50 Tons de Mentiras escrita por Carolina Muniz


Capítulo 23
Capítulo 22


Notas iniciais do capítulo

Venho aqui na maior cara de pau depois de dois meses, adoro vcs



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/722864/chapter/23

 

♥ Capítulo 22 ♥

 

"Verdade fora de lugar e velhos amigos, nunca contando arrependimentos. Eu não descanso nem um pouco enquanto as folhas mudam, a última desculpa que eu vou reivindicar, eu era um garoto que amava uma mulher como uma menininha... Ainda não posso te deixar em paz, na maioria das noites quase não dormi, não tire de mim o que você não precisa de mim... Uma gota no oceano, uma mudança no tempo, eu estava rezando para que você e eu pudéssemos acabar juntos, e é como desejar a chuva enquanto eu estou no meio do deserto."

 

— A Drop In The Ocean - Ron Pope

 

 

×××

— Não é tão urgente assim, eu não vou morrer agora— Ana desdenhou.

Mia fungou alto, limpando o rosto com um lenço que só mesmo Mia Grey teria num momento estratégico.

Ana estava na casa dos Grey, no quarto de Mia mais especificamente, não tinha como esconder o que estava acontecendo consigo, não com Grace sabendo de tudo, o que consequentemente fizera Christian e Elliot saberem, então teve de contar à Mia, enquanto se preparava para contar à Kate e também ouvir o sermão de que a loira havia sido a última a saber.

Mas como você conta a sua melhor amiga que seus órgãos estão parando de funcionar e precisa fazer um transplante, porém sua mãe não é sua mãe e não é compatível.

Tudo bem que ninguém mais sabia sobre seus pais - que pelo visto não eram seus pais, ela não teve coragem de questionar aos dois - mas ela precisaria contar à Kate.

Deus, ela não tinha uma folga em sua vida!

— Mia, para com isso! Não chora, vai ficar inchada - falou a morena enquanto via a mais velha se debrulhando em lágrimas. - Não é muito sua praia chorar.

Mia tocou seu cabelo e fez um carinho até as pontas, engolindo em seco. Ana estava muito pálida, até os olhos pareciam mais claras que o normal, menos azuis, a aparência frágil de uma forma que Ana nunca teve. Mas ainda assim, a garota continuava incrivelmente bonita, sensual não fazendo nada, um olhar de quem não ligava para nada.

— É impressionante como você não se importa consigo mesma - acusou a garota.

Ana suspirou e se aconhegou à ela.

— É claro que eu ligo, é só que eu não vou ficar me preocupando desse jeito se não posso fazer nada - explicou.

Realmente ligava, só não iria pensar em nada. Era sua filosofia de vida não pensar nas coisas sérias, ainda mais quando não havia uma solução aparente.

— Como sua mãe pode não ser compatível? Eu não entendo essas coisas – Mia murmurou.

Ana mordeu o lábio inferior e desviou o olhar.

— É, nem eu. Mas vai ficar tudo bem – respondeu.

— Eu quem deveria estar dizendo isso para você, e não aqui chorando.

A morena riu.

— Você sempre chora demais - brincou, fazendo Mia rir também.

— E você nunca chora – a outra rebateu.

Mia respirou fundo e se levantou da cama, limpando o rosto.

— Chega de choro, vou ficar inchada mesmo – falou. – Já volto, vou lavar o rosto.

— Eu te espero lá embaixo – informou Ana, levantando-se também.

Mia concordou e seguiu para o banheiro enquanto Ana saía do quarto.

A morena desceu as escadas e seguiu para a varanda do primeiro andar, que dava para a vista da baía naquele pôr do sol. Com o pôr do sol, lembrou-se que logo precisaria tomar seu remédio e uma maldita vitamina.

Aquilo a fez ter vontade de ver Carla, não fora nas últimas duas consultas. O que ela iria dizer quando Ana lhe contasse tudo o que aconteceu na última semana, e até que estava tomando vitaminas?

— Eu não quero saber quem errou, só conserta logo, porque se eu tiver que ir aí, você vai estar demitido antes de eu chegar - o tom foi rude e irritado.

Ana sabia bem quem era. Sabia que Christian estava ali, foi a primeira coisa que Mia lhe disse quando chegou.

A baixinha não desistia nunca mesmo!

Ana se virou a tempo de vê-lo encerrando a ligação e apertando o aparelho celular nas mãos.

A morena se recostou na grade da varanda e encarou Christian, que parecia surpreso ao vê-la.

— É domingo, não precisava ser um chefe terrível - ela murmurou, os olhos divertidos enquanto inclinava a cabeça.

Christian não sorriu, mas a morena percebeu que ele teve de se esforçar para aquilo.

— Como você está? - ele questionou.

A garota deu de ombros e se virou novamente para admirar o pôr do sol.

— Melhor - respondeu.

Christian se aproximou, e Ana não desviou o olhar da baía que banhava o céu alaranjado.

— Eu vou encontrar um doador logo, Linc quer se meter com o mercado negro, mas não acho que vai ser preciso chegar a criminalidade dos Estados Unidos - ela comentou.

— Seria bom – ele respondeu.

Ana se virou.

— Você sabia? – disparou. - Digo, sobre ela não ser minha mãe, você sabia?

— Como assim? – Christian questionou confuso.

Ana inclinou a cabeça.

— Elena, sobre ela não ser minha mãe, ou o Linc que não é o meu pai – explicou.

Christian se apoiou na grade e tentou parar de pensar no fato de Ana ficar fofa quando inclinava a cabeça daquele jeito.

Qual era o seu problema em ficar pensando naquelas coisas?

— Eu realmente não sei do que você está falando – ele murmurou.

E não sabia mesmo. Tudo bem que já chegou a desconfiar de Elena não ser mãe de Ana um milhão de vezes, mas nunca havia questionado ou pensando a fundo sobre aquilo, a loira não iria tão longe... Não é?

Ana apoiou os braços na grade e mirou o horizonte novamente.

— Não precisa mentir, ela falou... Com Linc, mas falou – disse ela.

— Eu não estou tentando aliviar, não sabia mesmo.

Ela o encarou de soslaio, a expressão de quem desdenhava obviamente.

— Não era como você está pensando – ele falou.

— Não? – ela foi petulante, virando-se para ele totalmente. - Eu estou pensando que vocês eram amantes, minha mãe casada e vocês contavam tudo um para o outro enquanto estavam na cama.

Christian pressionou os lábios um no outro e balançou a cabeça.

— Ta', então talvez fosse o que você está pensando – confessou. - Mas não desse jeito.

— Nunca dormiram juntos? Só ficavam se agarrando como adolescentes? É isso? – ela ironizou.

— Realmente nunca dormimos juntos, mas transamos.

Ela bufou e revirou os olhos.

— Não me orgulho disso, okay? – ele foi sincero. - Era só... Eu não sei explicar. Ela era mais velha, bonita e com um casamento de merda. Ela ficava dando em cima de mim e eu só tinha quinze anos. Que garoto da minha idade ia resistir?

— Quinze anos!? – a morena se surpreendeu. - É nojento só de pensar. Deus, você só tinha quinze anos! E a Elena é muito mais velha.

— Eu não pensava assim – ele foi paciente.

Ana balançou a cabeça em indignação.

— Com quinze anos eu sabia exatamente o que estava fazendo, eu sei que você também... Mas ela, ela deveria ter... Ela era muito mais velha e você uma criança praticamente.

— Ana, eu quis – ele foi direto. – Eu sei que você com certeza não quer conversar sobre isso, mas aconteceu e nós dois sabíamos o que era, eu não tinha nada a perder e ela...

— Ela tinha a mim! – a morena disparou. – E um marido. Não é sua culpa, mas... Mas ela só pensou em você.

— Eu era bem egoísta também – ele defendeu.

— Não foi só com quinze - ela acusou.

— Você tem razão. Nós ficamos juntos por alguns anos. Mas era só sexo, não havia nada demais, não havia essa coisa de contar segredos.

— Nada demais? – Ana revirou os olhos.

— É, Ana, não havia nada de sentimentos ou coisa do tipo. Mesmo que Elena fosse bem possessiva sempre – ele confessou. - Eu não gostava dela como você acha. Mas era uma coisa diferente, era como se aquilo me fizesse ter confiança. Eu não precisava pensar em nada, ela decidia por mim e eu queria isso. Eu queria que quando desse alguma coisa errada eu tivesse quem culpar, mas nunca dava. Todas as decisões dela eram as certas. Eu não posso negar que foi por causa dela que eu comecei a Grey Enterprise, foi por causa dela que eu fui para faculdade...

— Enquanto eu estava num internato de freiras, forçando meu corpo a vomitar toda comida que eu ingeria porque ela me fez acreditar que eu nunca seria aceita no mundo se eu tivesse um grama acima do peso normal para ela - a morena falou de forma ácida. – Obrigada por me dizer o quanto a Elena foi incrível para você.

Ele engoliu em seco e desviou o olhar.

— Não, a gente não ficou mais junto depois - confessou. - Eu acabei com tudo depois que... Depois que eu te beijei.

Ana cruzou os braços e tentou controlar a expressão de surpresa, ignorando totalmente as batidas rápidas do coração.

— Eu odiei o que ela fez com você – ele continuou. - Ela me contou depois que eu fiquei questionando sobre a marca em seu rosto, e eu fiquei com tanta raiva que... Eu acabei com tudo. Ela ficou transtornada, saiu querendo quebrar o mundo. Eu só não sabia que ela seria capaz de te mandar mesmo para Inglaterra. Sempre imaginei que Lincoln não fosse deixar – confessou.

— Eu ainda não sei o que ela fez para ele me deixar ir com ela - Ana confessou, sentindo o peito apertar.

Nunca havia entendido porque, seus pais simplesmente haviam desistido de si naquele momento, tanto Linc quanto Elena, e Ana não havia percebido até aquele momento o quanto aquilo havia lhe afetado.

— Bom, ele deixou – sussurrou. – Não foi sua culpa, eu sei que não... Quer dizer, agora eu sei que não – admitiu. – Mas foi bom crescer longe de Elena, ela é tóxica, até a lembrança dela é... Como você não vê isso!?

Christian suspirou.

— Não é possível – Ana balançou a cabeça. – Mesmo que ela seja diferente com você, ela continua sendo a mesma mulher que me mandou para Inglaterra para o Linc não descobrir quem era o amante dela. Sem contar em todas as outras coisas, ela fazia terror psicológico sobre eu não engordar, ter que andar de salto, não sujar a roupa com cinco anos de idade. Você a conhece, mas ainda assim não se importa com a... Loucura dela?

— Não temos mais nada, como eu disse, nunca mais ficamos juntos desde que você foi embora – ele mudou o rumo da conversa drasticamente.

Ana mordeu o lábio inferior e continuou encarando-o nos olhos.

— O que você viu nela? – questionou seriamente. – E mesmo que eu não esteja bêbada você pode responder – descontraiu.

Ele riu sem humor.

— Eu não sei... Acho que nunca vou conseguir responder isso, tinha adrenalina, era errado...

— Podia ter com qualquer uma.

— É – concordou. - Foi tão fácil terminar, e até libertador – refletiu.

— Então não tinha nada a ver com ela.

— Não, podia ser qualquer outra – falou sem remorso ou hesitação, sem um pingo de arrependimento.

Ana encarou o chão, mas sabia que os olhos de Christian continuavam em si.

— Para de me olhar assim, ainda mais depois de falar sobre Elena.

Christian levantou uma das sobrancelhas e ela o encarou.

— Eu ainda te odeio – sussurrou com petulância.

— Você fica fofa dizendo isso – ele respondeu.

— Disse o cara que queria cortar minha maçã – ela rebateu.

— Você é mimada a esse ponto.

Ana abriu a boca, falsamente indignada.

— Bom, eu fico bem bonita quando sou fofa – foi convencida.

— Você é linda o tempo todo – ele disparou no mesmo instante, pegando os dois de surpresa.

Ana voltou a mirar o horizonte agora sem sol.

Não sabia porque, mas de repente receber um elogio daquele tipo era como se jogassem em sua cara o quanto ela foi burra a ponto de fazer o que fez consigo mesma. Ela deveria saber que era bonita, que não precisava ter se machucado daquele jeito. Ela só não sabia como explicar quando, onde foi o ponto em que tudo deixou de ser pela beleza, ou o peso, quando tudo se tornou tão real e pessoal em sua mente que não tinha nada a ver com seu corpo.

— Está tudo bem? – Christian questionou, aproximando-se totalmente, quase tocando nela, quando a garota agora encarava o chão e mordia o lábio inferior com força.

E aí, de repente, sem perceber como começou, uma coisa que não acontecia há muito tempo, aconteceu: o nó na garganta, os olhos cheios d'água, lágrimas prestes a escorrerem por seu rosto. Ela iria chorar?

— Pode me deixar sozinha? – ela pediu, virando-se de costas para ele, a voz difícil e o tom baixo.

— Ana...

— P-por favor - insistiu.

Ele não insistiu mais, apenas a deixou sozinha como queria, um segundo depois tendo a sensação de que aquela era a pior decisão que havia tomado.

Ana respirou o ar profundamente, a cabeça erguida, os olhos no teto, pensando em coisas que não a fariam chorar.

— Amiga - Mia chamou de repente.

Ana bateu o é no chão e respirou pela boca.

— Estou indo - conseguiu dizer.

— Hey, o que houve? - a Grey chegou perto, segurando em seu braço para virá-la para si.

— Nada, tudo bem - respondeu.

Mia arregalou os olhos quando mirou os de Ana, a morena não chorava, mas seus olhos estavam molhados.

— Você estava chorando? - questionou a Grey.

— Não, eu não estava... Eu só... Nada! - Ana se enrolou.

— Você sabe que vai ficar tudo bem, não é? Você vai ver, logo nem vamos lembrar disso – Mia murmurou, puxando-a para um abraço.

— Uhum – Ana sussurrou, deixando ser abraçada, odiando que uma gota escorreu por sua bochecha. – Eu espero que eu não lembre mesmo.

 

×××


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Cap meio bosta, mas vambora



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "50 Tons de Mentiras" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.