Meu nome é Clint Barton. Eu sou o Gavião Arqueiro. Posso não ter poderes extraordinários, mas sou muito bom no que faço e respeitado por meu arco e minhas flechas. Sou casado, pai de dois filhos, um terceiro está a caminho. Mas apesar de tudo isso, desde que a missão Ultron foi concluída e eu voltei para casa, não consigo aplacar o vazio estranho que passei a sentir.

Eu poderia dizer que é apenas culpa, afinal Pietro Maximoff morreu para me salvar, porém não estaria sendo totalmente sincero comigo. Tem algo mais envolvido nessa história. Algo que eu realmente não vi chegando. E mesmo sendo difícil admitir, a verdade é que aquele garoto abusado me marcou de uma forma que eu não compreendo muito bem.

Não consigo esquecer o seu olhar presunçoso quando me derrubou no meio da neve, em Sokovia. Ou sua expressão confusa quando eu o surpreendi na Torre dos Vingadores, fazendo-o despencar diante dos meus pés depois de atirar para cima, na direção do teto de vidro onde ele estava.

Foi estranhamente prazeroso pagar na mesma moeda, pisar em seu peito rígido e musculoso, e repetir sua frase engraçadinha. Pietro era irritante e mereceu aquela rasteira.

Mas ele não merecia morrer.

Mais uma vez, aquela frase. Desta vez, dita num tom triste e com ar de despedida. Com um olhar resignado e logo vítreo. E desde então, o vazio. A culpa. E algo mais.

Penso tanto nisso que cheguei a sonhar com ele esta noite. Em uma nova aparição triunfal, Pietro me surpreendia de um jeito mais ousado.

Acordei com meus lábios formigando e em chamas, o coração martelando forte no peito e sua frase sussurrada ainda ecoando nos meus ouvidos:

“Você não viu isso chegando, Clint?”

Pietro se foi com um sorriso travesso e uma brisa veloz. Um lampejo breve borrado de azul e cinza.

Decido que esta é a lembrança que vou guardar dele. Meu garoto irritante e atrevido.