50 Tons de Mentiras escrita por Carolina Muniz


Capítulo 10
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

Oiiiii!!



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♥ Capítulo 9 ♥

"[...] E ela não quer ir lá fora hoje à noite, e num cachimbo, ela voa para sua terra natal ou vende o amor para outro homem, está muito frio lá fora para os anjos voarem... luvas rasgadas, capa de chuva, tentou nadar e se manter à tona. Um anjo vai morrer coberto de branco, olho fechado e esperando por uma vida melhor. Desta vez, vamos desaparecer hoje à noite, direto, rua abaixo... porque nós estamos sob a direção certa."

Ed Sheeran - The a Team

➰➰➰

 Quatro anos depois 

Christian estava em seu escritório, já era tarde de quinta, nenhuma reunião até às 16h, sua cabeça estava rodando depois de tanto que leu em um único contrato, ainda havia dois em sua mesa.

Ele girou a cadeira para a janela e mirou Seattle aos seus pés. Ele não conseguia tirar aquela manhã de seus pensamentos, quando Mia toda alvoroçada e animada como sempre entrou em seu escritório sem bater e disparou sobre ter encontrada com Ana em Paris, onde estava até ontem a noite.

Ana.

Anastasia Timber.

Não era como se ele tivesse pensado nela nos últimos quatro anos, mas toda vez que via Elena não tinha como evitar – e ele ainda via demais Elena.

O Grey voltou a cadeira para a mesa e suspirou ao olhar a tela do computador. Ainda havia uma aba aberta numa rede social com a conta de Mia, qual ela fez questão de mostrar Ana.

A garota estava tão diferente que ele não acha que a reconheceria na rua se não visse sua foto antes. Os olhos pareciam brilhar de uma forma diferente agora, o sorriso também não era mais tão espontâneo, não havia mais as bochechas gordinhas como antes, tanto que suas covinhas quase não apareciam, mas o que mais havia mudado era o cabelo, de um loiro quase branco, que a fazia parecer mais adulta do que era. Ou talvez era o fato de ela ser realmente adulta agora. Bem, foram oito anos, afinal.

Mais uma vez Christian clicou na aba com o instagram de Mia aberto, e lá estava o perfil de Anastasia Lincoln: americana, vinte anos, signo de virgem, formada em Literatura Inglesa e Grega na faculdade Sorbonne Nouvelle de Paris.

A última foto postada era com a localização de Amsterdã, há duas horas, havia acabado de chegar lá.

Perfeita.

Uma batida na porta o fez se assustar por estar concentrado com a foto, disse um "entre" e observou Andrea colocando apenas a cabeça para dentro de sua sala.

— Reunião em cinco minutos, senhor – a secretária avisou.

— Obrigada, Andrea – ele agradeceu e a mulher se foi novamente.

Olhou novamente para a foto e balançou a cabeça. Era uma confusão sem limites tudo o que Ana representava em sua vida. E ele odiava aquilo.

Mordeu o lábio inferior enquanto rolava a página para outras fotos, se arrependendo logo em seguida ao ver uma que não deve ver antes de uma reunião com tantos homens em volta de uma mesa, saiu do navegador e descansou a tela. Respirando fundo, Christian se concentrou em não pensar em Ana.

Do outro lado do mundo, na capital de Holanda, estava Ana, completamente cansada depois de passar mais de doze horas dançando. Havia acabado de chegar de uma boate - ou melhor, mais uma. Os últimos dias haviam sido assim: boates, bebidas e mais boates.

A quem estamos querendo enganar? Os últimos anos haviam sido assim. Acordava na cama de estranhos, ou em sua própria cama com estranhos. Ela tinha seu próprio apartamento agora. Seu pai finalmente havia parado com aquela bobagem de Ana não poder morar sozinha.

Afinal, ela sempre estava sozinha mesmo.

Mas ter um apartamento não queria dizer muita coisa. Ela não se importava que já havia feito vinte anos - ops, vinte e um desde ontem —, seu pai tinha dinheiro para dar e vender, era claro que ela iria aproveitar aquilo.

Se ela não gastasse, outras mulheres iriam. Sem contar que tudo era dela realmente, ela era a herdeira das Madeireiras Lincoln, e apenas ela.

Então a garota não se importava nem um pouco em gastar milhares de dólares em uma garrafa de Jack Daniels, ou em um mísero vestido que parecia estar faltando pano - como Kate dizia. Nem mesmo em viagens e mais viagens.

Às vezes ligava para o pai dizendo que estava viva.

Eles até que se aproximaram quando foram para o Japão, Ana conheceu seu pai de forma que nunca achou que conheceria, até sabia de algumas coisas que ele gostava agora, ela podia dizer que tinha um pai, mesmo que ele mais ficasse fora de casa do que com ela. Mas Ana cresceu, ela não esperava mais por ninguém.

O negócio é que o jogo havia virado, agora era ele quem esperava sua ligação, era ele quem tinha que pedir para que ela voltasse para casa, mesmo que fosse raro ela voltar.

Naquele momento, Ana estava em Amsterdã, comemorando suas férias da pós-graduação, como se não comemorasse algo todos os dias. Até mesmo o dia da árvore, segundo ela, era digno de ser comemorado com uma longa noite numa das milhares boates de qualquer que fosse o país em que estava. E quase sempre essas noites eram inesquecíveis - e esquecíveis também, regadas à ressaca do dia seguinte.

A garota - agora loira - colocou os saltos - que havia tirado antes mesmo de entrar no táxi - no chão da sala do quarto de hotel. Era até estranho pensar naquela frase.

Chão da sala do quarto...

Ana riu consigo mesma enquanto trancava a porta.

Foi logo tomar um banho, seu corpo implorava por um longo. Mas não deu, tomou um banho rápido e se jogou na cama.

Acordou algumas horas depois, e já havia amanhecido, com o celular tocando, avisando que chegou uma mensagem.

Era de José, um amigo que havia feito na boate há dois dias. E quando ela diz amigo, era apenas amigo mesmo. O cara não deixava escapar, mas era só ele pronunciar uma única palavra que Ana praticamente via a purpurina saindo de seu corpo.

A garota se levantou, com muita preguiça, tomou novamente um banho, colocou um biquíni, se olhou miniciosamente no espelho para ver se o corpo estava realmente bom para usar as peças triangulares e pôs um short e uma regata. Pegou os chinelos brancos no caminho para a porta, e entrou no elevador.

O dia se passou rápido mais uma vez, e à noite Ana estava numa praia, perto do hotel onde estava hospedada. O lugar estava um pouco vazio, não havia pessoas às 00h37min muito dispostas a entrar naquela água gelada. Na verdade, nem mesmo Ana estava. As poucas pessoas - únicas na praia - era ela e seus novos amigos. Kate finalmente havia cedido, e acompanhado Ana em uma viajem, e naquele momento as duas estavam sentadas na areia, recostadas em uma enorme pedra, enquanto os outros, à alguns metros, faziam suas palhaçadas, cantavam, ou até mesmo transavam - esses mais longe e fora de suas vistas, felizmente.

As duas nunca se desgrudaram de verdade, e quatro meses depois que Ana fora embora e Kate terminou os estudos no colégio interno, as duas se reencontraram na Inglaterra, e Ana arrastou a loira para todos os lados que ia com seu pai.

— Você está desenhando de novo? - Kate perguntou, olhando para o caderno que Ana apoiava nos joelhos enquanto riscava quase que naturalmente, como se não precisasse se concentrar para fazer o que queria.

— Uhum – resmungou a garota.

— O que está desenhando?

— Nada demais.

— Me deixa ver - Kate insistiu, pegando Ana de surpresa ao pegar o caderno. - Oh - a loira abriu a boca quando viu.

— O quê? Por que você está com cara de espanto como se eu tivesse atirado em um filhote de cachorro?

— Você está enlouquecendo – declarou Kate.

— Para de ser enxerida e devolve meu caderno - Ana disse, pegando o objeto de volta.

— Fala sério, Ana. Você tem que parar com isso.

— Mas eu não estou fazendo nada.

Kate levantou uma das sobrancelhas e apontou para o caderno.

— Tenho certeza que este caderno está cheio com os mesmos desenhos. Você está tão viciada em fazer isso, que já nem precisa olhar para nada para fazer.

A garota mordeu o lábio e fechou o caderno.

Ela queria parar, sentia necessidade de parar. Mas não conseguia.

Foi amaldiçoada com a arte de desenhar muito cedo. Havia cadernos e mais cadernos cheios de desenhos aleatórios em sua antiga casa, quando ainda era criança. Depois que foi para o colégio interno, nunca mais havia sentido vontade de desenhar. E após sua primeira noite no Japão, há anos, se sentiu quase sufocada ao perceber aquele fato, sem Kate, sem um rumo certo e com um homem que nunca passou mais do que dez minutos sozinhas e não sabia nada sobre – vulga-se seu pai. Viu-se obrigada a fazer qualquer coisa, a riscar nem que fosse um coração. E daí não conseguiu mais parar.

Porém, algo estranho havia acontecido um tempo depois.

Ela havia chegado de uma de suas corridas matutinas quando se deparou com o jornal em cima da mesa, a primeira página estampava o rosto de Christian Grey, ele havia acabado de fazer uma parceria bilionária com uma das maiores empresas do Japão. Depois daquilo seu nome começou a ostentar em um monte de aparelhos que Ana usava naquele país. Apenas seis meses depois ela e seu pai, já junto de Kate, foram embora, mas ela já não conseguia mais parar.

Toda vez que a garota via o sobrenome Grey, o nome da empresa dele, se sentia irritada, com raiva. Era a prova de que ele estava super bem, que não se importava em ter estragado sua vida. Ela começou a desenhar seu rosto, quase que por reflexo, e então queimou a folha, devagar, em sua mão, até sentir o fogo queimar seus dedos, e então soltou.

Naquele momento, havia se sentido melhor, a raiva quase passada. Fez de novo, e de novo e de novo. Até que, de repente, ela apenas desenhava, não conseguia mais queimar as folhas. Já não sentia mais raiva quando se lembrava dele, ou até mesmo quando algum noticiário falava nele. Os desenhos criavam expectativas extremamente irrealistas para si. Mas ela gostava. Era como uma metáfora para escapar de um mundo que não era do jeito que ela queria. Desenhar lhe dava um certo controle. Controle que ela não tinha em sua própria vida. Todas as escolhas eram suas, que lápis usar, que cor...

— Você tem que parar com isso... Na verdade você tem que parar com tudo isso. Você não é assim - Kate começou, e Ana sabia que ela iria fazer aquele discurso novamente. - Você vivi indo para essas baladas esquisitas que só tem gente doida, fica bêbada, dorme com homens estranhos... Isso é perigoso, Ana. Ah, não quero nem pensar em algo acontecendo com você, mas nós duas sabemos que alguma hora... - sua longa fala foi interrompida pelo celular de Ana.

A garota o pegou em cima da areia e olhou para a tela do visor.

Mia.

Ana franziu a sobrancelha quando viu o nome da amiga. Elas haviam recuperado o contato há alguns meses, quando sem querer haviam se esbarrado no aeroporto de Paris. Mia só faltou pular de alegria quando viu a menina, trocaram contato, e desde então Mia fez Ana passar quase um dia inteiro falando sobre sua vida.

Uma coisa Ana havia aprendido com toda aquela bagunça: mentir.

Desde que começou, com treze anos, dizendo a todos que apenas havia caído na festa de caridade aquela noite, não conseguiu mais parar. E com o tempo não se sentia mais mal por mentir. Era algo natural, podia mentir por horas e apenas ficava mais empolgada. Então foi fácil mentir para Mia. Foi fácil lhe contar uma história feliz sobre uma garota que foi para um colégio interno, e o quanto ela gostou de lá, e depois foi morar com seu pai no Japão, e então viajava sem parar com ele, e há pouco tempo começou a fazer isso sozinha. Não havia nada melhor para Mia do que ver que Ana estava feliz, assim como não havia nada mais feliz para Ana do que ver que seu jeito para mentiras ainda estava ótimo.

Mia não parava mais de ligar, de mandar mensagens, tentando ao máximo voltar algo que foi quebrado por outras pessoas e elas não tiveram como evitar. Ana não se importava, afinal, elas já foram melhores amigas um dia. E ainda o podiam ser - mesmo que ela não estivesse se esforçando realmente para aquilo. Por isso, atendeu a ligação de Mia mesmo àquela hora da noite.

— Oi, Mia - falou, para o desgosto de Kate.

Kate era uma pessoa em especial que não havia gostado nem um pouco de Mia. Para ela, a Grey era uma patricinha mimada a fim de roubar sua melhor amiga, e uma pessoa desnecessária na vida de Ana que apenas servia para fazê-la se lembrar do que não queria.

— Oi, Ana. Desculpa ligar a essa hora, mas eu vi que você estava online no whats, então resolvi ligar para te contar uma novidade.

— Ah, tudo bem. Fala.

— Então... Ai, meu Deus, eu nem acredito, mas eu vou me casar.

Uau!

— Casar!? – Ana arregalou os olhos.

— Sim.

— Nossa, que incrível. Meus parabéns, eu acho.

Bem, ela não sabia bem o que dizer, e Mia parecia empolgada, mas também abafada, ela não sabia dizer se a garota estava feliz ou não.

— Obrigada. Eu estou tão feliz.

Oh.

— Ah, que bom. Então você quer casar?

— É claro - ela escutou a risada óbvia de Mia.

— Hum, meus parabéns realmente então.

— Bom, eu queria saber se você aceita ser minha madrinha de casamento, né? - ela disse de uma vez.

— O quê!?

— Ah, por favor.

— Hã, Mia, eu não sei... Eu...

— Você não vai recusar, né? Nós fizemos um juramento.

É, elas realmente haviam feito um juramento... Há quinze anos. Tinham apenas seis anos e fizeram aquele juramento de serem as madrinhas uma da outra. Porém, em defesa de Ana, elas também juraram casar com príncipes e morarem juntas num castelo de diamantes como o da Barbie.

Aquelas coisas não iriam acontecer.

Ana mordeu o lábio.

— Mia, é que eu estou em Amsterdã agora – tentou.

— É só você vir para Seattle. Meus pais estão loucos para te ver.

— Eu também estou louca para vê-los.

— Então está combinado. Você pode vir amanhã? Quero logo começar a organizar meu casamento. Ah, eu não consigo parar de sorrir.

Ana sorriu.

Sabia que Mia era louca, a garota já devia ter contado para todo mundo que iria se casar e com certeza não havia deixado ninguém escapar de sua felicidade. Sentia falta dela, daquele jeito espontâneo e meigo. Talvez sentisse falta, pois era assim que era quando pequena, e talvez fosse assim que seria agora se não tivesse visto sua mãe e Christian juntos.

Fechou os olhos com força.

Não queria lembrar daquilo.

— Tudo bem... Eu chego aí na segunda - declarou, logo ouvindo um gritinhos de Mia.

Mais algumas palavras, e finalmente pôde desligar o celular.

— Mia vai se casar - disse para Kate.

— Quem é o azarado?

— Kate! Você tem que conhecê-la melhor para poder julgá-la.

— Fala sério, odeio aquele jeitinho "tô super de bem com a vida" dela.

— Lembra-se do que aprendemos no colégio? Não podemos julgar! Nem parece que suas professoras eram freiras – Ana rebateu.

— Quer falar o que de mim? Olha para onde você me trouxe, Anastasia. Estamos em Amsterdã, numa praia deserta, com pessoas que mal conhecemos, e eu vi seus olhares maliciosos para o garoto do mortal na piscina do hotel. Sem contar nos palavrões que você disse enquanto estávamos esperando o elevador, ou naquele que você disse quando a areia entrou no seu biquíni. Ah, e naquela hora em que...

— Entendi, entendi - a garota se rendeu.

— Que bom que entendeu.

Kate jogou a cabeça para trás e esticou as pernas, logo fazendo careta quando sentiu a areia lhe incomodar.

— Poxa, podíamos estar de boa, fazendo uma maratona de série, mas não, estamos aqui, com você olhando para o Sr. Exibido, e eu com areia entrando no biquíni... E é na parte de trás - reclamou, tentando disfarçadamente mexer na calcinha do biquíni por baixo da saída de praia, tentando tirar a maldita areia.

Anastasia riu e se levantou.

— Aonde você vai? - Kate perguntou.

— Bom, vou terminar minha noite, não me espere acordada - falou e se virou.

Kate entendeu o sentido da frase quando viu a morena puxando conversa com o mesmo cara que havia trocado olhares maliciosos o dia inteiro.

 

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Notas finais do capítulo

Instagram da Ana: anarlin97 - sigam lá se puderem, obrigada

Então, o que acharam da Ana???? O que vai acontecer quando ela encontrar com Christian? E com Elena???? Só sei q não vai demorar e não sei de mais nada...
XOXO