50 Tons de Mentiras escrita por Carolina Muniz


Capítulo 19
Capítulo 18


Notas iniciais do capítulo



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♥ Capítulo 18 ♥

"A vida é o que acontece enquanto estamos fazendo planos."

— Desconhecido

➰➰➰

O que nós somos que fazem os momentos em nossas vidas ou os momentos da nossa vida que nos fazem ser quem somos? Se você pudesse voltar no tempo e mudar apenas uma coisa na sua vida, você mudaria? E se mudasse, será que essa mudança tornaria a sua vida melhor? Ou será que ela acabaria partindo o seu coração? Ou partindo o coração de outra pessoa? Você escolheria um caminho totalmente diferente? Ou você só mudaria uma única coisa? Um único momento? Um momento que você sempre quis ter de volta...

Ana faria. Ela mudaria tudo. Desde o começo.

— Pai, o que está fazendo aqui? – ela questionou confusa enquanto tentava se sentar na cama.

— Calma, meu amor – Linc se levantou rapidamente para ajudar a garota. – Kate me ligou – explicou quando Ana já se mostrava confortável.

A morena bufou.

— Não precisava ter vindo – resmungou.

— Até parece. O que está acontecendo com você?

— Nada – foi rápida. – Foi uma queda de pressão.

— Na verdade, foi muito mais do que isso. Carrick me disse que tinha tanto sangue saindo de você que ele achou que havia se cortado com alguma coisa. Sangue, Ana? Tem noção de como fiquei preocupado quando Kate me contou que você e sua mãe não estavam se dando bem e como isso estava afetando você.

— Eu nunca me dei bem com Elena.

— Ela ainda é sua mãe.

— Não por escolha própria... E nem dela também – ela foi petulante, cruzando os braços.

Linc suspirou, passando a mão pelo rosto.

— Você encontrou com ela? – Ana questionou.

O homem balançou a cabeça.

— Ela está aqui desde cedo.

Ana franziu o cenho.

— Que horas são?

Uma rápida olhada no relógio de pulso fez Linc lhe confirmar serem quase três da tarde.

— Eu dormi muito.

— Quando eu cheguei você estava fazendo uma bateria de exames, sedada.

Ana engoliu em seco.

— Quando chegou?

— Essa madrugada.

A morena mordeu o lábio inferior.

Seu pai estava ali a madrugada inteira, por causa dela apenas. Ela queria não sentir o coração se aquecendo só por uma coisa tão insignificante.

— Achei que ia se esforçar – Linc comentou enquanto se sentava no fim da cama.

Nada daquilo era novidade para Lincoln, Ana passou diversas noites em hospitais por causa de sua alimentação quase zero, já passou dias tomando soro na veio e se alimentando por ele. Ela não gostava de ser furada e de ficar presa em quartos de hospitais, ela não fazia por mal... Mas era tudo tão difícil, e os psicólogos eram sempre tão idiotas.

— Eu me esforço, muito – ela se defendeu.

— Você é tão bonita, filha, não precisa de nada disso – ele reforçou.

Ana desviou o olhar.

Ela queria que aquele fosse o problema, mas não era. Ela já estava com a cabeça ferrada demais para pensar apenas na aparência. Era necessário muito mais do que o convencimento de ser bonita para que ela acabasse com aquela porcaria toda que tinha em sua mente. Seu corpo já havia se acostumado... E ela também. E é difícil você conseguir mudar a rotina em sua vida, mesmo quando é ruim.

— Como está os negócios? – ela mudou drasticamente de assunto.

Linc sorriu forçado.

— Não importante agora. - Ana arregalou os olhos. – Você é o que importa agora?

A morena balançou a cabeça.

Seu pai estava dizendo mesmo aquilo? Seu PAI?

Linc era viciado em trabalho, em ganhar dinheiro, Ana nunca imaginou que o ouviria dizer que qualquer outra coisa no mundo fosse mais importante. Mas ali estava ele colocando-a em primeiro lugar... Pela primeira vez.

Alguma coisa estava muito errada.

— O que está acontecendo, Linc? – questionou seriamente.

O homem desviou o olhar do dela e pegou uma de suas mãos.

— Às vezes eu sinto que tudo é culpa minha, só minha, sabe?

— Culpa de que?

— Olha estamos, Ana, onde você está, aonde chegamos... Eu queria ter feito tudo diferente, mas acho que mesmo se pudesse voltar no tempo... Não teria mudado de verdade.

Ana baixou a cabeça, mirando sua mão que era acariciada pelas do seu pai. Linc nunca a havia tocado mais do que um braço rápido – geralmente quando ele chegava de viagem quando ela era pequena – e uma segurada de mão quando ia atravessar uma rua. Nada mais. Ele não era de toques, nem com Elena, não era de demonstrar sentimentos nem de sorrir o tempo todo. Mas ele sorriu para ela novamente, dessa vez não fora forçado e a fez voltar no tempo, em algum momento que ele havia sorrido da mesma forma para ela.

 

..➰..

— Papai, por que você e a mamãe não dão beijinhos como tio Carrick e a tia Grace? - questionou enquanto sentava-se ao lado do pai na mesa de jantar.

Elena manteve a postura na cadeira, do outro la de Linc e mirou Ana.

A menina havia feito seis anos no dia anterior, ainda estava cansada de tanto que correu e brincou no jardim em sua festa, e mesmo que esfregasse com a esponja ainda tinha tinta pelo corpo e glitter no cabelo.

Ana sempre fora muito esperta, de forma que beirava a petulância muitas vezes e fazia os pais suspirarem de irritação com suas perguntas elaboradas.

— Porque gostamos de ser mais discretos, querida - Linc respondeu.

Ana balançou a cabeça em concordância, concentrando-se em seu prato.

— Mamãe, eu esqueci de contar, meu joelho ficou machucado hoje. Eu caí na aula de balé - a menina bufou discretamente pois odiava dançar.

Elena pegou a taça de vinho e sorriu de forma contida para Ana enquanto dava um gole.

— E você chorou?

A garotinha engoliu em seco o puré de batata em sua garganta e desviou o olhar.

Sua mãe sempre lhe dizia que chorar era errado, que era coisa de criancinha fraca e sem educação. Então ela não podia chorar.

— É que doeu muito, não consegui evitar - foi sincera.

Elena levantou uma das sobrancelhas e continuou encarando a menina.

— Está tudo bem chorar quando não consegue evitar, meu amor – Linc se intrometeu antes que Elena viesse com mais um de seus sermões desnecessários.

Ele se irritava quando a loira começava a tratar Ana como se a menina fosse adulta e se irritava mais ainda quando Ana vinha com suas perguntas de porque a mãe fazia aquilo.

Não o leve a mal, ele amava Ana. Sério, amava, de um jeito torto e um pouco desinteressado, sem paciência, mas amava. Ela era sua filha, estava em seu sistema amá-la. O problema era que ele não gostava de crianças, e Ana era uma criança... Era complicado lidar com aquilo, então ele apenas se mantinha afastado, se intrometendo apenas quando Elena passava dos limites. Fazia seu papel de dar o cartão de crédito na mão da garota e deixa-la ter o que queria, ele sabia que aquilo fazia ele ser seu preferido e de quebra a fazia não questionar muita coisa e não querer irritá-lo com malcriações.

E Ana estava cada vez mais inteligente, mais bonita, o que dava orgulho e superioridade a ele. Gostava de sua filha ser a melhor em tudo.

Ele viu de soslaio Ana tomar um gole de seu suco de laranja e então ela o pegou a encarando, a garotinha limpou os lábios com o guardanapo e lhe sorriu mostrando sua covinha única e suas duas janelinhas na frente pela falta de dente.

Linc não era um homem paciente e muito menos gostava de demonstrar qualquer tipo de sentimento, já havia se convencido até mesmo de não tê-los. Nunca teve com Elena – que fora apenas uma estratégia de marketing para ganhar mais dinheiro, precisava de uma esposa perfeita e arrumou uma. Não esperava por filhos, na época estava quase se divorciando de Elena pois já havia conseguido tudo o que precisava, mas aí a mulher apareceu grávida por algum descuido de anticoncepcional e de repente ele tinha Ana como o centro de tudo, conforme a garota ia crescendo só o deixava mais orgulhoso e arrependido de realmente ter cogitado a ideia de Elena interromper a gravidez.

Era uma coisa estranha que sentia, um aperto no coração toda vez que se lembrava daquilo, que imaginava que podia não ter Ana e suas perguntas elaboradas em sua vida. Sabia que aquilo era porque amava sua filha, todo pai sentiria aquilo em seu lugar. Todo pai sentiria o coração quase explodir só de imaginar que poderia nunca ter aquele sorriso banguela com uma covinha lateral apenas para si.

Mesmo que com o tempo se passando Ana desse cada vez menos aquele sorriso de tirar o fôlego até de seu pai frio e calculista, ainda era a coisa mais importante a se ter. Linc sabia que ela era mais importante mesmo que não conseguisse agir daquela forma, não conseguisse demonstrar.

O que ele não sabia era que Ana tinha apenas seis anos e também estava em seu sistema amar, havia sido programada para amar seus pais, e com um único sorriso que seu pai dera naquele momento para ela, ela já se sentia mais do que importante para ele.

..➰..

 

Ana sabia que provavelmente havia tido mais alguns momentos relances como aqueles, momentos que sentia amada por seu pais e provavelmente teve com sua mãe – mesmo que achasse bem difícil e não conseguisse se lembrar de nenhum. Aqueles momentos aconteceram enquanto ela crescia, apenas momentos de segundos instantes no ar, que ficava em sua mente como um lembrete, porém, eles eram esquecidos também.

Mas ainda assim, em nenhum momento Ana teve seu confessando coisas que nunca havia confessado a ninguém enquanto segurava sua mão com carinho acariciando onde havia duas manchas roxas perto do pulso e nas costas da mão, a morena nem sabia de onde viera... De qualquer forma a garota só conseguia pensar no que podia haver de tão grave para receber aquele tratamento de Linc.

— Está tudo bem, pai? – ela perguntou, o tom sereno e baixo.

Linc não teve tempo de responder, pois uma batida na porta o fez se levantar da cama, soltar a mão de Ana e dizer para quem fosse que entrasse.

Ana se ajeitou na cama, arrumando o cabelo rapidamente, apenas para ter Grace, Elena e o Drº Hasting entrando em seu quarto.

A tensão era tanto que ela nem teve tempo de perceber que era a primeira vez em muitos anos que via seu pai e sua mãe ao mesmo tempo.

— Não é a primeira vez que a senhorita aparece por aqui, não é? – Daniel brincou enquanto fechava a porta atrás de si.

— E isso com certeza não é bom – ela brincou de volta enquanto ganhava um beijo na cabeça dado por Grace.

Todos permaneceram de pé, e sem apresentações, Ana percebeu que todos já se conheciam então, o que fez o doutor não enrolar.

— Como está se sentindo nesse momento? – questionou ele.

— Bem, na verdade. Nem parece que coloquei um litro de sangue para fora do meu corpo sem querer – ela respondeu.

Daniel suspirou e deu um sorriso mínimo.

— Eu peguei seus últimos exames e tive a liberdade de fazer outros. Ana, como eu disse antes, existe um mal funcionamento, não sabia se era algum órgão ou a sua própria alimentação... Fizemos alguns exames mais profundos – ele foi direto.

— E descobriram o que ela tem? – Elena questionou.

O Drº Hasting juntou as mãos uma na outra e tomou uma postura mais ereta.

Ana havia assistido quinze temporadas de Grey's Anatomy, sabia qual era a reação de um médico quando estava prestes a dar uma notícia ruim. E era exatamente o mesmo jeito que Daniel estava agindo naquele momento.

— Ana, eu não vou enrolar, precisamos ser todos diretos aqui – ele começou. - Você está doente – declarou. - Muito doente. O que chamamos de AAG, anemia aplástica grave.

Ana não fazia ideia do que aquilo queria dizer, mas Grace colocando uma das mãos contra a boca em surpresa e os olhos brilhando de repente, queria dizer que era mais grave do que o nome da doença.

— É quando as células do seu sangue não estão funcionando corretamente, e as duas, Ana, estão deterioradas, na linguagem mais cotidiana, o que faz com que seu sangue não tenha todos os componentes necessários, principalmente os leucócitos – Daniel continuou. - Na maior parte dos casos, há um mecanismo imunológico que desencadeia esta alteração medular, como a falta de nutrientes e ferro em seu organismo.

Pronto, ele havia confirmado o que ela já desconfiava: era sua culpa. Fora ela mesma quem fizera aquilo com ela, e mesmo Ana ainda não entendendo toda a gravidade que existia ali, ela já se sentia derrotada.

— Seu corpo está frágil, todo o seu sistema funcional está trabalhando mais do que o normal apenas para você respirar, é como se ele estivesse usando de adrenalina o tempo todo – explicou o médico. – O ideal é começarmos o tratamento imediatamente.

— Claro – Linc confirmou.

Ana entrelaçou as mãos uma na outra e mirou o médico.

— O que eu tenho que fazer quando eu chegar em casa? – questionou quase desinteressada.

Ela sabia que não estava se importando muito com o que o Drº Hasting dizia no momento, mas desconfiava que dali alguns minutos, quando estivesse sozinha, iria sentir o impacto daquela situação, de tudo o que aparentemente estava acontecendo com ela.

— Eu sinto muito, Ana, mas você não vai para casa agora, precisará ficar aqui por alguns dias no mínimo, pelo menos para tentarmos estabilizar até conseguirmos...

— Eu estou bem, não precisa disso tudo – ela interrompeu. - É só eu tomar vitaminas que engordam e pronto. Como sempre - ela resmungou, já pensando que com certeza iria tomar aqueles troços assim que chegasse em casa.

Odiava hospitais.

— Não, Ana, vitaminas não vão funcionar – o médico foi firme. - Suas células estão quase destruídas, por isso o sangramento excessivo. Foi bom ele ter saído, pois poderia ter parado no cérebro, de um jeito bem ruim, você poderia ter um acidente hemorrágico encefálico.

— Não é só comer nutrientes? Você disse que era isso que faltava...

— Eu sinto muito, Ana, seu sangue não está mais produzindo leucócitos, isso quer dizer que não há defesa nenhuma em seu corpo, você não está imune à nada. Você pode pegar um resfriado e ter uma pneumonia – ele murmurou. - O tratamento e única solução aparente é um transplante – declarou.

A morena abriu e fechou a boca.

Transplante – não importava do que fosse – nunca fora uma palavra atraente, e era séria demais, dizia que as coisas estavam tão ruins que precisava ser retirada de você.

— Eu acho que está exagerando um pouco, desculpe, doutor – ela murmurou num tom baixo, o coração de repente batendo mais rápido.

— Marcas roxas na pele sem motivo aparente, grandes hemorragias de repente, cansaço, tontura, dor de cabeça... Não adianta negar, eu sei que você está com todos esses sintomas, Ana – ele falou.

Ana engoliu em seco enquanto mirava as duas manchinhas roxas em sua mão e seu pulso, escondendo-o logo em seguida, tentando não deixar sua mente registrar lembranças de quando sentia umas dores de cabeça insuportáveis e como ficava tonta de repente.

— A medula óssea é responsável de produzir o sangue, as suas células sanguíneas estão em quarentena, você precisa de um transplante alogênico o mais rápido que conseguirmos – Daniel continuou, atraindo novamente a atenção de Ana. - Os riscos principais da AAG são anemia, infecções e sangramentos, você não está imune à nada, Ana – ele ressaltou novamente. - A anemia aplástica quando não é devidamente tratada pode levar à morte devido a infecções em meses – sentenciou, deixando um silêncio pavoroso e desconfortável no quarto.

— E se eu fizer um transplante? – Ana quebrou o silêncio.

— É certo que você irá melhorar – garantiu ele. - O processo de um transplante de medula óssea tem início com testes específicos de compatibilidade, onde serão analisados amostras do sangue do seu sangue e de um possível doador para que se tenha a total compatibilidade entre as partes e a medula não seja rejeitada por seu corpo. Se optar pelo transplante, repito que é a solução que realmente precisa, você será submetida a um tratamento que ataca as células doentes e destruirá a própria medula de vez. Então, receberá a medula sadia como se fosse uma transfusão de sangue, não há dor nem processos desconfortáveis. Uma vez na corrente sanguínea, as células da nova medula irão circular e vão se alojar na medula óssea, onde se desenvolvem, como parte do corpo.

— Parece complexo, qual a porcentagem de compatibilidade? – Linc questionou.

Ele recorreria até ao mercado negro se fosse necessário.

— Infelizmente, não é muita – Daniel respondeu. – Mas a mãe, em noventa e nove porcento das vezes é a melhor doadora.

Elena desviou o olhar para o chão, sentindo todos os outros olhares em si.

— Quando podemos começar a tratar do transplante? – Linc foi rápido.

— Hã, nós precisamos conversar primeiro – Elena falou pela primeira vez, ganhando mais atenção ainda.

Ana a encarou.

Queria ficar sozinha primeiro, queria pensar em tudo aquilo antes de decidir as coisas, queria conversar com Grace, e até com seus pais... Mas alguma coisa lhe dizia que não era por aquele motivo que Elena interrompeu a conversa.

— Claro, eu até aconselho mesmo. Só vamos lembrar que é uma urgência, Ana precisa ser tratada o mais rápido possível – Daniel falou gentilmente, e com mais algumas palavras de incentivo para a morena, ele se retirou da sala.

— Como assim precisamos conversar primeiro? – Linc disparou assim que a porta se fechou.

Elena sentiu a mão de Grace em seu braço, numa tentativa de confortá-la.

— Acho que é necessário para digerir tudo, é bom conversarem com Ana, mesmo que eu ache que o transplante com certeza deve ser feito o mais rápido – falou a Grey.

Ana lhe sorriu minimamente, mas continuou olhando para Elena.

Sabe, não era um rim, não era o fígado ou até o coração, era apenas medula óssea, não faria falta, não causaria uma cicatriz e alguns dias a loira estaria perfeita novamente. Até estranhos doam para estranhos. Por que sua mãe parecia relutante?

Sua vida havia estagnado em questão de minutos, mas Ana estava mais focada em sua mãe que ao menos lhe dignava um olhar após ser indicada a ser doadora. Uma infância inteira sendo guiada por Elena, sendo dominada por ela até na roupa que vestia, e mais uma vez estava sendo dominada por ela. Como ela chegou ao ponto de ter Elena sendo a única que poderia – aparentemente – salvar sua vida? Era uma escolha, uma escolha sobre a vida de Ana... E a decisão estava nas mãos de Elena.

Ana não queria acreditar naquilo, era outra coisa, com certeza. Estava preparada para ouvir Elena dizer que não havia problema algum, que ela doaria sem pensar duas vezes e apenas queria saber se Ana estava bem, como ela estava se sentindo após todas aquelas declarações sobre si mesma. Era o que uma mãe faria. E mesmo com todos os apesares, era o que Ana esperava de Elena.

— Vamos conversar, tudo bem, mas acho que seria mais viável resolver essa questão primeiro, quanto mais cedo melhor – Linc murmurou.

Ana continuou encarando Elena até que a loira falou.

— Eu não posso fazer isso, Ana, não posso doar para você – declarou a mulher.

Dizem que quando você tem um trauma na infância, é muito mais difícil superá-lo do que quando você é já um adulto. Elena sempre fora um "trauma" para Ana, a única pessoa do mundo que a garota sempre quis ser, era a que não gostava dela. Sua própria mãe havia sido seu pior pesadelo. Dizem que quando se é criança e passa por uma situação difícil, você sempre será uma criança em qualquer situação difícil. Ana cresceu, superou sua mãe do jeito que encontrou e seguiu sua vida. Ela não gostava de dizer para si mesma que sempre esperou por Elena, que, no fundo, esperava palavras de desculpas e um olhar de arrependimento. Mas aquelas coisas nunca aconteceram, nunca chegaram.

Não tinha como julgar, Elena era sua mãe - uma péssima mãe, uma pessoa horrível. Mas ainda era ela.

E no íntimo, com as coisas ficando difíceis daquele jeito, era ela quem Ana precisava no fim das contas. Mas era claro que Elena não seria como tinha que ser, podia ser sua mãe, mas ainda era Elena Lincoln.

Se você pudesse voltar no tempo e mudar apenas uma coisa na sua vida, você mudaria? Você escolheria um caminho totalmente diferente? Ou você só mudaria uma única coisa? Um único momento? Um momento que você sempre quis ter de volta...

Elena faria. Ela mudaria tudo. Desde o começo.

E ali, a loira provavelmente não sabia, Elena sequer desconfiava da tragédia que aconteceu no segundo instante, mas naquele momento - finalmente - Ana estava desistindo dela.

➰➰➰

 

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Esse capítulo é muuuuuito importante, lembre-se dele sempre, love vocês, até mais.

Obs: voltei rapidin, viu?



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