Emotional Context escrita por Raura


Capítulo 4
Histeria


Notas iniciais do capítulo

Não poderia deixar isso de fora de Emotional,

boa leitura!



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“Para uma natureza como a dele, a emoção forte atrapalhava tanto como a presença da areia num instrumento de precisão ou um risco numa de suas lentes.” – Arthur Conan Doyle

 

Naquele dia tinha me recusado a sair de casa para um caso abaixo de 7, mandei John fazer o trabalho de campo. Enquanto eu conversava com ele pela webcam, um lacaio de meu irmão apareceu em Baker Street, uma rápida olhada e sabia exatamente onde Mycroft me queria.

Claro que não deixaria de afrontar meu irmão em seu território, por isso fiz questão de aparecer no palácio de Buckingham enrolado em meu lençol.

Ah! Que maravilhosa oportunidade para ser infantil!

Primeiro me apresentaram uma das pessoas principais envolvidas: Irene Adler, profissionalmente conhecida como a A Mulher.

Altura mediana, cabelos escuros, olhos claros.

Posteriormente, raramente eu me referiria a ela por seu nome.

Para mim, ela sempre seria A Mulher.

Minha missão era recuperar um celular com algumas fotos comprometedoras de um membro da realeza que se envolveu com A Mulher errada, se eu tivesse sucesso, talvez conseguisse meu título de cavaleiro… Sir Sherlock Holmes, soava maravilhosamente bem aos meus ouvidos.

Não nego o quanto me senti atraído por ela, por sua personalidade.

Irene Adler era uma mulher que sabia como jogar e a melhor maneira de usar cada arma que possuía, mesmo com seus métodos nada convencionais. A pessoa que jogava quem possuía maior poder, com a família mais poderosa de Londres, era alguém digno de admiração.

Ela também sabia como tornar uma primeira impressão inesquecível.

Sim… Realmente tinha sido inteligente de sua parte aparecer nua na minha frente para evitar minhas deduções. Um rápida olhada em John e poderia dizer tudo sobre ele, mas ao olhá-la  à minha frente, não podia dizer nada, só uma grande interrogação.

Era uma adversária à altura, admito.

Se não fosse minha grande capacidade de dedução não teria conseguido abrir o cofre, mas minhas habilidades dedutivas de nada me serviram para pensar num código que desbloqueasse o celular. Claro que ali haviam coisas muito mais chocantes do que fotos polêmicas e comprometedoras. Ela não usaria somente fotos para chantagear alguém. Entendi que o conteúdo daquele celular era seu passe para a vida.

Não se envolva, Sherlock. Mycroft dizia.

Tarde demais.

Fazia tempo que eu não encontrava uma pessoa interessante e também praticamente a definição da palavra problema. Nos encontramos por alguns minutos e por descuido meu, acabei dopado e chicoteado por ela.

A Mulher me açoitou!

Oh! E como era atrevida!

Ela tinha tido a ousadia de colocar um toque para si no meu celular (o qual a Sra. Hudson chamou de barulho mal-educado) e sorrateiramente invadir meu quarto para devolver meu casaco.

Na cabeça de John - e de muitas outras pessoas - eu tinha me apaixonado pela Mulher. Não sei se poderia usar esse termo, o fato era: Irene Adler me intrigava, e muito. Certamente ela era fascinante e confesso ter cedido aos seus encantos, mas nada além disso.

Não a vi mais depois de nosso encontro na Belgrávia, entretanto ela passou a me enviar mensagens de texto regularmente - mesmo que eu nunca respondesse.

As festividades natalinas logo começaram a tomar conta da cidade...

John e a Sra Hudson tiveram a péssima ideia de convidar alguns de seus amigos para uma ceia natalina na Baker Street. Sem clima para comemorações, eu estava propício a rispidez e indelicadezas, resumindo, eu era péssimo humor não destilado.

Todos já estavam ali, apenas faltava a presença de Molly Hooper. Quando ela chegou, de cara, notava-se que ela tentou se vestir para impressionar - oh não! A última coisa que eu precisava era de Molly e suas tentativas tolas e banais de atrair minha atenção.

Como eu era pura rudeza não filtrada, verbalizei deduções sobre suas pretensões para aquela noite - ignorando completamente John, que tentava em vão me alertar para calar a boca... Quando notei tinha ido longe demais e claro, magoei Molly com minhas palavras.

Eu realmente não me importava em quão detestável poderia ser o que eu dizia, mas pela primeira vez senti necessidade de me desculpar. Se eu perdesse a amizade dela, perderia minha parceira de laboratório e, consequentemente, o acesso ao necrotério do Barts.

Tinha acabado de me redimir com Hooper quando o alerta atrevido de mensagens de texto soou anunciando um presente de Natal de Irene Adler. Só podia significar uma coisa se ela se desfez do celular, algo do qual sua vida dependia.  Se A Mulher me mandou aquilo , ela iria morrer, ou pior, poderia já estar morta.

Ainda na noite de Natal, Mycroft me acompanharia até o necrotério do hospital para confirmar minhas suspeitas da morte de Adler. A legista responsável pelo corpo dela era Molly, ainda me sentia culpado pelo que disse a ela, uma rápida analisada nela e percebi que ela já tinha me perdoado. Na minha opinião, Hooper estava bem melhor usando um suéter natalino, com seus cabelos soltos e ondulados.

Encarei o rosto morto a minha frente, estava completamente desfigurado por ter sido atingido repetidas vezes com um objeto pesado, depois pedi que Molly me mostrasse o resto do cadáver não reconhecido, então era isso, Irene Adler estava morta e tinha deixado seu celular em minha posse.

Sim, eu mal conhecia ela, mas A Mulher tinha me impressionado com sua personalidade imprevisível.

Empenhei-me em descobrir a senha, mas infelizmente e para meu desagrado continuava sem sorte. Molly Hooper pensou que aquele fosse o celular de alguma namorada minha. Quase ri de sua suposição.

“Todos fazem coisa tolas” Molly comentou, supondo que ciúmes fosse a motivação para o que eu fazia.

“Sim, eles fazem” concordo.

Brilhante!

A Mulher gostava de jogar e mandou o celular para o 221B…

Imediatamente, peguei o celular do scanner e digitei o número de meu endereço. O aparelho respondeu à minha dedução com uma sonora negação.

Sinceramente eu não sei porque John achava que conseguiria esconder algo de mim. Sua atitude suspeita era sempre a mesma quando sabia que seria levado para ter uma conversa particular com meu irmão.

O alerta atrevido soou. “Vamos jantar” foi a mensagem que recebi.

Eu realmente não esperava encontrar em pessoa aquela que supostamente havia morrido tendo uma conversa com John. A Mulher que conseguiu me enganar com sua morte falsa.

Até então eu nunca tinha respondido qualquer mensagem dela, mas talvez motivado pela descoberta de que ainda vivia, decidi mandar-lhe uma mensagem desejando feliz ano novo.

E como se fosse algo normal, eu a encontrei dormindo em minha cama na manhã seguinte.

Ao acordar, A Mulher tornou-se minha cliente. Pediu a mim que decifrasse um e-mail.

“Eu te possuiria bem aqui, nessa mesa, até você implorar por misericórdia”, foram as palavras dela ao deixar explícito sem rodeios suas intenções comigo. Ela ainda insistia no jantar e por um momento a ideia de beijá-la passou por minha mente.

Neste instante, um lacaio de meu irmão mais velho apareceu em meu apartamento, exigindo a minha presença em seu escritório. Isso foi só um lembrete do porquê eu evitava certas emoções.

Por ter me deixado envolver com Adler, levaria a culpa pelos vazamentos de informações, obviamente que eu sofreria consequências por isso e ainda não tinha descoberto a maldita senha de seu celular.

Deixar-se envolver… Lembrei de algumas reações que notei nela.

Então me dei conta que não era o único.

Não.

Aparecer nua para evitar qualquer dedução tinha sido perspicaz, mas se deixar levar pelos sentimentos a ponto de cometer o maior erro humano e fazer um trocadilho com meu nome para usar como senha?

Realmente o amor era uma desvantagem perigosa.

Ah, e A Mulher implorou. Sem o celular, que era sua moeda de troca, ela não duraria muito.

De fato, algum tempo depois ela seria executada por terroristas se não fosse minha intervenção. Sim. Eu salvei Irene Adler. Eu salvei A Mulher.

E ela me dopou, novamente. Roubou minhas roupas e partiu.

Eu me lembro com admiração dA Mulher, a única que conseguiu me vencer.

Eventualmente, nos encontrávamos para jantar algumas vezes.

E eu sempre implorava por misericórdia.

Até o dia em que fui testemunha do seu casamento.

Nunca mais eu tive informações sobre ela depois disso. Não sei nem de seu paradeiro, tampouco se ela ainda vive.  A Mulher nunca mais me enviou alguma mensagem em meu celular, convidando-me para jantar.

 


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Notas finais do capítulo

Quero saber o que acharam sobre!

p.s. escolhi esse título porque quando eu comecei a trabalhar na ideia dele, ouvia Hysteria do Muse



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