Foclore Oculto. escrita por Júlia Riber


Capítulo 14
Capítulo 13




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Nos filmes, as moças fazem cordas improvisadas com lençóis e tudo ocorre tão bem, por que a corda de Núbia teve que rasgar ao meio?

Agora mancando pela mata, com os dois tornozelos doloridos e o joelho ralado pela queda, Núbia resmungava e esperava realmente que seu dia melhorasse.

Logo chegou a casa de Cissa, achou que por ser de manhã, ele ainda estraria lá. Mas sentiu-se envergonhada de bater na porta dele tão cedo, ainda sim, já estava lá mesmo, então por que não?

Ela bateu na porta e segundos depois foi atendida por Cissa, com cara de sono, o cabelo mais volumoso que o comum e sem camisa, e, apesar da cara de cansado, ao ver Núbia sorriu e a abraçou sem aviso.

Núbia também sorriu e o abraçou forte

— Menina... Você tá bem? _ ele se afastou e pegou no rosto dela olhando o hematoma na testa causada por Caipora.

— Estou. Só dói um pouco, mas já estou me acostumando com isso. Ontem eu fiquei preocupada com você, por causa da revolta da vila e por Edgar... Ele falou com você, não falou?

O ânimo de Cissa sucumbiu ao tocar daquele assunto. Ele então pegou na mão de Núbia e caminhou para dentro da casa.

— Entra.

Núbia o acompanhou, ele fechou a porta e juntos foram até sofá onde sentaram-se.

— Então? _ questionou Núbia.

Cissa deu de ombros.

— É... Eu estava te levando no colo porque queria cuidar do seu ferimento e ele estava aqui, no quintal de casa. Edgar fez o que era esperado, perguntou o que havia acontecido com você, daquele jeito frio dele, e eu disse sobre a Caipora, não sei se ele acreditou, mas depois simplesmente te levou naquela fumaça do demônio. Sinceramente, sempre quis saber fazer aquilo.

Núbia conseguiu abrir um sorrisinho e revirou os olhos.

— Mas foi só isso mesmo?

Cissa assentiu.

— É... O que mais seria?

— Não sei, vocês dois são tão misteriosos, às vezes quero bater no dois até me dizerem toda verdade.

Cissa riu.

— Menina mais doce você.

Ele pegou na bochecha dela e ela fez cara feia.

Núbia então lembrou-se de algo.

— Ah, você já terminou de ler o livro de Edgar? Queria ele de volta, antes que Edgar sinta falta.

Cissa desviou o olhar.

— Não, não terminei e ainda deixei na minha biblioteca caverna, então nem tem como te dar agora.

— É só irmos lá buscar _ disse Núbia se levantando, mas Cissa a pegou pelo braço e a fez  sentar novamente .

— Não! _ disse ele imediatamente.

Núbia franziu as sobrancelhas.

— O que foi?

Cissa tentou sorrir.

— Eh... Nada. Ei, você já tomou o café da manhã? Vou fazer o meu agora.

Núbia levantou uma sobrancelha, mas só respondeu a pergunta.

— Não... Não deu tempo, fugi pela janela.

Cissa levantou as sobrancelhas.

— axé, essa é minha garota.

Núbia riu.

— Não fique tão orgulhoso, minha corda improvisada arrebentou, foi vergonhoso.

Cissa gargalhou e Núbia não ficou brava, somente riu também.

Logo Cissa a pegou de surpresa, dando-lhe um beijou, depois somente se afastou com um sorrisinho.

— Gosta de tapioca?

— Hum... Dependendo do recheio. _ disse Núbia querendo parecer tão natural quanto ele.

— Vem, eu faço a tapioca e você recheia com tudo que achar interessante, o que acha?

Núbia sorriu radiante.

— Adorei a ideia.

Os dois então foram à cozinha, e logo descobriram ter algo em comum, um amor enorme por comida.

Cissa decidiu fazer quatro tapiocas, para que duas fossem salgadas e as outras doces, e Núbia pegou tudo que achou na geladeira. Nas salgadas ela colocou calabresa, queijo, orégano entre outros ingredientes fazendo uma verdadeira pizza em maça de tapioca. Nas doces, ela colocou chocolate derretido, coco, pedaços de morando e granulado.

Enquanto isso Cissa terminava o café.

Logo os dois colocaram tudo na mesa da sala, duas tapiocas para cada um e duas xícaras de café. Cissa analisou as tapiocas na mesa, viu Núbia as fazendo, mas não prestou atenção no tanto de coisa que ela colocou.

Cissa deu a primeira mordida enquanto Núbia o olhava com um sorrisinho esperançoso.

— O que acha? _ questionou ela.

Cissa engoliu e fez um joia com a mão.

— Que enfim encontrei alguém tão gulosa quanto eu, menina tu colocou de tudo aqui!

— Mas ficou bom?

— Ficou ótimo! Acho até que essa sua invenção merece um nome.

— Tapioca monstro _ decidiu Núbia.

— Ótimo nome _ concordou Cissa.

Os dois riram e começaram a devorar as tapiocas monstros. Na rodada de tapiocas doces, Núbia parecia uma criança com a boca suja de chocolate, o que fez Cissa sorrir limpa-la com beijos.

— Eu sou uma gorda _ reclamou Núbia.

Cissa riu.

— Você sabe viver minha linda, estou adorando ter alguém para fazer gordisses comigo.

Núbia riu e lhe deu um selinho.

Os dois trocaram olhares, Núbia se achava idiota por isso, mas já conseguia imaginar uma vida ao lado de Cícero, ele era mais que uma paixonite, era mais que um cara bonito por qual ela havia se encantado. Cícero era a pessoa com quem ela se sentia bem, a pessoa com quem podia ser ela mesma, a pessoa que a fazia rir e ela poderia viver uma eternidade ao lado dele comendo tapiocas monstros e lutando contra criaturas sobrenaturais.

Logo notou que seus pensamento estavam avançados de mais e desviou o olhar, voltando a comer. Cissa também fez o mesmo, mas pareceu incomodado com algo, provavelmente por ter notado a hesitação dela.

— Tapioca Monstro é tão bom que devia ser um elogio _ disse Cissa para não deixar o assunto morrer.

Núbia riu assentindo.

— Concordo.

Cissa limpou o chocolate das mãos na calça mesmo enquanto fitava Núbia com um sorrisinho, depois a abraçou enquanto beijava o cangote dela.

Núbia pegou o rosto dele e o beijou. Cissa passou a mão sobre a perna dela e a pegou pela cintura. Ela se esticou para ficar mais perto dele depois colocou os braços sobre os ombros dele e o envolveu puxando-o mais para perto, e apesar de Cissa estar adorando toda aquela vontade, teve que afasta-la, pois não aguentava mais ignorar a situação. Ele amava tê-la por perto, mas se quisesse Núbia para sempre, teria que tomar uma atitude, uma difícil atitude.

— Menina, vamos fugir?

Núbia levantou uma sobrancelha e riu em deboche?

— O que?

— Fugir! Sumir daqui. Ficar longe do Edgar e do todos os problemas dele.

Cissa sorriu como se dissesse: e ai?

— Você está brincando. Ne?

— Por incrível que pareça não. Eu não estou brincando, estou falando muito sério.

Núbia franziu as sobrancelhas, depois se levantando ainda com expressão abismada disse:

— Cissa... De onde você tirou essa ideia?

Cissa deu de ombros.

— Não consigo pensar em outra solução, menina. Eu quero ficar com você, quero muito. E você quer ficar comigo?

Núbia assentiu ainda confusa com aquele olhar quase desesperado de Cícero.

Cissa então se levantou e foi até ela pegando em sua mão.

— Então, menina, os outros não vão nos deixar em paz! Precisamos sumir.

— Outros seria Edgar?

Cissa assentiu, mesmo que aquela não fosse toda a verdade.

— E se tentássemos convencê-lo? _ continuou Núbia esperançosa.

Cissa negou com a cabeça e logo desviou o olhar pensativo, depois voltou-se a Núbia, ela parecia realmente preocupada com aquele assunto, suas sobrancelhas estavam arqueadas e seus punhos fechados, como costumavam ficar quando ela estava nervosa ou insegura. Aquela era a hora certa para se fazer a coisa errada.

— Mas... Se ele enfraquecer, podíamos convencê-lo _ começou Cissa _, podíamos falar de igual para igual com ele, sem precisar temer o velhote.

Núbia franziu os olhos.

— E como faríamos isso?

Cissa a fitou com um brilho estranho nos olhos.

— Edgar tem várias fontes de poder, mas há uma em especial, se você conseguir pegar...

— Eu? _ disse Núbia já não gostando nada da ideia.

— É, só você pode fazer isso, é próxima o suficiente dele.

Núbia baixou o olhar, apreensiva.

— Quando você diz em enfraquecer Edgar... Não significa fazer mal a ele certo?

Cissa levantou uma sobrancelha

— Por que pergunta?

— Apesar de tudo, não quero nada de mal a Edgar _ disse Núbia dando de ombros.

 E Cissa não pareceu nada feliz com aquilo.

— Achei que você estivesse do meu lado.

Núbia bufou já se irritando. (Estava até demorando)

— E por que eu preciso ter um lado, hein? Será que eu não posso ter um avô e um namorado ao mesmo tempo? Será que é tão errado assim não querer matar ninguém?

Cissa respirou fundo e como sempre, achou uma solução para o imprevisto, ele tentou sorrir, pegou o braço de Núbia com carinho.

— Claro que pode, minha menina, mas enquanto Edgar tiver aquele objeto isso nunca vai poder acontecer, entende? _ disse ele paciente enquanto acariciava o rosto de Núbia.

— Qual objeto? _ disse Núbia, ainda um tanto brava.

Cissa falou as palavras no ouvido da garota como se tais fossem mágicas.

— O capuz do Saci.

Cissa se afastou dela com aquele sorriso esperto enquanto Núbia o fitava com incredulidade.

— O Saci... Pior que depois de tudo que já vi, até acredito nisso.

— Ah sim, mas eu nem ficaria bravo se você não acreditasse, cai entre nós, quando se pensa em um talismã poderoso, a gente imagina um cristal, uma joia, não um pedaço de pano vermelho costurado num capuz brega.

Núbia balançou a cabeça considerando a observação e logo lembrou-se de algo.

— Você me disse uma vez que o Saci morreu, foi o Edgar quem matou?

— Sim, mas não me pergunte a história com detalhe que eu não sei, só sei que é isso que deu tanto poder a Edgar e dizem que também foi isso que o fez ficar mais frio e cruel.

Núbia lembrou-se do que Thayna havia lhe dito, sobre Edgar já ter sido um bom homem, e se realmente era o capuz que o mudara, e também lhe desse todo aquele poder, tirar o capuz de Edgar era a solução para todos os problemas!

— O que eu preciso fazer? _ disse Núbia decidida.

Cissa sorriu com certo sofrimento e apesar de tentar disfarçar isso, Núbia notou.

— O que foi, você parece triste? _ disse ela passando a mão sobre o rosto de Cissa.

— Não eu só... Estou preocupado. Olha, me prometa que não irá se arriscar demais, está bem?

Núbia assentiu.

— Eu consigo _ afirmou ela.

— Eu sei que você consegue, mas sei também que você é meio doidinha, é normal que eu me preocupe.

Núbia deixou de acaricia-lo e deu-lhe uma bofetada na cabeça, o que somente fez Cissa dar uma risadinha enquanto dizia:

— Está vendo, uma louca violenta ainda. Um perigo pra sociedade.

— Você também é maluco _ lembrou Núbia cruzando os braços. _ Agora fala mais sobre o capuz.

— Por isso a gente combina _ disse ele lançando uma piscadinha _ Mas Bem, minha suposição é que Edgar guarda o capuz no cajado, por isso anda sempre com ele. Mas não faço ideia de como. Pode haver um espacinho ali, que se abre com digital, ou como o Edgar é velho, por manivela, sei lá.

— Isso não ajuda muito.

— Eu sei... Mas olha, Edgar para proteger o capuz, fez uma magia que permite somente alguém com o sangue dele ou o dono original, tocar no capuz. O dono original, Saci, morreu, e ele achou que não tinha descendente por isso a magia seria bem inteligente, mas agora, aqui está você.

— Eu estraguei tudo _ disse Núbia com uma risada malvada o que fez Cissa rir também.

— É, sacanagem hein menina. Mas então, senhorita estraga prazeres, se você pegar o capuz, Edgar ficará fraco, vai ser mais fácil convence-lo a nos deixar em paz. E ninguém vai poder nos atrapalhar.

— Mas Cissa, se eu conseguir pegar o capuz... O que faremos depois? Esse objeto é perigoso não é?

— Minha mãe adotiva entende desses assuntos, ela vai saber o que fazer, não se preocupe.

Núbia assentiu ainda insegura e Cissa pegou em seu rosto.

— Menina, presta atenção, se algo der errado, se algo parecer muito arriscado, não faça, me chame, mas não se arrisque, não tente fazer nada sozinha, você é impulsiva, mas tem que se controlar, está me ouvindo?

Núbia revirou os olhos.

— Tá bom, você já falou isso.

Cissa riu.

— Fazer o que, eu conheço bem seu espirito de suicida, garota.

Núbia bufou e ele a pegou no colo.

— Cissa! _ disse ela o segurando.

— Calma, não vou deixar você cai não. Só vou deixar você mais calminha.

Núbia sorriu maliciosa o que fez Cissa sorrir da mesma forma.

Ele a levou até o sofá, a deitou lá e ficou sobre ela. Ele a analisou com certo encanto e sorriu passando a mão no corpo dela.

— Minha tapioca monstro _ elogiou ele.

Núbia subiu as mãos pela nuca dele com um sorrisinho. 

— Assim fico sem jeito _ brincou ela.

Os dois riram e voltaram a se beijar.

...

Cissa estava deitado no sofá olhando pra o teto pensativo, se por um lado estava nas nuvens com os beijos e abraços que dera em Núbia minutos antes, também esta com medo e raiva de si mesmo por ter prosseguido aquele plano insano.

 Núbia já havia ido embora, rumo ao perigo, e ele não fez nada para impedir, sentia-se culpado, mas não tinha outra opção. Logo aquele que lhe colocou naquela enroscada apareceu, a porta se escancarou repentinamente e Curupira surgiu entrando com aquele sorriso demoníaco.

Cissa se levantou em um sobressalto e fitou Curupira com ódio.

— Se veio verificar o trabalho, saiba que tudo saiu como o planejado, infelizmente.

— Ótimo _ concluiu Curupira, mas Cissa a fitou com fúria _. Qual o problema? Não sei por que está com todo esse drama.

— A Núbia está correndo perigo agora, Curupira, se algo acontecer com ela...

— Será sua culpa! Você fez o plano _ lembrou Curupira.

— Na hora eu falei a primeira ideia que me deu na cabeça _ disse Cissa passando a mão no rosto nervoso.

— Não, você sabe muito bem que essa é a única maneira, ao menos a melhor, você só quis mudar de plano porque acabou gostando da garota. Seu grande idiota. Tirar o capuz de Edgar é mais importante que qualquer pessoa, mais importante que aquela descendente do mal!

Cissa o encarou segurando a raiva, pegou na própria cabeça e começou a caminhar pela sala parecendo prestes a explodir.

— Eu não tenho nada contra Núbia _ prosseguiu Curupira notando o estado de Cissa _ nem contra a você, mas eu e muitos esperamos por anos essa oportunidade. Quando destruirmos o capuz, metade dos problemas no mundo sobrenatural serão exterminados e Núbia pode muito bem sair inteira dessa.

— E pode não sair _ lembrou Cissa _, mas o que mais me machuca é ter que mentir para ela.

Curupira riu sádico.

— E você acha que se ela soubesse de toda a verdade ela nos ajudaria? Estaria do seu lado? Não seja idiota Cícero.

Cissa rosnou, mas não argumentou contra aquilo.

— Ainda sim, se Núbia correr algum perigo eu irei ajudar _ avisou ele.

Curupira o encarou e colocou a ponta de sua lança no peito dele.

— Se você atrapalhar o plano... Bem Caipora já deve estar no nordeste agora, pertinho de Tereza Akilah.

Cissa negou com a cabeça.

— Você não precisava descer tão baixo, Curupira.

— Você me obrigou! Agora só prossiga o plano, está me ouvindo?

Dizendo isso Curupira se foi num raio verde e o berro raivoso de Cissa ecoou pela mata.


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Notas finais do capítulo

Comentem! Quero muito saber a opinião de vocês sobre essa fase de reviravoltas do Folclore Oculto.
Beijos....



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