Cidade dos Ossos - Vista por Outros Olhos escrita por Ann Wolf


Capítulo 21
Será este o Final...


Notas iniciais do capítulo

O preço da verdade pode sair bem caro. A que história se refere Valentine? O que pode Lauren saber que pese tanto sobre a sua consciência que ela tenha medo de revelar para Briana? E qual será a reação desta?



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— Lauren. Jace, de que está ele a falar? – O tremor na voz da loira faz-me ficar com a garganta enrolada num nó.

Todos olham para nós. Por instantes, ou momentos, fico com raiva por ninguém estar disposto a ajudar-nos a explicar o que supostamente é a “verdade” para a Briana, que a cada minuto que passa, fica mais nervosa e inquieta, mas logo percebo o por quê. Ninguém conhece a Briana o bastante para saber como faze-la encarar as coisas, e por isso espera que eu e o Jace, aqueles que são mais próximos dela, o consigamos fazer sem dificuldades.

Mas estão equivocados. A Briana é e há de ser sempre um quebra-cabeça que continua em constante mudança á medida que o tempo passa. O que ontem podia ser aceitável, hoje já poderá ser algo de que ela nem mesmo quer falar por odiar. Logo, nem mesmo eu sei o que dizer numa situação como estas. E o Jace, com o seu silêncio mortal também não me ajuda em nada.

— Coitada de ti, Briana. – O timbre do Valentine mostra o quanto se está a divertir em ver a nossa desgraça. – A tua própria família, a quem te devotas de coração, nem mesmo pode dizer algo tão simples? Queres ajuda?

— Vais mentir-lhe. – Replico entre dentes. – Vais distorcer os factos.

— Como posso distorcer o facto de o Jace ser o meu filho. O meu filho e da Jocelyn e irmão da Clary.

Vejo, pelo canto do olho, o Jace a desviar o olhar na direção da Briana, ao mesmo tempo que o Valentine sorri ao ver-lhe a expressão. O Luke, por sua vez, ainda está a digerir a revelação, ou a certeza, que acabou de ser confirmada para todos aqui presentes. A Clary não diz nada e apenas lança olhares a todos nós.

E depois tem a Briana, que entretanto, fincou as unhas da mão livre no meu braço e insiste em fazer cada vez mais pressão sobre a minha pele, começando a rasgar-ma e a fazer o sangue escorrer. Os olhos dela estão embaciados e a adotarem já um tom dourado que parece lutar por espaço com o laranja da sua iris. Os lábios dela não param de tremer e tem as sobrancelhas e a testa franzidas, provocando-lhe uma ruga no meio desta.

— O Jace é seu filho então… - Ela tenta se esforçar ao máximo em não se engasgar com as palavras. – Então eu sou…

Quero que o pesadelo acabe. Nem a Briana, nem o Jace nem a Clary merecem serem filhos de uma besta humana como o Valentine, é impossível que pessoas tão distintas possam ser filhas de uma pessoa que não tem nada a ver com eles. O Jace tem um coração puro e amável, mesmo por detrás de todo aquele sarcasmo e a Briana, apesar da sua personalidade complicada e mau-feitio (sem ofensa porque eu adoro-a mesmo com esse feitio), e uma joia rara de rapariga que ninguém espera encontrar na vida. E também, a Clary tem uma personalidade independente e leal, para não falar justa para com todos e que aceita a diferença de cada um por igual, não como o Valentine que nem mesmo aceita os Habitantes do Mundo-à-Parte que são pessoas infetadas por demónios mas que ainda têm almas humanas.

Olho colérica para ele e vejo que a expressão dele, embora tente esconder um sorriso de vitória, está um pouco mais séria que antes.

— Não termines a frase porque estarás errada. – Ela olha para ele, confusa. – O Jace e a Clary são meus filhos mas tu não. Tu és uma órfã.

— O que quer dizer? Eu sou irmã do Jace! – A loira já tem os olhos raiados de sangue e a conterem as lágrimas, que sempre evita derramar. – Eu sou irmã dele. Eu vivi toda a minha vida ao lado do Jace!

O Jace quase se deixa cair sobre as próprias pernas ao ouvir o que o pai acabou de dizer, pelo modo como os braços e pernas lhe tremem como varas verdes. No entanto, apenas continua na mesma posição de sempre quase como uma estátua, se não fosse pelos tremores.

— Tu viveste toda a tua vida com ele porque eu criei-te como se fosses minha filha. – A explicação do Valentine começa a fazer um pouco de sentido para mim. – Eu acolhi-te e dei-te uma família.

Ela solta um soluço nos meus braços e desembaraça-me da minha mão que a segurava pelo antebraço, levando-a de seguida aos lábios, reprimindo mais um soluço. As emoções dela voltam a correr-me pelas veias e vejo-me forçada a fazer-lhe uma pergunta que permanece a ecoar-me na mente.

— O que fez à família biológica dela? – Não mostro qualquer medo na minha voz, apenas confiança que julgo não possuir em tamanha quantidade. – Matou-os?

— Eu já expliquei o que aconteceu à Clary e ao Jace mas faço questão de vos deixar chegar lá sozinhas. – Num movimento brusco, vejo-o a agarrar na mão esquerda do Jace e a exibir o anel prateado. – Talvez isto vos ajude.

O W que antes costumava ocupar o anel, foi agora substituído por M rodeado de estrelas, tal como eu uma vez vi numa visão com o medalhão da Briana. O mesmo que eu trago no bolso do meu casaco de cabedal desde que ela o deixou abandonado na biblioteca depois de ter sido sequestrada. Retiro-o do meu bolso e deixo-o sob a palma da minha mão, permitindo assim que a Briana e o Valentine também o possam ver.

A loira esbugalha os olhos e agarra no medalhão com brusquidão, levantando ao nível dos olhos e a mostra-lo, de certa forma, ao caçador do Circulo. Ela apenas esboça um sorriso com tal ato. Parece que nada daquilo que a gente faça o consegue afetar de modo algum.

— Ora estou a ver que guardas-te isso este tempo todo. – Ele larga a mão do Jace, que logo se põe a esfregar o local onde repousa o anel prateado. – Diz-me Lauren, tu conheces os símbolos de cada casa de família Caçadora das Sombras.

Aceno que sim com a cabeça. A verdade foi que os meus pais, mesmo antes de eu saber da minha identidade de Caçadora, mostravam-me símbolos que me ensinaram a identificar com o nome de cada casa de uma família por exemplo, o nosso emblema são cinzas tingidas de um tom azul e prateado enquanto o do Ligthwood são troncos de madeira a serem queimados. Os meus pais ensinaram-me todos esses emblemas, até os que ficaram esquecidos no tempo.

— Diz-me, qual é o símbolo dos Morgenstern? – Por esta altura, a Briana já recuava com o colar e olha na minha direção, o que me deixa constrangida. – Não tenhas vergonha de admitir que sabes.

O nome “Morgenstern” significa estrela da manhã e é isso que o liga ao seu símbolo e ao significado deste: estrela da manha como quando Lucifer caiu do céu com os seus fiéis seguidores, expulsos por Deus do Paraíso, devido á sua rebeldia e desrespeito. Tal e qual o Valentine.

— É uma estrela. – Respondo. – Mas onde quer chegar com essa conversa.

— Qual é o emblema no anel do Jace? É uma estrela, não é? – Não lhe respondo á provocação mas a Briana fá-lo, acenando afirmativamente com a cabeça. – Ótimo, já chegamos a um consenso. Ainda não disse nenhuma mentira, como podes ver Clary. Agora, Briana qual é o emblema no teu medalhão?

A Clary enruga a testa e faz uma expressão desconfiada para o pai, significando todo o desprezo que tem por ele ainda mais quando ele está a usar as emoções e sentimentos das outras pessoas para a poder alcançar, típica estratégia de alguém de mau carácter. Mas a Briana faz o que ele pede e observa o emblema no medalhão.

Não é uma estrela que nele se encontra mas sim uma ferradura, um símbolo muito bem reconhecível e que é dos mais fáceis que eu aprendi em criança. O choque apodera-se da minha face e começo a ser sufocada pela pressão no meu peito que nem respirar me permite.

— Lou, o que emblema é este? – A pergunta ao ser dirigida mim coloca-me sem chão e insisto em não querer acreditar no que está a acontecer. – Diz-me, Lauren! Quero ouvir de ti, não dele!

— Esse… - Preciso de engolir em seco e morder o lábio inferior até ser capaz de admitir a quem pertence o emblema inscrito no medalhão da loira. – Esse emblema é da família Wayland. Tu pertences à família Wayland….

— Não...Não! Isso quer dizer que todo este tempo vivi numa mentira? A minha vida inteira é uma mentira!

O Jace tenta aproximar-se de nós mas para ao ver o olhar crucial do Valentine sobre nós. Agora quero mesmo assentar-lhe um murro naquela cara por estar a fazer a minha melhor amiga sentir se miserável, no entanto, sei que não tenho quaisquer hipóteses de me aproximar dele enquanto ele estiver armado e com a arma em riste. Para não falar que muito provavelmente, o Jace o iria defender, como bom filho que é.

Por isso, e porque mesmo parecendo não valer a pena, uso as palavras como único meio de ataque, embora não saiba ainda como o devo atacar com estas uma vez que não uso truques sujos para descobrir os pontos fracos dos meus inimigos para depois os usar contra eles. No entanto, sei de um ponto que ele detesta que seja tocado e o próprio Luke conseguiu usar contra ele para conseguir fazê-lo mostrar a sua verdadeira face, mesmo que por pouco tempo que tenha sido.

— Você é mesmo uma besta, sabia? – Ele olha para mim como se o que estivesse a dizer não tivesse a mínima importância. – É inacreditável até que ponto você usa as pessoas até as derrotar. Não admira que a sua mulher e a sua filha o odeiem. Você não sabe como dar amor verdadeiro a ninguém.

— Lauren… - A Clary chama-me a vem na minha direção e na da Briana, abraçando-nos às duas. – Estamos juntas nisto.

A Briana nem a afasta, talvez pela maneira como ainda se sente abalada e precise de algum apoio, e a Clary sussurra a ultima frase tão baixinho que quase parece ser um segredo entre raparigas, como às vezes fazíamos no colégio St. Xavier. O abraço dura pouco e quando nos separamos, por fim, sinto que estamos com mais confiança para enfrentarmos a próxima luta.

Já sofri demasiado com este jogo de rato e gato com o Valentine. Já perdi um dos meus maiores tesouros que alguma vez tive e não vou voltar a perder mais nenhum por causa dele. O Jace, a Clary e a Briana, são a minha nova família e devo protege-los, custe o que custar, doa a quem tiver que doer. O Valentine merece, não, deve, pagar por todos os crimes que cometeu contra nós pois estes são imperdoáveis para alguém que partilha do mesmo tipo de sangue que o nosso: o sangue divino.

— Valentine, estás a perder a batalha. – Confirma o Luke, acertando em cheio com a pontaria. – Ao usares o teu próprio sangue como isco, fizeste também com que o ódio por ti crescesse ainda mais. Em breve, não te vai restar nada para usares.

— Já chega de conversa. – O tom com que o Valentine é monótono mas é possível sentir-se uma ameaça nele. – Afasta-te da minha filha ou mato-te já aqui.

— Não sou sua filha! – Responde-lhe a Clary, sendo um pouco afastada pelo Luke na nossa direção.

Felizmente, a Briana já está a recuperar a consciência de si mesma e começa a aperceber-se da situação. Se ficarmos aqui, estaremos no meio de uma luta entre o Valentine e o Luke mas também não podemos ir e abandonar o Luke á sua sorte, sendo que também queremos fazer justiça pelos atos deste homem.

— Fujam daqui! Esta luta não é vossa e podem-se magoar.

— Mais do que já estamos? – Pergunto, um pouco céptica quanto a isso.

Quer dizer, agora, mais do que nunca, estávamos as três profundamente magoadas em todos os sentidos, físico por causa da luta de manha e por causa da batalha que eu e a Briana tivemos no andar inferior com os meus pais, para não falar do ataque no pátio e das agressões que o Pangborn, ao que parece, me fez antes de me levar até ao meu pai. E psicológico por nos termos apercebido de verdades e mentiras com as quais vivemos durante tanto tempo e das quais nunca nos apercebemos até ao momento em que nos foram atiradas à cara da maneira mais fria e cura possível, pela pessoa que a odiamos mais que todas as outras.

O Luke olha fixamente para o Valentine que entretanto tomou uma expressão mais séria e tem a espada em punhada, pronto para qualquer ataque ou passo que tenha que tomar para, por fim, acabar com o Luke. Apesar dos cabelos brancos e das rugas por baixo dos olhos, agora que o vejo em batalha ele parece relativamente mais jovem, como se o cheiro a combate o fizesse rejuvenescer de um modo impressionante.

— Não podemos abandonar-te. – A Briana recupera bastante bem, para alguém que acabou descobrir ser órfã de pais biológicos e ter tido um irmão falso durante todo este tempo.

— Estou a falar a sério. Saiam daqui! – Grita. – Clary, põe-te a salvo, por favor.

Ela não hesita, embora queira contestar as decisões dele. Mas assim que percebe que não tem outra solução, decide correr aos tropeções até a porta de saída da sala, seguida por mim e pela Briana, que pelo caminho vamos lançando olhares para trás, vendo o que está acontecer entre os dois antigos companheiros de luta. Ambos possuem um olhar decidido no rosto mas o Luke ainda deve estar a relembrar-se do pouco do bom Valentine que ele conheceu e a transformá-lo em uma pessoa horrível que apenas fingia ser a pessoa que os outros esperavam que ele fosse. Suponho que só quando se transformou em lobisomem é que o Luke conheceu a verdadeira face do Valentine.

Mesmo antes de alcançarmos à porta mais á nossa frente, uma sombra rápida e silenciosa, barra-nos o caminho, impedindo a Clary de passar para o corredor e, consequentemente, prendendo-nos a todas aqui dentro. Ela começa a empurra-la e vejo ser um Jace, que decidiu por fim, mexer-se no mau sentido.

— Deixa-me sair… - A Clary volta a tentar afastá-lo enquanto eu e a Briana permanecemos imóveis a observa-los.

— Nem pensar. Assim que saíres desta porta, eles irão despedaçar-te. – Ele não nos deixa passar de nenhum modo mas nós também não nos movemos. – De um momento para o outro, isto vai ficar tudo cheio de Abandonados.

— Oh, então sempre sabes que o Valentine tinha aqui Abandonados. – O comentário da Briana é mordaz e logo compreendo que se deve ao facto de ela querer esconder a dor que realmente sente. – Podes-me explicar como é que ele os criou? E por quê?

Há uma pausa vinda dele enquanto se examinam um ao outro. O Jace parece severamente arrependido e confuso com o que acabou de saber, ou até já sabia, e olha para a loira com tristeza a embaciar-lhe um pouco da iris dourada. No entanto, a Briana transformou a dor e a confusão em puro combustível para o seu próprio fogo e agora é ele que a faz seguir em frente com ódio e deceção a alimentá-la nesta luta, e apenas observa aquele que antes fora o irmão dela com uma dureza incrível.

Um estrondo metálico abala a divisão á nossa volta e os meus reflexos fazem-me desviar-me para onde se encontram os dois homens a lutar, um deles com uma espada delgada e fina, e o outro com uma adaga comprida e ameaçadora. Faziam golpes e fintas repetitivamente e com uma precisão assustadora que, se não fosse pela parte do oponente, poderia levar á morte deste. O Luke move-se com flexibilidade e força mas o Valentine tem a graciosidade do seu lado.

— Isto não vai acabar bem… - Sussurro à Briana.

— Temos de acabar com isto. – A loira prepara-se para iniciar um passo na direção deles quando eu e o braço comprido do Jace a impedimos. – Hey, larguem-me os dois!

— Não. – O Jace está sério e continua a impedir que a ruiva passe por ele mas conseguiu aproximar-me o suficiente de mim e da Briana para lhe agarrar no pulso antes de ela se meter na confusão. – É uma luta deles. É assim que se faz…

Volto a desviar, novamente, a minha atenção para os dois homens de meia-idade e tão distintos que continuam a lutar entre si com uma expressão ameaçadora e decidida a por um fim um ao outro. O Luke consegue, finalmente, atingir o Valentine num ponto certeiro do ombro, onde lhe começa a escorrer sangue que lhe mancha as vestes brancas. Atrás de nós o Jace inspira pesadamente uma lufada de ar e ao meu lado, a Briana alegra-se com o sucedido. Eu por outro lado, apenas fixo os rostos deles.

O Valentine afasta-se um pouco, avaliando o ferimento, até içar a cabeça para trás e começar a rir de repente. Uma gargalhada que arrepia todos os meus cabelos.

— Excelente golpe. Não pensei que fosses tão bom, Lucian.

Vejo o Luke a levantar mais a lamina da sua arma até ao nível do rosto enquanto se coloca muito direito e quieto.

— Tu ensinaste-me esse golpe!

— Mas isso foi há muito tempo. – O Valentine, mesmo dando sinais de ter algumas dores, fala muito calmamente como se estivesse a acariciar algum animal. – E, que eu suponha, desde então não tiveste necessidade de usar uma espada, pois não? Possuis garras e presas para te defenderes.

— Tanto melhor. Assim posso arrancar-te o coração.

Arrepio-me novamente mas escondo-o o suficiente para que apenas a Briana se possa aperceber de tal. Ela já está mais calma e menos disposta a colocar-se no meio desta demonstração de força e habilidade da parte deste dois mas ainda lhe noto a vontade que tem em ser ela mesma a arrancar do peito algo que o Valentine já nem sequer deve ter, pois perdeu o coração no momento em que se tornou um assassino.

No entanto, ele apenas abana a cabeça, dececionado.

— Já se passaram anos desde que me arrancaste o coração. Quando me traíste e abandonaste. – Já esperava. A típica história da vítima abandonada pelos seus amigos.— Foste tu que viraste a minha mulher contra mim. Foste ter com ela com esse teu ar inepto e lastimoso quando a Jocelyn estava mais vulnerável porque eu estava longe e ela pensava que tu a amavas. Foi uma idiota.

— Idiota? – Replica a Briana, mais para o nosso grupo do que para ele. – Eu fazia o mesmo que ela se me visse numa situação igual.

O Valentine parece não a ouvir e continua a procurar desviar-se das estocadas do Luke, e também das suas fintas, para depois o tentar atacar novamente. Pelo que entendo, o objetivo dele não é só ferir o lobisomem, acho que procura primeiro desarmá-lo para depois poder divertir-se às custas dele indefeso, quem sabe tentando oferecer-lhe uma morte lenta e dolorosa.

— Jace. – A voz da Clary ouve-se atrás de nós e vemos um rapaz louro tenso e lançar olhares elétricos para onde se encontra a luta. – É da mãe que o Valentine está a falar.

— Ela abandonou-me. – Queixa-se o loiro. – Que rica mãe…

— Oh e podes falar muito sobre o Valentine? – A Briana, ao meu lado, recua até ficar ao lado da Clary. – Esse tipo abandonou-nos quando éramos crianças, fez-nos passar por um árduo treino e mesmo que isso nos tenha ajudado a sermos os melhores, foi uma tortura. Mas, oh não. Depois de tudo isso ela continua a ser “O Melhor Pai do Ano”. Nunca pensei que tivesse sido criada com um irmão tão burro.

— Briana, calma. Já chega. – Procuro acalma-la para que a dor não transpareça na voz dela.

O Jace está agora chocado com as palavras da Briana, a pessoa com a qual sempre viveu desde criança, com quem foi habituado e a quem sempre chamou de irmã mais nova, sem saber que tudo isso não passava de mais uma das mentiras do Valentine. Ela, quando mais precisava, tinha o lá para a ajudar a superar as dificuldades e ele, quando estava sozinho, tinha-a a ela para o animar. Quando uma ligação assim é quebrada, é óbvio que a reação não será das melhores. E o Jace acabou de sentir isso.

— A mãe julgou que estavas morto. Queres que eu te diga como descobri? Ela guardava uma caixa no quarto com as tuas iniciais J.C.

Aproximo-me deles, não por curiosidade mas por causa das imagens que me assaltam á mente, mostrando uma Jocelyn depressiva a agarrar numa caixa e a remexer no seu conteúdo. O cenário era triste porque ela retirava cada objeto para o comtemplar e, de seguida, coloca-lo no seu sítio habitual. Será que a Clary tinha vivido isso sempre uma vez por ano? Ver a mãe chorar sobre pertences de uma caixa.

— Ok, ela tinha uma caixa…E depois?...Há muita gente que tem caixas para guardar coisas. Ouvi dizer que está na moda.

— Tinha uma madeixa do teu cabelo. Cabelos de bebé. E uma fotografia ou duas. Costumava abri-las todos os anos e chorava. Terríveis lágrimas sentidas…

— Para. – O Jace fala entredentes e tem uma das mãos cerradas, como que disposta a socar alguém.

Isso tudo é apenas um aviso: ele está a perder o controle.

— Aoh…- Sussurra a Briana ao meu lado.

— Paro, o quê? De te contar a verdade? – Continua a ruiva. – Ela pensava que tinhas morrido. Ela nunca te teria deixado se soubesse que estavas vivo. Tu também julgavas que o teu pai estava morto…

— Vi-o a morrer! Ou assim julguei. Não ouvi apenas falar disso…e escolhi acreditar!

O meu desprezo começa a ameaçar-me em como não tarda vai sair cá para fora e dar uma bela lição ao Jace. Como é que ele ainda pode acreditar mais no Valentine do que na própria rapariga de quem gosta, sendo que não estamos do lado dela e ele já nos conhece desde tenra idade? Certamente que a visão de poder ter uma família novamente é tentadora mas, que rica família ele iria ganhar: um pai que mantém a mulher presa e inconsciente, uma filha que o odeia e ele que está apaixonado pela irmã. Era algo impossível.

— Ela encontrou os ossos carbonizados na casa. – A Clary tenta acalmar-se um pouco mas isso surte pouco efeito no louro decidido. – Nas ruínas. Juntamente com os ossos da mãe e do pai dela.

O rapaz continua teimoso como uma mula e apenas a continua a observar, lançando, por vezes, alguns olhares piedosos na nossa direção. Eu quero ajuda-lo, quero mesmo, no entanto, tenho plena consciência de que ele não dará ouvidos aquilo que eu direi pois serão as mesmas palavras que a Clary proferiu e que ele não quer acreditar. Do meu lado, a Briana mantém-se calada e olha séria o bastante para ele ao ponto de o poder congelar com o olhar mortífero dela. Enquanto isso, a ruiva não desvia os olhos do Jace, talvez para tentar arranjar um modo de ele acreditar nela

— Isso é ridículo. – Diz ele por fim, vendo que ninguém o apoia. – Não morri e não havia ossos.

— Ridiculo és tu! – Nem dou conta que a Briana já está a ficar irritada com o que se está a passar à nossa volta. – A Clary já disse que haviam e em quem acreditas mais, em nós ou no Valentine?

— Eu já vos disse. Isso deve ter sido algum feitiço é a única explicação.

Agora começo mesmo a ficar enervada. Penso, ao mesmo tempo que crispo a mão. Se eu pudesse, a esta hora o Valentine e o Jace já estariam ambos a esfregar a cara: um por ser um casmurro de primeira, que nem com as provas á frente dele, acredita, e o outro por ser um mentiroso de merda que nos põe coisas na cabeça para nos distrair do nosso objetivo, e colocar-nos uns contra os outros. Como está a fazer agora.

— Otimo, se acreditas tanto nisso. Mas pergunta ao teu pai o que aconteceu à sogra e ao sogro. – A pequena parece ter arranjado mais um ponto de determinação, devido ao facto de a Briana a ter acabado de defender. – Pergunta-lhe se isso também foi um feitiço…

— Cala-te! – O grito do Jace abala-nos ás três, que recuamos impávidas e em choque ao facto do grito dele ter mostrado tanta revolta.

Não parece o mesmo rapaz sereno que nunca se exalta com nada. Que nunca tem medo do que quer que fosse, seja um demónio ou então sentimentos mas que agora, demonstra que na verdade ele é como nós, com a diferença que apenas reprime tudo bem no interior dele para não parecer fraco.

Ouve-se o barulho de uma lâmina a cair sobre o chão, seguido por um baque. A Clary e o Jace são os primeiros a olharem para trás, seguidos depois pela Briana e por mim. Por momentos, quase que agradeço por não me ter virado antes mas percebo que isso é apenas egoísmo da minha parte.

O Valentine e o Luke ainda estavam a lutar mas, ao que tudo indica, quando ouviram o grito do Jace, ficaram tão surpreendidos como nós mesmas e, talvez por escassos segundos, isso foi um motivo de distração para o Luke. Quando me acabo de virar, ainda consigo deparar-me com o pai do Jace a retirar a espada cravado no peito do Luke. Este tentava a todo o custo poder apanhar a adaga que tinha caído ao chão, que lhe fora arrancada das mãos com um golpe do Valentine.

O lobisomem bate com as costas no chão de pedra, atordoado com os golpes que o apanharam desprevenido. Ele não consegue apanhar a lâmina, pois o ex melhor amigo acabou de a enfiar para debaixo da mesa com um pontapé, deixando o desarmado.

É então que o Valentine empunha a sua espada negra. Possui estrelas prateadas na lamina, que brilham como pequenas estrelas numa noite escura, uma beleza hipnotizadora se não fosse pelo facto de que o Valentine está a preparar-se para desferir o golpe mortal sobre o Luke.

A boca do meu estômago contrai-se para o tamanho de um grau de areia e sinto a minha garganta a reduzir-se a um emaranhado de nós impossíveis de desfazer quando admiro tal cenário. Os meus pés parecem completamente presos aonde se encontram, insistindo-me em não intervir na luta.

Não…Não quero que mais ninguém meu amigo morra…

— Clary… - É o Jace que ouço atrás de nós.

O que quer que ele tenha querido dizer com o nome dela, tornou-se inútil assim que ela se desviou de todos nós e correu na direção do Luke estendido no chão, impondo-se entre o Valentine e o lobisomem sem pensar duas vezes. Nesse preciso momento, ele começa a baixar a espada na direção deles, não demonstrando qualquer emoção por causa da filha estar mesmo ali, a centímetros da lamina que ele empunha.

— Não! – O pouco ar que tinha contido nos pulmões, sai-me com um grito.

Numa fração de instantes, o Valentine ainda empunha a espada que se abate sobre o corpo da Clary e do Luke, e no outro, está ele com uma das mãos agarrada á que servia de mais apoio para a espada, que está a sangrar, enquanto a sua arma está jogada a uns metros, ao lado de uma kindjal de pedras azuis. Penso que tenha sido a Briana a responsável pelo arremesso, mas ela encontra-se a observar o irmão, que tem o braço esquerdo levantando e em posição de atirar.

Abro a boca mas não sai nem uma palavra. O Jace tinha acabado de ir contra o pai para poder salvar a Clary. Isso já é um sinal que ele ainda não está completamente perdido e que ainda pensa por ele mesmo. Mas ele logo se transforma de novo no rapaz submisso do Valentine, que permanece pálido e com os olhos assustados fitos no pai, enquanto suplica perdão baixando o braço.

— Pai, eu…

O Valentine estava aborrecido com o sucedido, ou melhor, enfurecido por o filho o ter acabado de impedir de matar alguém, no entanto esforça-se para que a sua seguinte voz seja amena o suficiente para que pareça carinhosa para o Jace. Acabo por desviar os meus olhos entre eles os dois e vejo a Briana a fazer-me gestos com os lábios e sobrancelhas, ao mesmo tempo que fita o meu casaco de cabedal onde repousam as minhas lâminas seráficas. Ainda bem que trouxe duas.

— Parabéns, Jonathan. Foi um arremesso excelente.

— A tua mão…Julguei que…

— Não teria ferido a tua irmã. – A Briana, subitamente começa a tossir enquanto profere alguns palavrões sobre o Valentine, recebendo um olhar cúmplice da Clary, que procura ignorar para não dar o ponto fraco. – Deteria o golpe. Mas é louvável a tua preocupação familiar.

Engulo em seco. Preocupação familiar…O que sabe ele sobre famílias quando está sempre a destrui-las. O meu desprezo não suporta mais a prisão em que o mantenho e acaba por sair disparado pelos meus lábios.

— O que sabe você sobre família? – Arrisco, ao mesmo tempo que passo uma lâmina seráfica á Briana, que começa a desviar-se de mim para ir em direção da Clary e do lobisomem caído. – Está sempre a destruir famílias? Primeiro a da Clary. Depois a minha. E a seguir a do Jace e a da Briana.

— Ele não me destruiu nada. – Afirma o louro. – Ele deu-me.

— E tu? De que lado estás afinal? – Já não era a Lauren que falava, agora eu era uma projeção mais suavizada da Briana. – Estás disposto a fazer tudo o que este homem te pede? A matar pessoas inocentes?

Ele recua um pouco, chocado com as verdades que acabe de dizer e que ele insiste em não acreditar. O pior, é que isso já não me faz diferença. Só quero que este peso absurdo no peito desapareça.

— Queres ser um assassino? Um monstro como ele?

— Chamas-me monstro, mas monstros são aqueles que têm em si sangue demoníaco, como os Habitantes do Mundo-à-Parte. – Relembro-me do Raphael e não o vejo como um monstro mas como uma alma cruelmente amaldiçoada a viver eternamente, vagueando pela terra. – Eles só fingem ser humanos mas são monstros que querem enganar as pessoas.

Tudo que ele acaba de referir, descreve-o exatamente como ele é. Um monstro com cara de homem que só se preocupa em enganar e magoar as pessoas, atraiçoando-as pelas costas. Ele diz que os monstros são aqueles que têm sangue demoníaco, mas ele é a prova concreta que quem tem sangue de anjo nas veias também pode ser uma besta.

— Monstro? – A Clary permanece ajoelhada ao lado do Luke, com a Briana já por perto, a garantir que o Valentine não os ataca. – O Luke não é nenhum monstro. Nem um assassino. Você é que é.

— Clary…! – O Jace já se encontra ao meu lado mas por causa da acusação da Clary, que não dá sinais de ter terminado.

— Assassinou os pais da sua mulher, não em batalha, mas a sangue-frio. Aposto que também matou o Michael Wayland e o filho. – A Briana dá sinais de ficar tensa quando esse assunto vem à tona. – E colocou os ossos junto dos ossos dos meus avós para que a minha mãe julgasse que você e o Jace estavam mortos. E pôs o seu próprio colar á volta do pescoço do Michael antes de o queimar para que toda a gente pensasse que era você. Após toda a sua conversa acerca do sangue puro da Clave…pouco lhe importou o sangue inocente deles quando os matou, não foi? Matar crianças e velhos a sangue frio, isso sim é que é monstruoso.

O Valentine já não consegue controlar mais a raiva que o assombra por ver que nem a própria filha o consegue aceitar como um salvador, como o filho fez, e acaba por o mostrar para todos.

— Chega! – A fúria na voz dele provoca-nos um sorriso por finalmente, ele estar a demonstrar quem realmente é. – Jace, tira a tua irmã da minha frente ou juro pelo Anjo que ainda a magoo.

O loiro fica indeciso entre qual das raparigas ele está a falar mas também não deixo que ele se possa aproximar de nenhuma delas, colocando-me entre ele e elas para que não as alcance até a Briana já ter ativado a lâmina seráfica que lhe dei. No entanto, se eu tiver de costas para a ameaça nesta sala, também se pode tornar perigoso pois posso ser atacada por trás.

Vejo que o Jace não liga grande importância à minha insistência em me meter no meio desta situação mas, quando ele se tenta desviar por entre os meus braços esticados, sigo-lhe o caminho, intercetando-lhe o percurso. Ele começa, por fim, a ficar com pouca paciência para a minha impertinência.

— Lauren, sai. – Ele volta a desviar e eu faço o mesmo. – Estás me a ouvir? Para! Já chega! Não quero que ninguém se magoe.

— E vais deixar que o Luke morra? Isso não é magoar também? – Inquiro.

— É diferente. Ele é um submundano…

Cerro os punhos. Que diferença tem um submundano que pratica o bem de um mundano normal? Não partilham quase dos mesmos direitos e deveres, talvez com alterações mas isso é devido ao modo como precisam de sobreviver?

Dou-lhe um empurrão por já não conseguir conter a minha frustração de o estar a ver tornar-se num Valentine chapado, ele recua mas não tropeça nos próprios pés, como eu já não esperava, e vem na minha direção. Com um simples gesto, consegue afastar-me do caminho dele, agarrando-me pelo ombro direito e empurrando-me para o lado com tanta força que embrulho os meus joelhos e caio sobre as minhas coxas, o que me transmite fluxos de dor pelo pelas minhas vértebras.

— Adriel! – Finalmente, a loira ativa a lâmina com o nome de um anjo mas não sabe a quem deve apontar: se ao Jace que se aproxima dela e da Clary, ou então o Valentine, que a observa ameaçadoramente.

Não posso ficar aqui, deitada no chão como uma inválida enquanto o Valentine vê os seus planos serem cumpridos, um por um. Levanto-me desajeitadamente e corro para a loira, colocando-me em posição de defesa com o cabo de mais uma lâmina seráfica na minha mão. Consigo chegar primeiro que o Jace mas isso não me adianta de muito pois ele já está a agarrar na Clary por um braço, infringindo-lhe muita força, pelas caretas que ela faz.

— Jace, para! – Ele ignora-me e segue apenas as ordens que o Valentine lhe deu, como um robô.

Este aproxima-se, vagarosamente da Briana, com a espada preta já em riste ao mesmo tempo que lhe sorri com uma expressão divertida enquanto ela lhe responde com uma sarcástica. Eu, por outro lado, nem consigo evitar que o Jace siga o caminho mais incorreto, nem mesmo consigo que ele me ouça ao menos.

— Lamento, Clary. – Murmuro-lhe, virando-lhe as costas e indo na direção da Briana, que se encontra agora perigosamente perto do Valentine.

Este caminha para o Luke e procura levar-nos a pensar que ele nem sequer sabe que nós estamos ali para o impedir de magoar o lobisomem. Quando ele se prepara para ficar a menos de um centímetro do estomago do Luke, eu e a Wayland saltamos em direção dele. É claro que ele se desvia para nós as duas, mas com um sorriso trocista a tomar-lhe a face.

— Wow, mas o que temos aqui? – Troco olhares com a Briana para que ela saiba o que fazer a seguir. – Um par de futuras parabatais. Que surpreendente.

Não lhe damos oportunidade para soltar mais nenhum comentário mordaz que indique que conhece tudo acerca da nossa vida e partimos na direção dele. Ativo a Uriel e coloco-a em riste para trespassar o Valentine diretamente no ombro, tal e qual ele me fez quando eu estivera na divisão inferior, mas o que na verdade tenciono fazer é outra coisa.

O tempo que ele está a desperdiçar para arranjar um modo de desviar o meu golpe, mesmo que saiba que é pouco, pode ser o suficiente para que a Briana, vinda da esquerda dele, o possa atacar sem que ele se aperceba da velocidade dela. Não desvio a lâmina nem por um minuto, embora a sinta a tremer nas minhas mãos, como que se a cada segundo fosse ficando mais pesada. Foco-me no meu alvo, apesar da dificuldade e ele, parecendo conhecer a nossa estratégia, desvia-se para a esquerda, para onde se encontra a loira, mas ele também não cai na esparrela e agarra-lhe no pulso, ameaçando partir-lho, acabando apenas por a atirar contra mesa onde os copos acabam por se estilhaçar ao lado dela.

O facto de a ver estendida ali, procurando colocar-se de pé, embora deva ter ficado bastante dorida do impacto, faz com que o modo “guerreira enfurecida” fique ativado ao ponto de voltar tentar atingir o Valentine, dessa vez, no abdómen onde ele já se encontra ferido. No entanto, ele lança-me um pontapé no estomago que me atira diretamente contra a pedra fria e áspera do chão, mesmo que isso ainda não seja o suficiente para me parar. Tento-lhe pregar uma rasteira já no chão, mas ele, em vez de cair, para diante de mim e prega-me uma bofetada na cara que me faz arranhar a bochecha no chão enquanto a outra permanece horrivelmente quente devido à chapada que acabei de receber.                                                                                                                                                              Por momentos, não ouço nada além da minha respiração pesada contra o chão frio e os passos do Valentine que logo param, dando lugar a palavras que ecoam á distância da minha mente. Os gritos da Clary, juntamente com os berros do Jace aumentam de volume cada vez mais, até cessarem por fim. Mas também o silêncio é cortante demais para os meus ouvidos e estou preocupada com o rumo que a situação possa ter tomado.

Os meus braços conseguem suster o meu peso assim como os meus joelhos, no entanto, é o meu equilíbrio que não está nos melhores dias devido ao facto de já ter caído duas vezes agora, sem contra com as outras três lá em baixo durante a luta e ao qual uma já me rendeu bastante perda de sangue e dores de cabeça. Mesmo assim, forço-me a levantar-me, meio zonza meio direita, e em procurar pelos meus amigos. Quando olho para o sítio onde antes estava o Luke deitado, apenas encontro uma possa de sangue e a espada do Valentine encalhada nas fendas do chão. A Clary, esta sobre um dos joelhos, a poucos metros de mim e parece que já passou por um bocado e a Briana recupera bastante depressa, já estando a esfregar a cabeça enquanto observa a cena á volta.

Mais á frente, num lugar mais afastado do Valentine, está o Jace juntamente com o Luke, que parece também estar bastante confuso com o que acabou de acontecer. Mas não tanto quanto o próprio pai do Jace que os olha perplexo e confuso com o ato do filho. Este, mesmo continuando um pouco pálido, olha para ele sem medo disposto a, finalmente, enfrentá-lo.

— Acho que devia ir-se embora. – Diz ele, agora com mais coragem na voz.

— O que é que disseste?

Luke, agora já se encontrava sentando e presenciava o mesmo filme que nós. A Briana, só por si, fazia alguns gestos poucos discretos como: “chupa esta!” ou “Já foste.”. Admito que a preferia a ser uma idiota do que vê-la magoada e a sentir dor. A Clary vem ter comigo e percebo que não me culpa pela minha atitude de á bocado, de a deixar nas mãos do Jace quando ele a queria afastar do Luke.

— Obrigada, por terem defendido o Luke quando não pude. – Diz ela. – Vocês as duas deram-me tempo para chamar o Jace á razão, como podem ver. Vocês estão bem?

— “Bem” não é o termo correto para se dizer, neste caso. – Replico, focando na conversa de pai e filho á nossa frente e que não parece ser nada animadora para o lado do velho Valentine. – Mas pode-se dizer que ainda estamos inteiras.

Vejo o Jace a conseguir retirar a espada negra do pai, das fendas entre as pedras, e a ergue-la a um nível o suficiente para que esta fique a uns perigosos centímetros do queixo do Valentine. Tenho a certeza de que se o Jace tivesse a intenção de o matar aqui e agora, esta seria a melhor oportunidade que ele teria para o fazer. Mas ele não o faz.

— O meu nome não é esse. – Diz ele. – Chamo-me Jace Wayland.

— Wayland? – O Valentine não estava mesmo a gostar da atitude do, até então, filho submisso. – O Michael Wayland era um estanho para ti e tu não tens sangue dele…

A Briana aproxima-se pela retaguarda do Valentine e vejo-lhe o Jace a lançar-lhe olhares cuidadosos e reprovadores, mas sem nunca perder a concentração no Valentine, que continua a deixar que os acessos de raiva o tentem dominar esquecendo-se que tem uma espada apontada mesmo á garganta. A loira acaba por apenas passar ao lado dele e coloca-se com o ombro quase encostado ao do Jace, mostrando o quanto orgulho ela tem nele e não tenciona parar de o apoiar.

— Mas eu tenho. E o Jace é meu irmão, portanto também pode ter. – A língua dela está mais afiada do que parece mas mantem a calma. – E você é apenas um estranho para todos nós que nem pai merece ser chamado pelo Jace por isso, ponha-se a andar.

O caçador abana a cabeça repetidamente.

— Nem pensar. Não recebo ordens de crianças.

A ponta da espada roça de leve pelo pescoço do Valentine e desta vez, quem coloca um sorriso trocista no rosto é a Briana.

— Somos crianças muito bem treinadas. – Começava a temer o rumo da conversa, especialmente quando o Jace possuí na voz um tom tão…calmo. – Foi o senhor mesmo que nos instrui a arte de matar. Basta mexer dois dedos para lhe cortar as goelas, sabia? Creio que sim.

Não abro a boca e quase nem respiro. Este clima está a ficar tenso. Demasiado tenso para o meu gosto e algo me diz que o Valentine ainda está à procura de alguns trunfos na manga para utilizar contra o Jace e a Briana, que agora se tornaram os seus alvos. E isso é o que me coloca desconfortável.

— Tens, ou melhor, têm suficiente perícia. – Ela está mais sossegado e menos exaltado. – Mas tu não poderias matar-me. Sempre tiveste um bom coração.

— Talvez ele não possa. – O Luke, mesmo pálido e coberto de sangue empapado, conseguiu levantar-se e em vai em direção da Briana, do Jace e do pai. – Mas eu posso faze-lo. E não tenho a certeza se ele me consegue deter.

É a gota de água. O Valentine, que sempre tinha procurado mostra-se calmo e cumprindo o papel de vítima incompreendida, revelando apenas alguns traços de fúria, que por vezes lhe manchavam as feições, deixa que a raiva assuma forma, mostrando os seus olhos febris e raivosos que dão a sensação de lançarem facas invisíveis em direção do Luke, que por seu lado, mantém-se ao lado do Jace, esperando que este lhe entregue a espada que acabara com tudo de uma vez por todas. Ele fá-lo segundos depois, sem ser trocada nenhuma privada.

Um aperto no coração atinge-me subitamente e recolho-me sobre a minha barriga, pois sinto-me tão tonta que nem tenho a certeza de me conseguir manter em pé. Deixo que os meus joelhos batam contra o chão, voltando a reabrir pequenos arranhões com o sangue já seco ao seu redor, e levo as mãos às temporãs, fechando os olhos. A imagem de um lobo aparece-me de repente. Não é o Luke mas ele conhece-o e o lobo está a salva-lo de receber com a Kindjal do Valentine, que ele tem no cinto. O lobo morre mesmo á minha frente e eu solto um grito perdido até que regresso á realidade.

— Lauren? Lauren, o que tens? – É a voz da Clary, que se ajoelhou ao meu lado. – Fala comigo? O que tens?

Relembro-me do que acabei de ver, é impossível não parar de me lembrar da morte daquele pobre lobisomem, e decido fazer algo para que isso não aconteça, mesmo que eu tenha consciência que tudo o que eu faça nunca irá conseguir alterar o futuro quando ele já está completamente traçado. Mas levanto a cabeça a tempo de ver o Valentine a já levar a mão á kindjal, aproveitando o facto que o Luke e o Jace se distraíram um pouco comigo.

— Luke, cuidado! – Grito, a todo o fulgor. – O Valentine tem a kindjal com ele!

Não vou a tempo, o lobo que eu vi na minha visão já está à ombreira da porta, coberto de sangue negro e escura, assim como um vermelho mais vivo que lhe escorre de várias chagas no corpos, horríveis feridas de batalha que ainda nem tiveram a oportunidade de sarar. Não preciso de muito para o reconhecer como sendo o Alaric e as lágrimas voltam a acumular-se nos meus olhos quando percebo que ele se irá sacrificar pelo Luke.

O Jace retira uma lâmina seráfica, praguejando baixinho sobre já estar a começar a invasão de território, mas a Clary consegue impedi-lo de fazer alguma estupidez. Com isto, todas as atenções estão viradas para o Alaric e não para o Valentine que não parece estar muito disponível para esperas e reencontros. Parece nem durar segundos quando o vejo a retirar a adaga que o Jace lhe havia atirado para impedir que ele ferisse a Clary, do cinto e a lança-la na direção do Luke que, mesmo com os seus reflexos, se move muito devagar para conseguir ampara o arremesso perfeito.

Vejo o Alaric a agachar-se sobre as duas patas traseiras e a seguir lançar-se no ar, entre o Valentine e o Luke no preciso momento em que a adaga rodopiava no ar, completando círculos e elípticas antes de atingir a carne. O uivo do Alaric trespassa-me o coração e nem penso duas vezes antes de dar corda aos sapatos e ir em direção dele, não sei se para o reconfortar mais a ele ou a mim. Quando me ajoelho ao lado dele, observo que a adaga cravou-se até ao punho e mesmo no peito dele, logo sei que não há qualquer maneira de ele sobreviva desta e logo começo a sentir gotas quentes a escorrerem-me pela face ao ver o sofrimento em que ele ainda se encontra para conseguir retirar a  kindjal da carne. 

— É assim, deixando-o morrer por ti, que recompensas a sua indiscritível lealdade que te custou tão barato.- É uma acusação que acabo por me virar para ele, com os olhos raiados de raiva. – Ah, e quase esquecia. Obrigada pelo teu aviso, Lauren. É uma pena não te poder levar comigo.

Não lhe quero dar mais nenhum troféu. Já ganho suficiente por hoje á custa de outras vidas que acabou de arruinar por isso, apenas lhe levanto o dedo médio antes de voltar a minha atenção para o lobisomem moribundo á minha frente. O Luke deixa-se cair do lado oposto ao meu e debruça-se sobre o Alaric. A lâmina a sobressair-se por baixo do seu pelo castanho torna ainda mais difícil olhar para ele logo, acho melhor arranca-la de lá tendo todo o cuidado. Mas ele já está morto.

— Luke, eu…

— Não! Larga-me! – Um alarme soa-me aos ouvidos.

Ao que parece, no período de tempo em que me abstraia com o Alaric, o Valentine conseguiu ter a chance de se escapar pelos nossos dedos e agora, segurava a Briana com o braço a fazer-lhe uma gravata ao pescoço enquanto com a outra mão lhe agarra no pulso do braço contrário. O Jace já corria na direção dela com uma lâmina seráfica ativada na mão e com a Clary a segui-lo com a kindjal par daquela que tenho na mão.

— Se fosse a vocês não me aproximava muito, a não que queiram que eu a leve comigo. – O pai do Jace estava agora frente a um espelho com uma detalhada moldura dourada cheia símbolos gravados. – Queres voltar comigo, Jace?

— Não, Jace! – A Briana espernega por tudo quanto é aldo mas continua a não ser páreo para o Valentine, enquanto isso, os seus olhos voltam a começar a tornar-se alaranjados.                                                           

— Jace, não podes. – É impossível não notar o tremor na voz da Clary ao falar com o Jace.

Se ele volta-se. Se ele fosse com o Valentine, nunca mais iria voltar, pelo menos, não da maneira que a gente o conhece, além que o Valentine não teria quaisquer problemas em voltar a coloca-lo da fação dele só para nos inferiorizar. Não, ele não pode a Idris com o Valentine.

Olho, suplicosamente para o cadáver do Alaric em forma de lobo e depois para o Luke, que ainda está debruçado sobre o companheiro de batalha, mas logo olha na minha direção e acena-me com a cabeça.

— Vai. Não te preocupes. – Diz-me ele carinhosamente.

Não sou burra ao ponto de ir para onde o Jace e a Clary se encontram e fico no lado oposto, sentindo a kindjal a pesar-me cada vez mais na mão. O seu peso significa a responsabilidade que tenho aos ombros a partir de agora, eu sei que tenho uma pontaria excelente e que sei até usar arco e flechas e lâminas de arremesso mas vou ter que ser cuidadosa com este. Tem de ser um arremesso perfeito com a força certa, o alvo certo e tempo certo, senão poderei piorar ainda mais a situação

Ele está prestes a avançar para dentro do próprio espelho quando eu decido que agora é o momento certo. Levanto o meu braço a uma altura certa, para ganhar mais balanço, aponto diretamente para um ponto do ombro dele e onde não correrei risco de magoar a Briana, respiro fundo, e atiro. A lamina rodopia no ar algumas vezes até se enterrar mesmo no musculo do Valentine, dando á Briana a oportunidade de se libertar e assentar-lhe uma joelhada, arrancando-lhe de seguida a adaga de onde esta tinha perfurado para depois virar-se na direção dele e vociferar-lhe com uma voz diferente.

— Nunca mais me voltes a tocar, sua criatura imunda. Que o Anjo Raziel te amaldiçoe pela desgraça que tu és.- Depois vem a correr na minha direção, com o efeito dourado dos olhos a desvanecer-se o Valentine a rir-se bem atras de nós.

Assim que chega ao meu colo, desfalece-me nos braços de repente e sou forçada a agarra-la com cuidado para que não se magoe, deixando assim, o resto das tarefas para o Jace e a Clary. O meu corpo também anseia por uma boa sesta e, mesmo que no meu interior queira enroscar-me aqui mesmo e dormir, mentalizo-me que não o devo fazer e permaneço bem acordada para o que se está a passar.

— Lauren, leva a Briana longe daqui! – O Luke grita comigo de onde ainda estava quando o deixei.

Nem é necessário que mo diga duas vezes e coloco um dos braços da Briana sobre os meus ombros e levo-a para o mais perto da porta, já que ela começava a recuperar os sentidos.

Não reparo muito na conversa familiar, se se pode chamar isso, entre as três pessoas á minha frente mas, antes que me aperceba, está o vidro do espelho a rachar-se por tudo quanto é lado e o Valentine a gargalhar-se no outro lado do continente. Mal tenho tempo de me preparar mas quando emerge uma cascata de vidros vinda do espelho, restando apenas deste a moldura dourada.

Abro os olhos devagar, agarrada á Briana e observando o cenário de destruição á nossa volta. A Clary, como estava perto do espelho, teve de se agachar para não se cortar mas o Jace permaneceu imóvel, recebendo com a cascata á sua volta sem nem mesmo gritar.

— Vocês estão todos bem? – O Luke já estava levantado e abandonou o cadáver do Alaric.

— Bem não é palavra certa. Pode-se dizer que estamos todos inteiros. – Replica a loira o meu lado, começando a recuperar o pouco da cor da pele que possui.

Ajudo-a a manter-se direita enquanto caminha e chegamos a uma segurança a que eu chamaria segura, dos outros, não que eu não me queira aproximar mais, simplesmente parece que a Briana estancou só de olhar para o irmão, com a dor a isolar-se nos olhos dela.

Ela está perdida… E eu não posso fazer nada.

— Lou, é verdade? – Pergunta-me enquanto me apanhava a pensar nesse mesmo assunto, o qual não lhe poderia mentir. – Eu sou mesmo uma Wayland?

Engulo a saliva com muito custo. Não lhe vou mentir, ela não iria gostar e eu não me iria sentir bem sabendo que ela iria continuar a viver uma vida repleta de mentiras para a suportarem.

— Sim. Eu nunca poderia enganar-me em decifrar os emblemas das casas. – Ela baixa os olhos para o medalhão.- Desculpa….

— Tu não tinhas a certeza. Mas para a próxima fala alguma coisa, rapariga! – Vejo que ela está a forçar um sorriso, no entanto, ele faz-me sentir mais agradável. – Eu vou ter que conviver com isto. É melhor do que viver numa mentira.

O Jace abraça a Clary que lhe começa a acariciar o cabelo enquanto o abraça, e reparo que a dor da Briana diminui embora o sorriso dela tenha esmorecido um pouco. Ela devia querer que o Jace fosse falar com ela, lhe dissesse algo que a pudesse encorajar para que seguisse em frente. Mas também ele acabou de perder o rumo da vida dele, logo não é de grande ajuda.

Olho para ela. Virou as costas aos dois e começa a sair pela ombreira da porta, dando uma pequena vista de olhos no sobretudo do Valentine que cobre o corpo do Alaric.

— Afinal, eu até tenho uma família. – Ela volta a sorrir, confiantemente. – Tenho te a ti. Os Lightwood. O Jace… Eu só preciso de dar tempo ao tempo, não é?

Wow, que maturidade…

— Sim, é isso mesmo. – Sigo-a até á ombreira da porta, quando o estomago dela começa a roncar de fome.

— Ai, tenho tanta fome. – Replica, massajando a barriga. – Que horas achas que serão?

— Horas? – Isso lembra-me algo: o Raphael. – Bolas, espero que ainda não sejam duas da manhã!

Ela franze a testa e olha-me confusa. Se ela soubesse…talvez a anime um pouco, embora quem vá passar figura de idiota seja eu.

— Raphael. Ele disse-me para o avisar que estava viva antes das duas horas. – A minha pequena explicação surte o efeito esperado e um sorriso de orelha a orelha rasga-lhe o rosto.

— Oh, então não te atrases. – Diz. – Não quero que os pombinhos tenham se fazer serão por minha causa. E não, isto não foi um comentário mas sim um “Desaparece daqui! Mas o que ainda cá estás a fazer aqui quando podes estar a comer um gajo?”

Não lhe respondo á provocação e sigo o meu caminho, descendo as escadas em forma de caracol, tendo todo o cuidado para não acabar por descer o resto com aos trambolhões, devido á correria em que me encontro para chegar em segurança e depressa ao pátio sem ter algum osso partido. Quando lá chego, carrego no botão da pulseira prateada que o Raphael me deu e esta começa a brilhar em tons azuis brilhantes.

O pátio está coberto por amontoados de cadáveres por todo o lado que arrepiam o corpo de qualquer um que por aqui entre, para não falar que a erva e as pedras de mármore se encontram completamente banhadas em sangue. Com toda a correria pela qual acabei de passar, esqueci-me completamente de tratar dos cadáveres dos meus pais.

Subitamente, cinco minutos depois de eu ter dado o sinal ao Raphael para que ele soubesse que eu estava viva, uma coluna de fogo torna-se visível por uma das janelas do segundo andar, onde jaziam os corpos desfigurados dos meus pais. Tento perceber o que se está a passar e logo vejo uma mão delgada e muito branca a acenar-me que a missão tinha sido cumprida.

Logo a seguir, ouço o som de uma mota a pousar do outro lado do portão e vou na sua direção. O Raphael está ainda a sair de cima da mota quando me abre os braços e eu me lanço neles, não me importando ao facto de ele ser gelado e duro como uma pedra. Percebo que estou a chorar outra vez e sinto-o a acariciar-me o cabelo, enquanto me beija as bochechas. Quando por fim o olho nos olhos, apenas vejo preocupação, algo que eu hoje já me cansei de ver em excesso.

Mi chica, está tudo bem? – Pergunta-me, acariciando-me o rosto.

— Sim, está. Agora acabou. Espero que tenha acabado.


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Notas finais do capítulo

As coisas mudaram. Valentine conseguiu levar a Taça para o seu novo esconderijo. Jace e Briana têm que se recuperarem do facto de não serem irmãos verdadeiros. Clary precisa de enfrentar a dura realidade de não poder ficar com aquele que ama e que a mão está presa num sono de que não consegue acordar. E Lauren precisa de seguir em frente, sabendo que matou os próprios pais e que não lhe resta mais ninguém de sangue que lhe seja próximo...mas isto está longe de terminar.

Fico à espera de comentários. Sei que fiquei numa pausa enorme mas o tempo e o ânimo não têm ajudado. De qualquer modo, agradeço a quem tem lido a história. Obrigada a todos. E esperem pelo próximo capitulo que será o ultimo DESTA fanfic. Kissus e espero ter pelo menos um comentário, não sabem o quanto ficaria feliz em saber a vossa opinião.



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