50 Tons de Mentiras escrita por Carolina Muniz


Capítulo 4
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Oiiiiii ♥ Obrigada pelos comentários, gente #Adoro
Enfim, mais um cap, espero que gostem ;)



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♥ Capítulo 3 ♥

"Sempre haverá alguma coisa para arruinar nossas vidas. Tudo depende do quê, ou de quem nos encontra antes... Nós estamos sempre maduros e prontos para sermos levados."

— Charles Bukowski

➰➰➰

Ana suspirou, pegando o notebook na cadeira de Mia e passando as fotos dos bolos que elas gostaram, como se Christian não estivesse ali.

— Ana - ele começou sentando-se na cadeira ao seu lado.

— Não precisa, eu não vou falar nada - ela disse automaticamente. - Não é problema meu, é de vocês.

— Não era isso o que eu ia dizer.

— Não importa - ela rebateu.

— Será que você pode baixar a guarda por um minuto?

— Para quê? - ela se virou para ele de repente, se irritando, mantendo olhar no dele e se impedindo de olhar para o peito nu. - Para você me tratar como um bebê, dizendo que não é nada do que eu estou pensando ou que não vai acontecer de novo?

— Foi o que sua mãe te disse? - ele perguntou, sem se abalar com o surto da menina.

A garota olhou para baixo. Não queria se lembrar das palavras da mãe novamente. Lembrar-se delas só não era pior do que mentir para Mia.

Deus, em que merda ela havia se metido, hein.

— Não - respondeu de forma hostil.

Mesmo que suas palavras fossem cortantes num tom seco e azedo, eram baixas num sussurro.

— E o que ela te disse? - ele perguntou.

— Por que você não pergunta para ela? Com certeza você a vê mais do que eu - ela disse, só então percebendo a vivacidade de suas palavras.

Ele com certeza via sua mãe mais do ela.

— Ana...

— Para com isso. Eu não quero ouvir você.

— Eu sinto muito – suspirou.

— Sente? Pelo o quê, Christian? Você não fez nada comigo.

— Eu não queria te magoar.

Aquilo a pegou desprevenida, deixando-a desarmada.

— Você? Você não fez isso - ela disse, o tom de voz quase meigo.

E aquilo era outra mentira. Era claro que ele havia a magoado. Mas ela não ia admitir, se não estaria admitindo que gostava dele. E aquilo ela não iria fazer.

— Nós dois sabemos que eu fiz - ele disse.

Sua respiração parou. Ela soube que ele sabia.

Ana só tinha treze anos, era apenas uma criança. Mas Christian sabia que ela gostava dele. Não era amor, não era paixão. Era coisa de criança. Mas mesmo assim, para ela, era tudo. Ele sabia que ela mesma não entendia o que sentia, não sabia nem mesmo como se portar perto dele. E isso era fofo, adorável... E tão clichê. Uma garota se apaixonando pelo irmão da melhor amiga. Mas mesmo assim, ele sabia que havia sido um baque para ela. Não apenas ter visto sua mãe beijando outro homem, e sim ver ele beijando sua própria mãe.

Ana se xingou mentalmente quando sentiu os olhos arderem com as lágrimas que estavam prestes a vir. A morena nunca foi de chorar, nem mesmo quando se machucava, ela nem mesmo se lembrava da última vez que chorou. Sua mãe sempre foi contra as lágrimas, dizendo que eram fraquezas e Ana não tinha que ser fraca. Mas mesmo sendo durona, a garota só tinha treze anos, e estava tendo seu primeiro coração partido da pior forma que uma garota poderia ter.

— Eu... Eu vou embora - Ana disse, colocando o notebook na mesa e se levantando, impedindo-se até de piscar para as lagrimas não escorrerem.

— Não, Ana, não vai - Christian se levantou também.

— Eu tenho que ir para casa, antes que Elena volte - falou e parou por um segundo, quando percebeu que chamou a própria mãe pelo nome.

Aquilo não era importante na verdade, talvez tenha sido o seu cérebro querendo ser ácido em sua raiva. Ela não sabia.

— Diga a Mia que eu precisei ir – concluiu e andou apressada.

A morena saiu em disparada, andando rápido até as escadas e virou no corredor, pronta para descer a outra, quando Christian segurou sua mão. Ela ficou de cara com ele. Os degraus da escada eram altos, e Ana não havia descido nem o primeiro quando Christian desceu um deles e parou a sua frente, ficando na mesma altura que ela.

— O que foi? - ela perguntou, ofegante não por ter subido as escadas, e sim por seu coração estar saltitando em seu peito.

Ele não respondeu, e Ana apenas queria desviar o olhar do dele, mas era tão difícil.

Uma garota de treze anos tinha mesmo que passar por aquelas coisas? O coração acelerado, a respiração irregular, as mãos suando, o nervosismo claro... Não era justo. Christian nem se importava com ela.

— Só... Só me deixa em paz – ela pediu num sussurro.

Com certeza a pior parte daquilo tudo foi as drogas das lágrimas escorrerem por seu rosto naquele momento. Fraqueza. Deus, ela era só uma criança, era válida sentir aquele turbilhão de sentimentos sendo tão nova?

Não era só Ana que sabia que ela não chorava, qualquer pessoa que convivia com ela sabia, Christian sabia. E provavelmente por aquele motivo, ele acabou soltando-a. E a garota apenas desceu as escadas e foi embora,

De qualquer forma, Christian sempre achou Ana diferente de sua irmã, e Mia era mais velha que ela. Não que ele sentisse algo como um homem sente por uma mulher, ele não via Ana daquele jeito. Mas ela era especial de alguma forma, ele sabia que ela aguentava coisa demais apenas para uma garota, e ainda assim era sempre gentil e meiga com todo mundo. Ter Elena como mãe não era uma coisa fácil. Ele sabia daquilo. E mesmo com tudo, Ana tinha um senso de vida maior do que muitas pessoas adultas, ela sabia até mesmo manter uma conversa sobre política e dar opiniões que lhe fazem repensar seus conceitos. E ao mesmo tempo ela conversava sobre revistas e boybands enquanto assiste séries adolescentes. Aquilo não tinha nada a ver com etiquetas e educação, era apenas ela sendo ela. E ela era incrível. Com treze anos Ana conseguia ser o completo oposto de Linc e Elena, e no caso deles, aquilo era uma coisa boa para humanidade.

Elena dominava tudo, até o que não era dela, ela dominava.

E sempre fora exigente e perfeccionista, inclusive em Christian. Ma com certeza quem mais sofria com sua dominação era Ana, a mulhe sempre exigiu demais da menina. E talvez aquilo fizesse Christian se questionar como Ana conseguia ser tão espontânea e feliz. A garota não podia ter um A-, não podia andar com um fio de cabelo fora do lugar, nem mesmo escolher as próprias roupas ela podia. Sem contar que tinha que ser a melhor em tudo, desde a escola até o balé. O balé... Todo mundo sabia o quanto Ana odiava aquele negócio, e Elena só se convenceu de tirá-la quando a menina interveio com Grace, mas então veio o violoncelo, o acordeão e finalmente o piano. Como alguém pode viver com toda aquela pressão e nunca escorregar. Porque Ana nunca havia chorado na frente de ninguém.

Mas aí ela chorou na frente dele.

O quão pior que Elena ele precisou ser para aquilo?

Christian perdeu qualquer vontade de voltar para a piscina, e apenas foi para o seu quarto, assim como Ana fez quando chegou em casa.

Ela já não chorava mais, mas as poucos lágrimas que escorreram por seu rosto, fizeram seus olhos ficarem vermelhos e detonarem as malditas. A garota entrou tão rápido no quarto que nem havia percebido que tinha alguém lá.

Para sua grande surpresa, Elena estava sentada na poltrona de cinema no canto do quarto.

— O que está fazendo no meu quarto? – perguntou a garota.

— Te esperando. Estava chorando? – Elena devolveu.

A garota engoliu em seco e desviou o olhar.

— Achei que tínhamos conversado sobre isso – a loira murmurou acidamente.

Ana balançou a cabeça e mordeu o lábio inferior.

Elena bufou.

— Onde você estava? - perguntou.

A morena sabia que ela sabia muito bem onde a filha estava, se não deduzisse, Tiff teria dito. Mas mesmo assim Ana resolveu responder sem delongas.

— Na casa da Mia - falou.

— Fazendo o que lá?

— A festa da Mia é em dois meses, nós duas estávamos...

— Ah, claro - Elena desdenhou, fazendo um gesto com a mão que dizia "que seja". - E...?

— E o quê?

— Não se faça de sonsa - a mulher murmurou impaciente. – Já é gorda, ainda vai ser burra, também? Quero saber o que estava fazendo na casa dos Grey.

Ana cravou sem nem percebeu as unhas na própria coxa, apertando tanto que afundou a pele e já estava prestes a furar, quando inspirou o ar profundamente.

— Eu já falei – respondeu. – Estava com a Mia planejando a festa dela.

— E...? – Elena repetiu.

— E nada, ué - Ana resmungou, sentando-se num dos pufs de seu quarto, pronta para desamarrar os cadarços do all star, precisava de algo para fazer com as mãos.

— É bom que você não tenha dito nada para a filha dos Grey – Elena murmurou.

— Eu não disse nada, Elena.

A loira levantou as sobrancelhas e cruzou os braços com desdém.

— O que é isso? Me chamando pelo nome?

— Você prefere algo mais apropriado? - perguntou, mirando Elena em desafio, não acreditando em si mesma.

Deus, ela estava tão cansada. Queria dormir e nunca mais acordar. Por ela, sua vida poderia acabar naquele momento mesmo, não teria mais momentos felizes dali em diante, ela sabia. O que era triste, pois Ana só tinha treze anos. O problema é que quando temos essa idade, para nós, tudo é o fim do mundo.

Elena levantou da poltrona em forma de sapato em que estava e se aproximou da menina. Ana não estava com medo, seu peito não estava apertado com seja lá a reação que sua mãe teria a seguir, ela apenas esperou o veredito, tirando os sapatos já desamarrados.

— Olha lá como fala com sua mãe, mocinha. Eu posso muito bem...

— O quê? - a garota se levantou – Me mandar para a Inglaterra? Sério? A ameaça do colégio interno de novo?

Ana não sabia de onde vinha aquilo tudo, mas ela sentia seu sangue bombeando de forma forte e voraz por seu corpo quente e desgovernado. Ela realmente tinha acabado de decidir que sua vida poderia acabar que ela não se importava, e aquilo não era justo. Ela sempre se esforçou para ver o lado feliz das coisas, ela sempre tentou ser feliz para os outros, e então sua mãe vem e acaba com aquilo, faz ela ter pensamentos como aqueles. Não era justo!

— Ameaça? Não. Eu vou é fazer – vociferou Elena.

— Não vai nada – Ana falou mais alto, levantando-se. - Se não eu conto tudo para o papai, e aí eu quero ver o que você vai fazer.

Elena deu passo para trás.

— Está me ameaçando?

— Não, estou avisando.

— Quem você pensa que é?

— A filha de uma vadia – a garota gritou a frase sem pensar.

Ana escutou, mais do sentiu o tapa estalado ao lado de seu rosto, colocando a mão na bochecha automaticamente. Aquilo doeu para caramba.

— Isso é para você aprender a ter mais respeito - Elena falou entredentes.

— Eu te odeio - Ana disse, a primeira vez em três dias falando com a pura sinceridade, sem nenhuma palavra falsa na frase, sem mentiras.

— E você acha que eu amo você?

— Não importa... Porque você é incapaz de amar - ela murmurou, se odiando pelas malditas lágrimas de raiva escorrendo pelo rosto.

— Não, querida, eu não sou incapaz de amar. Sou incapaz de te amar.

Ana limpou o rosto novamente com as costas da mão, já sentindo a lateral do mesmo doer.

Elena sorriu calmamente e caminhou para fora do quarto, fechando a porta atrás de si.

A menina respirou fundo e olhou para o espelho, seu rosto estava vermelho... Um vermelho tão forte que parecia ter sido bem pior do que realmente foi.

E então, ali, parada no meio de seu quarto, ouvindo os saltos de sua mãe batendo no assoalho de madeira do chão do corredor, Anastasia tinha duas escolhas: podia contar para o pai e ser mandada imediatamente para o colégio de freiras, à um oceano de distância de tudo o que ela ama na vida, ou não dizer nada e viver naquele inferno até fazer os dezoito anos, quando finalmente fosse para a faculdade.

De repente ela começou a pensar no que seria de tão ruim ir para um internato. Com certeza a falta de liberdade era a coisa principal, sem cinemas, sem músicas legais, sem shows... Sem amigos. Mas também sem Elena, sem Christian, sem aquela marcação toda de poder e ter que esbanjar para mostrar para o mundo que tem dinheiro.

Mordeu o lábio e olhou para o espelho novamente.

Sua mãe havia acabado de agredi-la, literalmente.

E o que ela iria fazer a respeito?

➰➰➰

 

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

O que vocês fariam a respeito?? Maaano, consigo nem pensar em ter uma mãe assim, mas tudo terá uma explicação - EXPLICAÇÃO, não justificativa. Nada justifica esse jeito q a Elena trata a Ana, claro.
XOXO



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