos armários também, e dentro tinham vários sprays de tinta. E lá estávamos nós, prontas para apanhar da multidão, quando nossa salvadora Camille Belcourt apareceu e disse que aquilo tudo foi plano da Aline pra fazer com que eu e a Clary pagássemos por algo. 

— E por que a srta. Belcourt não está aqui?

— Porque Aline acusou que foi na verdade Camille que fez aquilo, porque queria a minha popularidade e o namorado de Clary. O que você acha? Não parece uma coisa bem pensada a se dizer? Meio... ensaiado? Mas enfim, ficaria uma palavra contra a outra, até que Simon, o emogótico, declarou ter ouvido a conversa em que Aline tentava convocar Camille pro lado negro da força, até mesmo havia relatado aquela conversa pra Clary, o que trouxe a confirmação de Jace também, porque ele viu quando Simon pediu pra conversar com ela. Então Jace e Simon vieram como testemunhas, Clarissa, eu e a galinha Penhallow viemos como possíveis suspeitas. Mas ela não tem ninguém pra testemunhar a favor dela e nós temos tudo a nosso favor: - apontando pra Jace. - O santo, - para Simon, - O diabo e até mesmo a rainha do inferno, Camille Belcourt, que - aliás - virando-se pra Aline. - É mais popular que eu. 

— Fiquei sabendo. - Aline respondeu, revirando os olhos. - Diretora! Isso é um absurdo! Eles estão todos mancomunados contra mim! São todos parentes ou namorados ou até mesmo ex-namorados. Você não pode acreditar neles!

— E nem vou. - Foi o que a voz mansa da diretora falou. 

— Como assim? - Izzy berrou.

— Tem que ser a Lucifernandes mesmo pra deixar uma dessas passar. - Clary reclamou. - No seu caso nem é de óculos que você precisa, é de uma visão nova porque essa aí tá mais que estragada. Não tá vendo que essa ratazana de esgoto tá passando lisa na situação porque a senhora se recusa a ver algo que-

— Basta! 

Aline sorriu venenoso pras meninas, mas fez uma cara angelical que costumava tirar cada centavo que queria de seu pai. - A senhora é tão justa, diretora Lucy! Tenho certeza de que meu pai vai adorar saber que-

— Basta a srta. também, srta. Penhallow. Eu não vou acreditar na palavra de adolescentes, porque não preciso. Eu instalei câmeras nos corredores durante o fim de semana, vocês não contavam com isso, aposto. O caso é que muitos alunos andam se agarrando pelo corredor e não podemos deixar isso acontecer. - O sorriso dela gelou a coluna de Aline. - Vamos ver o que temos nas filmagens!

— Mas-mas... Isso pode ser modificado por hackers, diretora! O que vale mais que a palavra de um estudante? - Aline gaguejava. 

Clary começou a rir. - Olha lá, diretora, ela já se entregou. 

— Cale a boca! - Aline gritou. - Sua idiota. 

— Desencana. - Alec soltou pra ela. - Ou vamos deixar ela cair de pau pra cima de você. 

— Que seja... Inferno!

Lucy ligou a tela da televisão no canto da sala, que mostrava pequenos quadradinhos com os corredores e laboratórios. Depois de voltar à gravação de horas mais cedo, selecionou a tela do corredor com os armários. Não deu outra. 

A tela mostrava uma garota de cabelos loiros e curtos com uma tesoura de jardinagem arrombando armário por armário, seguida por duas garotas do primeiro ano que tiravam silenciosamente e com cuidado as coisas que estavam pelos armários e deixavam no chão. Foi um trabalho muito eficiente da parte delas, não demorou nada. E, quando terminou de arrombar, Aline pichou os armários, escrevendo até no próprio aquele "Aline galinha". Uma de suas ajudantes abria os cadeados de Izzy e Clary com um grampo de cabelo. Após guardarem os sprays nos armários, fugiram como as baratas que eram.

Lucy virou o rosto diretamente pra Aline Penhallow. - Srta. Penhallow, vá agora mesmo até a secretaria e ligue para seus pais. Você só sai daqui hoje acompanhada. 

A menina soltou um gritinho de choro e saiu praguejando e xingando cada um deles em seu caminho para a secretaria. 

— O resto de vocês está dispensado. - Eles suspiraram, alguns sorriram e comemoraram. - Senhor Bane, espere no corredor, quero saber quais alunos estavam envolvidos na agressão. Lightwood, Herondale, parabéns pela atitude de vocês. 

Eles assentiram e saíram de sala. 

— Quando a srta. Parker, que ainda está de castigo, preciso trocar umas palavrinhas com você a respeito disso. 

Jace saiu dando tapinhas no ombro da menina, carregando Isabelle pelo braço - que não queria sair. - A gente se encontra lá fora. 

— Beleza. - A menina respondeu e voltou a se soltar sobre o sofá preto. - O que eu devo fazer como castigo?

Lucy levantou-se da cadeira e caminhou devagar até o lado do sofá, deslizando papéis para o outro lado da mesa para poder se sentar sobre a mesma. - Desde que você pôs os pés nesta escola, perturbou a paz. Confusões que nunca aconteceram antes, irmãos brigando, até mesmo o garoto mais calmo e pacífico da escola está beirando o mal caminho. 

— O que a senhora quer dizer com isso? Acha que eu que estou mandando alguém fazer algo? Cada um responde por si, eu não faço eles fazerem nada!

— O que eu estou querendo dizer é que não espere continuar muito tempo por aqui. Você é uma erva daninha, Clarissa Parker, e sabe o que fazemos com as ervas daninhas? Arrancamos pela raiz antes que prejudique demais as outras plantas.

— A senhora não pode-

— Claro que posso, querida. - O sorriso da bem mais velha era condescendente. - E vou. Cada vez em que você pensar em tirar seus pézinhos da linha, eu vou estar lá para observar. Mais uma briga, mais uma confusão, uma notinha ruim sequer, eu estarei lá para observar e ligar pros seus pais e dizer "Oh, senhor e senhora Parker, acho que a Clarissa não está se adaptando bem" e logo será tchau tchau para você. Aqui você joga com as minhas regras. 

— Então manda a ver, velhinha. - A resposta não conseguiu ser contida por Clary, que sempre respondeu aos valentões. 

Lucy respirou fundo, mas logo deu aquele sorriso falso desprezível. - Você vai ser a assistente do treinador do time de futebol durante essa semana. Espero que goste de lavar roupa...

— Adoro. - Ela respondeu e, com um sorrisinho de resposta - todo o contrário do que ela queria fazer naquele momento - ela se virou e foi embora dali. Queria correr e sumir e chorar pelo modo como fora tratada. Chamada de Erva daninha. Passou correndo por Jace e Isabelle, que chamaram seu nome e pareceram não entender, entrando então no lugar em que esperava estar sozinha e não ser encontrada. O laboratório de química. Mas se enganou. Mal teve tempo de enxugar as lágrimas ao perceber a presença de Valentim Mongestern, que lavava as vidrarias. 

— Srta. Parker, aconteceu alguma coisa?

— Huh, não professor, eu estou com, huh, - fungou - alergia. Alergia à... Hum, poeira. É, poeira. 

Ele balançou a cabeça e indicou com a mesma o banquinho ao lado da pia. - Sente-se. 

Ela relutou um pouco, mas o fez. O viu secar as mãos no papel toalha e ir buscar a própria bolsa de couro. - Oh, o senhor pode terminar o que estava fazendo! Eu vou embora, não queria atrapalhar! 

Mas ele apenas levantou a sobrancelha para ela quando voltou com uma garrafa térmica, despejando café na caneca que enroscava a tampa e empurrando para a mão dela. Ela quis chorar ainda mais, mas deu um gole no café. Preto como a alma dela, com a quantidade certa de açúcar. Tomou outro. - Obrigada.

— Não há de quê. - Ele deu um quase sorriso na direção dela, o máximo de algo do gênero que ele poderia fazer. - O que houve?

Ela balançou a cabeça. - Eu não... não quero falar sobre isso. 

Ele concordou. - Tudo bem, eu vou deixar que fique com seus pensamentos. Ninguém vai usar o laboratório no próximo período, mas não conte pra ninguém que eu estou deixando a srta. matar aula, ok?

Ela balançou a cabeça novamente, realmente muito grata a ele. Não tinha nem voz para expressar a emoção que aquilo despertou nela.

— Ninguém pode te fazer sentir mal sem a sua permissão, Clarissa. Você sabe o valor que tem. - Deu duas palmadinhas no ombro dela e se dirigiu para a porta. - Ah, antes que eu me esqueça: traga a garrafa cheia amanhã, você está me devendo um café.

— Pode deixar. - Respondeu com a voz embargada. Ele olhou mais uma vez para dentro, como se para conferir que ela estava bem e, com o quase sorriso de novo, se foi. 


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Notas finais do capítulo

Final escrito ao som de Unwritten, da Natasha Bedingfield.
Mereço reviews?



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