Foclore Oculto. escrita por Júlia Riber


Capítulo 11
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Voltei! (84 anos depois). Fiquei sem internet essas ultimas semanas, por isso não postei nada, perdão. Porém, nesse meio tempo escrevi quem nem uma louca, então preparem-se.



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No café da manhã Edgar parecia exausto, mas estava menos emburrado que o costumeiro, o que foi uma brecha para Núbia pedir para sair.

— De novo? _ perguntou Edgar fitando a garota enquanto bebia seu café.

Núbia deu uma grande mordida no seu pão com manteiga.

— Sim _ disse ela com boca cheia. _ Ângela está muito sozinha.

Edgar fez cara feia.

— Coma de boca fechada, tchê, por favor. E a questão, é que eu realmente queria iniciar nossas aulas de bruxaria o quão antes.

Núbia engoliu o pão levantando uma sobrancelha.

— Eu ainda não disse se aceitei sua proposta.

— Mas é claro que aceitou, a bruxaria é algo que vem de dentro, guria. E tu tens esse potencial dentro de ti. Só não quer admitir.

Núbia pensou em dizer que o problema, não era ser bruxa e sim, ser bruxa pelos ensinamentos de Edgar, mas ela não queria aborrecer o avô, como dizia Cissa, o correto agora era agradar Edgar, para conseguir as coisas dele.

— Na verdade... Ontem lendo os livros bruxaria, acho que eu gostei da ideia, sempre gostei na verdade.

Edgar pareceu satisfeito.

— ótimo.

— Mas, olha, é muito chato ficar aqui em casa o dia todo, gosto de passear... Ver a natureza... os Pássaros

— Pare com essa atuação, tu não és uma princesa doce que canta com passarinhos, e sim uma ogra que caça pássaros para comer.

      Núbia fez cara brava, mas tinha que admitir que aquela era um ótima definição dela.

— Ok, posso ir caçar aves para comer então? _ debochou ela e Edgar deixou escapar uma risada roca.

— Pode, mas volte rápido _ ele se levantou da mesa _ querida bolsa de sangue.

Núbia revirou os olhos, mas assentiu e Edgar se foi.

Núbia levou os talhares usados no café da manhã para a cozinha, sendo pouca coisa ela mesma lavou, depois subiu se arrumar.

De frente ao espelho ela estava confusa sobre qual blusa usar, algo raro, mas ultimamente sentia-se mais vaidosa que o comum.

— Qual é melhor? _ Disse ela para si mesma, porém houve resposta alheia.

— O da esquerda é muito vulgar _ disse Thayna logo atrás.

Após um rápido gritinho de susto, Núbia fitou a fantasma com cara feia.

— Sério, vai me perseguir agora?

Thayna cruzou os braços fazendo a mesma expressão emburrada costumeira de Núbia

— Provavelmente só quando você estiver no meu quarto.

— Meu quarto _ corrigiu Núbia.

— Já foi meu, então se eu quiser fico aqui sim. E eu só quero ajudar, está bem? Você parece muito sozinha desde que Iara foi embora.

Núbia baixou o olhar.

— É... quem sabe eu esteja. Desculpa pela grosseria.

Thayna revirou os olhos.

— Tudo bem, depois da morte tudo se torna irrelevante sabe. Seja como for, use o da direita.

— Por quê? _ disse Núbia analisando a camisa simples, de manga comprida e negra.

— A camiseta da esquerda tem um decote muito grande. Já a camisa é recatada _ disse Thayna com um sorrisinho sábio.

Núbia jogou a camisa no guarda-roupa e fechou a porta.

— Vou usar a de decote então _ declarou ela com um sorrisinho.

Thayna pareceu ofendida.

— Por que não segue meu conselho?

— Porque Você viveu no século passado Thayna.

Thayna fungou e desapareceu, o que somente fez Núbia dar uma risadinha, depois, trocou de roupa rápido, pegou o livro que emprestara de Cissa, o que iria emprestar a ele, colocou numa bolsa e se foi.

...

Núbia caminhava rumo à cachoeira e suas suposições estavam corretas, Cissa estava lá, sentado em uma enorme pedra que dava uma linda visão do lago. Ao lado dele havia um gato preto que também observava a paisagem. Núbia abriu um sorrisinho e voltou a atenção para o chão, tentando não tropeçar, pois aquelas trilhas eram sempre muito escorregadias. Quando ela voltou a olhar em direção a Cissa, o gato já não estava lá. Ela se aproximou dele, e ele por ouvir seus passos, se virou em um sobressalto e quando viu quem era, sorriu.

— Menina!

Núbia sentou-se ao lado dele.

— Olá menino. _ela olhou em volta _ cadê aquele gato?

Cissa levantou uma sobrancelha.

— Eu estou aqui.

Núbia revirou os olhos.

— Não você, o gato de verdade, estava aqui do seu lado _ ao ver a cara confusa de Cissa, ela entendeu o que acontecia e desviou o olhar. _ esquece vai.

— O que foi? Continua _ incentivou ele. _ diga o que viu.

Núbia mordeu os lábios.

— Nada... Ele só devia estar morto, é normal eu ver coisas que ninguém vê. Só passo vergonha por isso.

— Porque os outros não acreditam, mas eu acredito.

Núbia levantou uma sobrancelha ainda insegura.

— Ele era preto não era? _ disse Cissa e Núbia sorriu assentindo.

— Era. Estava sentado do seu lado.

Cissa sorriu e fitou o lago com olhar perdido.

— É o Zumba, era meu gato de estimação, morreu há alguns meses, foi assassinado na verdade. Que bom que ele ainda fica do meu lado.

Ele deitou a cabeça no ombro de Núbia, o que não parecia muito confortável por ela ser baixinha, mas Núbia não o impediu somente sorriu de canto.

— obrigada menina _ disse ele.

— Eu que devia dizer obrigada, você é a primeira pessoa que não me chama de louca por ver um fantasma. Aliás, quem matou o Zumba?

— Messias _ disse Cissa fazendo cara feia _. Eu achei o Zumba filhotinho, magricelo e sujo num boieiro da vila, daí cuidei dele. Ele estava crescendo, sabe, ficando forte e era um ótimo companheiro, estava do meu lado sempre, mas tinha uma péssima mania de andar a noite pela redondeza, e não havia o que fazer, gatos são assim mesmo. Ele ficava no casarão às vezes e Iara e Edgar nunca ligaram para dizer a verdade, dizem que bruxo gosta de gatos, ne, e Ângela então, até dava comida para ele, mas aquele cachorro do Messias... _ Cissa fechou os punhos. _ Ele sempre odiou o Zumba, sem nem um motivo lógico, daí um dia, enquanto eu estava trabalhando e o povo do casarão estava ocupado com algo, Messias pegou o Zumba na baia de cavalos e quebrou o pescoço dele só por diversão... Quando eu descobri dei uma surra nele, mas não gosto de lembrar disso.

Núbia assentiu compreendendo.

—Sinto muito. Nessas horas não me arrependo de esfaquear aquele cara _ admitiu ela.

Cissa sorriu de canto depois se ergueu para ter visão mais ampla do lago.

— Já passou, agora Zumba está em um lugar melhor e segundo você, ainda me visita!

Núbia abriu um sorrisinho, sentiu-se bem por deixar Cissa feliz, ainda mais por um motivo que na maioria das vezes aborrecia as pessoas.

— O que acha de nadar? _ disse ele mandando-lhe uma piscadinha.

Núbia negou com a cabeça.

— Não, eu não trouxe roupa para isso.

— ah, nada nua mesmo _ disse Cissa dando de ombros e ao ver o olhar raivoso de Núbia fingiu-se de indignado _ O que? Você não tá com vergonha de ficar nua na frente do seu amigo gay, está?

— Desde quando você é gay, Cissa?

— Desde nunca, eu só queria te deixar mais à-vontade, mesmo, olha como sou legal?

Núbia riu e deu uma bofetada nele.

— Seu grande idiota.

— OK, sem mergulhos _ Cissa se virou para ela com seu sorriso esperto. _ mas trouxe o que eu havia te pedido?

Núbia assentiu e tirou da bolsa negra que levava no obro dois livros.

— Seu livro de Pietro, e, o de Edgar.

Cissa pegou os livros com amplo sorriso.

—_ Isso! Menina, sua linda.

Ele pegou na mão dela.

— Vem, vamos guarda-los num lugar especial.

— Que lugar? — disse Núbia com olhar suspeito.

— Vem comigo e descobre, axé — disse Cissa com seu sorrisinho sapeca.

Núbia revirou os olhos, mas foi mesmo assim, pois sabia que se disse não ele a levaria de qualquer forma.

No meio do caminho Núbia lembrou-se de uma pergunta que queria há muito fazer.

— Cissa, de onde Ângela e Curupira se conhecem?

Cissa deu uma risadinha sádica.

—Olha, nem um dos dois fala sobre isso, mas parece que há muitos anos, antes de Ângela ser contratada por Iara e Edgar, ela passou uma noite como mula sem cabeça e acordou na mata, perdida e fraca. O Curupira devia tá passando por lá e por algum motivo que nem ele sabe qual foi, resolveu ajudar Ângela a achar o caminho de casa. Bem, anos depois, Curupira foi feito de prisioneiro por Edgar, na época em que ele estava colecionando criaturas, e Ângela que já trabalhava no casarão, ajudou Curupira a escapar.

— Então os dois somente são gratos um ao outro _ concluiu Núbia

— Tipo isso, o Curupira nega, mas eu sei que ele tem uma quedinha pela Ângela. Porque isso que eu te contei foi um resumo, desde que se conheceram ele sempre salva a mulinha quando ela precisa. Até deu aquele apito a ela, para chama-lo quando precisar.

Núbia riu.

— Sério?

— Tem gosto para tudo — debochou Cissa.

Os dois riram com a ideia.

— Mas sério, sinto pena da Ângela por isso, ninguém merece ter o Curupira como admirador — brincou Cissa.

Núbia lhe deu um tapinha no ombro.

— Você é mal, Cissa.

Os dois andaram mais um pouco, depois desceram um relevo escorregadio com folhas úmidas, Núbia odiava esse tipo de coisa, mas Cissa lhe deu mão e a ajudou a descer o pequeno morro.

— chegamos! _ anunciou ele.

Núbia olhou para frente, havia alguns arbustos e mais árvores, nada que ela já não tinha visto na caminhada inteira até lá. Cissa notou a expressão confusa da menina, revirou os olhos e deu alguns passos pra frente, e logo tirou alguns galhos e folhas do caminho, revelando a entrada de uma caverna.

— Ah sim, agora entendi — disse Núbia. — Mas... Você não espera que eu entre aí né?

Cissa levantou uma sobrancelha,

— É claro que eu espero. Confia em mim, menina.

Cissa lhe estendeu a mão, e mesmo com certo receio Núbia a aceitou-a e foi junto ao rapaz para a escuridão da caverna. Cissa ia pegar um isqueiro para clarear o caminho, mas Núbia foi mais rápida e ligou o flash de seu celular. Cissa a fitou.

— Ui, nossa você tem um celular com luzinha — debochou ele.

Núbia sorriu, o mesmo sorriso sapeca que Cissa esboçava quando ia aprontar, fazer uma piada,  ou algo do tipo.

— Eu sei que sou incrível — disse ela convencida.

Cissa riu.

— Está andando muito comigo, menina — concluiu ele.

Depois de um corredor com paredes e teto de pedras, os dois chegaram a um salão circular e plano, também com paredes e teto de pedras, além do mais, ainda fazia parte da caverna, mas neste, havia algo que Núbia jamais imaginaria ver em uma caverna. Nas paredes estavam estantes de madeira que cobriam todo o redor do local com livros, e um sofá no centro.

— Uma biblioteca numa caverna? — disse Núbia deslumbrando o local. Cissa soltou a mão da garota e fez sinal mostrando o local como se disse: Pode ver, fique à-vontade.

— Essa é a minha biblioteca particular, já que a da vila só posso entrar escondido, fiz a minha — disse Cissa com orgulho. — Eu fiz umas mudanças no local para deixa-lo menos úmido, assim não tem perigo de danificar os livros, o que achou?

— Incrível, Cissa! — disse ela enquanto caminhava e analisava os livros expostos na parede. — Eu percebi que você gosta de ler, mas não imaginava que seria tanto!

— Bem, quando eu não estou irritando Edgar, ou trabalhando em bicos, não tenho muito o que fazer então eu leio. Amo livros, mostram-me realidades atuais e antigas, verdadeiras ou fictícias...  Simplesmente incríveis.

Núbia o fitou por alguns segundos, não entendia como Cissa conseguia ser culto, engraçado, e rustico ao mesmo tempo, mas adorava essa mistura, isso só o deixava mais incrível e único.

 — Mas então — disse Cissa fazendo-a acordar de seu devaneio, e notar que estava o olhando que nem uma idiota. — Como vai o avanço com o vovô do mal?

— Edgar? Vai bem, estamos convivendo ao menos, ele disse que hoje vai começar nossas aulas de bruxaria.

— Ótimo!

Núbia deu de ombros não muita animada e Cissa se aproximou dela.

— Hey, sei que não vai ser como em Harry Potter, mas vai ser bom pra você.

Núbia riu.

— claro _ disse ela revirando os olhos. _ admito que... Até que Edgar não é tão mal sabe. Mesmo me chamando de bolsa de sangue favorita, ele as vezes é legal e cozinha muito bem, e como eu adoro comer, acho que isso é uma qualidade ótima.

Cissa levantou uma sobrancelha.

— Bolsa de sangue favorita? Que apelido carinhoso hein, ainda mais vindo de um chupa cabra.

—  É que ele usou meu sangue para um feitiço, disse que ele era ideal para isso _ explicou Núbia dando de ombros.

— Totalmente normal _ ironizou Cissa.

— Nada aqui é normal. Mas... Ontem eu estava lendo os livros que Edgar me deu, e é, acho que me interessei bastante pela ideia de aprender bruxaria.

Núbia sorriu empolgada.

— Ah é? _ disse Cissa com um sorrisinho só de vê-la tão feliz com algo.

— Aham. Li sobre diferença de bruxaria negra, branca e mista, sabe, nem é tanto questão do que você usa num feitiço, e sim seu objetivo para isso, se você faz feitiçaria para o bem ou para o mal que define bruxa negra ou branca, e também há diferentes entidades que podem te ajudar, espíritos e tals, e varias religiões com diferentes práticas....

Núbia começou a falar tudo que havia lido na noite anterior com a empolgação de uma criança que acaba descobrir uma nova vocação; E Cissa no começo a ouviu com atenção, quem sabe por também se interessar pelo assunto e por que realmente estava feliz por Núbia, porém aquela carinha feliz e demonstração de inteligência quem sabe tenha encantado até de mais Cissa, e logo ele se viu distraído com seus pensamentos, todos relacionados a Núbia.

Segundos depois Núbia notou aquele olhar.

— Cissa? _ disse ela com um sorrisinho.

Ele pareceu acordar de um transe.

— ah, foi mal, não prestei atenção, o que você disse?

Núbia sorriu de canto.

— No que estava pensando?

— Em você _ disse ele simplesmente e ao ver a expressão pasma de Núbia bateu na própria cabeça _ ah, droga de sinceridade, esquece o que eu disse ok.

Núbia levantou uma sobrancelha e colocou as mãos na cintura.

— Cissa, se você tem algo para falar... Pode falar. Me incomoda muito essa sua mania de não deixar nada claro.

Cissa franziu os olhos, como se cogitasse a ideia, mas depois respirou fundo tomando coragem, ele se aproximou de Núbia o que a fez dar alguns passos para trás ficando contra a parede, ele apoiou uma mão na parede e com a outra acariciou o rosto de Núbia.

— Eu... Sei que concordamos em ignorar o que aconteceu aquela noite, mas... Não consigo _ admitiu Cissa.

Núbia o fitou com uma sobrancelha levantada.

— Por quê? Foi tão mal assim?

Cissa negou com a cabeça.

— Não, foi melhor que eu imaginei _ sussurrou Cissa.

Núbia estava sentindo um frio da barriga de olhar aqueles olhos cinzas tão de perto, mas tentou esconder o nervosismos e o encarou provocativa.

— Achei que eu fosse só uma menina para você.

Aquilo pegou Cissa de surpresa, ele tirou a mão do braço de Núbia e coçou a nuca, nervoso.

— Ah... Você ainda lembra daquilo... Bem, digamos que eu vi com outros olhos a situação, sabe, acho que o que você fez nos últimos dias prova que eu estava muito errado, você não é uma menina qualquer.

Núbia se aproximou dele e levantou a cabeça para encara-lo de perto.

— Sou o que então?

Cissa a encarou da mesma forma.

— você é uma mulher, uma mulher incrível.

Núbia sorriu e começou a aproximar-se do rosto dele, ficando nas pontinhas do pé, porém ele colocou as mãos sobre o ombro dela e a afastou.

— Mas ainda não é bom a gente ficar assim tão próximos sabe, você é neta de alguém que me odeia e...

— Cala a boca _ disse ela o beijando.

Cissa queria profundamente afasta-la, mas não conseguiu, ela tinha um calor irresistível, pele macia e lábios deliciosos, ele somente a agarrou pela cintura e levantou a colocando contra a estantes de livro, os dois se beijaram, de lábio, de língua, Núbia mordeu os lábios de Cissa, e ele começou a baixar o rosto mordendo o queixo dela, depois lhe beijou o pescoço, enquanto ela sorria de olhos fechado só sentindo tudo aquilo.

Logo eles ficaram com os rostos próximos olhando um ao outro, Núbia acariciava aquele cabelo cacheado que ela tanto gostava de mexer, e Cissa acariciando o rostinho macio que ele amava tocar.

— Você me deixa louco _ sussurrou Cissa mordendo os lábios.

Núbia sorriu.

— mais?

Os dois riram

Cissa aproximou ainda mais os corpos, Núbia sentiu seu corpo colocado ainda mais contra estante de livro, mas aquilo não a incomodou.

Cissa passou os lábios pelo rosto dela, e murmurou em seu ouvido.

— você confia em mim?

Núbia estranhou aquela pergunta, mas respondeu mesmo assim.

— Confio...

Cissa beijou a testa dela depois os lábios com um sorrisinho, e a colocou no chão.

Os dois se fitaram por um bom tempo até Núbia se pronunciar.

— Você quer me dizer algo não é?

Cissa suspirou.

— quero, mas não ainda. Só... continue confiando em mim, está bem? Independente do que o Edgar lhe diga.

Núbia franziu os olhos.

— Como assim?

Cissa pegou a mão dela.

— Só prometa _ disse ele com algo que Núbia podia jurar ser tristeza nos  olhos.

Ela suspirou e assentiu com a cabeça.

— Prometo.

Cissa sorriu beijou a mão dela e acariciou o braço dela, os dois trocaram olhares que falavam claramente: me beije, mas ambos não sentiram coragem, Cissa então tirou a mão dela e começou a andar pela caverna analisando os livros.

— Agora não temos tanto tempo para treinar capoeira, mas tenho um livro aqui que ensina golpes, não é a mesma coisa, mas serve.

Núbia assentiu, mas desanimada.

— É... eu sinto falta dos treinamentos.

— E das cocegas? _ perguntou Cissa com um sorrisinho.

Núbia arregalou os olhos.

— Não, das cocegas não.

Cissa deu risada e pegou o livro da prateleira.

Ele foi em direção ao sofá.

— Senta aqui.

Núbia foi meio cautelosa.

— Nada de me fazer cocegas _ disse ela sentando-se.

— sim senhora _ ele abriu o livro e ficou mais perto dela. _ olha que legal, mostra os segredos de varias lutas, não só a capoeira, os pontos fracos e fortes de uma pessoa, como imobilizar alguém, etc.

Núbia pegou o livro e colocou no próprio colo.

— parece muito útil _ admitiu ela.

A garota então começou a ler por cima as paginas do livro, mas com certo interesse, definitivamente ela gostava de bater em pessoas.

Cissa por sua vez só a observava, tinha que admitir que ela ficada linda lendo, com aquele olhar atencioso e negro, aquela boca pequena entre aberta, os cabeços jogados para frente... ele tentou desviar o olhar, não podia ficar observando aquela garota, tão pouco se encantando por ela, querendo ou não ela era neta do Edgar.

Mas não resistiu, logo se pegou a fitando novamente. Núbia então leu uma parte interessante sobre imobilização, franziu os olhos com mais atenção e mordeu os lábios.

— Não morda os lábios _ pediu Cissa.

Núbia o fitou um tanto confusa.

— como?

— Não morda os lábios, isso é mito sexy.

Núbia primeiramente arregalou os olhos depois riu.

— Cissa!

— Perdão, você sabe do meu problema com sinceridade.

— É eu sei, e gosto.

— certeza? Quer que eu  seja sincero agora por exemplo.

Núbia fechou o livro com aquele sorrisinho esperto que Cícero amava.

— quero.

Cissa se aproximou dela e colocou o livro no chão, Núbia tentou segurar nervosismo, e o frio na briga quando Cícero ficou tão próximo. Os olhos claro, a pele negra, o cabelo... Cícero era lindo.

— Será que não poderia me dar mais um beijo, isso é tão bom _ disse Cissa.

Núbia sorriu, mas não teve iniciativa como antes, quem sabe por estarem em um sofá onde as coisas poderiam passar do controle. Cissa notou aquele nervosismo dela, também estava nervoso para dizer a verdade, mas precisava beija-la e senti-la novamente, contudo a ultima coisa que queria era desagradar Núbia.

Cissa se deitou para trás e a puxou junto, ele cogitou que se ela ficasse em cima se sentiria mais segura.

— Vem cá.

— Certeza?

— Absoluta, quero você bem pertinho de mim.

Ele a pegou pela cintura e a puxou para perto e Núbia inicialmente pareceu nervosa depois gostou da ideia e se deitou sobre ele; assim voltaram a se beijar.

Cissa por várias vezes, segurou-se para não passar a mão onde não devia, costumada deixar as mãos na cintura dela, ou acariciando o cabelo, mas não resistiu em pegar nas pernas algumas vezes.

Já Núbia, estava bem mais empolgada do que costumava ficar com outros rapazes, Cissa sabia deixa-la louca. Ela beijava seu pescoço, mordias seus lábios e o beijava de novo e de novo.

Alguns minutos depois ambos ficaram sem fôlego e encarando-se com amplos sorrisos enquanto Cissa acariciava o rosto dela com encanto, logo, porém Núbia desviou o olhar.

— Preciso voltar cedo para casa _ lembrou ela.

— Edgar mandou você voltar cedo e você vai obedecer? Cadê minha menina rebelde?

Núbia revirou os olhos.

— Você que disse para eu agradar Edgar e conseguir a confiança dele.

Cissa suspirou.

— Só falo merda _ reclamou ele.

Núbia riu.

— Nisso tenho que concordar.

— hey, quer que eu faça cocegas?

Cissa pegou na cintura dela e ela imediatamente afastou a mão dele.

— Nem pense nisso!

Os dois riram.

— Fica mais um tempinho aqui, vai _ disse Cissa passando a mão sobre a perna dela. _ É muito bom ficar com você.

Núbia sorriu de leve e assentiu

— Ok... Posso deitar aqui? _ pediu Núbia acariciando o peito de Cissa.

Cícero sorriu, pegou a mão de Núbia e a beijou.

— É claro, minha linda.

Núbia então deitou a cabeça no peito dele e Cissa com um braço a envolveu pela cintura, enquanto com a outra mão acariciava os cabelos ruivos dela.

O calor do corpo de Cícero e as caricias que ele lhe fazia, deixou Núbia tão relaxada que logo ela sentiu seus olhos pesarem e qualquer preocupação sobre voltar para casa cedo se foi.

Logo Núbia acordava em um sobressalto. Quando notou que havia adormecido fitou Cissa que dormia tranquilamente, ambos estavam na mesma posição que antes, abraços. Núbia imediatamente tentou acordar Cissa balançando o ombro dele.

— Cissa! Acorda!

Cissa abriu os olhos devagar e ao fitar Núbia sorriu de leve.

— Menina _ murmurou.

— Como pudemos dormir? _ disse ela ainda nervosa.

— Ah, você que dormiu primeiro, eu não quis te acordar, fiquei quietinho e também dormi _ ele subiu as mãos pelas costas dela _ e é tão bom ficar assim com você.

Núbia conseguiu sorrir de leve, depois se sentou no canto do sofá.

— Também gosto de ficar com você, mas espero que não tenha passado muito tempo. Edgar vai ficar uma fera.

Cissa então fitou algo sobre os ombros de Núbia e arregalou os olhos, sentando-se imediatamente.

— Droga.

— O que foi? _ perguntou Núbia e ao seguir o olhar dele viu um corvo na prateleira de livros os observando.

— Me diz que não é o corvo do Edgar.

— Noite? Não... Corvos são todos iguais e Noite não sai do casarão _ disse Núbia tentando parecer tranquila.

— Sangue _ disse o corvo _ morte, sangue.

— É o noite _ concluiu Núbia com os olhos arregalados

— A droga do corvo ainda fala! _ disse Cissa pasmo.

Núbia deu um tapinha no braço dele.

— Não fala assim, gosto dele.

O corvo então simplesmente voou para fora da caverna.

— Vai gostar menos quando ele contar para seu avozinho o que viu aqui _ disse Cissa.

Núbia contraiu os lábios.

— acha que o Noite estava aqui como espião? Se for isso eu estou ferrada.

— Nós estamos ferrados _ corrigiu Cissa.

Núbia suspirou, Cissa notou que ela parecia preocupada, e não gostou de vê-la daquela maneira, pegou em sua mão e tentou não demonstrar o quão também estava nervoso.

— hei, se o Edgar já não sabia que você estava se encontrando comigo, ele iria saber mais cedo ou mais tarde, e daí? O que ele pode fazer? Eu não consigo passar um dia sem ver você, e Edgar não vai poder fazer nada pra impedir isso.

Núbia sorriu e o beijou.

— Eu também não vou deixar de te ver... Ainda sim melhor eu voltar, e, rápido.

Cissa assentiu com certo lamento.

— É...

Núbia deu-lhe mais um beijou e Cissa a pegou pela cintura e foi difícil querer larga-la, mas não poderia fazer diferente, ela se levantou.

— Tchau então? _ disse ela.

Cissa também se levantou.

— Não, vou com você, acho que tu nem acharia o caminho para o casarão daqui.

— Mas se Edgar nos ver juntos...

— Não vai ser surpresa, sem dizer que ao menos a fúria dele vai ser dividida entre nós dois, e não só contra você.

Ele pegou a mão dela e Núbia sorriu de canto. Assim ambos se foram.

...

Na pensão fim do mundo, a única da vila, Ângela estava sentada no chão agarrada aos joelhos, próxima a janela de seu quarto. Ali naquele cantinho da parede ela ouvia as gritaria do lado de fora e os tiros de espingarda.

A sua frente, também sentado no chão, Curupira a fitava com a lança no colo.

— Vai ficar encolhida aí até quando? _ perguntou ele impaciente.

Ângela agarrou mais forte as pernas, ficando em posição fetal.

— Até decidir o que fazer... Sim, tenho que fazer algo _ disse ela em seu sussurro amedrontado

— Não, não tem. Isso não tem nada haver com você, Xa po-porã _ disse Curupira.

Xa po-porã era o apelido em tupi que Curupira deu a Ângela, e ela nunca soube o significado.

— Eu trabalhei muitos anos no casarão, muito e muitos anos, tem haver sim comigo _ insistiu Ângela.

Ela enfim se levantou, mas devagar, e, olhou com seus olhos esbugalhados o que acontecia lá fora.

Ela puxou só um pouco a cortina e foi o suficiente para ver pessoas armadas com todo tipo de coisa, desde facões e enxadas até pistolas e revolveres, andando em direção a estrada de terra que levava ao casarão.

— Então, o que está vendo? _ perguntou Curupira em tom baixo.

— Estão todos armados, indo em direção ao casarão _ disse Ângela roendo as unhas.

Curupira deixou escapar sua risada maléfica.

— Há, Edgar tá fudido.

Ângela deixou a janela de lado e correu para o telefone acima do criado mudo.

— Preciso avisar o senhor Edgar, para ele se preparar.

O humor de Curupira se extinguiu, ele foi como um raio ao lado de Ângela o que a fez dar um gritinho de susto, e pegou o telefone da mão dela.

— Não! Deixa o Edgar ser pego de surpresa _ ele sorriu monstruosamente _ vai ser mais divertido.

Ângela fez cara brava e pegou o telefone de volta.

— Não, não, não! Não vai ser divertido não. Edgar é mau, mas o conheço ha muito tempo, eu também vou ser mau se não avisa-lo.

— E daí?

— Não quero ser mau! E Núbia também corre perigo, corre perigo sim!

Curupira cruzou os braços.

— Faça o que você quiser _ resmungou ele dando-se como vencido. Ângela abriu um sorrisinho e começou a discar.


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Notas finais do capítulo

Vai dar treta, huhuhu... Comentem e até a próxima ♥



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