Cidade dos Ossos - Vista por Outros Olhos escrita por Ann Wolf


Capítulo 16
Superar o passado


Notas iniciais do capítulo

Jace e Clary finalmente aparecem com Simon, mas não no melhor estado. Lauren já tem confusões que cheguem e decisões importantes para tomar e precisa de Briana ao seu lado. Que opções irão ambas tomar? Serão capazes de revelar aquilo que sabem ao grupo? Quem é o espião que se esconde nas paredes do Instituto?



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A minha cabeça volta a ficar mergulhada em pensamento e decisões que devo tomar ou não, tal e qual como uma montanha russa. Saber que qualquer passo em falso e tudo aquilo por que lutamos e conhecemos até aos dias de hoje pode ser destruído devido aos interesses maléficos de um homem completamente passado do cérebro, não me acalma em nada. Sinto falta do ar fresco, que me ajuda a raciocinar e acalmar mas não devo abandonar os meus amigos, especialmente o Jace que se encontra ferido.

Acabo por me decidir a ir verificar se está tudo bem com a única família que me resta e acabo por ver o Jace e a Clary nos seus respetivos humores habituais. Ao ver essa imagem á minha frente, acabo por ficar de certo modo aliviada por ainda haver alguma coisa remanescente do passado no presente de todos nós.

Não dou muita atenção ao Simon, pois não me vejo na responsabilidade de tal coisa, mas sou educada de modo a perguntar ao geral se está tudo bem com eles:

— O Jace parecia querer uma enfermeira de graça mas recusou a oferta á última da hora. – Replica o Simon, com um sorriso divertido e desconfiado nos lábios. – Vocês são sempre assim quando se trata de pessoas feridas? É que isto é muito melhor que o hospital.

— Acredita, meu caro Simon, estás a ser demasiado mimado, até mesmo para um mundi envolvido no nosso mundo. – Respondo, num tom um pouco áspero mas ao qual me esforço por não lhe dar esse aspeto, uma vez que estou cansada de qualquer que seja a luta. – Aliás, os mundis não têm sequer direito a saber o que nós somos por muitas razões. Uma delas: porque ficariam demasiado gananciosos e tentariam usufruir do mesmo poder que nos foi dado pelos nossos antecessores; e a outra, é que a curiosidade pode matar o gato, neste caso o rato.

Ele não gosta da minha última frase, vejo-o pelo modo como me dirige uma expressão colérica mas logo acaba por baixar a cabeça. Por uma vez nesta semana, sinto-me realmente vitoriosa mas, por outro lado, começo a sentir uma sensação desconfortável no peito. Talvez por saber que fui longe demais.

De facto, o Simon só anda connosco por causa da Clary e, ainda não sei ao certo, se por causa da Isabelle. O modo como ele se preocupa com a Clary, ou tenta receber a atenção dela, é o que o faz agir por impulso e por isso é que se mete em problemas nos quais ele não tem quaisquer hipóteses de sair inteiro, senão vivo, sendo que eles são parte do nosso dever no mundo.

— Já percebi que não agi corretamente. – O moreno sussurra isso tão baixo que quase nem o consigo ouvir. – Peço desculpa. A todos vocês.

Começo realmente a sentir pena do estado em que o Simon se encontra.

A Clary, que está agora a acabar de traçar uma runa de iratze, também o olha preocupada e chego a pensar que ele está apenas a fazer-se de coitadinho para que ela fique preocupada com ele e lhe dê mimos, mas percebo logo que não é disso que se trata. O Simon está mesmo arrependido das parvoíces que têm feito ao longo do tempo que tem estado connosco.

Aproximo-me dele e estendo-lhe o meu braço direito, com a minha mão esticada. Ele e a Clary observam-me surpresos, mas estou decidida a não dar a parte fraca da situação. Mesmo que tenhamos uma rivalidade entre nós devido ás diferenças dos nossos pontos de vista e também da nossa personalidade, sei que, enquanto tivermos a Clary do nosso lado, o Simon vai manter-se fiel ao grupo. Como já me enganei uma vez a fazer um acordo, sei que este não me trará consequências.

— Pacto de tréguas, por enquanto. – Explico, enquanto fixo, decidida, os olhos castanhos do mundano. – Já estou saturada de confusões e, uma vez que estás já demasiado envolvido nesta trapalhada, proponho tréguas entre as nossas rivalidades.

Ele percebe o recado, logo depois de eu ter explicado a situação, e estende-me também a mão direita. Assim que apertamos as mãos, a Fray sorri e, pelo canto do olho, consigo ver a Briana a tremer com os ombros e a abana a cabeça. É me óbvio que se está a rir da situação.

Quando me viro para ela, os olhos transmitem-me um pouco de troça.

— Eu não acredito no que estou a ver. Tu, Lauren Ashblue, a fazeres um acordo entre um mundano? Alguém me empreste uma camara para filmar. – Diz ela, o seu modo não tem como objetivo ofender-me a mim ou ao Simon, mas sim a outra pessoa. – Bem, quem sabe se esse mundano não é mais digno da nossa confiança geral, que alguns da nossa própria espécie.

Ela olha para a frente e eu sigo-lhe o olhar, por pura curiosidade e porque também não consegui apanhar a quem é que ela se dirigiu de um modo tão indireto. Quando percebo para quem ela olha, compreendo que as palavras dela também podem ser consideradas como um sermão por ter sido ingénua ao ponto de cair nas desculpas esfarrapadas do Hodge, a quem nunca devia ter dado a pouca confiança que lhe dei.

— Posso saber para quem foi essa indireta? – Pergunta o Alec, sentado num dos bancos da enfermaria á frente do divã do Jace. – Foi para alguém de nós?

— Foi para uma pessoa desta casa. – Detalha ela, sinto o meu corpo a sofrer arrepios e noto o olhar do Hugo na nossa direção. – Mas essa pessoa ainda não deve ter percebido.

A Clary olha para mim como se eu pudesse traduzir o que está a passar, assim como o resto do grupo o espera, mas nem sequer tenho tempo de dizer uma palavra que seja para algum deles. Para além de não ter tempo de pensar numa resposta que não dê nas vistas nem chame a atenção do Hodge, pois não quero que ele perceba que nós desconfiamos dele e das suas ações no escuro, um crocitar raivoso e arrepiante, no sentido que nos percorre o corpo todo, rasga o silêncio recém-acabado de chegar á enfermaria e deparamo-nos com uma ave de asas negras a ir em direção da Briana.

Esta, e com a ajuda dos seus apurados reflexos, consegue desviar-se a tempo do ataque picado e das garras afiadas do Hugo, que ameaçam rasgar-lhe a carne dos braços. O Hugo dá uma meia volta no ar e tenta recomeçar de onde partiu mas a Wayland acerta-lhe numa das asas, espalhando penas negras e lustrosas pelo chão, enquanto a ave necrófaga regressa para junto do seu poleiro pessoal.

— Estupida ave! – Resmunga a Bri.

Ela não se encontra seriamente magoada, como poderia estar se estivesse desatenta, mas o Hugo conseguiu arrancar-lhe uns fios de cabelo do rabo-de-cavalo perfeito que ela antes tinha. Ela cerra os punhos e vejo o Jace e a Izzy, juntamente com o Alec, a olharem seriamente para o Hodge, que estremece um pouco e diz qualquer coisa ao Hugo que o faz baixar a cabeça e encolher-se no ombro do nosso tutor.

— Peço desculpa Briana. – Diz ele. – Mas os animais tendem a apegar-se aos donos de tal modo que quando sentem que eles estão ameaçados, atacam.

— Oh! Calma aí, Hodge. – Interrompe-o o Jace. – A minha irmã pode ser uma gata com as garras afiadas e sempre de fora mas o Hugo já conhece o feitio dela e nunca a atacou. Se ele anda a ficar descontrolado, então o melhor é coloca-lo numa gaiola.

— Antes que alguém se magoe seriamente graças a ele e aos seus instintos. – Completa a Isabelle.

Ontem ela parecia tão calada que julgava que não se estava a sentir bem, que estava tomada pelo sentimento de culpa e irresponsabilidade, mas hoje parece que amanheceu de novo e regressou ao seu habitual costume de nunca permanecer séria por muito tempo. O Alec também mudou um pouco desde ontem á noite. Nota-se que está mais calmo, provavelmente por saber que o Jace está a salvo, mas possui um brilho ciumento nos olhos e também de raiva, o qual reconheço como a palma da minha mão.

Enquanto isso, a Clary e o Jace parecem de tal modo exaustos que detesto reconhecer que foi uma ação imprudente e que o meu irmão adotivo merece como castigo sofrer com a mesma recuperação que os comuns dos mundis têm, embora saiba que é a maneira mais correta de ele aprender a deixar de ser infantil ao ponto de se arriscar sem o consentimento de superiores ou com o risco de quebrar os Acordos.

— Vocês ainda me têm de explicar o que estiveram a fazer a noite toda. – Deixo claro que sei que eles não estiveram em alguma festa social e pacífica, para se encontrarem no estado em que aparentam estar. – Se vocês arranjaram mais algum sarilho…

— Oh, olha as horas. – Desvia o Jace, com um sorriso disfarçado no rosto para tentar escapar da minha questão. – Tenho fome e estou tão cansado…

Percebo o recado das palavras dele: “Dá-me tempo para arranjar uma explicação que faça com que não te passes connosco.” E acabo por fazer o que ele me pede, não por causa dele mas por causa de mim mesma, deixando-o com a irmã, o Alec, a Clary e o Simon e, como não podia deixar de ser, o Hodge e o seu fiel companheiro. Só a Izzy sai ao mesmo tempo que eu.

                               - Vou preparar-lhe alguma coisa para comer. – Deixa ela claro e eu aceno-lhe afirmativamente com a cabeça, indo também para a mesma direção que a cozinha antes de ela me parar. – Tu não?

                               - O quê? Por quê? – Replico, surpreendida. – O que eu fiz?

                               - Precisas de apanhar ar. – Explica ela. – Tu andas muito sobrecarregada e ontem já tiveste um pouco da tua dose. Aproveita e vai respirar ar puro. – Diz ela, com um sorriso do rosto e uma expressão amigável.

                - Eu estou bem. – Digo, percebendo depois que ela não acredita nas minhas palavras. – A sério. E também, aonde eu poderia ir? – Pergunto, pois sei que não tenho num lugar especial no qual goste de estar sozinha e seja ao ar livre. – É melhor que eu fique aqui para o caso de ser necessária a minha ajuda em alguma coisa.

                - Não, não e não! – Refila. – Proíbo-te de ficares no meio destas quatro paredes. Vai aonde tu tiveres de ir mas aqui não ficas nem que eu tenha de dar com um colher de pau para que saias daqui.

                Ela ainda sorri quando diz isto mas sei que não terá quaisquer dificuldades ou problemas em ir á cozinha de propósito para arranjar algo com que me possa enfrentar para que eu saia do Instituto.

                Eu, por outro lado, continuo a estar indecisa em permanecer aqui com os meus companheiros e família ou ir desanuviar por algum parque ou até mesmo pelas ruas movimentadas de Manhattan. Sei bem que se continuar aqui, o meu humor não há de melhorar em nada e ainda posso ficar num clima mau em que ninguém pode falar comigo que eu irei ignorar essa pessoa ou responder-lhe com agressividade, mas se eu sair, para onde poderei ir para espairecer ou desabafar os meus sentimentos e medos.

                Acabo por seguir a sugestão da Izzy e sorrio-lhe fracamente, para que ela não veja como na verdade eu me sinto.

                - Estás bem. Desde que me prometas que não iras-me bater. – Digo.

                Ela ri-se enquanto eu começo a andar pelo corredor, com destino ao meu quarto. Quando já vou a virar a esquina do corredor, é que giro sobre os meus calcanhares e encaro a silhueta da Isabelle.

                - Obrigada, Iz. – Grito.

                Ela solta uma gargalhada e abana a cabeça logo a seguir.

                Continuo a andar, indo no elevador para o primeiro andar e depois caminhando para o meu quarto onde tranco a porta para não ser incomodada por quem quer que venha para falar comigo porque tenho a certeza de que se não sair agora, irei mudar de ideias rapidamente.

                Vou até á minha comoda e retiro de lá uma sweatshirt preta com letras brancas no centro, umas calças de ganga escuras com os joelhos rasgados e vou para a casa de banho, onde tomo um duche rápido, tendo muito cuidado para não magoar-me ou fazer movimentos demasiado dolorosos para o meu ombro esquerdo, o que é difícil já que também preciso de lavar as costas e só uma mão não é muito favorável, mas sempre consigo lavar o corpo de maneira adequada.

                Visto a minha roupa interior e uma camisola de alças azul escura por baixo da sweatshirt, cuidadosamente, e depois visto as calças de ganga. Miro-me ao espelho pequeno situado acima do lavatório e decido não secar o meu cabelo, acabando por fazer duas tranças normais para que este não deixe escorrer a água pela minha roupa.

                Saio da casa de banho descalça e procuro por umas botas de fitinhas que irão combinar com o meu visual. Acabo por as encontrar debaixo da minha cama e calço-as em menos de dez segundos.

                Agarro numa das minhas mochilas negras e coloco lá a minha carteira, a minha lâmina seráfica e uma escova para o cabelo. Não que tencione despentear-me mas nunca se sabe com quem me poderei encontrar, caso fique demasiado tempo fora e acabe por anoitecer.

                Saio do quarto com um passo irregular e quando alcanço o elevador, começo a sentir a cabeça a pesar chumbo e penso ser mais alguma visão a querer mostrar-se, por isso, relaxo a mente e apoio-me numa das paredes do elevador, sentando-me de seguida. Então…nada acontece.

                Abro e fecho os olhos vezes sem conta, para que dessa forma deixe de ter a sensação de me estarem a pressionar as têmporas, mas em vez disso parece que estou a aficar com uma dor de cabeça. Logo, decido parar e ficar sentada no chão do elevador, esperando que ele chegue até á entrada para eu poder respirar ar puro e, dessa maneira, sentir-me melhor.

                Mal as portas se abrem para o hall frio que leva á porta da entrada do Instituto, levanto-me á pressa, respiro fundo, e começo a andar a passo rápido para o exterior, sem mesmo ter medo de tropeçar nalgum dos tapetes ou até mesmo nas botas de salto.

Quando o ar do exterior me atinge em cheio na cara, sinto os meus pensamentos a clarearem-se e a minhas dores de cabeça a desaparecerem aos poucos e poucos, para além que o peso que me tem atormentado nestes últimos dias, começa por fim a aliviar.

 O ar gelado do outono deixa-me o nariz bastante frio e isso dá-me comichão mas, de certa forma, gosto dessas sensações pois faz-me sentir mais ligada com o mundo que me rodeia do que quando estou a caçar demónios para o salvar da destruição. Ao pensar nisso, percebo que estou orgulhosa pela minha missão no mundo de manter esta beleza virgem livre do mal.

Rumo sem destino pelas ruas, admirando apenas os prédios, edifícios, infraestruturas ainda por concluir e pequenos jardins onde vários casais e pais com os filhos passeiam. Quando passo por um deles um recordação de infância sobe-me ao pensamento, fazendo com que eu fixe minuciosamente um casal de crianças que brincam um com o outro.

— Lauren, não te preocupes eu estou aqui. – A voz dele ecoa-me na mente com tanta clareza que parece que ele está mesmo ao meu lado, em vez de atrás de mim. – Quando eu disser três, vou largar o banco.

— Não! – Grito, assustada, com as lágrimas nos olhos. – Se tu fizeres isso eu vou cair. Eu tenho medo de cair da bicicleta.

Ele sorri-me, mostrando toda a confiança que têm em mim e, por momentos, sinto o meu medo a dissipar-se. O rapaz coloca a mão dele por cima da minha que continua no volante da bicicleta, e olha para mim com uma expressão suave e tranquilizadora.

— Eu estou aqui. Não precisas de ter medo. – Ele esfrega a mão dele na minha. – Aconteça o que acontecer, eu vou estar sempre ao teu lado quando precisares. Afinal, somos amigos, certo?

— Sim. – Digo, sorrindo e ganhando coragem para seguir o meu objetivo.

Começo a pedalar, ainda com um pouco de insegurança mas consigo supera-la quando sinto as mãos dele a empurrarem o banco da bicicleta, agora sem rodas, em que estou a aprender novamente a andar. Ganho velocidade e sinto a pressão na bicicleta a desaparecer até já não a sentir de todo.

— Conseguiste, Lou! – O grito que domina os meus instintos faz com que algo parecido com o sentimento de liberdade se apodere de mim. – É isso mesmo! Esta é a minha miúda!

— Eu consegui! – Grito também. – Eu não acredito nisto. Eu consegui mesmo, Jo…”

Um ardor apodera-se de ambos os meus olhos e não consigo evitar que as lágrimas escorram livremente pelas minhas bochechas. É tão doloroso saber que tive uma vida feliz sem preocupações, com um amigo fiel que nunca me abandonou e que deve estar neste preciso momento a viver uma vida de mundano, com amigos novos e mais verdadeiros que eu, com uma namorada bonita e inteligente como ele era, e eu…eu deitei tudo a perder quando vi aquele estupido demônio que me tentou atacar quando os meus pais não se encontravam muito perto de mim. Se eu não o tivesse visto, muito provavelmente agora estaria como muitos adolescentes a aproveitarem as férias de verão, as quais eu nem sequer tenho.

Decido limpar as lágrimas às pressas, para não parecer um idiota a chorar por mágoas passadas, afinal, tenho uma família nova, tenho irmãos que nunca me irão abandonar e sacrificariam qualquer coisa por mim, e tenho uma casa onde tenho a minha própria liberdade de escolha e posso fazer o que bem me apetece pois sou considerada uma adulta, de certa forma.

O cheiro a canela invade o ar e faz me inspira-lo com prazer, uma vez que eu adoro bolos com canela. Sigo o meu olfato e viro-me para trás de olhos fechados, para apreciar mais o cheiro e quando os abro, arrependo-me arduamente de ter atendido á minha tentação por comida. Na casa á minha frente encontra-se uma mulher baixa e esguia, com o avental verde, coçado na frente, colocado por cima das calças de ganga e de uma blusa azul. O cabelo preto encontra-se atado num rabo-de-cavalo e os olhos castanhos dela, embora pareçam cansados, irradiam tanta energia e doçura que me sinto contagiada por ela.

Mesmo que eu queira permanecer a observa-la a cumprimentar as crianças que passam por ela, e a despedir-se do marido, sei que se o fizer ela poderá reconhecer-me e não me sinto pronta para enfrentar tal desafio por agora.

— Lauren? – Ouço-a a chamar-me quando já estou pronta para me ir embora. – Lauren, és mesmo tu?

Amaldiçoo-me mentalmente por os meus pés me terem guiado até aqui, logo hoje, em que esperava ter um dia calmo, longe de grandes emoções e problemas que me pudessem causar ainda a mais dor ou confusão.

No entanto, sei que se há coisa que esta senhora merece e sempre há-de merecer de mim, é respeito e frontalidade, pois isso é algo que ela sempre foi comigo.

Giro sobre os meus pés e observo a mulher delicada que se encontra agora á minha frente. Algumas das mexas do cabelo negro estão com um tom mais grisalho e os olhos que antes emitiam alegria, estão agora cheios de emoção.

— Sra. Silverhood. – Digo, como se estivesse a digerir as palavras.

— Oh, meu deus! – Exclama ela, vindo na minha direção estendendo os seus pequenos e finos braços. – Há quanto minha querida. Estás tão crescida.

Ela abraça-me com quanta força que não a consigo identificar com este corpo delicado e gentil que às vezes me acariciava o cabelo quando me colocava para adormecer nas noites em que os meus pais saiam.

Quando ela se afasta levemente de mim, sinto-me corada por estar cada vez mais com vontade de chorar mas não o querer fazer á frente de tantas pessoas e especialmente á frente desta senhora que tanto carinho me deu e nunca quis que a tristeza me atingisse.

— Tu mudaste tanto. – Opina ela, mexendo-me no meu cabelo delicadamente. – Ficaste mais bonita. E estás tão parecida com a tua mãe quando era jovem.

— Oh, não…A minha mãe era muito mais bonita que eu. – Confesso, sentido a pele das minhas bochechas a aquecer ainda mais e a darem uma tonalidade avermelhada á minha face. – Mas você reconheceu-me logo, mesmo depois de tanto tempo ainda tem tal capacidade.

— Querida, eu vi-te crescer. Tu és quase como uma filha para mim. – Ela agarra-me levemente no braço direito e puxa-me lentamente. – E pareceria mal a uma “mãe” não conseguir reconhecer as suas crianças. Agora anda, fiz bolinhos de canela como tu gostavas.

A água cresce-me na boca, superando a razão que continua a insistir para que eu resista e me vá embora daqui antes que apareça mais alguém. Mas não iria conseguir suportar o olhar triste e desapontado desta senhora que ainda me vê como filha dela, depois de eu e os meus pais os termos abandonado com tão poucas explicações. No entanto, há algo na expressão dela que me diz que ela conhece as minhas razões, que compreende tudo o que aconteceu e que aceita isso como assim é.

Pergunto-me se será verdade este pressentimento? Penso comigo mesma. Será…que ele sabe de tudo, ou parte?

Sigo atrás dela, com uma certa insegurança devido á incerteza de quem se encontra em casa, embora saiba que o marido dela, o Sr. Silverhood, deva ter saído por esta altura, uma vez que o vi a despedir-se da mulher quando cheiro o aroma a canela.

Quando a porta se fecha trás de mim, sinto-me um pouco ameaçada mas esforço-me para não o demonstrar para não fazer com que a Sra. Silverhood se sinta pouco á vontade por causa de como eu me sinto.

— Como vês a casa continua a mesma. – Diz ela, enquanto eu dou um sobressalto por ser apanhada desprevenida nas minhas preocupações. – Hum…não te preocupes. O meu filho não está. Ele foi passar umas semanas a casa de uns familiares.

— Oh, desculpe. Eu não…é só que… - Não consigo arranjar palavras para explicar a quão culpada me sinto por nem sequer me ter despedido do meu melhor amigo que prometeu estar sempre ao meu lado mas que não pode cumprir a sua palavra por minha causa.

— Eu entendo… - Murmura ela, num tom tão baixo que parece que só pensar no assunto lhe traz mágoa. – Mas, ele não te odeia nem nada assim.

Imagino…Se ele não me odiar agora, então é porque eu já fui apagada do coração dele á muito tempo logo, nem deu tempo para ele sentir ódio por mim…

A senhora leva-me até á cozinha e faz-me sentar numa das cadeiras de madeira almofadada, que continua em perfeito estado como quando eu era criança. O fogão ainda está aceso e tem uma chaleira a fumegar e a preencher o lugar a um cheiro a gengibre.

— Calculo que ainda não tenhas almoçado. – Especula ela, com uma pontaria tão certeira quanto a minha com as armas. – Ainda restou alguma comida da lasanha do almoço de hoje e podes sempre beber chá de gengibre comigo.

— Obrigada mas eu não quero abusar da gentilidade. – Eu sorrio-me e então ela lança-me um olhar sério de mãe quando não aceita alguma afirmação do filho. – Ou então…

— Pensas mesmo que te vou deixar de estomago vazio, ainda mais quando estás magoada. – Fico espantada assim que ela diz isto porque não me lembro de ter dado quaisquer sinais de estar magoada no ombro esquerdo diante dela. – Anda lá, já estou a aquecer a lasanha para ti.

— Entendi. Eu como com prazer. – Digo, soltando uma pequena gargalhada quando a expressão dela começa a suavizar-se. – Mas como conseguiu perceber que eu estou magoada?

Ela para o que estava a fazer por um momento e parece ficar mais rígida e tensa, algo incomum nela que eu nunca vi na minha vida. Ouço-a a suspirar e depois a virar-se para vir na minha direção, puxando uma das cadeiras que se encontram á mesa e a puxa-la para se sentar nela.

— Eu tenho um bom olho e consegui perceber que esse teu ombro esquerdo parece tenso e tu quase não fazes nenhum esforço com ele. – Confessa ela, com uma expressão anormal no rosto. – O que andas a fazer?

— Trabalho. Eu tenho andado a trabalhar durante as férias e acabei por me magoar. – Não é nenhuma mentira mas se eu for a rever os factos, também não é inteiramente verdade. – Mas não se preocupe não é nada pesado demais para o meu corpo.

Ela baixa a cabeça e acena com esta como se percebe-se que eu não quero falar mais e que conhece que não estou disposta a preocupar ninguém.

O micro-ondas apita, e a Sra. Silverhood vai a correr soltando pequenos gritinhos quando agarra na taça de vidro em que está a comida, mesmo com as luvas colocadas, e depois coloca-o á minha frente, indo de seguida buscar um prato, os talheres e um guardanapo para que eu possa, por fim, desfrutar de uma refeição.

A comida sabe-me perfeitamente bem e cada garfada que levo á boca faz-me chorar e pedir por mais de tão bom que sabe a comida caseira feita por uma das melhores cozinheiras que eu alguma vez conheci na minha vida.

— Então e os teus pais? – Quando estas palavras chegam aos meus ouvidos, sinto um sabor azedo a chegar-me á boca, mas consigo ignora-lo ao ponto de conseguir terminar o prato de comida, embora agora coma a comida lentamente. – Toquei em algum assunto que não devia?

— Não é isso…- Murmuro. – Acontece que os meus pais andam em trabalho e eu estou a viver com uns familiares da família, a umas ruas daqui.

— Familiares?

— Sim, mas está tudo bem. Eles são fantásticos e eu adoro a vida que tenho lá em casa. – Despacho-me a esclarecer. – Eu gosto da vida que tenho agora mas…não paro de me relembrar de que como era bom viver com os meus pais aqui. Na paz do mundo.

Calculo bem as minhas palavras para que não dê a sensação errada ou revele alguma coisa acerca da minha nova vida e o que necessito de fazer quase todos os dias para garantir que a tudo permanece são e salvo na Terra, se assim se pode dizer.

Ela olha-me emocionada e solta um fungo. Quando vejo os resultados daquilo que acabei de dizer, apresso-me a consolar a pessoa em que, em pequena, chamava de “tia”.

— Tia, desculpe. Eu não devia ter dito isto. – A minha voz está embriagada em arrependimento por ter tocado em fios sensíveis nos quais eu nunca devia ter voltado a mexer. – Lamento, eu não queria que ficasse triste por minha causa.

— Lou, eu não estou triste por isso. – Explica ela, secando as lágrimas que já lhe começam a escorrer pela face. – É só que é bom saber dos quão bons foram esses momentos para ti. Saber que no fundo, tu ainda te lembras de nós e sentes saudades do tempo em que passávamos juntos. Não sabes o quanto isso é importante para nós, querida.

Surpreendo-me um pouco por saber que estas pessoas ainda me amam de um modo tão forte e permanente, que acabo por me sentir mal por alguma vez ter pensado em esquece-lo para o meu próprio benefício, para que o meu sofrimento acabasse, não pensado no que eles sentiam também.

Ajoelho-me diante da Sra. Silverhood e coloco a minha cabeça no colo dela, enquanto sinto as lágrimas a ameaçarem mostrar-se para ela, colocando por isso os meus braços como apoio. Quando penso que tenho forças para não chorar, é quando o meu pranto começa, onde mostro todo o arrependimento que tenho dentro de mim: o de ter tentado esquecer pessoas importantes para mim; o de as ter feito sofrer; o de não o grande valor que a minha vida oferece; o de acreditar em pessoas nas quais eu nunca devia confiar; o de não aceitar o Simon e de ser injusta com ele e, não menos importante com o de todos os outros, o de não ser verdadeira comigo mesma.

O choro alastra-se durante cinco minutos até me começar a acalmar com o toque das mãos da minha tia no meu cabelo louro, que me faz ficar de tal modo confortável que temo adormecer neste mesmo lugar.

— Estás mais calma? – Pergunta a tia.

— Estou. Obrigada, tia. – Agradeço-lhe do fundo do meu coração, enquanto me começo a levantar. – Por tudo. A tia conseguiu fazer com que eu desabafa-se de uma maneira que eu julgava ser impossível.

— Não me agradeças, Lou. – Diz ela com um sorriso carinhoso no rosto, antes de colocar uma expressão mais séria. – Eu peço desculpa se se eu te falar neste assunto, te sintas incomodada mas os teus pais amam-te e sempre hão de te amar, não importa onde eles estejam ou como estejam. E mesmo que o teu passado tenha sido a melhor fase da tua vida, tens de pensar nele como se fosse a tua infância: foi o teu período de aprendizagem e inocência. No entanto, tu agora estás a tornar-te uma mulher e tens de usar o teu passado a teu favor para não cometeres os mesmo erros e chegares ao que desejas. Tens de encarar o teu passado para seguires em frente.

Penso nas palavras que ela me acabou de dizer. Encarar o passado para poder seguir em frente…é algo que eu nunca fui capaz de fazer pois insistia em esquece-lo para assim não ter saudades nem dor mas agora percebo que era isso que me fazia sentir dessa maneira. Eu, como Caçadora das Sombras, tenho de ser forte de todas as maneiras mas não ao ponto de esquecer de quem eu já fui um dia, isso seria ser uma covarde e ignorante comigo própria.

                               E então assalta-me ao pensamento uma pergunta bastante curiosa.

                               - Você também lhe disse isso a ele? – Pergunto, agarrando na minha mochila, que tinha colocado nas costas da cadeira quando me sentei.

                               - Eu não precisei disso. – Responde-me, com um sorriso encorajador na cara. – Ele mesmo percebeu isso sozinho. Ele sabe que precisa de superar o passado para puder construir o presente e o futuro que ele deseja.

                - Fico feliz por ele. – Digo, sentindo um nó a acumular-se na garganta. – Ao menos não é como eu, que precisa ainda de rodinhas para conseguir andar de bicicleta sozinha.

                - Querida, todos precisamos de rodinhas para nos tornarmos independentes. Ninguém nasceu ensinado. – Ela levanta-se, vai até ao fogão onde retira a chaleira do lume e coloca numa garrafa térmica que depois me passa para as mãos. – Ele teve as rodinhas que necessitava quando ainda era criança e tenho a certeza de que ele vai chegar aos seus objetivos muito em breve.

                Penso se isso será possível. Alcançar todos os nossos objetivos graças ao que aprendemos no passado. Mas então compreendo que é bem verdade que isso pode acontecer, uma vez que quando nos deparamos com um inimigo uma, duas, três vezes, á quarta é quase impossível que tenhamos alguma dificuldade com ele, desde que tenhamos aprendido com os erros anteriores.

                Olho para a tia, que continua a sorrir-me amistosamente, e eu faço-lhe o mesmo.

                - Tia, acho que hei-de vir cá mais vezes quando precisar de ouvir os seus conselhos. – Confesso, começando a rir.

                Ela também me segue o exemplo e seguimos as duas a rir até à porta de saída. Assim que lá chegamos ela solta um grito de exclamação e volta atrás, deixando-me especada á frente da porá e a tentar espreitar par aonde ela terá ido. Quando ela reaparece com um molho de quatro chaves na mão, um ponto de interrogação forma-se na minha cabeça por não perceber o quão importante pode ser um molho de chaves para mim.

                - Toma, Lou. – Diz ela, esticando o molho para as minhas mãos. – Isto é dos teus pais. Eles pediram-me para guardar isto para quando eles ou tu regressasses aqui. Como só agora é que tu apareceste então acho que mereces tê-las.

                                Olho para o molho, receosa do que isto poderá significar de novo, mas não hesito em agarrar nele e coloca-lo no bolso traseiro das calças, para que assim me sinta mais confortável e saiba onde elas estão.

                - Mais uma vez, obrigada tia.

                - Vá, deixa-te disso. Cumprimentos para os teus familiares e um grande, grande beijinho para ti, querida. – Ela despede-se de mim com um abraço e depois recua um pouco. – Queres que eu diga alguma coisa ao Jo..

                - Não. – Nem a deixo completar sequer o nome pois sei que ainda não estou pronta para enfrentar essa parte e terei que ir por uma coisa de cada vez. – Mas mande beijinhos ao tio e por favor, fiquem bem e seguros.

                - Nós ficamos, não te preocupes em relação a isso. – Acalma-me ela. – Mas onde vais agora.

                Onde irei agora? O que irei fazer a seguir? Qual será o meu próximo passo?

                - Vou enfrentar o meu passado. – Afirmo, enquanto lhe aceno com a minha mão direita e começo a caminhar pela rua abaixo, em direção a uma casa já muito minha conhecida.

                Quando chego cá, não me espanto por ver que as paredes parecem estar cobertas de lixo e todo o tipo de coisas ruins, muito menos de ver a grade do jardim cheia de ferrugem e as plantas todas mortas, rodeadas de ervas doninhas. O que me espanta é que tudo isso não passa de um efeito ilusório para os mundanos pois assim que eu relaxo a minha mente, vejo como realmente a casa está.

                As paredes continuam azuis, com a grade pintada de cinzento, os vidros limpos, as plantas nascem perfeitas e saudáveis, sem nem uma parasita para as incomodar, e as escadas permanecem tão limpas e polidas que quase tenho medo de escorregar nelas.

                Passo pelo portão pequeno e subo-as para chegar até á porta de entrada que continua com a madeira de carvalho envernizada. Assim que a abro, o cheiro a incenso invade-me por completa, transmitindo-me paz e segurança á minha mente. Ao que parece, uma das chaves do molho era para abrir a porta de entrada mas contínuo sem saber para que servem as outras três.

                Revisto todas as divisões. A sala, clássica como sempre com os sofás negros e vermelhos a enfeitarem o centro e com duas estantes ao lado da janela para assim podermos sentirmo-nos confortáveis. A cozinha com uma mesa simples ao canto para quando a mãe fazia jantares com o pai e decidiam comer na cozinha porque tínhamos tendência sempre a repetir. O escritório, onde o pai raramente me deixava entrar mas que ainda tem vestígios dele, o cheiro de perfume, o de ferro, devido às armas que ele escondia atrás de uma das estantes preenchidas, e também o telefone de estilo industrial igual ao do Instituto.

                Essas lembranças pesam-me no peito mas consigo arranjar forças para seguir pelo resto da casa sem pensar em recuar ou em sair a correr daqui, nunca olhando para trás. Em vez disso, subo as escadas que levam ao primeiro andar e vou até ao meu antigo quarto. Ao chegar lá, deparo-me com a porta trancada e volto a não perceber o que se está a passar.

                Porque haveriam os meus pais de trancar a porta do meu quarto?

                Quando entro lá percebo o por quê. Dentro dela, permanece tudo o que eu nunca pude levar para o Instituto depois de abandonarmos a nossa vida de mundanos, como assim eu poderia chamar. As minhas fotos, os meus brinquedos de criança, um ou outro peluche e muitos outros objetos como livros e roupa. Tudo isso encontra-se organizado no meu quarto de modo a que eu consiga dizer que não está como eu deixei quando saí á pressa de casa logo, calculo que depois de tudo isso, os meus pais devam ter passado por aqui de volta para guardarem tudo para quem sabe no futuro, eu ou eles, pudesse voltar aqui e ver tudo como era no passado.

                As lágrimas voltam a arderem-me nos olhos mas não as deixo levar a melhor e saio do meu quarto, trancando-o logo de seguida, não me dando ao trabalho de observar ou relembrar-me com mais atenção das minhas recordações de criança.

                Sigo em direção ao quarto dos meus pais e num pressentimento de que devo utilizar uma outra chave deixa-se levar a melhor e eu agarro numa delas, a que me parece ser a mais decente para uma porta de um quarto, uma vez que a outra é mais pequena que todas as outras. Levo a chave até á fechadura e inspiro três vezes antes de destrancar a porta finalmente. E depois, quando giro a maçaneta por fim, volto a inspirar e expirar antes de ganhar forças para entrar no quarto dos meus pais.

                O cheiro continua o mesmo. Incenso e violetas, as flores favoritas da minha mãe e que ela adorava colocar a enfeitar a casa mal tinha oportunidade de tal coisa. Agora é o quarto dela que está impregnado com esse cheiro doce e suave. A imagem deles transformados em Abandonados arruína o retrato de família que eu estava a contruir e sou forçada a morder o lábio e a abanar a cabeça negativamente para que tais pensamentos dispersem.

                Passo pela comoda da roupa deles, que pouco ou nada tem que lhes pertença para além de algumas peças e objetos esquecidos, deixados para trás e que provavelmente nunca mais serão utilizados ou recuperados pelos verdadeiros donos. O espelho mostra a minha figura, com os olhos inchado e vermelhos ao redor do meu azul acinzentado, o meu cabelo em duas tranças permanece liso mas alguns fios já não estão bem ordenados e a minha cara está vermelha nas maças do rosto.

                Ignoro essa imagem com pouco esforço, e passo para o guarda-roupa em que apenas há um cheiro a naftalina. Depois recuo para as mesinhas de cabeceira da minha mãe e do meu pai, onde permanecem três molduras em cada uma, com fotografias nossas, deles, e também minhas quando me encontrava a brincar ou quando assinalava uma data importante na minha infância. Isso coloca-me tanta emoção que acabo por agarrar numa em que nos encontrávamos em família e choro sobre ela, não podendo suportar a dor e o pensamento de que terei de ser a responsável pelo fim do sofrimento deles, quando isso significa também acabar com a vida deles.

                Agarro numa das almofadas da cama, do lado do meu pai e abraço-me a ela, sendo reconfortada pela sua textura e o cheiro ao shampoo do meu pai que, por incrível que pareça, ainda está nela. Repouso a minha cabeça na da minha mãe e fico deitada de lado na cama dos meus pais, não apercebendo que aos poucos e poucos estou cada vez mais a ficar sonolenta e que só me apetece ficar na presença indireta dos meus pais só mais uma noite antes de entrar na derradeira batalha que pressinto estar por vir em breve.


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Notas finais do capítulo

A pausa dada a Lauren pode ser o necessário para que ela volte a ter as suas forças restauradas e consiga ver claramente os passos seguintes a tomar. Mas há coisas ainda não esclarecidas. Jo parece ser alguém bem querido na vida da nossa protagonista mas por que tem ela tanto sofrimento ao lembrar-se dele? O passado de Lauren carrega muita felicidade. Será que ela o consegue superar realmente?



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