Cidade dos Ossos - Vista por Outros Olhos escrita por Ann Wolf


Capítulo 9
Revelações


Notas iniciais do capítulo

No ultimo capitulo:
Ao que parece há cada vez mais mistérios a serem revelados. Como irá Lauren reagir a isso? E que segredos estarão prestes a deixar de o serem?



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Fico sem chão quando ele profere aquelas palavras. O que poderia o Circulo ou o Valentine ter a ver com os meus pais? E por quê ele só me está a contar isto agora?

Sinto os olhos a ficarem mais embaciados pela ansiedade que sinto.

— Os meus pais? – A mágoa toma-me a voz por completo.

— Acho melhor falarmos num sítio mais sossegado. – Diz-me ele e, pela primeira vez, não o afasto quando ele coloca uma das mãos nas minhas costas.

Deixo-me ser guiada por ele até uma das poltronas que se encontram em frente da lareira. Em cima da pequena mesa, que se encontra no meio dos sofás, está um livro parecido com um álbum de fotografias.

O Hodge faz-me sentar e segue-me depois o exemplo. Ele está chocado com a minha reação. Também, quem não ficaria? Acho que a ultima vez que isto me aconteceu foi quando os meus pais morreram.

Ele agarra o livro e saca de uma foto antiga do meio dele. Foca-a durante um tempo e depois, com os olhos cheios de compreensão, entrega-ma virada para baixo.

As minhas mãos estão a tremer mas isso não me impede de agarrar a fotografia. Quando a viro para cima, os meus olhos embargam-se e sinto o meu interior a desmoronar-se. Ela é antiga, vê-se pelas marcas do tempo que se encontram nas bordas, e está a preto e branco retratando um grupo de jovens mais ao menos da minha idade, talvez mais velhos. Consigo distinguir uma rapariga que parece ser a mãe da Clary, Jocelyn. Ao seu lado encontra-se um rapaz esbelto que está abraçado a ela, calculo que seja o tal de Valentine. Um outro rapaz está do lado direito de Valentine, e este eu demoro mais tempo a reconhecer como sendo o Luke. Dos outros jovens são poucos o que reconheço. A Maryse e o Robert estão também na fotografia com o Hodge do lado oposto. E depois, ao lado de Maryse, encontra-se um casal: uma mulher com o cabelo negro entrançado e olhos azuis que está às cavalitas de um outro rapaz com os cabelos castanhos e os olhos cinzentos.

Começo a hiperventilar. Os meus pais eram aqueles dois jovens, eu reconhecia a beleza da minha mãe e a feição do meu pai. Mas se eles estavam naquela foto, isso só significava uma coisa: os dois tinham pertencido ao Circulo, o responsável pela morte de vários Caçadores das Sombras e Habitantes do Mundo-à-Parte.

— Eu temia como podias reagir se eu te mostrasse isto. – A voz do Hodge parecia-me distante, como se eu estivesse a quilómetros dele. – Os teus pais quiseram proteger-te dos erros que cometeram no passado.

A mágoa que sinto dentro de mim começa a revolver-se no meu estômago, subindo-me depois até à boca.

— Por quê? Os meus pais? Porquê eles estavam neste grupo? – Sinto os soluços a formarem-se na minha garganta mas consigo conte-los.

— Nós não fazíamos ideia em como o Valentine nos estava a enviar para o fundo de um poço. – Ele mira um pouco a foto e a seguir volta a falar comigo. – Naquela altura ninguém percebia que o ideal do Valentine era um completo extermínio desnecessário.

                Acaricio a imagem dos meus pais, felizes por estarem um com o outro e com os amigos. Já pouco me lembrava de ver essa expressão nos rostos, desde que eles tinham morrido.

                - Os teus pais saíram a tempo e conseguiram avisar a Clave de um possível plano do Valentine, mas a Clave não acreditou neles. Por tanto eles acharam que era mais seguro que crescesses no mundo dos mundi até que o Circulo se desvanecesse e tu pudesses tornar-te uma caçadora.

                A voz dele transmitia pesar, e então ele levantou-se da poltrona indo até à janela, sempre seguido pelo meu olhar, recebendo os raios solares no cabelo já grisalho e nas penas lustrosas de Hugo.

                - Hodge. Tu não me escondeste isto só por causa de os meus pais me quererem proteger. – Ela virou-se para mim, com o olhar espantado, e o Hugo levantou voo. – Há algo mais. Algo que tu não queres que eu saiba porque pensas que eu vou fazer um disparate.

                Os punhos dele cerram-se e ouço um pouco do ranger de dentes que se segue. Ele aproxima-se da poltrona, onde antes estava sentado, e permanece atrás dela colocando apenas as mãos a apoiarem-se no encosto.

                - Os teus pais foram corajosos ao deixarem o Valentine. Mas isso não significou que este nunca mais os incomodou. Aliás, agora que possivelmente ele está vivo isso pode juntar todas as peças acerca do que aconteceu aos teus pais 4 anos atrás.

                A face dele está pálida mas sinto que a sua expressão mostra algo parecido com raiva.

                - Então os meus pais foram mortos a mando do Valentine? – As palavras parecem enrolar-se na minha língua mas consigo proferi-las sem me engasgar nelas.

                O meu tutor acena com a cabeça, pesarosamente.

                Algo dentro de mim está a gritar. O Valentine merece pagar pelo que fez ás pessoas inocentes e bondosas como os meus pais. E se ninguém tem coragem para o enfrentar cara a cara, então eu vejo-me com essa obrigação. Talvez seja por vingança mas sei que a justiça está ao meu lado.

                Ouvimos um estrondo do outro lado da porta. Alguém a abre e deparamo-nos com o rosto vermelho do Alec. A sua respiração está descompassada e as suas costas fazem um angulo estranho.

                - Temos problemas. – Diz ele, soltando gemidos de dor. – É a Briana.

                O Alec tinha deslocado duas costelas graças á raiva e aos poderes da Briana. Eu e o Hodge trata-mos de colocar os ossos no sítio para depois eu traçar a runa de iratze. Enquanto isso, o Alec contava em como tinha ido até ao quarto da Wayland, com a intenção de a tentar acalmar mas o plano saiu-lhe pela culatra, e logo que abriu a porta do quarto dela foi lançado com uma força brutal contra a parede, onde deslocou as costelas. A loira saiu depois a correr, pedindo desculpas quando passou por ele.

                - Mas para onde irá ela? – Questiona o Hodge.

                - Eu não faço ideia. – Resmunga o Alec, começando a levantar-se após lhe traçarmos a runa. – Mas ela não estava nada bem.

                Eu encosto-me a uma das estantes ao lado da janela, tentando ter uma pequena ideia de onde a Briana poderia ir para desabafar, o que era um pouco fácil já que como ela vinha muito poucas vezes a Nova Iorque isso até ajudava um pouco. Tentei-me concentrar na imagem da Briana e, em poucos segundos, era como se a visse mesmo á minha frente, com uma t-shirt branca que lhe deixava a barriga á mostra, uns calções de cabedal e um all star negros. O cabelo dela caia-lhe para a cara e colava-se nas bochechas que se encontravam molhadas das lágrimas que ela vertia. A imagem de fundo era uma rua movimentada que eu conhecia pelas placas mostrando ser a Avenida das Américas. As pessoas passavam a velocidade impressionante á volta dela, ou então era o contrário. Dentro de mim, eu sabia para onde se dirigia: o seu porto seguro, o castelo Belverde do Parque Central.

Não sei quanto tempo passou mas quando voltei á realidade encontrei a Izzy a dois palmos de mim e com uma cara um tanto ou nada preocupada.

                - Até que enfim! Estou há mais de 5 minutos a fazer-te sinal para acordares. – Grita ela.

                O Alec e o Hodge, que provavelmente deviam estar ainda a discutir sobre o destino de Briana até ouvirem a Izzy gritar comigo e se virarem para nós.

                - Está tudo bem, meninas? – Perguntou o Hodge, mirando-me através do corpo da Isabelle.

                - Acho que sei aonde foi a Briana. – Afirmo, olhando para a Izzy e fazendo o gesto para me acompanhar. – Dás-me autorização para a ir buscar.

                - Se fores acompanhada, claro que dou.

                Eu a Izzy caminhamos para a porta, quando somos intercetadas pelo Alec. Ele está com uma cara feia, não era igual á de quando estava magoado, era mais quando era rejeitado. Eu não quero levar muita gente mas também não posso escolher ir sozinha. Isto vai dar disputa.

                - Izzy, deixa-me ir no teu lugar. – Pede o Alec, com os ombros um pouco rígidos demais para a situação.

                - Porquê tanta vontade de ir, mano? – Diz ela, lançando-lhe um sorriso malicioso. – Há alguma coisa que queiras fazer o favor de esclarecer-me?

                - Não, mas a Briana iria, provavelmente, dar-me mais ouvidos do que a ti.

                Ouch! Essa doeu. Penso, fixando, com os olhos a carregarem uma tempestade, o Alec. Ele não precisava de dizer que eu e a Briana estávamos zangadas, mesmo que de uma maneira indireta.

                 A Lightwood do meio deve ter percebido a mensagem por detrás da frase do irmão porque me observou antes de concordar com o pedido de irmão, embora se deva dizer que com uma expressão um pouco carrancuda.

                Digiro-me ao meu quarto onde calço umas calças negras e um top azul-escuro que fica um pouco escondido pelo meu colete, onde coloco algumas lâminas seráficas e a minha estela, para além de dois punhais normais, em caso de emergência. Ato o meu cabelo num rabo-de-cavalo que me cai sobre o ombro esquerdo e calço umas botas de cano alto, onde escondo o meu bastão que, tal como o cinto de Briana, pode assumir a forma de um guisarme caso seja necessário lutar. Para um Caçador das Sombras é sempre bom estar prevenido para uma ataque de demónio ou outra criatura qualquer que quebre os Acordos.

                Á porta do meu quarto já se encontra Alec, com os braços cruzados e a cabeça cabisbaixa. É estranho que eu compreenda o que ele sente, tão estranho como ter conseguido ver a Briana a movimentar-se á minha frente como se eu estivesse ao lado dela.

                - Alec, a culpa não é tua. Eu é que a coloquei naquele estado. Fui eu que a abandonei. – Digo, baixando o olhar.

                - Eu podia ter ajudado. Eu devia ter ficado ao lado dela.

                - Não. Ela não to iria permitir. Ela iria querer que fosse eu a faze-lo porque fui eu que a magoei. – Ele está tão em baixo quanto eu mas não tem razão para o estar já que não foi ele que provocou esta cadeia de eventos.

                Eu e o Alec saímos do Instituto em silêncio.

                - Então, aonde ela está? – Ele agarra na estela e começa a traçar uma runa que calculo que seja a de velocidade.

                - Avenida das Américas, por esta hora já deverá estar a chegar ao Central Park, se é que já não está lá. – Digo, enquanto reforço a minha runa de velocidade, como o Alec.

                Ele foca-se em mim e é obvio o que ele quer dizer com aquela expressão.

                - Mas como é que…Quer dizer, tu nunca…

                - Consegui ver uma pessoa em movimento no presente? Não. Mas deu jeito, isso é o que interessa. – Caminho apressadamente, treinando o passo de corrida. – Agora é melhor pormo-nos a andar antes que a percamos.

                - Tens razão.

                Corremos os dois pela rua, muitas das vezes levantado os jornais da New York Times que as pessoas estão a ler, ou até mesmo um ou outro chapéu. Em cerca de 15 minutos já nos encontramos no Central Park a observar as árvores e os mundanos que passeiam os seus animais de estimação. Há algo estranho no ar. Talvez seja só um pressentimento mas é como se algo nos observasse das sombras.

                - Alec, por aqui! – Digo-lhe.

                Ele parece ter sentido o mesmo que eu mas coloca-se a meu lado enquanto nos lançamos numa mini maratona até ao castelo Belverde. Os mundanos não nos veem embora não se possa dizer o mesmo dos seus animais, que nos chegam a rosnar ou a tentar alcançar uma das nossas bainhas das calças. O Alec irrita-se tanto que quase chega a tentar dar um pontapé num dobermann, que eu acabo por desviar antes que receba o golpe.

                Continuamos o caminho até chegarmos a um edifício cinzento com duas torres e que se encontra numa pequena encosta de rochas. Ele tem um ar um pouco abandonado embora os delinquentes o utilizem á noite para as suas “brincadeiras”.

                - Que me dizes. Entramos pela porta da frente? – Pergunta-me o Alec, divertidamente.

                - Sim, mas nada de muito barulho.

                Ele faz-me uma vénia e empurra a porta com mais força do que devia. Muito provavelmente alguém já a devia ter aberto e o Alec não o havia percebido. Entro atrás dele e faz-se notar de imediato a diferença de temperatura pois aqui dentro o ar estava muito mais frio uma vez que não entra luz nenhuma.

                - A sala. A Briana deve estar lá. – A minha voz faz eco e amaldiçoo-me mentalmente por não ter pensado que num clima como este o som não se propagaria tão depressa e tão alto como era óbvio.

                Não ouvimos passos nem qualquer barulho, mas ela sim. A minha respiração está um pouco alterada e levo a mão á luz de bruxa que tenho colete. Iço-a e deparo-me com a cara vermelha de Briana.

                - Briana. – Falo, desta vez mais baixinho.

                - Lauren. Alec. – Ela está um pouco confusa e as lágrimas ainda lhe estão a escorrer pela face. – Vocês vieram. Como me encontraram?

                - Foi a Lauren. – Diz o Alec, atrás de mim.

                Aproximo-me vagarosamente até à Briana, esperando que dessa maneira ela não me afaste bruscamente. Ela olha para mim mas não me diz nada. Dou mais um passo e sinto que é o suficiente para que ela veja como me sinto mal por a ter magoado.

                - Desculpa. Não te devia ter magoado daquela maneira. – Tento transparecer toda a minha dor por a ter ferido. – Eu disse-te que não te iriamos abandonar mas fui a primeira a faze-lo. Peço imensa desculpa.

                Ela começa a chorar e a rir ao mesmo tempo e eu aproveito para a abraçar, ainda com receio. A loira retribui e eu afrouxo mais o abraço enquanto nos rimos as duas, lançando as gargalhadas no vazio do eco.

                 Ouço o Alec a dizer algo de em como as raparigas tinham momentos estranhos e em como ele estava a servir de empecilho.

                Mas não foi isso que nos coloca em alerta. Acontece que no meio de tanta balburdia, nós os três ouvimos uma gargalhada um pouco maléfica e fria como o gelo.

                - Que lindo. Até me comoveu. – Sinto a Briana a ficar tensa e percebo que quem quer que tenha falado, a Briana conhece-o, se calhar bem de mais.


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Notas finais do capítulo

Os pais de Lauren pertenceram ao Circulo e agora a fúria dela cai sobre o Valentine. Briana não ajuda em nada com o clima agressivo mas, mesmo assim, ninguém a consegue abandonar. O dom de Lauren parece estar cada vez mais aperfeiçoado, será que poderá ficar ainda mais? E quem vigia o grupo nas sombras do Castelo?



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