— Yasutomo? — Shinkai perguntou com a voz muito fraca.

Arakita finalmente olhou para ele, depois de passar alguns segundos encarando seus próprios pés.

Não havia sobrado nada de seus cabelos ruivos, e seus olhos pareciam ainda mais cansados que na última visita. Shinkai era praticamente só pele e osso.

— Oi — Arakita murmurou. Ele não sabia o que dizer, nunca soube.

O diagnóstico saiu há três meses. Três meses atrás, Shinkai ainda vivia sua vida normalmente. Três meses atrás, Shinkai estava mais vivo do que nunca.

— Como você está? — sua voz estava áspera, e Arakita sentiu arrepios só de ouvi-la.

— Bem.

Arakita finalmente tomou coragem de se aproximar, e sentou-se na pequena poltrona que estava ao lado da cama.

— Yuuto acabou de sair. Vocês se encontraram?

— Não… — Arakita não sabia dizer se havia ou não o visto. Ele estava tão nervoso que o mundo ao seu redor parecia muito distante, como se estivesse do outro lado da tela de uma televisão.

Shinkai ficou calado, mexendo na pontinha descolada do esparadrapo que segurava a agulha do soro. Arakita também não disse mais nada, perdido na confusão que estava em sua cabeça.

Ele ainda não conseguia acreditar que Shinkai tinha câncer terminal. Ele não conseguia acreditar que a vida de um de seus melhores amigos estava por um fio, e que Shinkai poderia ir dessa para uma melhor a qualquer momento.

Se o Arakita do passado soubesse o que iria acontecer com Shinkai, ele com certeza teria  falado sobre seus sentimentos o quanto antes. Mas agora já era tarde demais.

Shinkai morreria sem saber o que Arakita sentia por ele.

— Usakichi teve filhotes, você soube? — Shinkai perguntou, com um sorriso fraco, e Arakita balançou a cabeça negativamente. — Yuuto me mostrou fotos. São seis coelhinhos pequenininhos, parecem bolinhas de pelo.

O sorriso de Shinkai desapareceu depois de um instante. Ele mordeu o lábio inferior e olhou para o próprio colo tristemente.

Arakita sentiu um aperto tão forte em seu peito que ele quase desabou ali mesmo.

— Yasutomo, você se importa em me deixar dormir um pouquinho? — Ele coçou o olho. — Eu sei que você acabou de chegar, mas estou com muito sono.

— Tudo bem. Você precisa descansar. — Arakita se pôs de pé. — Eu volto aqui mais tarde.

— Ok. Até mais, Yasutomo.

— Até.

Arakita saiu do quarto com as mãos nos bolsos.

Shinkai realmente estava cansado, ou sua presença ali não era muito agradável?

Ele caminhou pelos corredores brancos até chegar ao banheiro.

Atrás da porta trancada e sentado sobre a tampa do vaso, Arakita chorou com o rosto escondido nas mãos.