O despertar escrita por Tha


Capítulo 13
XIII – Faz parte do pacote das Bruxas


Notas iniciais do capítulo

OPA, TUDO BOM? Demorei mas voltei



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A.do.ção: sf. processo legal que consiste no ato de se aceitar espontaneamente como filho de determinada pessoa, desde que respeitadas as condições jurídicas e sobrenaturais pra tal.

Agora em diante

— Esta noite? – David perguntou quando chegamos ao carro – Isso não é meio precipitado?

— Não consigo ficar nem mais um segundo nesse lugar.

— Allyson, a gente ainda tem muita coisa pra resolver, convencer Kyla é uma das primeiras da lista, tá muito em cima da hora, eu acho que...

— Você continua não confiando em mim – Girei a chave e engatei a marcha, mas antes de sair, me virei – David, eu sempre tenho um plano.

— É, e na maioria das vezes é suicida – Ele resmunga se afundando no banco.

Passei no mercado na volta para casa e comprei coisas que eu sabia que o acampamento precisava. Por ser um território livre, as Bruxas do Castelo Dunluce não os ajudava, além de, oficialmente, negarem sua existência. Era um preço baixo a se pagar pela barreira anti-Caídos e a liberdade de escolha. Não sei o que Cam vai pensar quando vir o lugar, ele é completamente fiel ao Instituto de Nova Iorque, é quase cego pela causa.

Quando chegamos, todos ainda estavam ali, e com todos, eu quis dizer Clove, eu ainda achava difícil me acostumar com a ideia de que o nosso grupo diminuía cada dia mais. Ela e Cam conversavam no sofá enquanto Ian mexa em seu computador.

Larguei as sacolas no chão e peguei minha certidão em cima da mesa da cozinha, a fim de colocar em uma mochila para a viagem.

— Onde diabos você foi? – Clove perguntou apoiando a cabeça no encosto do sofá, olhando para mim de cabeça para baixo – E que história é essa de irmã?

— Junte os pontos, Clove, você não é burra – Bufei e me sentei, ela veio até mim e segurou minha mão – O nome dela é a Alisha, ela quem levou o Jason, é minha irmã gêmea. É... coisa de Bruxa.

— Bizarro.

— Espera, a garota que roubou seu namorado é sua irmã gêmea? Como não sabia se ela era igual a você? – Ian questionou levantando a cabeça.

— É uma longa história – Suspirei e cocei a nuca – Vamos às tarefas. Clove, vá arrumar as malas, preciso de você comigo, leve muita roupa de frio. David, ligue para a Adina e peça para ela me encontrar aqui com Kaleesa e Kyla – Jogo o celular para o meu amigo e ele se afasta procurando o nome na agenda – Ah, e veja se Holland pode ir com a gente. Cam e Ian, não tem muito o que fazer, só arrumem o quarto, aquilo está uma bagunça.

— Nós vamos hoje?

— Sim – Me levanto e coloco as mãos na cintura, esperando cada um pegar seu rumo, e assim, a casa vira uma bagunça de novo.

Quando passo eu pelo escritório a caminho do meu quarto noto que minha mãe está checando trabalhos de alunos. Olho para os dois lados, e só então decido entrar.

Ela está sentada, com os óculos pendendo no nariz, as olheiras ao redor dos olhos são notáveis, e uma ruga de preocupação aparece de vez em quando entre suas sobrancelhas.

— Chegou cedo da Ballard hoje – Digo fazendo pouco caso.

— É, acho que precisamos conversar – Ela deixa o trabalho de lado e se levanta, embora seu tom não seja complacente, ela apenas parece cansada – Está magoada comigo e eu entendo, mas viajar com esse sentimento não vai te fazer bem, Ally. Sempre fomos tão unidas e...

— Mágoa? – Ri e cruzei os braços – Já faz um tempo que ninguém mais consegue me magoar, mãe.

— O que eu temia está acontecendo, você está cada dia mais parecida com...

— Darko? Alisha? Talvez não sejamos tão diferentes assim.

— Claro que vocês são diferentes, você é a minha filha!

— Ela também é! Ela também faz parte do pacote das Bruxas de “Filhas Problemas”.

— Você nunca foi um problema para mim, nunca foi um acordo. Alisha é um monstro e você devia saber disso mais do que ninguém.

— Aí é que tá, mãe, eu sei disso mais do que ninguém, sofri por causa dela mais do que ninguém. Tudo isso porque você não me contou a verdade desde o início.

— Allyson? – Ian aparece na porta, meio receoso quanto a interromper o assunto – Já estamos prontos, Clove já foi pegar as coisas e David também. Holland vai nos levar até o aeroporto.

— Tudo bem, obrigada – Passo o dedo debaixo dos olhos para disfarçar e sorrio – Já vou subir para arrumar a mala que trouxe de Nova Iorque.

— Ok.

— Ally... – Minha mãe tenta.

— Não, você teve muitas chances de me contar.

— Quando? Entre seus sequestros? Seus planos de suicídio? Entre suas tentativas de salvar todo mundo?

— Eu sei que eu nunca estive muito...

— Escuta, Allyson – Dessa vez ela que me corta – Quando tiver que criar um filho no meio dessa loucura, você vai entender. Até lá eu espero que me perdoe um dia.

— E eu espero não dar a uma criança inocente o fardo de ser meu filho – Dito isso saí de lá, e trombei com Ian na porta, que ia começar a subir as escadas – Quanto você ouviu?

— O suficiente para querer explicações.

Assim que terminei de descer a mala e arrumar as compras em mochilas, peguei a jaqueta jeans e a vesti, pronta para esperar por Holland. Clove chegou junto com David e a última pessoa que faltava passou pela porta arrancando um sorriso de mim.

Adina estava com roupas normais, mas o seu semblante ainda dizia que ela foi a primeira Nephilim guerreira da Terra e que ninguém podia entrar no seu caminho. Ela ainda era parte de mim e quando me abraçou, eu senti o quanto aquilo era épico.

Quando terminamos de colocar tudo dentro do carro, Kaleesa me puxou para um canto e olhou de relance para Kyla, que conversava com Clove sobre quem ia no colo de quem.

— Quero que saiba por que estou indo – Ela diz.

— Não se preocupe, sei que não é por mim.

— Aconteceu alguma coisa aquela noite, Allyson. Não sei se usou Persuasão em nós mas algo não está certo, e eu vou descobrir.

— Confio em você para isso, Ka – Sorri minimamente e beijei sua testa de leve, a pegando totalmente desprevenida.

Eu sabia que aquela raiva não desapareceria, afinal, eu tinha provocado aquilo, de propósito, mas o que importava é que estavam ali, e era disso que eu precisava para seguir em frente e buscar aquilo que eu havia perdido. Confiei que se desse a todos nós o tempo que precisávamos, tudo ia se arranjar.

Da última vez não levei mais que uma mochila com duas mudas de roupas, diários antigos e uma foto. Não sabia o que esperar, não sabia no que iam me transformar e nem quem eu ia conhecer.

Hoje eu sei que quando pisar na Grécia, quando pisar no acampamento, tudo o que vivi em Nova Iorque virará cinzas. Enterrarei mais um pedaço de mim, para que uma nova eu possa renascer. Tudo vai ser diferente. De novo.

A proveito que a viagem é longa e conto tudo o que posso para Ian. Conto que algumas lendas são reais, que os monstros existem, que Anjos realmente nos protegem. Conto sobre o Clã das Bruxas, sobre o acampamento Nephilim. Conto também sobre o mundo dos Caídos e o que eles são capazes de fazer. Ainda não digo o que eu sou, é cedo demais para assustá-lo sobre mim, mas o preparo para o que está por vir.

Não foi muito difícil, ele não é tão cético. O difícil foi evitar seu olhar me encarando na hora inteira que se seguiu depois disso. Então o que eu fiz foi encarar a janela, esperando ver Hazel ou Adam no meio das estrelas.

— Você está bem? – Ele pergunta depois de mais um tempinho.

Não, eu não estou. Quero chorar todos os meus problemas para ele e deixá-lo me consolar, mas não sou tão egoísta.

— É. Estou bem.

— É só que você está com aquela cara desde que saiu apressada com o... David para sei lá onde – Ele diz.

— Que cara?

— A cara de Allyson-está-sofrendo-em-silêncio, quando você aperta os dentes e faz um bico como de algo pudesse escapar de você a qualquer segundo e você estivesse tentando segurar.

— Não estou com essa cara.

Ele sorri.

— Claro que está. Estava com ela no rosto o tempo todo em que eu tentei ensinar você a jogar sinuca no verão passado. É a cara que você faz basicamente toda a vez que Cam abre a boca.

— Você com certeza está com essa cara, Ally – Clove diz do banco de trás.

   Eu viro um olhar feio para ela. Ela não está ajudando. Mas no fundo eu sorrio.

— Eu conheço você, Allyson – Ian diz com suavidade – Não pode esconder nada de mim.

Ah, eu posso. Se ele soubesse.

— Estou bem – Afirmo – De verdade. Não se preocupem comigo.

Ian deve achar que não chegar em lugar nenhum agora, então deixa o assunto morrer, e passamos o resto da viagem em silêncio. Bom, só nós dois, pois o resto ficou conversando. Olhei para trás algumas vezes para checar se Kyla ainda estava com aquela cara de desprezo para mim, mas Adina estava fazendo um bom trabalho em distraí-la

Quando me levanto para ir ao banheiro, Ian percebe e me segue até lá.

— Você tem medo de voar? – Ele pergunta rindo – Tá inquieta desde que entramos no avião.

Penso em como Jason me levava pelo mar, quase tocando a água em seus braços e balanço a cabeça.

— Tudo bem, me desculpe por pressionar você, é que depois que fomos para sua casa, você virou um mistério, de repente eu não te conhecia mais.

— Você realmente não me conhece.

— Você é parecida com ela, digo, com a sua mãe. As duas são mulheres de fibra e...

— Ela não é minha mãe – Cruzo os braços enquanto espero a pessoa de dentro sair.

— Sei que está chateada, mas ela ainda é...

— Eu sou adotada, Ian. Meus pais biológicos fizeram um acordo com Lanna e Martim, meus pais adotivos e me entregaram. Existia uma Profecia ao meu respeito e crescer com a criação deles me colocava em perigo – Comecei respirando fundo – Conheci essa mulher quando era criança, seu nome era Marie, e Lanna dizia que ela era uma tia distante, me deixava brincar com ela às vezes, mas na verdade Marie era minha mãe biológica. Quando eu tinha quinze anos, Marie se suicidou, e uns três anos depois tudo começou a desandar. Meu antigo namorado foi dado como morto, depois eu o achei, mas meu coração começou a ficar como uma pedra após aquele dia. Então, centenas de colegas meus foram massacrados em uma festa que eu estava. Depois, Zack, um amigo nosso foi assassinado. No dia seguinte meu pai adotivo morreu de câncer. Aí aconteceram umas coisas e eu tive que ficar fora por três meses, meu melhor amigo, Adam, morreu ao me buscar. Quando voltei para a costa de Ellicot, no mesmo dia, minha amiga, Hazel, estava se sacrificando por mim. Eu não... sinto mais nada, não me chateio. Sou uma barreira, Ian.

— Meu Deus – Ele suspira e passa a mão pelo cabelo – É um barra pesada, Ally, admiro você por não perder a cabeça. Eu com certeza teria ido parar em um hospício.

Sorri olhando para meus tênis.

— Querida? – Uma idosa cutucou meu ombro – Você vai entrar?

Quando percebi que a senhora falava do banheiro, me envergonhei por não perceber que a pessoa já tinha saído e dei espaço.

— Ah, não, perdão, pode ir.

— Obrigada, olhos azuis.

— Sei que não devo me intrometer – Ian sussurrou se aproximando – Mas ligue para ela quando pousarmos. Ligue para sua mãe, Ally, vai se arrepender se for tarde demais.

Tinha algo em seu olhar que fazia eu me sentir hipnotizada. Quase ri quando percebi que estava no lugar de todas as pessoas que eu usei Persuasão. Ian era gentil e leal sem pedir nada em troca. Era um homem de bom coração que sabia como derreter uma garota em segundos.

Quando a velha saiu, o puxei pela gola da camisa e entramos os dois no cubículo do banheiro. O espaço era pequeno e tinha cheiro de desinfetante no vaso, mas não liguei. Eram seus olhos castanhos que importavam naquele momento.

Imediatamente, fui levada direto para uma lembrança boa.

"Com um sorriso esperançoso, balancei o copo de coquetel na minha frente. O barman me ajudou a pousá-lo firmemente sobre a madeira, depois me serviu mais um drinque. A casca de laranja e a cereja faziam uma dança lenta entre a superfície e o fundo, assim como eu.

— Esse é o último, querida – Ele disse, secando o balcão ao meu redor.

— Pare de trabalhar tanto. Não vou dar gorjetas tão boas.

— Quem acaba de se mudar geralmente nunca dá – Ele disse, sem julgamento.

— É tão óbvio assim? – Perguntei.

— O sotaque entrega um pouco. E vocês ficam bêbados na primeira noite longe de casa. Não se preocupe. Não está escrito "Nova na cidade" na sua testa.

— Graças a Deus – Eu disse, erguendo o copo. Eu não estava falando sério. Toda essa coisa de se mudar a cada ano acabou se tornando interessante, tirando a parte que os poucos amigos que fiz se perderam no caminho, ficaram para trás; amizade exige presença, e eu não ficava muito tempo em lugar algum, também tinham muitas histórias para contar e aventuras que nunca tinha pensado em viver.

— E de onde você veio? – Ele perguntou. A camiseta preta muito justa, as cutículas bem cuidadas e o cabelo perfeitamente penteado com gel traíam seu sorriso paquerador.

— Washington - Respondi.

Ele contraiu e franziu os lábios até ficar meio parecido com um peixe, e seus olhos se arregalaram.

— Você devia estar comemorando.

— Acho que eu não devo ficar chateada, a menos que os lugares para onde fugir se esgotem – Dei um gole na bebida e lambi a queimadura fumegante causada pelo contato do uísque com os lábios.

— Olha, não se preocupe com a gorjeta. Mudanças são caras, e beber ao que a gente deixou para trás também. Você pode compensar depois – Ele entendeu que aquele era um assunto delicado e não se prolongou nele.

Suas palavras fizeram meus lábios se curvarem de um jeito que não acontecia havia meses, apesar de provavelmente isso não ter sido notado por ninguém além de mim mesma.

Depois de descobrir seu nome, ele seguiu até a única outra cliente do bar naquele fim de noite de segunda-feira, que também poderia ser chamado de começo da manhã de terça. A mulher rechonchuda de meia-idade, com olhos vermelhos inchados, usava um vestido preto. Assim que ele a serviu, a porta se abriu, e um homem mais ou menos da minha idade entrou apressado, se acomodando a dois bancos de distância. Ele passou a mão no cabelo para tirar os respingos de chuva e ajeitou o casaco. Olhou na minha direção, e, durante meio segundo, os olhos castanho-esverdeados registraram tudo o que ele queria saber sobre mim. Então, ele desviou o olhar.

Meu celular apitou em cima do balcão, e eu o peguei para dar uma olhada no visor. Era outra mensagem de Holland, provavelmente para me dar notícias de Clove e Jason. Eu estava a quase três mil e quinhentos quilômetros de distância de Holland e ele ainda conseguia me fazer sentir culpada.

Cliquei no botão lateral do celular, apagando a tela, sem responder à mensagem. Depois levantei o dedo para o barman enquanto virava o resto do sexto copo.

Eu tinha encontrado o Pub bem na esquina do meu novo apartamento em Midtown, uma área de Nova Iorque entre o aeroporto internacional e o zoológico.

Eu me senti meio vestida demais e ligeiramente suada. O vestido que eu estava usando tinha uma gola alta e mesmo que seja decotado, sentia calor. Embora isso pudesse ser efeito da quantidade de álcool em meu organismo, já que eu estava aprendendo a controlar a Tríplice.

— Oi – Disse o homem a dois bancos de distância.

— Oi – Respondi sem desviar o olhar do meu copo

Depois que o homem se deu conta de que não ia conseguir uma resposta melhor, mudou para o banco vazio ao meu lado. Eu suspirei.

— Então, o que você está bebendo? – Ele tentou de novo.

Revirei os olhos e decidi encará-lo. Ele era tão bonito quanto o clima do sul da Califórnia e não podia ser mais diferente de Jason. Mesmo sentado, dava para ver que era alto, pelo menos um metro e noventa. Os olhos brilhavam em contraste com a pele bronzeada de sol. Embora pudesse parecer ameaçador para a maioria dos homens, não senti que ele poderia ser perigoso, pelo menos não para mim.

Bourbon— Falei, sem tentar esconder meu melhor sorriso paquerador.

Baixar a guarda para um belo desconhecido por uma hora era justificável, sobretudo depois do sexto copo. Nós flertaríamos, eu ia esquecer toda a culpa e seguir para a casa nova que Holland me arranjou. Talvez eu até ganhasse uma bebida. Era um plano respeitável.

Ele sorriu de volta.

— Greg – Disse, levantando um dedo.

— O de sempre? – Perguntou o barman na ponta do balcão.

O homem assentiu. Era um cliente assíduo. Devia morar ou trabalhar por perto.

Franzi o cenho quando Greg pegou meu copo em vez de enchê-lo. Ele deu de ombros, nenhum pedido de desculpa em seus olhos.

— Eu falei que era o último, você tem que chegar em casa, e foram seis copos.

Eu não podia contestar a afirmação dizendo que não ficava bêbada como as pessoas normais, então apenas assenti.

Em meia dúzia de goles, o desconhecido tomou uma quantidade suficiente de cerveja barata para ficar pelo menos perto do meu nível de bebedeira. Fiquei contente. Eu não teria que fingir que estava sóbria, e a bebida que ele escolheu revelou que ele não era esnobe nem estava tentando me impressionar. Ou talvez ele só estivesse sem grana.

— Então não posso te pagar uma bebida? – Ele perguntou parecendo chateado.

— Greg me cortou – Falei, com a língua um pouco enrolada.

— Você mora por aqui?

Dei uma olhada para ele.

— Sua habilidade de manter uma conversa está me decepcionando a cada segundo – Banquei a difícil.

Ele riu alto, jogando a cabeça para trás.

— Meu Deus, mulher, você não é daqui, né? Não com esse sotaque e essa marra. É de onde?

— Oregon. Acabei de chegar. As caixas ainda estão empilhadas na minha sala.

— Eu te entendo – Ele disse, assentindo de um jeito compreensivo enquanto segurava a bebida de modo respeitoso.

— Escuta, já fiz quatro mudanças para lados opostos do país nos últimos dois anos, então...

— Não quero ser intrometido, mas para onde?

— Para Chicago, Califórnia. Depois Washington. E agora para cá.

— Você é política ou algo assim? - Perguntou e forcei um sorriso.

— Na verdade eu sou uma fugitiva – Ele deve ter achado que foi uma piada, porque riu, então emendei – Sou apenas uma universitária tentando achar o seu lugar.

— Qual é o seu nome? – Perguntou.

— Não estou interessada.

— Uh, esse nome é horrível – Ele sorriu e deixei escapar uma risada fraca – Ah, isso explica a mudança. Você está fugindo de um cara.

Eu o encarei. O cara era bonito, mas também presunçoso, apesar de estar parcialmente certo.

— E não estou procurando outro. Nem uma ficada de uma noite só, nem uma transa por vingança, nada. Então, não desperdice seu tempo nem seu dinheiro. Tenho certeza que você consegue encontrar uma garota legal da costa Oeste que ficaria mais que feliz em aceitar um drinque seu.

— E onde está a graça nisso? – Ele perguntou, se aproximando.

Meu Deus, mesmo se eu estivesse sóbria, ele teria me embriagado.

Olhei para o modo como seus lábios tocavam a borda da caneca de cerveja e senti uma agulhada no meio das pernas. Eu estava mentindo, e ele sabia.

Com a barba bem feita e apenas alguns centímetros de cabelo castanho-claro, aquele homem e seu sorriso certamente tinham vencido desafios muito mais intimidantes que eu.

— Sabia que quando você fica com raiva, sua boca fica... incrível pra caralho. Talvez eu aja feito um babaca a noite toda só pra poder apreciar a sua boca.

Engoli em seco. Meu joguinho tinha acabado. Ele tinha ganhado e sabia disso.

— Vamos dar o fora daqui.

Fiz um sinal para Greg, mas o desconhecido balançou a cabeça e colocou uma nota alta sobre o balcão. Bebida grátis: pelo menos essa parte do meu plano tinha funcionado.

O problema era que eu não conseguia sair daquele banco, o mundo ao meu redor parecia estar em câmera lenta quando a culpa me atingiu. Não estava aqui para me divertir, uma psicopata estava me seguindo e eu vim beber? Estava me arriscando demais.

Então senti lábios firmes e quentes sobre o meu, e percebi que era a primeira vez depois de quatro anos que era beijada por alguém. Mas qual é, os únicos caras que beijei foram Jake, Jason e David, eu merecia aquilo. Quando comecei a retribuir, o homem desconhecido escorregou e quase caiu.

Deus, aquilo era no mínimo constrangedor.

Quando chegamos ao meu apartamento, estávamos os dois tão bêbados que não conseguíamos continuar, então caímos rindo no sofá e no dia seguinte, Ian havia se tornado o meu primeiro amigo em Nova Iorque e na cabeça dele, nada tinha acontecido."

— Você está me deixando extremamente confuso, Allyson Hale.

— Posso dizer o mesmo de você – Encarei sua boca.

— Não estamos indo resgatar o seu ex-namorado? Que por acaso, ainda o ama?

— Droga, Jason.

— Ally, por mais que eu queira isso, e minha nossa, eu quero, não posso deixar isso acontecer quando está tão vulnerável.

— Eu sei que disse que... – Fechei mais ainda o punho em sua camisa – Eu sei que...

— Senhores passageiros, por favor, apertem os cintos, vamos pousar em alguns instantes – Disse a voz no microfone.

— Bom, eu nunca gostei muito de aeromoças – Ian riu e abriu a porta do banheiro, me impedindo de fazer uma grande besteira – É isso aí, estamos na Grécia, berço da civilização... Nephilim, estou certo? Ah, tanto faz, vai ser legal.


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