50 Tons de Mentiras escrita por Carolina Muniz


Capítulo 20
Capítulo 19


Notas iniciais do capítulo

Oiie, carnavrei e to de volta ♥



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♥ Capítulo 19 ♥

"Será que algum dia vamos dizer as palavras que sentimos? Alcançar no fundo, por baixo, derrubando todas as paredes... Será que alguma vez teremos um final feliz? Ou será que vamos sempre fingir? Que estaremos sempre fingindo..."

— Pretending

➰➰➰

Então Elena não iria doar. Ela não iria salvar sua vida.

Sua VIDA.

Não importava a enxurrada de perguntas que surgiram no cérebro de Ana, prontas para serem disparadas em Elena, ela só conseguia focar no que havia acabado de ouvir.

Sua mãe— a mulher que lhe deu a vida e a colocou no mundo – não iria salvar sua vida.

— Como assim você não pode? Com certeza você é compatível, Elena, então vai fazer isso nem que eu tenha que te amarrar! - Linc vociferou.

— Pai, não precisa disso, está tudo bem - Ana murmurou.

— Eu já disse que não posso doar - a loira foi firme, colocando os braços em volta de si mesma.

Ana - pela primeira vez na vida - via como a mulher estava vulnerável, o que nunca imaginou ver em Elena. A loira sempre fora superior, forte, cheia de si, confiante ao extremo... Ali apenas parecia querer desaparecer no mundo.

— Não é o melhor momento para uma discussão agora - Grace interveio. - Vamos deixar Ana descansar, ela precisa.

Elena foi a primeira a sair do quarto, sem olhar para trás, nunca olhando para Ana.

A morena agradeceu à Grace pelo apoio e o beijo na testa, antes da mulher sair, e então com um olhar pediu a seu pai para não comentar sobre o que acabara de acontecer.

Estava cansada. Extremamente cansada. Queria ir para casa, queria ver Kate, queria dormir e não acordar.

Esperou que seu pai fechasse a porta do quarto e voltou a se deitar na cama, encarando o teto sem realmente vê-lo.

Ana nunca se sentiu no direito de dizer que sua vida era difícil, nem mesmo quando sentia vontade morrer. Ela tinha privilégios demais para ser egoísta ao ponto de dizer até que estava tendo um dia ruim. Mas naquele momento ela não se importou: estava tendo uma vida péssima, era mais do que um dia difícil, era uma tragédia anual.

Infelizmente Ana não foi para casa, e apenas quatro dias depois ela pôde sair do hospital, porém, direto para a mansão dos Lincoln na Boulevard, por mais que insistência de seu pai.

Ana nem conseguia descrever o quão estranho era saber que seus pais estariam na mesma casa pelos próximos dias... E ela estaria com eles. Com certeza que aquilo era apenas para manter as aparências, mesmo separados eles queriam mostrar que Ana era o que realmente importava, seguindo os conselhos dos médicos sobre a família ser de extrema importância naquele momento.

Não foi uma grande coisa, a mansão realmente era de Linc – bem, dos dois, eles nunca haviam se divorciado legalmente.

O Audi SUV preto para em frente a porta principal da mansão, e Ana tentou não sentir nostalgia – ou um sentimento ruim – ao olhar em volta e se lembrar de tudo o que já passou ali dentro.

Seu pai a ajudou a sair do carro enquanto Elena saiu pela outro, a morena seguiu para a porta sem cerimônia, e logo a mesma fora aberta antes que tivesse a chance. Uma mulher baixinha e asiática apareceu em seu campo de visão, um sorriso gentil no rosto vestida com o uniforme de empregada da casa. Não era Tiff, claro, Ana imaginou que ela não estaria mais lá há muito tempo. Sua mãe não era boba, sabia dos casos de seu pai, com certeza.

— Olá, eu sou Clarissa, e a senhorita, é Anastasia, não? – a mulher questionou.

Ana balançou a cabeça e deu um passo para dentro da casa quando a mulher saiu do caminho enquanto falava.

— Ana, essa é nossa governanta – Elena explicou.

— É um prazer – a morena devolveu a mulher e continuou dando seus passos para o hall enquanto seu pai era apresentado também.

A garota olhou em volta quando chegou a sala de estar onde ficava as escadas.

Uau. Ela não entrava ali há muito tempo.

A casa estava diferente, os móveis, as divisórias, as paredes, tudo. De alguma forma, estava mais obscura.

Tudo era cinza e preto, o que destacava de forma um pouco desconfortável para Ana o grande quadro na parede no topo da escada: era Ana numa amplitude desnecessária, ainda pequena, vestida de bailarina.

Ana sempre odiou o balé, mas Elena exigia porque para significava elegância e disciplina. Aquele quadro tão grande só fazia Ana se sentir nas mãos de Elena, sem controle.

Não havia mais fotos, não havia nada de Elena ou Lincoln, nada que dissesse que uma família realmente já morou naquela casa.

A morena engoliu em seco e mexeu no cabelo. Tudo ali tinha uma áurea pesada.

— Por que você não sobe que eu vou mandar Clarissa fazer algo para comer? Descanse um pouco, tome um banho, eu já estou indo - Elena murmurou.

Ana se virou para a mulher e a encarou.

— Sabe, eu não vou morrer, Elena. Vai passar logo - a morena falou.

A loira engoliu em seco e desviou o olhar.

Linc se manteve parado, mexendo ao celular, mas Ana sabia que ele estava prestando atenção.

— Eu sei. Só quero que fique confortável – a loira insistiu.

— Isso não é do seu feitio, o que está querendo? – Ana cruzou os braços.

A mulher voltou a encará-la.

Não era a primeira vez que Ana estava sendo "irredutível" com Elena, que respondia com total indiferença a tudo o que a mulher dizia. Ela havia desistido de verdade.

— Eu entendo que não tenha nenhuma ressalva sobre mim, que nunca te dei motivos para sequer esperar algo bom, mas realmente não quero que nada aconteça com você, é minha filha, de qualquer forma – ela murmurou.

Linc a encarou incrédulo. Os dois com o mesmo pensamento da hipocrisia dela.

Ana sabia que aquela era sua deixa, os dois começariam a discutir em um milésimo de segundo.

A garota semicerrou os olhos, mas não respondeu, apenas se virou para o outro lado e seguiu para as escadas, num sinal claro que eles podiam se matar que ela não estava nem aí.

Seu quarto continuava o mesmo, percebeu assim que abriu a porta branca no fim do corredor, sua mãe não havia o transformado em uma academia ou coisa parecida como achou que ela faria.

Não, ali estava o post gigante dos Jonas Brothers, os livros de romance clichê na prateleira, até suas roupas que ficaram estavam ali, seu manequim e também seu nome em letra de led a cima da cama. O quarto estava limpo de qualquer forma, mesmo que igual há oito anos.

A morena mirou as fotos na escrivaninha, sentindo uma onda de nostalgia quando viu a si mesma vestida de vampira junto a Mia, no Halloween de 2009, quando eram apaixonadas por Edward Cullen. O mural também estava intacto, e provavelmente era o único lugar em que existia uma foto de Elena e Lincoln juntos.

Os dois sempre fizeram um casal elegante, o tipo que parava todos que olhassem apenas pelo ar de dominância e superioridade que passavam, mesmo numa foto você fica vidrado enquanto encara os dois: Lincoln com um terno Armani preto e Elena com um vestido vermelho qual somente ela podia usar e ficar tão deslumbrante, e tinha Ana a frente dos dois, vestindo um conjunto vermelho e branco, botas e um laço no cabelo, ao lado do enorme pinheiro de natal. Ana retirou a foto do mural e a virou.

 

Natal, casa dos Grey, 2004.

 

Era a única foto ali que não havia sido para fins lucrativos como jornais e revistas, que não fosse recortes de matérias ou coisa do tipo. Provavelmente por aquele motivo Ana gostava daquela foto quando era pequena, não importava que ela fosse a única que sorria para a lente. O resto do mural era tomado por fotos com Mia, Grace e Carrick, Elliot e Christian.

Ana sorriu quando mirou uma foto em que só estava ela e os irmãos Grey, havia sido quase uma tarde inteira para aquela foto ficar boa.

Ana já havia feito 13 anos, e Mia caminhava para seus 14, era aquela fase em que se importavam até com um fio de cabelo fora do lugar, o que irritou mais que tudo Christian e Elliot. Foi no dia seguinte ao aniversário de Ana, estavam na piscina da mansão Grey quando Grace chegou trazendo Christian e Elliot para registar uma foto de "todos os seus filhos".

Então lá estava: Ana com um biquíni azul, short jeans claro com os botões abertos, Mia com sua saída de praia cor de rosa, Christian ao lado de Ana com uma das mãos em sua cintura nua - fazendo a garota quase ter um treco com o coração disparado e as bochechas vermelhas - e Elliot ao lado de Mia, de alguma forma conseguindo cutucar a nuca da morena, causando cócegas.

Foi um daqueles momentos que Ana se lembrava dos detalhes, lembrava da cor do céu, da blusa que estava usando antes de tira-la, e se fechasse os olhos e se concentrasse na lembrança, podia até mesmo se lembrar da sensação da água da piscina que logo depois Elliot a havia empurrado.

Como foi que daquela foto sua vida virou aquela realidade?

Ela ainda não havia se deixado pensar, não havia se deixado ir fundo e pensar sobre cirurgias, transplante e sua mãe se recusando.

Ela queria quebrar coisas, queria fazer um escândalo digno, queria gritar com Elena e obriga-la a salvá-la e fazê-la parar de se preocupar com a própria vida em risco. Mas desde quando se pede uma coisa assim? Desde quando se exige algo desse tipo? Mesmo que a vontade inunde nossa alma e a certeza da rejeição destrua você, amor não se implora.

Ana sentiu a garganta fechar como há anos não sentia.

Não podia pensar. Não podia pensar.

Iria desabar caso sequer pensasse em se aprofundar naquilo. Queria mentir e dizer que estava bem, mas aquela desculpa havia se esgotado.

Inspirando profundamente o ar, ignorando seus pais que brigavam lá embaixo, seguiu para o bainheiro enquanto amarrava o cabelo em um coque.

Lavou o rosto e fitou o mesmo no espelho. Havia manchas roxas embaixo de seus olhos, resultado do cansaço, mas as manchas roxas que cobriam sua pele em seus braços e pescoço não tinham nada a ver com aquilo. Não era algo bonito, era horrível, não era ela.

Ana queria se sentir ela mesma novamente, queria desesperadamente voltar ao tempo que era melhor amiga de Mia e sua alegria contagiante a distraía de seus pais. Queria que seus pais não fossem daquele jeito, queria que eles fossem como Carrick e Grace, queria que eles se amassem. Queria não se arrepender de ter dormido com um cara casado na sua primeira vez, queria se arrepender de ter gostado de saber que alguém estava passando por uma traição muito pior do que a que ela passou.

Queria vomitar.

Queria tirar toda sua vida de dentro si enquanto sentia mais e mais ânsias de vômito, machucando sua garganta.

Queria não conseguir escutar a discussão de seus pais estando naquele banheiro.

Queria não ter escutado a frase que Elena gritou aos ventos.

— Eu não posso doar porque não sou a mãe dela!

➰➰➰

 


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Notas finais do capítulo

?? manin
Gente, oi, tão gostando da fic? Teve gente aí que advinhou né!? kkk enfim, sobre o Christian - que logo vai ser mais presente e ele e Ana vão começar a se aproximar - sim, ele e Ana vão terminar juntos, queria dizer de antemão porque sei que alguns não vão gostar disso rs. Mas todos mudam, e essa fanfic é sobre sobre segundas chances, sobre mudanças, sobre como palavras e mentiras podem destruir uma pessoa, sobre como às vezes você pode ter o mundo inteiro te amando mas se uma pessoa específica não gostar de você, é como se o mundo te rejeitasse. É uma fanfic longa, a primeira bem longa que eu faço, por isso os capítulos são grandes, tem muita história enterrada e muita mentira que vai começar a ruir, e eu espero que vocês curtam, eu to me dedicando muito nessa fanfic porque eu estou pensando nela há muito tempo e finalmente estou empenhada em postá-la e escrevê-la.
Até mais, prometo que não demoro ♥ 
xoxo



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