50 Tons de Mentiras escrita por Carolina Muniz


Capítulo 3
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Oiiiii ♥
Obrigada aos que comentaram, adoreeei, seus lindos.
Esse cap é para vocês ;)



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♥ Capítulo 2 ♥

"Nada acontece só por acontecer. Não existe sorte. Há um significado por detrás de cada pequeno ato."

— Richard Bach

➰➰➰

A ameaça do colégio interno, Ana sempre teve medo de que seus pais a concretizassem. Ela sabia o que acontecia com os filhos de pessoas como seus pais, pessoas que não sabem ser pais. Ela via muitos filmes, sabia bem como tudo funcionava. Por isso, sempre tentava agradar, não ser desobediente nem irritar os pais o tempo todo. Mesmo com o gênio forte, ela conseguia se controlar. Porém, daquela vez não podia se importar com aquilo. Talvez seu pai não deixasse sua mãe mandá-la para a Inglaterra, talvez ele percebesse que ela era uma criança adorável. Mesmo com todos esses pensamentos, enquanto ia para casa no banco de trás do carro de seus pais, ela sabia que não podia contar. Ela não sabe o que pode acontecer, pois seria uma reação em cadeia. Se contasse para seu pai, seria uma tragédia, poderia haver até mesmo mortes.

Mas o pior não era ter que esconder o segredinho sujo de sua mãe, e sim pela primeira vez guardar um segredo de Mia.

Elas eram amigas há anos, desde que Ana tinha um ano. Mia gostava de ir para sua casa brincar com ela quando a mesma era apenas um bebê sem saber falar, e Mia e só tinha dois anos. Eram como irmãs agora. Ana não sabia como esconderia um segredo tão terrível de Mia. Não podia contar para ela de jeito nenhum, pois ela contaria para Grace - mesmo que Ana pedisse para não contar - e então seria outra tragédia.

Anastasia estava numa corda bamba sem ponto de equilíbrio.

Fechou os olhos, expirando o ar profundamente, a anestesia havia passado e sua mão começava a doer.

Seu pai parou o carro e sua mãe abriu sua porta para ajudá-la a sair. Elena não havia saído de perto da filha nem por um segundo depois do ocorrido, mas não por estar preocupada com seu bem-estar, e sim por medo da menina falar algo para alguém.

A loira guiou a garota para o quarto e, sem dizer nada, a ajudou a tirar a roupa, colocou a debaixo da água quente após tirar os saltos, e a preparou para dormir, como nunca havia feito.

— Boa noite, Anastasia - ela disse, após fechar as cortinas pesadas do quarto.

— Boa noite - Ana sussurrou enquanto via a porta do quarto sendo fechada e a escuridão tomou conta.

A morena ficou acordada por longos minutos antes de finalmente cair no sono por conta dos remédios tomados.

E logo três dias se passaram. Foram três dias evitando Mia a todo custo. Ana sabia que no momento em que visse a garota, iria acabar dando bandeira. Sempre atendia os telefonemas, que eram no mínimo quatro por dia, dizendo que estava bem, mas que não podiam se ver, pois tinha tarefas para fazer. Era difícil ter que desligar e continuar não fazendo nada depois de mentir descaradamente para a melhor amiga.

Mas era preciso.

Além do mais, ela não queria ir à casa dos Grey, não queria ver Christian. Nos últimos dias não conseguia nem pensar nele sem ficar com raiva, sem visualizar as mãos dele apertando sua mãe, beijando-a... Ana jogou a cabeça para trás e bateu-a de leve na parede do quarto. Sua cabeça girava com tudo o que aconteceu, com tudo o que ouviu. Sua mãe a ameaçando e dizendo coisas horríveis, mas que ela sabe que são verdadeiras.

Talvez se fossem mentiras...

Mentiras pareceriam ser bem mais fáceis. Melhor do que jogar verdades na cara de alguém. Três dias e Ana constatou que mentiras melhoram as coisas. Elas mantêm o equilíbrio. Mentiras estavam sendo o alicerce de Ana naqueles dias. Ela mentia para seu pai, mentia para Mia e mentia para si mesma com todas as forças que tinha. Mas uma hora as verdades seriam postas na mesa, e as mentiras seriam jogadas para escanteio. Ela não sabia se ficava ansiosa, ou torcendo para que as mentiras nunca fossem descobertas.

Ela mordeu a parte de dentro da bochecha e cruzou os braços, xingando-se quando mexeu rápido demais a mão machucada. E ainda tinha aquela maldita mão. Os adultos faziam coisa errada e quem se machucava era ela. Balançou a cabeça com pura descrença. A vida não era nem um pouco justa.

O telefone lá embaixo tocou e Ana sabia que era Mia. A garota nunca ligava para o telefone, sempre para o celular. Mas desde quando seu iPhone havia sido confiscado por seu pai em forma de um castigo besta depois de ela ter xingado a professora de matemática na sala de aula, Mia enchia a secretária eletrônica de recados, pois ninguém naquela casa tinha a decência de atender a droga do telefone.

A morena suspirou alto e pegou o telefone no criado-mudo, discou o zero e passou a ligação para o seu quarto.

— Alô - falou.

— Oi, Ana, até que enfim - Mia disse, revirando os olhos.

— Ah, foi mal, eu estava dormindo - Ana mentiu... Mais uma vez.

Ela estava ficando boa naquilo, podia se sentir viciando.

— Hum... Bom, você sabe que minha festa é em dois meses e ainda não resolvi nem a cor.

— Hum.

— Você precisa vir para cá agora para a gente ver logo isso.

— Ah, Mia, é que não vai dar...

— Você está me dizendo isso já tem três dias - cortou Mia - O que está havendo, heim? Está com medo de se machucar vindo aqui para casa? Não vou deixar os objetos cortantes por perto, prometo.

— Não é isso... É que minha mão ainda está uma droga.

— Eu sei, mas você não vai ter que usá-la. E, fala sério, é a mão direita, e você é canhota. Se bem que nem vamos escrever, vamos digitar. E eu posso fazer isso. Não adianta, não aceito um não como resposta. Estou te esperando, você tem cinco minutos para chegar à minha casa.

Ana bufou mentalmente.

— Okay - rendeu-se. - Vou trocar de roupa.

— Ótimo. A Gretchen fez massa italiana.

— Agora sim está falando minha língua - brincou Ana antes de desligar.

Colocando um short preto e uma regata vermelha, ela se olhou no espelho, ajeitando o curativo na mão.

A regada era um pouco larga, não dava para marcar as gordurinhas nos quadris que sua mãe havia dito que não deveriam existir ali.

Ela estava se esforçando, nem havia jantado na noite passada porque havia comido demais segundo Elena no almoço. Com certeza não poderia comer massa italiana na casa de Mia.

A garota bufou, pegou o all star vermelho e desceu as escadas.

— Tiff! - chamou entrando na cozinha.

Tiff - Tiffany - era sua babá/governanta para todas as horas. Ela fazia tudo naquela casa, decidia qual seria o almoço e a janta, decidia o que Ana comeria na sobremesa, mandava nos outros empregados, mandava em Ana...

— Coloca meus sapatos, por favor - a garota disse, sentando em cima da mesa, para o desgosto de Tiffany.

— O que eu já falei sobre sentar na mesa, Ana? - Tiffany a repreendeu, colocando a meia no pé da menina.

— Ah, é que está difícil sentar no banquinho, ele é alto demais e minha mão está impossibilitada.

Tiffany balançou a cabeça rindo do drama da garota.

— Pronto - falou, ajudando Ana a descer após colocar seus sapatos. - Então, posso saber onde vai?

— Na casa dos Grey. Mia vai fazer aniversário em dois meses - falou, como se aquilo explicasse todo o seu dia.

E realmente explicava. Mia e Ana sempre tinham festas planejadas detalhes por detalhes em seus aniversários... Detalhes das duas.

— Ah, então 'ta. Avise se for dormir lá - falou Tiffany.

— Não se preocupe, com certeza não vou dormir lá - Ana falou sem pensar.

— Ué, por quê?

— Hã, bom, nada. Só que eu, é... Ah, nada. Vou indo. Tchau - falou já saindo andando antes que houvesse mais questionamentos.

— Eu vou fazer sua comida preferida, então chegue antes do jantar – avisou a governanta antes da garota desaparecer por completo.

Era um domingo ensolarado das férias de verão, Ana pôde sentir a intensidade do Sol quando chegou ao fim da rua já suando.

A mansão dos Grey era na curva da rua, moravam extremamente perto, mesmo que os adultos sempre iam de carro na casa um do outro. Mia e Ana não entendiam aquilo, mas também não questionavam.

Chegou aos portões e entrou pelo menor, pelo qual era raro alguém passar, pois sempre estavam de carro. Ana chegou a pensar que poderia estar trancado. A menina caminhou em direção a porta de madeira e entrou na casa sem bater. Estava um silêncio absoluto por toda parte. Subiu as escadas, entrou no quarto de Mia, mas não havia ninguém, passou pela porta do quarto de Elliot e escutou o som de algo sendo jogado no chão.

Bateu na porta e olhou por uma brecha antes de escancará-la e encontrar Gretchen pegando um DVD que provavelmente havia deixado cair no chão.

— Ah, oi, Ana - a empregada disse.

— Oi. Cadê as pessoas dessa casa? - perguntou.

Gretchen riu.

— Está todo mundo na piscina - falou.

— Okay, obrigada.

Ana desceu as escadas e foi para trás da casa, descendo mais escadas até chegar a piscina.

— Até que enfim - repetiu Mia assim que a viu, chamando a atenção dos outros para a mesma.

Ana sentiu o rosto ficar vermelho por ter tanta atenção. Havia mais pessoas do que ela esperava encontrar ali, todos adolescentes. Alguns estavam na água, outros jogados pelo chão de piso frio ao redor da piscina ou nas cadeiras.

O rádio estava ligado numa estação em que agora tocava uma música que Ana nunca havia escutado, mas suspeitava ser Marron5, o timbre da voz era igualzinha de Adam.

A menina se aproximou da Grey e se sentou ao seu lado, tentado ignorar todos ali.

— Valeu por ter me tido que estava rolando uma festinha - falou em voz baixa.

— São os amigos dos meus irmãos, nada demais. Papai e mamãe saíram, aí você já viu, né?

Ana revirou os olhos. Nunca se sentia muito confortável quando tinha um monte de gente seminua ao seu redor.

— Ta, okay, vamos começar, tenho que voltar cedo para casa - falou.

— Como assim voltar? Achei que iria dormir aqui.

— Não, eu tenho que voltar.

— Por quê?

— Hã - engoliu em seco - vou sair com meus pais.

Outra mentira.

— Hum, então vamos ser rápidas.

— Isso aí.

— Aqui - Mia se ajeitou na cadeira e colocou o notebook no colo que Ana pudesse ver também - eu estava pensando em fazer um dourado mais chamativo misturado...

Ana escutava cada palavra de Mia e a interrompia em algumas vezes quando a menina exagerava, porém perdeu totalmente o foco quando viu de relance Christian descendo as escadas. Seu coração acelerou quando percebeu que ele estava sem blusa, mas logo apertou quando reparou na garota que vinha com ele. Ela era ruiva, com um corpo esbelto e uma tatuagem na barriga. Ana não conseguia identificar o que era aquele desenho, mas também não estava a fim de ficar olhando para aquela barriga lisa e sem gominhos nos quadris – bem diferente da sua. A garota ria à vontade de alguma coisa que Christian havia falado e mexia no cabelo enquanto terminava os últimos degraus.

Ana revirou os olhos para aquela cena. Não iria reagir, não ia sentir nada. Não iria! Mesmo que seu coração já estivesse disparado, sua respiração desregulada e o estômago parecendo gelatina. Não ia sentir!

Droga! Como aquilo podia acontecer?

Ele era amante da mãe dela, estava com alguma garota metida a ruiva ali na frente dela... Como ela era trouxa!

— Ana? Ana! - Mia chamava.

— Oi?

— Você me ouviu?

— Claro - respondeu.

Mia olhou para a direção que a garota olhava e viu seu irmão. Sorriu maliciosamente.

— Olha quem chegou - falou, puxando uma mecha do cabelo de Ana. - Seu futuro namorado.

— O quê?

— Ué, você gosta do meu irmão... Ei, nós vamos ser cunhadas!

— Para com isso. Ele nem sabe que eu existo.

— Claro que sabe, te conhece desde que você era um bebê fofo e gorda.

— Eu não sou gorda!

Mia arregalou os olhos pela explosão da amiga.

— Não estou dizendo que você é gorda, até porque você não é. Mas você era um bebê fofinho, quando tinha um ano. Para de drama. Meu irmão não gosto muito de drama também, mas ele deve abrir uma exceção para você.

Ana revirou os olhos.

— Não importa, ele tem dezoito anos.

— E daí?

— E daí? Mia, fala sério! Olha para a garota que está com ele. E eu não sou dramática.

— O quê? A Rose? Ela tem vinte e quatro anos.

— Hum, mais velha... É claro que ele ia gostar dela - Ana falou.

— O quê?

— Nada.

— Ah, enfim, eles não têm nada. Ela namora com aquela garota ali, ó - Mia apontou para uma loira sentada na beira da piscina conversando com Elliot.

— Hã?

— É, ela é lésbica. E, na verdade, eu acho que meu irmão não está com ninguém no momento.

Que você saiba... - Ana pensou.

— Se eu fosse você, falava com ele - Mia acrescentou, voltando a mexer no notebook.

— Você não tem noção mesmo.

— Eu? Você é que está louca pelo Chris e não quer dizer para ele.

— Por motivos óbvios.

— Que motivos?

— Você quer em ordem alfabética?

— Ana, para de pensar em idade, em isso e aquilo. Olha, o máximo que ele pode fazer é dizer que não está afim.

— E isso seria ótimo, né?

— Não, mas pelo menos você não estaria com essa dúvida, era só esquecer. Ou insistir até ele começar a te ver de outro jeito. Aposto na segunda opção.

— Ele não gosta de mim.

— Então comece a insistir. E como é que você sabe que ele não gosta de você?

— Porque ele gosta da... - minha mãe! - Ninguém.

— Não, você ia falar de alguém – Mia insistiu, desconfiada.

— De ninguém, eu ia falar isso: que ele não gosta de ninguém.

— Sei... - Mia olhava desconfiada para a amiga. - Você sabe de algo que eu não sei?

— Claro que não.

— Tem certeza?

— Somos melhores amigas, Mia. Eu nunca mentira para você.

Olhe, outra mentira!

— Hum... Acredito em você - Mia disse com sinceridade e sorriu.

Aquilo doeu em Ana.

Se continuasse assim, ela não conseguiria aguentar por muito tempo.

Ana olhava para baixo, para o seu tênis batendo no chão branco, não querendo olhar para o sorriso sincero de Mia.

— Ei, olha quem está se aproximando - Mia sussurrou e a morena levantou a cabeça.

Seu coração faltou sair do lugar quando viu que Christian estava perto demais. Pensou em sair, em levantar como se fosse fazer algo, mas seria bandeira demais. E o que ela ia dizer que ia fazer, afinal? Pensou em se jogar na piscina, mas estava sem biquíni. Quando ele estava perto demais, ela pensou em se jogar com essa roupa mesmo, com o tênis e tudo. Mas apenas ficou parada, esperando ele se ajoelhar ao lado de Mia e lhe entregar algo.

— Já volto, Ana - a menina disse levantando-se.

Só então a morena percebeu que era um celular na mão de Mia, e a garota nem deixou Ana falar e já estava do outro lado da piscina, abafando o microfone do celular com a mão enquanto andava.

➰➰➰

 

 

 


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Notas finais do capítulo

O que estão achando da história? Ana não ficará com 13 anos a fic inteira rs, só para avisar, enfim, até mais,
XOXO



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