Mais que Um Granger escrita por ferporcel


Capítulo 24
Capítulo 24 - Precisando Mais Que Um Nome


Notas iniciais do capítulo

Capítulo vinte e quatro! Nathan sente o que é ser um Snape, e Hermione quer que as reuniões de família continuem.



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Capítulo 24: Precisando Mais que um Nome

Nathan tentava seguir o conselho do Prof. Lupin e seguir com sua vida. Ele encontrara o professor quando subia de volta para a Torre da Grifinória depois do encontro de domingo, e Lupin perguntara como foram as coisas, parecendo genuinamente interessado, então Nathan lhe dissera. O Prof. Lupin era alguém em quem Nathan estava começando a confiar com essas coisas, e o encontro agendado de quarta-feira o deixou precisando de conselhos, então por que não o Prof. Lupin? Ajudou. Talvez o jantar anterior tivesse alguma coisa a ver com isso também, já que fora tão desconfortável para todos os três e não só para o Nathan. Ele tinha percebido, com a ajuda do Prof. Lupin, que as coisas não poderiam ficar pior do que já estavam, de certa forma. O Prof. Snape ainda era o velho Prof. Snape de sempre. Sua mãe ainda era a mesma mãe amorosa e atenciosa que sempre fora, mesmo que um pouco mais ansiosa e preocupada que o normal. Surpreendentemente, ele era o mesmo menino que sempre fora, também. Até o Andy estava agindo igual.

Nathan tinha se preocupado por nada, ou por quase nada. O resto da escola ainda agia como se as coisas tivessem mudado, bem como ele pensara que tinham. Eles estavam errados, agora ele sabia. Está bem, não totalmente errados, tinha que admitir. Ele agora tinha um pai que todos conheciam, e isso mudava algumas coisas. Mas pensando mais claramente, Nathan estava certo que isso não poderia ser tão diferente de todas as vezes que as pessoas descobriram que ele não conhecia o pai, ou poderia ser ainda melhor agora, porque não ter um pai era pior que ter o Prof. Snape como pai, muito pior. Nathan estava certo que as coisas só poderiam melhorar de agora em diante, e isso era um alívio.

Foi dormir tarde no domingo, mas dormira tão bem como não o fazia há algum tempo. Acordara descansado e pronto para a primeira semana do resto da sua vida. A aula de Poções de segunda-feira agiria a seu favor, Nathan tinha certeza. Confirmando suas crenças, o Prof. Snape discursou, fez perguntas; eles foram designados a preparar uma poção e pedidos para entregar um frasco para avaliação, assim como na maioria das aulas anteriores. Nathan podia sentir o nível de expectativa entre os outros alunos, especialmente os sonserinos, mas sabia que seu pai não agiria nem um pouco diferente agora de como já agira em todas as aulas anteriores; o Prof. Snape já provara isso em outras ocasiões.

Obrigado, Prof. Snape – Nathan pensou depois que foram dispensados, porque depois da aula, Jose veio falar com ele.

– Ele ainda não lhe deu nenhum ponto por responder aquela pergunta.

– Eu não esperaria que ele me desse – Nathan respondeu.

– Ele nem falou com você depois da aula – Jose acrescentou, parecendo intrigada com a ocorrência.

– Não havia nada a ser dito. – Nathan deu de ombros, sorrindo por dentro. – Você parece surpresa com isso.

– Bem, ele é o seu pai, não é? – Jose lhe disse. – Pensei que... eu sei lá... que talvez ele seria... bonzinho com você.

Nathan realmente sorriu com aquilo e começou a rir – uma risada de verdade. Jose parecia ainda mais confusa, e Nathan achou melhor explicar.

– O Prof. Snape ainda é o Prof. Snape, Jose, especialmente durante as aulas. Ele nunca foi bonzinho, por que começaria a ser agora? – Ele balançou a cabeça para enfatizar o absurdo da idéia.

– Eu só pensei...

– Nada mudou. Acho que estamos nos atrasando para a aula de Defesa – Nathan disse, e eles seguiram para a próxima aula do dia.

Durante o almoço, Andy quis saber detalhes sobre o jantar de domingo. Nathan lhe contou algumas coisas que aconteceram, explicando o colar. Andy aprovou sua decisão de usá-lo novamente, mas Kevin, embora permanecesse por perto para as refeições e a maioria das aulas, ainda estava desconfortável com a situação, e sua oposição a Nathan usar o colar ficou bem evidente.

– O Snape está espionando você através dessa coisa – ele disse.

– Não está. Ele está tomando conta de mim, é diferente, Kevin – Nathan sentiu a necessidade de retrucar, defendendo o pai.

– Bem, se o que você disse para a Jose depois de Poções hoje for verdade e nada mudou, o Snape só pode estar espionando você.

– O Prof. Snape tem tomado conta de mim, ou ainda melhor, de todos nós desde o dia que colocamos o pé neste castelo. Você se esquece que ele me salvou bem antes desse negócio de pai acontecer?

Andy assentia com a cabeça. Kevin não disse mais nada contra aquele argumento. Não que ele pudesse negar o que Nathan disse mesmo.

E mais grifinórios relaxaram perto do Nathan também. Parecia que Jose e Andy tinham alguma influência afinal. É claro, não falavam mais dos professores quando o Nathan estava por perto, e ele só sabia disso porque eles não eram muito cuidadosos com quem ouvia ou não suas conversas na sala comunal. Nathan até os pegou falando dele uma ou duas vezes, mas embora essa fosse uma mudança chata, ele conseguia não se importar tanto assim.

Reler os arquivos poderia ter sido um dos fatores que contribuíram para essa mudança de atitude também. Tendo o encontro de quarta-feira o assombrando, Nathan reaveu os rolos de pergaminho que escrevera meses atrás quando pesquisava sobre a vida de Snape por qualquer segredo obscuro que faria o homem dizer quem era o seu pai.

Quanta ironia.

Na época, Nathan tinha dois conjuntos de pergaminhos: os arquivos Snape e os arquivos Pai. Acabou que ele não precisava ter feito os dois em separado.

Irônico mesmo.

Mas foi que bom que ele os fez em diferentes pergaminhos na época. Agora ele podia olhar para eles com uma nova perspectiva. Era intrigante confrontar o que as pessoas disseram do seu pai e o que ele descobrira sobre o Prof. Snape através da pesquisa. Se alguém lesse as descrições e os fatos sem saber que eram relativos ao mesmo bruxo, ninguém adivinharia. Talvez a parte sobre seu pai ser um homem determinado fosse condizente com o papel que o Prof. Snape desempenhara na guerra, embora ser considerado como um amigo por Alvo Dumbledore... Aquilo ainda era bem surpreendente e, também, uma grande contradição.

Nathan estava curioso para saber como aquelas peças se encaixariam no mesmo quebra-cabeça. Quem era o Prof. Snape? Quem era o seu pai? Como essas duas pessoas se fundiriam numa só? Nathan não conseguia descobrir ainda. Sim, reunir-se com ele fora da sala de aula era estranho e extremamente irritante, mas talvez isso o ajudasse a montar o quebra-cabeça. Sua mãe dissera que ele conheceria seu pai agora, que os encontros não seriam detenções, mas oportunidades de terem um tempo proveitoso juntos. Nathan ainda não sabia como aquilo era possível, mas podia ver alguns benefícios nas temidas reuniões agora.

E a quarta-feira chegou. Independente dos dois dias de aparente normalidade, Nathan estava nervoso quando bateu à porta do escritório do mestre de Poções.

– Entre.

– Boa noite, Prof. Snape.

– Boa noite.

Aquilo era novidade. O Prof. Snape nunca respondera um de seus cumprimentos com palavras de verdade. Mas ele não havia tirado os olhos dos pergaminhos que aparentemente corrigia. Nathan chegou mais perto da mesa que o homem ocupava para espiar. Sim, aquele frasco de tinta vermelha não podia ser para mais nada além de correções. Nathan esperou até que o Prof. Snape terminasse e descansasse a pena na mesa. O homem entrelaçou os dedos e colocou as mãos na mesma mesa, olhando para o Nathan, que levantou os olhos das mãos do homem para o rosto dele.

Eles se encararam por um breve momento, e o Prof. Snape olhou brevemente para baixo. Nathan seguiu seu olhar para o colar.

– Está azul – Nathan declarou, olhando de volta para o seu pai.

– Eu posso ver isso.

– O que significa que eu não estou metido em confusão – Nathan acrescentou.

A expressão de Snape era difícil de interpretar. Ele se levantou da cadeira e deu a volta na mesa, parando ao lado de Nathan. Eles travaram olhares novamente antes do Prof. Snape dizer:

– Venha.

Nathan seguiu o pai para fora do escritório e pelo corredor rumo aos aposentos do professor. Na pequena caminhada, eles cruzaram com alguns sonserinos voltando para sua sala comunal, e Nathan sentiu olhos implacáveis sobre ele, um par demorando-se mais – o de Malfoy.

O Prof. Snape abriu a porta e Nathan seguiu rapidamente para dentro. Ele suspirou quando a porta se fechou atrás dele.

– Intimidado, é? – o Prof. Snape perguntou.

– Não – Nathan respondeu como reflexo da acusação. Ele não estava intimidado, estava? Era só a inquietação de ser observado. – Eu não gosto da atenção – acrescentou, olhando para todos os lugares menos para o homem ao seu lado.

– É claro.

O Prof. Snape seguiu para acender um fogo na lareira, iluminando mais a sala. Quando ele continuou até a mesa num canto e pôs-se a inspecionar alguns livros, Nathan perguntou, ainda parado perto da porta:

– Por que você me trouxe aqui?

O Prof. Snape não desviou os olhos do que fazia.

– Sua mãe achou que talvez você quisesse ver meus livros.

Mamãe, é claro – Nathan pensou. Ele tirou os olhos do pai e olhou em volta, prestando mais atenção nas paredes cobertas de livros. Nathan aproximou-se da estante mais próxima e correu os olhos pelos volumes, lendo um título aqui e lá. O primeiro grupo de livros era relacionado a Poções. Eram livros-textos básicos, avançados, livros sobre poções para um ou outro fim específico, e iam até os limiares da Herbologia com volumes sobre o uso de plantas em poções. Aquilo foi tudo que encontrou na parede menor ao lado da porta por onde entraram.

Nathan arriscou um olhar para o Prof. Snape e o viu em pé, inclinado sobre a mesa, escrevendo alguma coisa. Nathan avançou para a próxima parede de livros. Era difícil ler o título de alguns volumes, especialmente daqueles na prateleira superior, mas não era tão difícil deduzir que eles ainda eram sobre o preparo de poções, embora agora eles pendessem para Feitiços. Logo eles eram exclusivamente sobre feitiços, encantamentos, maldições e contra-maldições... Alguns eram no mínimo eticamente duvidosos, tais como Amaldiçoe Seu Inimigo e Lutando com Magia – Maldições e Contra-maldições. Essa estante acabava numa porta, a mesma porta que o Prof. Snape usara no domingo.

Nathan podia ver o Prof. Snape ainda ocupado com suas coisas e foi até os livros do outro lado do vão da porta. Havia mais sobre maldições e contra-maldições, embora agora, estavam entre os livros sobre criaturas das Trevas. Nathan imaginou por que havia tantos livros sobre lobisomens.

Agora os títulos ficavam mais difíceis de ler; alguns estavam apagados por completo, outros em línguas que Nathan não conhecia. Intrigante e cativante, Nathan achou, e sua curiosidade estava aguçada. Ele avançou e viu livros que eram definitivamente das Trevas. Manipulando com Mágica, Azarações e Maldições Irreversíveis, mais livros que ele não conseguia ler o título, Capturando Almas, Encantando o Sangue, Poções Dolorosas, Escravidão e Dominância por Magia de Sangue...

Até os trouxas sabiam que magia de sangue era algo a ser temido, havia filmes sobre isso. Nathan imaginou o quanto ela realmente era poderosa...

Maldições de Tortura...

Será que o seu pai já lançara a Maldição Cruciatus? Provavelmente. Nathan lembrou de tudo que sabia sobre o Prof. Snape e decidiu que ele definitivamente lançara Imperdoáveis mais de uma vez.

Parentes de Sangue e Azarações Relacionadas...

Azarando membros da família? Por que alguém iria querer azarar um parente? Será que aquele livro era sobre isso? Nathan estendeu a mão para pegá-lo.

– Esses livros não são para você.

Nathan se assustou e virou-se para encarar o pai, recolhendo a mão. Como ele chegou aqui? Ele estava ao lado da mesa agora mesmo.

– A não ser que deseje me matar – seu pai acrescentou.

Nathan olhou fixamente para ele com os olhos arregalados. O Prof. Snape devolveu o olhar, nada evidente na sua expressão. Nathan balançou a cabeça em negação e baixou os olhos. Quando seu pai não disse nada, mas apenas continuou onde estava, Nathan sentiu que ele esperava alguma coisa dele.

– Eu não sabia sobre o que era o livro, professor – Nathan tentou.

– Você já foi mais convincente nas suas mentiras antes.

Eu não estou mentindo! Ele levantou os olhos para o rosto do pai.

– É verdade – afirmou.

– Esta foi quase convincente.

Nathan fechou as mãos em punhos.

– Você me disse que eu podia olhar os livros.

– Esses são livros de Arte das Trevas.

– Eu sei, professor – Nathan respondeu à pergunta não feita.

– De todos os livros que eu tenho aqui, o único que você quis pegar foi este, Sr. Granger. É isso o que você quer? Tornar-se um bruxo das Trevas? – seu pai perguntou; o rosto impenetrável, mesmo com a acusação presente em suas palavras.

– Bem, você é um bruxo das Trevas, não é? – Nathan retrucou defensivamente.

Os olhos do seu pai mudaram, e o Prof. Snape endireitou os ombros.

– Você deveria ir para a sua sala comunal – ele disse, dispensando-o.

– Você sempre me manda embora. Por que sequer ainda nos importamos com essas reuniões? – Nathan disse frustrado.

Ele se virou para sair e estava no meio do caminho quando...

– Nathan.

Ele prendeu a respiração. Nathan? Não Sr. Granger? Ele não ousou olhar para trás, nem seguir adiante.

– Como você gosta do seu chá?

Chá? Nathan olhou sobre o ombro para o seu pai, sem acreditar no que ouvia. O Prof. Snape sustentou seu olhar por um momento e depois prosseguiu transfigurando um serviço de chá numa mesinha de canto. Nathan se virou totalmente, observando o trabalho dele com a varinha.

– Leite e açúcar – ele finalmente respondeu, andando até o sofá.

O Prof. Snape colocou o preparado em duas xícaras e acrescentou leite e açúcar a uma delas, a qual entregou ao Nathan.

– Obrigado, professor. – Nathan aceitou a xícara quente, ainda um pouco confuso com o que estava acontecendo. O Prof. Snape pegou a outra xícara e se acomodou numa poltrona. Nathan se sentou no sofá e tomou um gole do chá simplesmente para ter o que fazer.

O Prof. Snape olhou fixamente para ele sobre a sua xícara. Seus olhares se travaram, e Nathan tomou outro gole antes de dizer:

– Nós temos os mesmo olhos.

Os olhos do seu pai nunca deixaram os dele enquanto ele tomava um, dois goles antes de concordar:

– Temos mesmo.

– E o mesmo cabelo – Nathan acrescentou. Aquela conversa estava fazendo coisas com seu estômago, e ele sabia que não tinha nada a ver com o chá.

– A cor, talvez – Prof. Snape disse.

– Não é só a cor. – Nathan arriscou um meio-sorriso. Seu cabelo ficava oleoso mais rápido que o normal.

Eles terminaram o chá num silêncio amigável. Nathan achou que esse fora o chá mais quente que tomara em Hogwarts, ou ele se sentia mais quente por razões que não conseguia entender completamente. Tudo que ele sabia era que não queria que esse momento acabasse ainda. Sorriu para a lareira.

– Talvez nós tenhamos mais coisas em comum que ainda não sabemos.

– Por que você iria querer isso? – seu pai perguntou.

Nathan deu de ombros e então olhou para ele.

– Você acha que um dia eu serei tão bom em preparar poções como você?

O Prof. Snape o considerou.

– Se você se aplicar...

Nathan sorriu para ele.

– E um duelista?

– Eu nunca vi você lançar mais que Alohomoha e feitiços de aquecimento e resfriamento – o Prof. Snape lhe disse.

– Eu posso levitar coisas. Fui o primeiro a fazer isso na minha turma, na verdade. O Prof. Flitwick disse que eu sou nato. – Nathan sorriu abertamente. – Posso lhe mostrar – disse ao pai, tirando a varinha do bolso.

Nathan endireitou os ombros e balançou a varinha.

Vingardium Leviosa – entoou perfeitamente, e a xícara vazia flutuou no ar.

– Olhe para mim – seu pai chamou.

Nathan o fez, e a xícara que flutuava quebrou no chão de pedra. Ele olhou de volta para ela, franzindo a testa, embaraçado com seu fracasso. O Prof. Snape lançou feitiços silenciosos e a xícara estava inteira e na mesinha novamente.

– Quando aprender um feitiço, tente lançá-lo em diferentes circunstâncias, tais como perder o contato visual com o alvo. Há mais sobre Feitiços e Defesa Contra as Artes das Trevas do que os professores dizem nas aulas. – O Prof. Snape se levantou. – Venha, vou levá-lo para a sua sala comunal.

– Eu sei o caminho, professor – Nathan lhe assegurou. – Boa noite. – Ele assentiu sem encarar o Prof. Snape, ainda embaraçado, e virou-se para a porta.

*-*-*-*

O fogo queimando na lareira do escritório de Severo ficou verde e a cabeça flutuante da Diretora apareceu ali.

– Severo – ela chamou.

– Minerva – ele respondeu com um aceno de cabeça.

– Draco Malfoy está aqui comigo e deseja vê-lo.

Severo franziu a testa.

– Mande-o para cá.

A cabeça de Minerva desapareceu, e logo Draco estava em pé no seu escritório, limpando as cinzas do casaco.

– Boa tarde, Severo.

– Draco. – Severo assentiu. – Aceita uma bebida?

– Chá seria bom – o homem loiro respondeu, tomando lugar numa das poltronas.

Severo conjurou o serviço de chá e ofereceu uma xícara cheia para seu visitante inesperado. Tomando seu lugar atrás da mesa, perguntou:

– O que o traz a Hogwarts? – Pegou uma xícara para si.

Draco bebeu do chá quente e descansou a xícara na mesa de Severo antes de responder:

– O menino Granger.

Severo não estava surpreso.

– O que tem ele?

– Devo chamá-lo de menino Snape? – Draco provocou quase acusadoramente.

– O nome dele é Granger – Severo respondeu.

– Mas é de conhecimento geral que ele também é um Snape. Você não negou isso.

– Não, eu não neguei. – Severo viu os olhos de Draco se estreitarem. – Isso não muda o fato dele ser um Granger.

– Por que ela, Severo? Por que a ajudante insuportável do Potter? Posso entender seu desejo de querer esconder um relacionamento desses do mundo bruxo, mas escondê-lo de mim...?

– Não houve nenhum relacionamento – Severo respondeu irritado. – E de onde você tirou a idéia de que você era o meu confidente?

– Você tem um filho da idade do Devon!

– Ele é mais velho que o Devon.

Draco pensou nas implicações daquilo.

– Você usou a Granger durante a guerra.

Severo não discordaria daquilo. Ele a usara, e a guerra estava a toda naquela ocasião.

– Por que você não lançou um encanto de contracepção?

A mesma pergunta que ele fizera a si mesmo inúmeras vezes desde o dia que percebera que os olhos negros do menino espelhavam os seus. Severo ainda não tinha uma resposta para aquilo, então manteve-se em silêncio.

– Você nunca o reconheceu em todos esses anos, por que agora? – Draco continuou interrogando.

– Ele ainda é um Granger.

– Devon me contou que você se encontra com eles regularmente.

Por que a insistência? – Severo pensou.

– O que você quer, Draco?

– Quero saber por que você tem um filho e eu sou o último a saber! – A cara feia de Draco não exaltava suas feições aristocráticas. – Você é o único amigo que eu tenho. Confio em você com a minha vida. Confiei a você o meu melhor, o meu filho! Você sabe o quanto isso significa para mim. – Draco ficou em pé e andava de um lado para o outro em frente à mesa.

– E você acha que eu traí essa confiança – Severo terminou. – Eu não traí, Draco.

Seus olhares se travaram, avaliando. Draco parecia quase que com medo de que ele não estivesse falando a verdade. Severo sustentou seu olhar amedrontado e bravo com firmeza respeitável. O cinza dos olhos de Draco se ocultou por trás das pálpebras quando foram fechados dolorosamente numa carranca.

– Eu teria gostado de conhecer o seu filho, Severo, independente da mãe – Draco confessou.

Severo deu um riso curto. Quando Draco abriu os olhos e olhou para ele, disse:

– E eu também.

– Não tente me iludir, Severo.

– Não estou tentando iludi-lo. Eu não sabia que tinha um filho até recentemente; a Granger o escondeu de mim, aquela estúpida! – Severo deixou o desprezo colorir sua voz e viu a surpresa no rosto do Draco. – Alguns meses atrás, quando o menino me disse que não conhecia o pai, eu o examinei e descobri. – Deixou sua raiva com tal situação aparecer, e o bruxo loiro assentiu com a cabeça depois de olhar diretamente nos seus olhos por um tempo.

– Vou matar a Granger quando a vir – Draco disse, caindo de novo na poltrona.

Severo apreciou o sentimento, mas não como em meses atrás. Não, ele não estava a ponto de perdoá-la pelo que ela fez, mas não precisava vê-la morta para se sentir vingado. Ela criara o Nathan, ficou com ele quando Severo sabia que não o teria, e... Severo gostava do menino.

O silêncio contemplativo foi quebrado por Draco:

– Eu conheci o menino no Beco Diagonal, quando estava comprando os equipamentos do Devon. Acho que ele não sabia quem eu era.

– Acho que ele não sabia na época – Severo concordou. – Ela o criou no mundo trouxa.

– Sinto muito, Severo – Draco disse com pesar genuíno. – Você não merecia isso.

Severo balançou a cabeça. Draco era um sangue puro e nunca entenderia os trouxas e seu mundo. Era inútil tentar convencê-lo de que ser criado entre trouxas não era a prior coisa que podia acontecer para um bruxo. Draco não acreditava mais na pureza do sangue, mas aquilo também não significava que ele era um amante dos trouxas.

– Gostaria de conhecê-lo propriamente um dia desses. A Granger o estragou a ponto de não ter conserto? Devon me contou que ele é um grifinório, o que já é prejuízo suficiente – Draco comentou.

– Eu mesmo – Severo hesitou, não esperara aquilo de Draco – ainda estou conhecendo ele.

Draco assentiu.

– O jantar está sendo servido no Salão Principal, vai se juntar a mim? – Severo perguntou, tentando se livrar do momento desconfortável, levantando-se para sair.

– Terei que recusar seu convite. A Pansy está me esperando. – Draco se levantou também e estendeu uma mão para Severo, que aceitou a cortesia, apertando-a. – Acompanho você até o Salão Principal; quero ver Devon antes de ir.

Foi a vez de Severo assentir com a cabeça, e eles seguiram para o Salão Principal.

*-*-*-*

Hermione abriu a porta do seu apartamento.

– Harry?

– Eu sei que é um pouco tarde para uma visita, mas não podemos nos encontrar nos finais de semana e eu trabalho até tarde – ele começou se desculpando.

Hermione estava surpresa pela visita. Da última vez que ela vira Harry, estava muito brava com ele e palavras duras foram ditas. Não que ela se sentisse envergonhada pelas coisas que dissera ao seu melhor amigo no momento de raiva, que fique claro, e ela não estava a ponto de se desculpar. De certa forma, Hermione sabia que Harry não estava ali procurando uma desculpa, ou mesmo explicações, e aquilo era o que a surpreendia no fato dele procurar por ela.

Ela o deixou entrar e juntou-se a ele no sofá.

– O que o traz aqui, Harry? – Hermione perguntou sem perder tempos com gracejos.

Harry respirou fundo.

– Estou preocupado com o Nathan. Como ele está? – ele perguntou, e Hermione sabia que era o coração dele perguntando.

– Ele está bem – ela respondeu. – Estamos tentando resolver as coisas depois da confusão que você armou; vamos conseguir... eventualmente. – A última palavra saiu numa voz bem mais baixa.

O jantar de domingo deixou Hermione preocupada com quanto tempo ela levaria para consertar todo o estrago feito ao Nathan. O relacionamento dele com Severo estava mais frágil e ressentido, muito mais do que ela achou que estivesse.

– Sinto muito, Hermione. Eu...

Hermione interrompeu a procura de Harry por novas palavras de desculpas:

– Há mais alguma coisa que você deseja falar?

Harry desviou os olhos para o colo, visivelmente desconfortável com a resposta “direto ao assunto” dela para a sua visita.

– Skeeter vai recuar nas investigações do caso do Nathan.

– Ela não será demitida por usar o que ouviu de você sem sua autorização? – Hermione perguntou indignada.

– Não – Harry confirmou, mostrando sua irritação no seu tom. – Aparentemente, publicar informação não autorizada não é considerado fofoca e especulação quando... – As palavras seguintes que Harry disse foram apressadas e murmuradas.

Hermione não as entendeu.

– O que você disse?

– Elas não são consideradas fofoca e especulação quando a fonte é conhecida. – Ele suspirou. – Eles apontaram que eu era a fonte e que a informação era verdadeira. Ao menos eles concordaram em tirar a Skeeter do caso e em não publicar mais nada sobre o Nathan se eu... – Harry suspirou novamente – escrever uma coluna semanal sobre quadribol durante a temporada deste ano e... concordasse em conceder uma entrevista exclusiva a Skeeter.

– E você concordou, é claro – Hermione pressionou.

Harry parecia visivelmente magoado.

– É claro.

Hermione sorriu.

– É o que você merece por se meter na vida dos outros.

– Sinto muito, Hermione. – Harry tinha uma expressão de dor no rosto.

Hermione suspirou.

– Eu sei que sente, mas eu ainda estou brava com você.

– O que eu posso fazer para melhorar as coisas entre nós? – ele perguntou, implorando.

Hermione trouxe uma mão para esfregar a testa.

– Vá para casa, Harry.

– Por favor, Hermione. Eu amo você, e amo o Nathan. Eu… - Ele fez uma pausa para procurar por palavras. – Eu não estava pensando. Eu nunca tive a intenção de fazer a situação piorar para o Nathan, ou para você. Nunca magoaria você, Hermione. Você é a irmã que eu nunca tive, e você sabe disso. Nathan é mais que um sobrinho seria... – Harry alcançou a mão da Hermione, apertando-a. – Por favor – pediu novamente, olhando fixamente nos olhos dela.

– Eu não odeio você, Harry – ela admitiu suavemente. – Só que neste momento eu não consigo olhar para você e não lembrar da confusão que você armou. – Sua mão foi apertada novamente. – Nathan toma você como exemplo, e você sabe disso. O seu ódio pelo Severo... – Hermione tentou controlar sua irritação antes de completar – não ajuda. Tenho tentado tanto evitar que eles se odeiem esse tempo todo, só para você vir e destruir anos de trabalho!

– Eu não vou me meter novamente – Harry disse, tentando reassegurá-la.

– Mas não vai mesmo! – ela sibilou, um dedo ameaçador direcionado ao Harry. Hermione deu as costas para ele, respirando devagar para se acalmar. Ela queria azará-lo, e isso estava longe de ser confortador.

Um silêncio compressor caiu sobre eles até Harry dizer:

– Eu não sabia o que fazer. De repente, era como se estivesse vivendo um pesadelo. O Snape era o pai do menino doce que é o Nathan... Eu ainda não consigo pensar em você e aquele... sobre como isso é até mesmo possível, pior ainda que seja verdade.

Quando ela não o interrompeu, Harry continuou:

– O Snape me magoou desde o dia em que o conheci. Como eu posso deixar isso acontecer ao Nathan?

– Não vai acontecer. Eu entendo o que você fez, mas isso não muda o fato de eu ter pedido para você não interferir – Hermione o lembrou, olhando Harry nos olhos, mas desviou os seus para o colo quando acrescentou: – Eu sei o que estou fazendo. – Hermione precisava acreditar nas próprias palavras.

– Você dá muito crédito ao Snape.

– Eu dou a Severo o crédito que ele merece. – Ela olhou para o Harry novamente.

– E mesmo assim escondeu o Nathan dele.

– Não fale de coisas que você não entende – Hermione advertiu.

– Por que você faria isso senão por causa do Snape? – Harry insistiu.

– Isso cai na categoria “não é da sua conta”. – Ela olhou feio para o Harry. – E não faça essa cara para mim! Eu ainda estou brava com você. Está tarde, e eu tenho uma reunião de manhã, então se não se importa...

Harry segurou a boca fechada com força e engoliu suas perguntas. Ele foi embora sem outra palavra.

*-*-*-*

Vingardium Leviosa.

Uma colher levitou pela milionésima vez, assim como penas, livros, peças de xadrez haviam feito o dia todo, a semana toda desde quinta-feira. O fracasso do Nathan em levitar a xícara na quarta-feira o levou a uma compulsão pelo feitiço. Em poucos dias ele já o lançava sem olhar para o objeto, mas concentrando-se muito para manter a coisa no ar. Agora, Nathan podia comer ovos mexidos e levitar uma colher, embora esta respondesse à gravidade depois de um tempo.

Ele queria provar para o Prof. Snape que era um bruxo capaz. Ainda era sábado. Ele teria quase o final de semana inteiro para praticar antes de mostrar ao pai o que podia fazer. Era por isso que Nathan ia para a biblioteca sozinho depois do café da manhã ao invés de seguir Andy e Kevin para o campo de quadribol. Ele não tinha tempo para assistir a Grifinória treinar; Nathan tinha o próprio treino para fazer.

Manter o feitiço de levitação enquanto quase que completamente concentrado em outra coisa era complicado, e Nathan ainda tinha problemas com isso. Ler e lançar o feitiço ao mesmo tempo era como ele treinava tal situação. Ele escolheu uma mesa vazia, colocou sua cópia de Hogwarts: Uma História nela e abriu o livro sobre as Guerras dos Duendes que estivera lendo. Segurando a varinha, falou suavemente:

Vingardium Leviosa.

Hogwarts: Uma História subiu vários centímetros da mesa. Satisfeito, Nathan tirou os olhos cuidadosamente do livro flutuante e começou a ler enquanto tentava não se esquecer do que fazia simultaneamente, jamais baixando a varinha.

Várias páginas à frente na leitura, Nathan ainda mantinha o feitiço, até que sua varinha ficou fria, perdendo o calor associado à magia canalizada. Ele ergueu os olhos do livro que lia e surpreendeu-se ao encontrar olhos cinza olhando fixamente para ele. Devon Malfoy segurava o livro que estivera levitando. Como ele chegou aqui? Nathan estivera tão concentrado que ele nem vira o Malfoy se aproximando.

– Esse livro é meu – Nathan declarou.

– A Madame Pince não ficaria feliz se soubesse que você estava judiando dos livros – Malfoy disse.

– Devolva o meu livro – Nathan exigiu, ajustando a varinha na mão.

– Ou o quê? – Malfoy desafiou.

Nathan correu uma lista de azarações na cabeça.

– O que você quer, Malfoy? – ele perguntou, deixando sua irritação aparecer.

– Eu só queria lembrar que eu não me importo com o que as pessoas dizem, você nunca vai ser digno do Prof. Snape.

– E eu não me importo com o que você diz. Agora, devolva o meu livro. – Nathan apontou a varinha para o seu oponente.

– Ele nunca vai levar você a sério, Granger. Você não tem o que é necessário. Você é simplesmente muito patético – Malfoy disse, deixando o livro cair na mesa, o barulho atraindo atenção para eles.

Nathan baixou a varinha sem querer ser pego no ato de quase azarar outro aluno, como acontecera no passado. Malfoy estava a meio caminho da porta quando Nathan mudou sua atenção para ele novamente e suspirou em frustração.

Ele voltou a sua atividade, mas descobriu que não era capaz de se concentrar completamente. Madame Pince olhou irritada para ele na terceira vez que o livro atingiu a mesa, perturbando a biblioteca dela. Aquilo apenas se somou à sua irritação. Nathan não precisava ouvir que não era digno de ser filho do Prof. Snape, especialmente não do Malfoy, que ele sabia que era o afilhado dele. Pensar nas coisas que o Malfoy certamente sabia sobre o seu pai – as quais Nathan não podia sequer começar a imaginar... Ele se sentia indigno mesmo.

Talvez era isso o que o Prof. Snape tentou lhe dizer quando a xícara quebrou. Talvez Nathan não fosse nem esperto o bastante para entender o que ele queria dizer...

Nathan balançou a cabeça para mandar aqueles pensamentos para longe. O Prof. Snape o convidara para tomar chá, até o chamou pelo primeiro nome, disse-lhe que poderia preparar poções tão bem quanto ele um dia.

Nathan era digno e provaria isso.

*-*-*-*

– Severo, por que o Nathan está levitando coisas o tempo todo? – Hermione perguntou depois de responder o aceno de cabeça dele com um “Boa tarde”.

Era sábado e estavam no laboratório. Ela trabalhava no projeto dela, e ele só entrara para pegar alguma coisa da mesa dele ali.

– Ele está? – Severo perguntou como resposta, sem parecer muito interessado, mexendo em uma das pilhas de pergaminhos na mesa.

– Você sabe que sim; você o viu no Salão Principal – ela lhe disse incontestavelmente. – Você sabe por quê?

– Talvez ele esteja praticando – ele sugeriu, sem dar muita importância à questão, ou querendo que ela acreditasse que ele não estava dando importância, ela percebeu.

– Talvez alguma coisa tenha acontecido na quarta-feira – Hermione retrucou com aquilo.

Ele mexeu em outra pilha de pergaminhos e aparentemente encontrou o que viera procurar. Ele se endireitou, um rolo de pergaminho nas mãos, e disse:

– Talvez.

Severo se fora antes que ela pudesse reagir àquilo.

– Homem insuportável – ela amaldiçoou baixinho. Nathan não parara dez minutos para falar direito com ela, deixando-a curiosa sobre o que acontecera na quarta-feira, e agora isso! Hermione balançou a cabeça e tentou não pensar mais naquilo; ela odiava ser deixada no escuro, e os dois sabiam disso.

*-*-*-*

– Mãe, isso é o que eu acho que é? – Nathan perguntou quando Hermione emergiu dos seus aposentos carregando dois livros grandes.

– Sim.

Nathan gemeu, mas Hermione não ligou. Ela planejara aquilo com muito cuidado durante a semana e estava certa que teria um bom resultado.

Logo estavam à porta de Severo, sendo recebidos pelo mestre de Poções em pessoa. Entraram e foram convidados a sentarem-se no sofá.

– Como foi a sua semana? – Hermione perguntou, tentando puxar conversa.

– Cansativa – Severo respondeu simplesmente.

– Lecionar é cansativo – Hermione concordou depois de esperar um momento para ver se ele falaria mais. Ela tinha que se lembrar de ser paciente, senão este jantar acabaria como o da semana passada.

Ela viu Severo olhando para os livros que trouxera com ela como se tentando adivinhar o que eram. Hermione decidiu que era uma boa hora para esclarecer:

– Trouxe algumas fotos. Pensei que poderíamos vê-las antes do jantar.

Nathan suspirou, afundando-se no sofá. Hermione se virou para ele.

– O que tem de tão terrível nisso, afinal?

Ele lhe dispensou “o olhar”. Ela sorriu para ele e virou-se para Severo, que assistia tudo atentamente.

– Acho melhor você se sentar ao meu lado, para que eu possa explicar as fotos – Hermione sugeriu.



Severo hesitou enquanto tentava encontrar uma boa razão para recusar o convite. Não encontrou nenhuma, então teve que concordar. Sentou-se ao lado dela, embora o mais longe que podia.

– Acho que deveríamos começar com o álbum trouxa. O que você acha, Nathan? – Granger perguntou ao filho deles.

– Voto por nenhum – Nathan resmungou como resposta.

Ela simplesmente abriu o primeiro álbum sem comentar a resposta do menino. Três fotos estáticas cobriam a página.

– Estas são as primeiras fotos do Nathan. Meus pais as tiraram quando ainda estávamos no hospital depois dele nascer – ela comentou. – Ele era tão fofinho.

O comentário fofo fez Severo querer revirar os olhos. Nathan não era tão contido...

– Eu não era fofinho. Eu parecia uma Mandrágora.

Severo sorriu com malícia – um sorriso restringido.

– Você era e ainda é muito fofinho – Granger disse, e isso parecia ser uma discussão constante entre eles.

Ela virou a página.

– Aqui nós já estávamos na casa dos meus pais. Ficamos lá com eles durante as primeiras semanas – ela comentou.

Severo achou que Nathan se parecia mais com o bebê fofinho que ela alegava que ele fora. Ele usava um macacãozinho amarelo com um urso e sorria desdentado para a câmera. Ele era tão pequenininho... Na outra foto, Nathan era carregado por Granger e parecia estar dormindo. A expressão no rosto da mulher da foto enquanto olhava para o pacote nos braços só podia ser descrito como de admiração carinhosa. Ela era tão jovem...

Granger virou a página.

– Esta sou eu tentando dar banho nele – disse-lhe divertida. – Ele nunca gostou muito, e sempre foi uma luta. Até hoje – ela acrescentou, obviamente provocando o Nathan.

Severo viu uma Granger bem jovem e molhada tentando segurar um Nathan bem irritado dentro de uma banheirinha. Severo olhava para a foto e começou a se perguntar se teria conseguido realizar a tarefa. Parecia uma bagunça, e ele tinha certeza que não teria querido participar da atividade.

– Já não é humilhação suficiente me mostrar pelado? – Nathan resmungou.

Granger suspirou e virou a página. Nathan perecia mais velho nas fotos agora, e ela também.

– Estas são da festa de primeiro ano dele.

Nem muita gente aparecia nas fotos, mas foi a primeira vez que viu Potter e os Weasley em algumas delas. Nathan parecia feliz nos braços do Potter; estavam todos sorrindo. Deixando Potter de lado, Severo ficou feliz que Nathan teve uma festa no seu primeiro aniversário.

As páginas seguintes estavam repletas de fotos do Nathan em pé, dando passinhos de bebê, fazendo uma bagunça quando comia sozinho pela primeira vez, e em sua maior parte rindo perto da mãe. Ela estava sempre sorrindo ou rindo, sempre feliz. Se fosse para o Severo estar naquelas fotos, será que eles estariam tão felizes? Será que o Severo estaria?

Tudo que ele sabia era que teria gostado de estar ao lado deles durante aqueles momentos felizes.

Granger virou a página, e havia uma foto curiosa. Severo inclinou-se para ver e só então percebeu como chegara perto dela no desenvolver da atividade. Ela não parecia se importar.

– Aquilo é um gesso no braço dele? – Severo perguntou intrigado.

– Sim – ela respondeu. – Ele caiu quando brincava no parquinho da escola e quebrou o braço. Quando eu cheguei lá, o médico já tinha colocado um gesso nele. Eu o curei assim que chegamos em casa, mas ele teve que manter o gesso pelo tempo que o médico prescreveu, para irritação dele, ou pareceria suspeito.

– É claro – Severo concordou.

– Coçava – Nathan acrescentou atormentado com a memória.

Mais páginas, mais sorrisos, e outra foto intrigou Severo.

– O que é para ser aquilo?

Granger se virou para olhar para ele, e seus braços se tocaram. Ela não pareceu se importar com isso também.

– Foi quando o Nathan fez o papel de João Darling de Peter Pan na peça da escola – Granger esclareceu. Ela ainda encostava o braço no dele.

Severo franziu a testa tanto com a comodidade dela quanto com o figurino irreconhecível.

– Mamãe fez a roupa. Era o pior – Nathan explicou, interpretando a expressão dele corretamente.

Severo soltou um riso curto.

– Hermione Granger ruim em alguma coisa? O Inferno deve ter congelado! – Severo disse e só depois percebeu o que estava fazendo. Por que estou provocando ela?

– Não ficou tão ruim assim! – ela protestou.

Nathan ergueu uma sobrancelha para ela, embora Severo já não estivesse prestando muita atenção na interação. Com o protesto, ela fizera o espaço entre eles desaparecer, e agora, além dos braços, seus joelhos se tocavam; o pano fino da saia dela deixando o toque ainda mais íntimo.

– Está ficando tarde para o jantar – Severo declarou friamente e levantou-se do sofá. Ele podia ver a confusão no rosto da Granger, afinal não era tão tarde assim, mas Severo não elaborou. Estalou os dedos, e um elfo doméstico apareceu com um “pop” na sala. – Pode servir o jantar – ele comandou.

Seguiram para a mesa. Nathan não pareceu se importar com a mudança, mas sua mãe ainda olhava para Severo especulativamente. Ela não falou o que estava pensando, o que foi bom. Começaram a comer em silêncio, não tão desconfortável quanto aquele que os acompanhara na semana passada. Severo pensou que a refeição acabaria em silêncio, quando Granger o interrompeu:

– Eu não o vi muito durante todo o final de semana. O que estava fazendo que não teve tempo nem para me ajudar no laboratório? – ela perguntou ao Nathan.

– Estava ocupado – o menino respondeu vagamente.

– Estava estudando para alguma prova? Eu não lembro de nenhuma tão no começo do semestre – ela insistiu.

– Mais ou menos. – Novamente, a resposta de Nathan foi vaga.

Severo achava a interação deles interessante e estava ficando curioso. Nathan estava obviamente tentando esconder alguma coisa da mãe e talvez dele também.

– Por que estava levitando coisas o tempo todo? – ela finalmente perguntou, e Severo soube que era aí que ela queria chegar desde o começo.

– Estava praticando – Nathan disse, ecoando a resposta enigmática de Severo à mesma pergunta mais cedo naquele dia, e rapidamente acrescentou: – Vamos ver mais fotos? – mudando de assunto.

Severo sorria com malícia quando Granger olhou para ele de novo, especulativamente. Ele ficou sério.

– Acho que não – ela disse depois de esperar por alguma resposta dele.

– Talvez devêssemos nos retirar – Severo sugeriu.

Nathan assentiu e levantou-se da mesa, esperando sua mãe fazer o mesmo. Ela o fez relutantemente, mas ao invés de se dirigir à porta, beijou Nathan e disse:

– Tenha uma boa semana, querido. Tenho algumas coisas para discutir com o seu pai antes de ir.

Nathan concordou com a cabeça e deu boa noite ao Severo, deixando-o sozinho com a mãe dele.

– O que foi? – Severo perguntou.

– Era o que eu ia perguntar. O que aconteceu? Você parecia estar gostando das fotos.

– Como eu disse, estava ficando tarde, e se você não se importa, quero estar bem descansado para a semana – ele tentou dispensá-la.

Granger olhou para ele por mais alguns instantes e aparentemente decidiu respeitar sua posição.

– De qualquer forma, esta noite foi um grande avanço se comparada à semana passada. Nathan estava muito mais relaxado na sua presença, e acho que isso tem a ver com o que quer que tenha acontecido na quarta-feira. Eu disse que você podia fazer isso. Muito bem, Severo – ela aprovou, sorrindo.

Ele não podia ver como o encontro de quarta-feira teve alguma coisa a ver com a mudança de atitude do Nathan, além da prática do feitiço que ele efetuara naquele dia. Escolheu não comentar, esperando que ela saísse; a fé que ela tinha nele era sempre desconcertante.

– Vou deixar os álbuns com você. Espero que tenha um tempo durante a semana para ver o resto das fotos – ela disse a ele, e a hesitação em dar as costas e sair era evidente.

Severo se resguardou na postura; ela era sempre imprevisível quando olhava para ele daquele jeito. Granger pareceu perceber sua mudança de postura e baixou os olhos do rosto dele.

– Vejo você na próxima semana – ela disse antes de se virar e sair dos aposentos dele.

Granger era perigosa, ele decidiu.

*-*-*-*

Nathan treinara duro. Estava confiante que podia provar ser bom em lançar feitiços agora. Contava as horas para o encontro com o pai na quarta-feira. Nathan sentiu que precisava de encorajamento depois de tantas observações cáusticas do Malfoy sobre ele não ser digno da atenção do Prof. Snape.

Já nos aposentos do pai, Nathan se sentou perto da lareira e aceitou o chá oferecido; parecia que isso se tornaria o costume dos encontros de quarta-feira. Estavam em silêncio enquanto saboreavam o preparado quente, mas assim que Nathan terminou, disse ao Prof. Snape:

– Estive praticando o feitiço de levitação, como deve ter percebido, professor.

– De fato percebi – Snape disse.

Nathan tomou aquilo como encorajamento para continuar:

– Pensei no que você disse na semana passada, e realmente havia mais sobre o feitiço do que nós aprendemos na aula de Feitiços.

Nathan se levantou do sofá e pegou a varinha na mão. Sem mais explicações, entoou o Vingardium Leviosa, e a xícara flutuou no ar. Sem que fosse pedido, Nathan tirou os olhos do objeto voador e fixou-os em seu pai, sorrindo um sorriso vitorioso.

– Consegue conversar e manter o feitiço? – o Prof. Snape perguntou, sua expressão impassível à demonstração de magia do Nathan.

– Sim, consigo – Nathan respondeu, jamais voltando os olhos para a xícara; seu sorriso se alargando para mostrar os dentes.

– Mova a xícara no ar – o Prof. Snape lhe disse.

O sorriso de Nathan vacilou um pouco; nunca tentara mover o objeto sem olhar para ele. Eu consigo – encorajou-se. Concentrou-se em fazer a xícara se mover para a esquerda, para que aparecesse no seu campo de visão.

Nathan ainda não conseguia ver a xícara. E se não estiver funcionando? Concentrou-se mais, fechando os olhos por um instante. Mova-se!

Ele quase suspirou quando a xícara apareceu na visão periférica dele. Nathan sorriu abertamente em triunfo. Consegui! Seu sorriso se dissolveu vagarosamente quando voltou sua atenção ao Prof. Snape; a expressão do homem ainda era neutra e quase entediada como sempre, independente da demonstração do que, na opinião do Nathan, era um admirável controle de magia.

– Desça a xícara – o homem lhe disse.

Nathan fez como pedido com algo doendo no peito. Estava prestes a guardar a varinha e sentar-se de volta no sofá, quando seu pai instruiu:

– Faça novamente, agora sem falar o encantamento.

Sem falar o encantamento? Como eu vou fazer isso?

Nathan olhou gravemente para a varinha.

Não é possível.

Olhou para o seu pai. O Prof. Snape não parecia estar brincando e esperava.

Nathan girou e sacudiu a varinha como o Prof. Flitwick ensinara. Nada aconteceu. Fez de novo e nada. Falharia mais uma vez. Nathan arriscou um olhar de relance para o Prof. Snape e de volta para a varinha em suas mãos, girando-a e sacudindo-a de novo inutilmente. Voe, xícara estúpida!

Depois da quinta tentativa frustrada, o Prof. Snape se levantou da poltrona e disse:

– Continue praticando. – O homem foi para a mesa no canto da sala e ignorou Nathan completamente!

Como eu vou fazer isso? – Nathan pensou irritado, mas não perguntou em voz alta. Gira e sacode, gira e sacode. Voa! Voa! Ele queria urrar de frustração.

Nathan sentou de volta no sofá e suspirou. Ele não ia perguntar ao pai como fazer isso. Não ia! Olhou ao redor da sala, os muitos livros arranjados na extensão das paredes. Nathan tinha certeza que havia pelo menos um sobre feitiços de levitação, e mesmo assim seu pai não disse nada.

Ele olhou para o homem à mesa, e a dor que Nathan sentia no peito tornou-se pesada demais. Levantou-se novamente, tentando mais uma vez fazer a xícara estúpida flutuar no ar. Falhando novamente, ele foi a passos largos para a porta e saiu, batendo-a ao passar.

Severo ergueu os olhos do que lia com o som da porta batendo. Olhou em volta e não havia sinal do Nathan. Ele franziu a testa, procurando no bolso pelo frasco de vidro contendo a poção do humor. Brilhava em tons de vermelho.

– Ele está bravo? – Severo murmurou confuso. O franzido na sua testa intensificou.

O que o Nathan esperava? Que ele fosse ficar na poltrona, assistindo as tentativas certamente frustradas dele levitar a xícara? Mesmo já mostrando grande controle sobre sua magia – Severo não pensou que ele seria capaz de controlar o alvo sem olhar e quando ele trouxe a xícara para frente foi uma surpresa agradável – o menino levaria algumas semanas, meses até, para compreender um feitiço não-verbal, o que era muito mais que ele esperaria de um aluno do primeiro ano, mesmo levando em conta todas as habilidades que o menino mostrara ali naquela noite.

Os vermelhos raivosos continuavam a aparecer no frasco, mas não havia nada que Severo pudesse fazer. Voltou para o texto, mas não podia evitar olhar para a poção do humor minuto sim, minuto não.

Decidindo que não se incomodaria com a demonstração de petulância de Nathan, Severo colocou o frasco no bolso e continuou a leitura com uma avidez teimosa.

*-*-*-*

Hermione experimentou o terceiro vestido, exasperada com o que viu no espelho. O que há de errado comigo? Claro, Hermione não estava preocupada com o seu reflexo tanto quanto com o seu comportamento. Isso não era um encontro romântico, pelo amor de Deus!

Deixou-se cair na cama e tomou o rosto nas mãos, frustrada. Desde o final de semana passado, Hermione estivera pensando mais e mais sobre Severo. Ela sabia que tinha sentimentos por ele, mas pensou que estavam sob controle. Hermione adiara tantas coisas pelo Nathan; essa necessidade de conquistar o Severo era quase desconcertante. Quando menos esperava, estava pensando nele, perguntando-se qual seriam as opiniões dele, as reações às coisas mais mundanas; pegara-se se vestindo para ele, e isso a assustava.

Ao mesmo tempo, ela sentia a agitação de estar apaixonada, certa pela primeira vez na sua vida adulta das suas afeições, mas sentia-se como se estivesse traindo o Nathan. Agora, mais do que nunca, deveria se concentrar nele, colocar a felicidade dele em primeiro lugar. Mas o que realmente a intrigava era o fato dela não estar negligenciando Nathan nisso tudo, só que seus próprios interesses batiam com os dele desta vez, e mesmo assim parecia errado pensar nela como mulher ao invés de só como mãe.

Entretanto, não conseguia evitar. Severo era o homem pelo qual estivera esperando todo esse tempo, agora ela tinha certeza. Hermione sabia até mesmo antes de tomar conhecimento. Ele tinha o que nenhum outro tinha, e que não tinham porque nunca poderiam ter. Só havia um único Severo Snape, e Hermione estivera inconscientemente procurando por outro toda sua vida sem sucesso. Os homens que Hermione pensara serem bons o suficiente eram mesmo bons homens, alguns bons demais, outros não bons o bastante... uns muito simples, comuns, outros inteligentes, mas não sagazes o suficiente. Eles nunca agregariam todas as características que imaginava num homem, e ela estava resignada por ser muito exigente, saber que um homem tão complexo e completo não existia, só para dar de cara com ele numa sala de aula de Poções.

Um arrepio correu sua espinha só com a memória daquele reencontro.

Como ela escondera esses sentimentos tão bem dela mesma ainda aturdia Hermione. Parecia tão obvio agora, tão natural... Talvez fora a guerra e como sua vida tinha pouco espaço para relacionamentos naquela época. Ou talvez ela fosse jovem e imatura demais quando eles trabalharam juntos para destruir as Horcruxes para entender que o que ela sentia era mais que admiração por Severo. Hermione sabia que as coisas mudaram para ela quando ele a salvou, mas não havia lugar para romance em sua vida depois dos horrores que sofrera durante a guerra, durante aquela noite... Não devido a quem o fizera, mas pelo ocorrido em si. Nenhuma mulher pensaria em homens depois de acontecimentos tão traumáticos.

Mas mesmo assim, como ela não percebera nada quando a decisão de ficar com o Nathan fora tão mais fácil porque o pai dele era o Severo? Deveria ter sido óbvio!

Não havia mais razão para debater o passado. Hermione entendia agora e decidira que não deixaria passar essa nova oportunidade de descobrir se poderia ser feliz como mulher. Mas sua felicidade ainda tinha que esperar um pouco mais. Ela não podia deixar seus sonhos subjugarem o seu bom senso, controlarem suas ações. Estes jantares não são encontros, NÃO são encontros – ela repetia em sua cabeça – são para o Nathan e só para o Nathan. Não são encontros!

Mas ela desejava que fossem, é claro que desejava.

Hermione suspirou. Semana passada ele ficara confortável ao lado dela, tocando-a, embora ela suspeitasse que aquela fora a razão dele chamar o jantar tão cedo. Mas ele parecera confortável enquanto não prestava atenção à proximidade deles. Claro, Hermione sentira cada centímetro de contato que acontecera entre eles naquela noite. Será que eu estava me jogando para cima dele? Ela balançou a cabeça em negação; não faria isso.

Não conscientemente – lembrou-se franzindo a testa. O controle de Hermione ficara muito fraco quando ele a tocara, quando ele ficara perto demais... Se ele a tocar novamente nesta noite, se ela tiver uma oportunidade de tocá-lo, Hermione não sabia se conseguiria resistir.

E aquilo seria um desastre sem proporções.

Severo não estava pronto. Hermione só podia esperar que o tempo trabalhasse a seu favor, amolecendo o Severo à sua presença constante. A esperança é a última que morre. E ele gostou da proximidade na semana passada – seu cérebro desejoso acrescentou. Ela sorriu sem querer.

Hermione podia quase sentir o corpo de Severo sustentando o seu no mesmo sofá que compartilharam na semana passada, só que eles estariam lendo um bom livro juntos. Seu sorriso cresceu. Que tipo de livro eles compartilhariam? – pensou distraída com a imagem que sua mente traidora produzia.

Balançou a cabeça irritada.

– Toma jeito, Granger! – chamou a própria atenção num murmuro, levantando-se da cama e terminando de se vestir. Nathan estaria ali em breve. Aquilo tudo era para o Nathan e para mais ninguém.

Especialmente agora que as coisas pareciam ter regredido nessa frente. Nathan obviamente ficara agitado quando ela lhe falara do Severo e triste, como ela não achava que ele ficaria novamente. Ele esteve perto de admitir que havia algo de errado, só para dizer que não era nada. Severo, entretanto, disse ostensivamente que não havia nada de errado, ficando irritado quando ela insistira no contrário.

Quando Nathan chegou naquela noite, Hermione ofereceu mais uma oportunidade de falar sobre o que o aborrecia, ao que ele disse:

– Nada!

– Não use esse tom comigo – Hermione respondeu brandamente.

– Desculpa – Nathan disse.

– Queria que você confiasse em mim, Nathan. Não vou tomar partido ou julgar ninguém – ela insistiu uma última vez.

– Não é nada, mesmo! – O tom dele era suplicante.

Hermione olhou para ele, analisando se ajudaria insistir. Concluiu que não, então fez sinal de que ele deveria sair antes dela dos seus aposentos e colocou um braço ao redor dos ombros dele.

– Venha, então. Vamos indo.

Andaram em silêncio. Hermione momentaneamente distraída das suas preocupações anteriores para se concentrar no seu bebê tristonho. Se ele não queria contar o que o deixara tão aborrecido, a única coisa que ela podia fazer era tentar deixar a noite agradável, tentar ver um sorriso genuíno, ouvir uma risada contente.

Mãe e filho chegaram ao seu destino, sendo recebidos pelo anfitrião de domingo. Severo ofereceu chá, que Nathan recusou imediatamente. Severo o observou com grande intensidade. Hermione assistia à interação com crescente preocupação. Nathan parecia decisivamente mal humorado com a extensão do silêncio, e ela olhou de volta para Severo na esperança de algum tipo de explicação.

Quando nenhuma foi oferecida, Hermione foi levada a dizer:

– Severo, o que...

– Tenho uma poção começada que precisa da minha atenção. Se me dão licença; não vou me demorar – ele disse, interrompendo a pergunta dela e levantando-se para sair.

Hermione podia apenas olhar e segui-lo com os olhos até que a única coisa que podia ver era a porta fechada. Quando voltou a atenção para seu filho, ele a olhava com curiosidade.

– Não achei que ele fazia isso com você também – Nathan disse divertido.

– Fazia o quê? – ela perguntou.

– Sair da sala ou mandar você embora – ele explicou, fazendo um gesto irônico na direção da porta.

– Por que você recusou o chá? Foi rude da sua parte. – Ela mudou de assunto, mas ainda pensava no que ele disse sobre o Severo sair da sala.

– Eu não quero chá – ele respondeu.

– Você deveria ao menos agradecê-lo pela oferta. Essa não foi a educação que eu lhe dei – ela retrucou.

– Não se preocupe, mãe. Ele não se importa.

– Do que você está falando? – Talvez ela fosse receber uma explicação afinal.

– Acho que deveríamos deixar esses encontros. – Nathan olhou nos olhos dela para dizer aquilo, sua seriedade a desconcertava. – Não estão funcionando.

– Pensei que a semana passada tivesse sido um avanço, você não? – Hermione estava sendo cuidadosa. – Mas alguma coisa aconteceu durante a semana – ela declarou finalmente.

– Tudo bem, mãe. Não precisamos ser melhores amigos – Nathan disse. – Eu sei que ele é o meu pai, e isso é o suficiente para mim.

Ela franziu a testa, seu coração doendo com a tristeza na voz dele.

– Como isso pode ser o suficiente para você, querido? Não acho que esteja sendo verdadeiro consigo mesmo. – Ela deixou aquilo penetrar. – Além disso, eu não acho que o seu pai concordaria.

– E onde ele está? – Nathan apontou.

Droga, Severo! – ela pensou.

– Eu sei que as coisas estão complicadas, querido; não são fáceis para nenhum de nós. Mas isso não significa que devemos desistir – ela disse a ele.

Nathan baixou a cabeça.

– Você está mesmo desistindo? Você realmente não quer imaginar como seria se você insistisse? – ela acrescentou.

Nathan franziu a testa, contemplando suas palavras, ela esperou.

– Seja paciente, querido. Eu sei que só precisamos de tempo – Hermione assegurou-o, tirando o cabelo dele dos olhos e dando um beijo na sua testa. Ela encostou a testa dela na dele. – Não fique triste – disse, erguendo os cantos da boca dele com os dedos e sorrindo para ele.

Nathan ainda resistia.

– Se você não sorrir, terei que fazer cócegas em você, sabe disso – ela ameaçou brincando. – Estou avisando.

Ele continuou sério, então Hermione usou um dedo para cutucar um lado das costelas dele. Ele se contraiu como reação e mostrou um meio-sorriso antes de repreendê-la:

– Pare.

Hermione cutucou de novo, agora do outro lado, sorrindo travessa. Ele se contraiu novamente, sorrindo e tentando afastar as mãos dela. Mas ele não teve sucesso, e logo Nathan ria como não fazia há algum tempo. Hermione ria com ele pelo simples prazer de vê-lo relaxar em contente alegria. Eles não notaram a porta se abrir.



Severo estava em pé à porta, assistindo a cena diante dele, pasmo. Tudo era tão estranho: o som, a visão, o ambiente... Nada parecia se encaixar, e mesmo assim parecia certo, sentia que estava certo.

– Mãe! – Nathan dizia, sem fôlego de tanto rir. – Pare!

Seu filho rindo na sua sala de estar antes do jantar... Sim, tinha um sentimento de que aquilo estava estranhamente certo, e sua decisão de minutos atrás fora completamente esquecida. Severo continuaria com os encontros.

Granger pareceu perceber ele ali.

– Está tudo certo com a sua poção? – ela perguntou, arrumando a blusa e certificando-se que o cabelo ainda estava preso direito. Ela estava corada, Severo notou. Era uma visão interessante.

– Sim – ele respondeu, aproximando-se do sofá e retomando seu lugar na poltrona. Olhou para o Nathan com um interesse curioso, notando a descompostura dele com um gostinho secreto. – Vejo que não ficaram entediados na minha ausência.

Ele já estava confortavelmente acomodado quando...

– Diga, Severo, você tem cócegas?

A pergunta o pegou desarmado.

– O quê? – Severo a encarava. Toda a atenção dela estava no que ele iria dizer, e isso era perturbador. Estava começando a se sentir desconfortável sob os olhos inquisitivos dela, então olhou de relance para o Nathan, que parecia divertidamente interessado no que ele responderia também.

Mas Severo só conseguia encarar.

– Mamãe tem cócegas em quase todos os lugares, mas especialmente nos pés e do lado da barriga.

As palavras de Nathan era outra coisa que Severo não esperava ouvir. Toda a conversa era surreal. Ele olhou de volta para Granger, e ela estava corada.

– Minha mente sonserina com certeza irá guardar essa informação. – Ele a viu ficar desconfortável, mexer-se no sofá e, para o seu espanto, sorrir timidamente.

Ela ficou séria rapidamente.

– De qualquer forma – Granger disse –, que poção está preparando? Não vi nada no laboratório.

– Comecei quando você saiu – ele lhe disse, caindo de volta em caminhos conhecidos com o assunto relacionado a Poções. – A Mata-cão.

– Para o Prof. Lupin? – Nathan perguntou.

– Sim.

– Eu li sobre o que acontece quando um lobisomem não toma a Mata-cão. É horrível – Nathan comentou seriamente.

Aquilo era o mais longe que as interações entre Severo e Nathan iam. Já a mãe do menino... ela ainda agia um tanto confortável demais na presença de Severo para o gosto dele. Às vezes, ele se esquecia com quem estava falando e via-se gostando da conversa, para sua surpresa. Foi assim durante a noite toda, e agora, enquanto comiam a sobremesa, Severo percebeu que o comportamento dela sempre fora desconcertante, para dizer o mínimo. Ainda mais perturbador se o histórico do relacionamento deles fosse levado em conta.

– Pensei ter visto você comer bolo de chocolate antes. Você não gosta? – o próprio objeto dos seus pensamentos lhe disse, provando que tudo que pensou era verdade.

Severo decidira continuar com os encontros, mas algumas coisas tinham que mudar...

– São quase nove horas – observou para o Nathan, ignorando o comentário dela. – Você deveria voltar para sua sala comunal.

– Sim, professor. – O menino se levantou, e os adultos fizeram o mesmo.

– Vejo você na sexta-feira, querido. – Granger beijou a testa de Nathan, despedindo-se e observando-o sair para ficar para trás, como Severo sabia que ela faria; outro hábito que tinha que acabar. Cruzou os braços sobre o peito, esperando ter a total atenção dela.

A porta tinha acabado de fechar quando Severo disse:

– O que aconteceu aqui hoje? – Ele queria ouvir o que ela esperava conseguir com aquele comportamento.

Para a consternação de Severo, ela parecia confusa com a pergunta. Aquilo aumentou sua irritação, agora beirando à raiva.

– É uma pergunta bem simples, Granger – ele insistiu quando tudo que ela fez foi olhar para ele.

– O que você quer dizer, Severo?

A dissimulação dela rapidamente o faria perder a paciência.

– Não se faça de boba comigo – ele disse numa voz perigosamente baixa.

Aparentemente, ela conhecia uma ameaça quando vinda dele, se a mudança na postura dela fosse algo a se considerar.

– Severo – ela começou e deu um passo na direção dele –, eu não estou me fazendo de boba. Realmente não sei do que você está falando. – Ela deu mais um passo, mas pareceu hesitar num terceiro. – Pensei que estivéssemos passando uma noite bem. Eu até ia comentar sobre isso...

– Comentar sobre o que, Granger? – Severo a interrompeu. – Como você é inconveniente? Como você é enxerida? – Ele queria fazer ela se sentir o mais desconfortável possível, tirar o sentimento de segurança dela, assim como ela fizera com ele a noite toda.

Ela tinha a boca semi-aberta, mas não dissera uma palavra.

– Finalmente quieta, eu vejo – Severo comentou.

– Tive a impressão de que você estava aproveitando a noite, Severo, mas parece que estava completamente enganada.

Ela franziu a testa e deu mais um passo na direção dele, mas parou quando ele falou novamente:

– Você acha que só porque nós compartilhamos um filho, você tem o direito de me irritar com perguntas sobre assuntos que não são da sua conta? – Foi a vez dele de aproximar-se dela enquanto falava. – Que, só porque eu aceitei este seu plano bobo de nos reunirmos toda semana, você tem o direito de tomar liberdades?

Ela recuou um passo contra o avanço dele.

– Severo, eu não enten...

– Diga, Granger, você não achou realmente que de repente nós nos tornaríamos melhores amigos e esqueceríamos tudo o que aconteceu, achou?

– Achei – ela respondeu sem rodeios, encontrando os olhos dele. – Eu acho – retificou. Parecia que ela queria dizer mais, mas nada saiu da sua boca.

Severo deu um riso curto, dando mais um passo na direção dela, de modo que ela concedeu mais um, alcançando as costas do sofá. Agora ele estava onde sabia que pareceria mais ameaçador.

– Nathan – ele disse a ela. – Ele é o motivo para nos encontrarmos toda semana para esses jantares patéticos.

Ele deu mais um passo, só para ter certeza, e ela estava presa entre ele e o sofá.

– Concordei que faria parte da vida dele. – Severo inclinou o rosto para que pudesse falar diretamente encima do dela. – O que mais você quer? – sibilou.

Foi quando ele sentiu lábios tocando os dele. A razão disse para ele sair do alcance, mas ele não se movia. Os lábios quentes dela ficaram sobre os dele, pressionando firmemente. Ele não conseguia se mexer, não conseguia pensar; Severo só conseguia ficar ali, passivamente chocado. Os lábios dela se moveram nele, podia senti-los. O toque macio seguido da diminuição da pressão nos seus lábios sem reação registraram-se no cérebro confuso, ele sabia disso, mas não podia fazer mais nada além de tomar conhecimento. Até que as mãos dela tocaram o seu rosto, fazendo a razão voltar rapidamente num impulso elétrico, e ele ficou livre dos efeitos hipnóticos das ações anteriores.

Severo agarrou os pulsos dela e colocou alguma distância entre os seus rostos. Olhou fixamente para ela com a testa franzida, desejando que seu cérebro viesse ajudá-lo.

– Quero que você também faça parte da minha vida – a Srta. Granger disse num sussurro. Severo podia sentir as palavras dela nos seus lábios molhados.

Antes que ele pudesse registrar, ela o tocou novamente, beijando-o ternamente. Ela... a Srta. Granger. Severo a afastou, segurando-a firmemente no lugar. Seu cérebro finalmente voltou num estalo, trazendo a informação em que sua razão se baseara.

– Srta. Granger – ele disse, e com o nome veio a realização do histórico deles, da guerra, daquela noite... Ele largou os pulsos dela instantaneamente e recuou, afastando-se dela, olhando feio, erguendo uma mão para afastar os cabelos do rosto.

– Severo...

– Você perdeu a cabeça – Severo disse a ela. – Está completamente louca. – Virou-se para olhar feio para ela.

Ela encontrou seu olhar sem aparente hesitação, observando-o com... esperança? Como ela podia...? O que há de errado com você, mulher? – ele pensou irritado e ainda confuso.

– Não perdi a cabeça – ela discordou. – Eu... Você... Droga, Severo! Por que você tinha que chegar tão perto? – Ela se virou, apoiando as mãos no encosto do sofá.

A carranca de Severo se intensificou, mesmo que ele fosse o único ciente do fato. Ela estava culpando-o?

– Você me beija, e sou eu quem está muito perto? Você estava me tocando! Por que infernos você fez isso?

Antes que o silêncio dela fizesse o seu desejo de azará-la se transformar em ação, ela se virou para encará-lo, e sua hesitação anterior se fora. Os olhos dela eram fortes e tão cheios de emoção que ele queria que ela desviasse o olhar.

– Porque você me obrigou a fazer isso; você veio procurando por isso. Eu não devia ter beijado você, mas agora já está feito, e não vou voltar atrás. Isso é o que de mais eu quero, Severo. – Ela fez um gesto entre eles. – Quero você na minha vida. Aqui está sua resposta.

– Você tem algum problema de memória? – ele rosnou, mais irritado e agora mais bravo com a bruxa a cada minuto que passava e ele conseguia pensar na situação absurda. – Você consegue se lembrar quem...

– Guarde o seu discurso, Severo – ela disse a ele, e embora os olhos dela ainda transbordassem emoção, a voz dela estava calma e forte. – Asseguro que não me esqueci de nada. Eu sei que isso vem como uma surpresa para você...

– Não tenho a menor intenção de desperdiçar minhas palavras com você, mulher insana! – ele a interrompeu no meio da explicação. – Saia dos meus aposentos! – demandou.

– Severo, há...

– Eu disse FORA! – Todo o rosto dele tremeu com aquela última palavra.

– Não vou a lugar algum antes de você me escutar! – ela retrucou. – Agora que eu comecei, vou até o fim!

– Não vou... – ele tentou dizer, mas ela não ia deixar.

– ESCUTE! Só escute!

Severo cruzou os braços à sua frente, impaciente. Disse a si mesmo que não queria nem precisava escutar, mas sentiu que queria saber o que a compeliu a fazer o que fez.

– Em primeiro lugar, eu não sou louca, então, por favor, pare de dizer isso. – Granger olhou feio para ele, mas ele sentiu a inquietação dela. – Segundo, isso não é uma falta momentânea de... juízo da minha parte. Talvez como as coisas aconteceram hoje foram, mas não o que aconteceu, e agora não há razão para negar isso. Você estava perguntando, e estava muito perto, e eu não sabia como segurar a verdade, embora eu soubesse que levaria a isso.

– Esta é a sua idéia de vingança, Granger? – Severo tomou vantagem da pausa dela para perguntar, pondo em palavras sua própria versão das razões para ela fazer o que fez.

Ela suspirou. – Eu sabia que você não estava... que você não entenderia agora, e eu quero que você entenda. Eu não tenho motivos para querer me vingar de você, muito pelo contrário. Só tenho razões para respeitá-lo e admirá-lo por tudo que você fez por mim e pelos meus amigos... por todo o mundo bruxo. O que me levou a beijá-lo também não foi um impulso momentâneo. Estive...

– Mulher! – ele interrompeu. – Escute o que está dizendo! Você quer que eu acredite que eu nunca lhe dei motivos para querer vingança?

– Será que você poderia...

– Você está de volta para mais, então? Você quer que eu lhe pegue pelo braço e jogue no chão? Quer que rasgue sua calcinha de você...

– Pare.

– ... que desabotoe minhas calças e...

– Pare.

– ... lhe cubra, invadindo você com uma coisa sem vida...

– Pare! – ela gritou. – Eu não estou impassível ao que aconteceu!

Ela tinha lágrimas nos olhos, e Severo sentiu que fora longe demais. Ele deveria se desculpar, mas também queria que ela entendesse a insanidade do que estava declarando sentir por ele – seu estuprador. Antes que ele pudesse decidir, ela falou novamente.

– Fui tirada dos meus amigos, tive minha mente invadida por aquele monstro. – Ela ergueu uma mão trêmula e afastou os cabelos do rosto nervosamente. – Eles me torturaram por informações que eu não tinha. Crucio é algo que eu não desejo nem para o meu pior inimigo, e eles me amaldiçoaram pelo que pareceu uma eternidade. – A voz dela estava baixa com a tristeza da memória.

Severo sabia bem do que ela estava falando e sentiu as próprias memórias invadindo a sua mente.

– Quando eu pensei que morrer era uma opção prazerosa, quando toda a minha esperança se fora, eu ouvi a sua voz – ela contou a ele e ergueu os olhos para encontrar os dele. – Eu sabia o que você ia fazer, mas também sabia por que você estava fazendo aquilo. Não gostei de nada daquilo, mas você também não. Eu sei que não gostou, Severo.

Ele não gostara, mas um homem não pode fazer o que ele fizera sem se deleitar pelo menos por um momento, e ele se deleitara. Foi o que fora necessário para tirá-la de lá, e ele carregava o fardo com ele a cada dia de sua vida miserável.

– Você salvou a minha vida em mais ocasiões e maneiras do que aquela. Você arriscou sua vida por nós incontáveis vezes. – Ela fez uma pausa e deu alguns passos na direção dele. – O que eu quero que você entenda é que eu consigo ver; não me engano pelas aparências dos seus atos. O que você fez foi a escolha corajosa num momento difícil. Se ao invés de... fazer o que teve que fazer... você, não sei, tivesse que cortar minha perna fora ou... me azarar para me libertar, eu sei que o teria feito, e eu não estaria menos agradecida, mas você seria considerado um herói como aqueles que fizeram o mesmo em outras circunstâncias.

Severo simplesmente olhava para a mulher à sua frente, incapaz de ignorar os argumentos dela, mas ainda sentindo-se culpado por não ter escolhido se sacrificar quando deveria. Espantou-se quando ela tocou sua mão, mas não fugiu daquele toque quente e macio.

– Sinto muito por você ter tido que fazer uma escolha tão horrível, mas estou muito, muito feliz que a tenha feito. Obrigada, Severo, serei eternamente grata, e espero que possa se perdoar por ser um sonserino muito corajoso.

Ele olhou fixamente para as mãos deles enquanto ela dizia aquilo, sem confiar nas suas emoções pela segunda vez naquela noite. Não era sempre que ele se via confuso. Sua introspecção foi interrompida pelo ato dela apertar sua mão.

– Espero que isso possa ajudá-lo a entender por que Nathan nunca poderia ser um fardo – ela continuou e largou a mão dele.

Ela saiu não muito depois daquilo, e Severo a seguiu com os olhos, franzindo a testa com sentimentos conflitantes. Desde que Hermione Granger invadira sua vida pela terceira vez, Severo estivera travando uma batalha consigo mesmo. Quando ela era apenas mais uma aluna nascida trouxa, ele sabia que tinha que destratá-la e ser indiferente às qualidades dela, e aquilo não era problema algum – ela não era um problema – apesar da ligação dela com Potter. Quando eles trabalharam juntos na guerra, destruindo Horcruxes, estivera livre para admitir as qualidades e inteligência dela, até mesmo a facilidade com que trabalhavam juntos, e talvez fosse por isso que ele se sentira obrigado a salvá-la naquela noite. Quando ela voltou como a mãe do seu filho, entretanto... desde então, Severo não tivera uma opinião definida sobre ela, sobre as ações dela, as intenções, e agora sobre os sentimentos dela também. O fato dela estar fazendo ele questionar suas próprias ações, intenções e sentimentos, tão bem consolidados nele antes, fazia a cabeça dele doer.

O jeito como a mente dele insistia sua pele em lembrar do toque dele também não ajudava. Como ele pôde se deixar envolver deste jeito? E por ela, para piorar...

*-*-*-*

– Você deveria ser mais cuidadoso, Granger – Malfoy disse com desdém depois de praticamente atropelar Nathan, derrubando-o no chão de pedra das masmorras.

Nathan se levantou rapidamente e empurrou o Malfoy no peito, fazendo o loiro dar alguns passos para trás para manter o equilíbrio.

Malfoy devolveu o empurrão. – O que há de errado com você? Só por que você de repente é parente do Prof. Snape não significa que você tem poderes aqui nas masmorras.

– Me cansei de você, Malfoy! - Nathan respondeu e empurrou o sonserino novamente, só que desta vez Malfoy estava preparado, e a briga só não evoluiu para socos de verdade porque uma voz profunda rosnou do final do corredor.

– O que está acontecendo aqui?

Eles se separaram, mas continuaram a olhar feio um para o outro. O Prof. Snape estava com eles num piscar de olhos.

– Pensei ter sido claro da última vez! – Ele estava visivelmente irritado. – Esse comportamento trouxa não será tolerado! – Prof. Snape encarou Nathan e depois Malfoy. – Vinte pontos a menos para a Grifinória, e outros vinte pontos a menos para a Sonserina!

Nathan estava acostumado a ter pontos subtraídos pelo Prof. Snape e deleitava-se com a expressão incrédula de Malfoy. Seu divertimento durou pouco quando ouviu seu pai rosnar:

– Sigam-me.

Pegou sua mochila do chão e obedeceu, andando pelos corredores das masmorras ao lado de Malfoy para o escritório do Prof. Snape. Eles entraram e esperaram até o professor se virar para lhes dirigir a palavra novamente.

– Eu não sei, e nem quero saber, por que estavam brigando feito dois trouxas nos corredores novamente. O que eu quero deixar claro é que isso acaba aqui! Alguma pergunta?

– Tio Severo, eu não fiz nada para ele. Ele não estava olhando para onde...

– Devon, você ouviu alguma coisa do que eu acabei de falar? Eu não estou interessado! – Prof. Snape cortou as palavras de Malfoy no meio, e Nathan estava bem atento à familiaridade no modo como os dois se tratavam. – Estou sendo claro desta vez?

– Sim – Malfoy respondeu, baixando o olhar para os sapatos.

Nathan observava tudo muito cuidadosamente.

– Muito bem. Apenas tenham em mente que não vou nem lembrar quem você é se isso acontecer novamente. – Seu pai finalmente virou sua atenção do Malfoy para ele. – Tenho que repetir, Sr. Granger?

– Não, professor – Nathan respondeu humildemente, sentindo a formalidade cortar como uma faca afiada. Ele não tinha vontade de argumentar depois de como isso tudo soava doméstico entre o Malfoy e o seu pai. Era como se tudo que Malfoy já dissera fosse verdade, e Nathan odiava isso.

Houve silêncio por um momento até que o Prof. Snape pareceu satisfeito. Ele deu a volta na mesa e sentou-se atrás dela. Nathan sabia que aquilo significava que estavam dispensados, mas não se moveu; não sairia antes de Malfoy. – O que estão esperando? Uma permissão escrita para sair? Mexam-se!

Malfoy virou-se para a porta, e antes de segui-lo, Nathan encontrou os olhos do pai, mas não achou nada ali a não ser irritação. Ele segurou um suspiro desapontado e saiu. Desapontamento se transformou rapidamente em raiva quando Malfoy o esperava lá fora.

– Nem sequer uma detenção... Você está mais abaixo na estima dele do que eu pensei – o sonserino provocou divertido.

– Ele tirou vinte pontos de você – Nathan retrucou, sentindo-se estúpido por sequer usar aquilo como um argumento, mas não podia deixar Malfoy sair dessa sem ao menos uma tentativa de defesa. Nathan se recusou a deixar a dor da indiferença do seu pai aparecer.

– Os mesmos vinte pontos que ele tirou de você. – Malfoy sorriu com malícia, sabendo que não tinha mais nenhum argumento sobrando para o Nathan. – Olhe por onde anda; as masmorras podem ser perigosas para grifinórios distraídos.

– Vamos nos encontrar em outro lugar, então? – Nathan desafiou, chegando mais perto do sonserino para que sua voz não chegasse aos ouvidos do seu pai logo atrás da porta.

– O que lhe faz pensar que isso vá mudar alguma coisa? – Malfoy zombou. – Você não tem lugar aqui na vida do Tio Severo, Granger, algo que posse lhe dizer aqui ou em qualquer outro lugar.

– Quero ver você provar suas palavras vazias, Malfoy. – Nathan baixou a voz ainda mais na sua raiva.

Um barulho alto do escritório do Prof. Snape os assustou; parecia que o homem estava para sair. Malfoy não esperou para ver se aquilo se confirmava e saiu em direção à sala comunal da Sonserina. Nathan também não queria encontrar o pai e saiu rapidamente em direção ao Saguão de Entrada.

Nathan conseguiu se manter fora do caminho do seu pai e de Malfoy até que, na quarta-feira, o Prof. Snape o procurou no Salão Principal durante o almoço.

– Sr. Granger – Nathan se virou para encontrar o homem que estivera evitando –, não tenho tempo para uma reunião esta noite, então estou cancelando. – Sem mais que aquilo, ele saiu a passos largos para as portas, de mal com o mundo.

Ele cancelou nosso encontro? A cabeça de Nathan voava, procurando por razões. Esta foi a última pedra sobre seu coração oprimido. Ele está me mantendo longe.

– Snape não está num dos seus melhores humores esta semana. Ele distribuiu tantas detenções que elas estão começando a parecer uma atividade em grupo – Nathan ouviu um aluno do quinto ano sentado há poucos metros dele dizer enquanto seu pai deixava o Salão Principal. O grupo de grifinórios mais velhos riam da piada, mas Nathan ainda não conseguia entender o que tinha de tão engraçado nisso.

– Finalmente uma quarta-feira livre conosco – Kevin comentou. – Podíamos explorar o quinto andar. Sabemos com certeza que o Snape não vai nos pegar fora da cama, estando tão ocupado como ele está. – Seu amigo sorriu travessamente.

– É, talvez – Nathan disse desanimado. De certa forma, ele não queria uma noite livre. Bem, ele queria, mas não assim, e quando ele estava quase certo que o Prof. Snape o estava evitando porque ele era... chato? Irritante?

Indigno?

Eles saíram para as aulas da tarde, e nem a certeza garantida de seus amigos fazia seus pensamentos mais pessimistas irem embora, e Nathan tentava substituí-los pelos poucos otimistas que tinha. Andy tentou ajudar.

– Ele tem detenções para supervisionar – seu amigo lhe dissera antes de começarem a comer a janta e do desapontamento claro de Nathan com lugar vazio na Mesa Principal ser disfarçado.

– Foi o que ouvi dizer – Nathan respondeu sem dar importância.

– Você acha que ele está ocupado com alguma outra coisa? – Andy insistiu.

Nathan deu de ombros e encheu a boca de torta. Não queria mais falar sobre isso. Eles comeram em relativo silêncio; o dia cheio afetando mais que só Nathan – a aula de Feitiços fora muito exigente naquela tarde.

Quando pensou que o seu dia logo terminaria, ele ouviu Malfoy. – Ouvi dizer que o Prof. Snape trocou a sua companhia por detenções – ele provocou. – Bem, não me surpreende – Malfoy acrescentou.

– Não estou interessado nos seus comentários estúpidos, Malfoy.

– Isso definitivamente prova a minha teoria do seu desmerecimento, acho que não há mais dúvida disso agora – Malfoy continuou, fazendo um show para sua audiência sonserina. – Mas se você ainda não está convencido, porque, bem, você é um grifinório – aquilo chamou a atenção na mesa –, pode me encontrar na biblioteca mais tarde, já que você está obviamente livre esta noite, e eu posso esclarecer tudo, até para uma grifinório inferior como você.

– Cuidado com o que você fala, Malfoy – Kevin ameaçou, erguendo-se do seu lugar para enfatizar suas intenções.

– Só diga onde e quando – Nathan disse, ignorando os outros vindo em defesa da Grifinória.

– Eu encontrarei você lá, quando discutiremos os detalhes – Malfoy deu as costas e saiu, alguns grifinórios ainda defendendo sua Casa.

– Como ele se atreve a dizer aquelas coisas? – Kevin disse indignado. – Quem ele pensa que é?

– Ele é só um sonserino estúpido. Você não vai, vai? – Andy perguntou ao Nathan.

– Claro que vou – Nathan confirmou seriamente.

– Nós vamos – corrigiu Kevin. – Aquele esnobe precisa de uma lição ou duas.

– Nathan, você não deveria ir. O que o Prof. Lupin diria? E o Prof. Snape? – Andy insistiu.

– Isso é entre o Malfoy e eu, e já foi longe demais. Se ele acha que pode provar que eu não sou digno do meu pai, então eu quero vê-lo provar. – Nathan estava mais forte nas palavras do que nas emoções. Estava começando a achar que o Malfoy estava certo, e talvez, se o sonserino provasse, Nathan pudesse deixar para trás toda essa história de pai de uma vez por todas.

Porém, ele não queria deixar para trás. Nathan não queria que Malfoy estivesse certo. Ele colocou aqueles pensamentos de lado e simplesmente foi para a biblioteca. Era estúpido, Andy estava certo, mas Nathan tinha que fazer aquilo. Kevin o seguiu, claro, e Andy também, mesmo indo contra o que ele achava melhor.

Eles não tiveram que esperar muito tempo para o Malfoy aparecer. Ele tinha seus seguidores habituais com ele. Eles pararam na entrada da Seção Restrita, e Nathan foi encontrá-los, Andy e Kevin a cada lado.

– Vejo que trouxe espectadores com você – Malfoy disse ao Nathan.

– Você também. – Kevin antecipou qualquer resposta que o Nathan pudesse ter aquilo.

– Direto ao assunto, Malfoy – Nathan disse enquanto a animosidade crescia entre os grupos que se olhavam com raiva.

– Entre na Seção Reservada e traga-nos um livro de Artes das Trevas – Malfoy desafiou.

– Nathan, não faça isso. Nós não deveríamos entrar na Seção Reservada, muito menos para pegar um livro de Artes das Trevas. A Madame Pince vai pegar você, e você vai estar muito encrencado – Andy dizia com urgência à sua esquerda.

– Bem...? – Malfoy pressionou por uma resposta.

– Tudo bem – Nathan respondeu, mantendo a cabeça levantada para o desafio e ignorando a razão.

Malfoy sorriu com malícia.

– O que isso prova, Nathan? Nada! – Andy ainda tentava aconselha-lo a desistir.

Se Nathan estivesse pensando, ele teria concordado com Andy. Entrar na Seção Restrita para pegar um livro dificilmente provava alguma coisa, mas aparentemente provava ao Malfoy. Por hora, isso era incentivo suficiente.

Nathan foi até as portas que davam entrada à porção proibida da biblioteca, deixando seus amigos e inimigos do lado de fora. Ele sempre se perguntou o que realmente tinha atrás daquelas portas, e agora ele estava ali, varinha acesa na mão, observando seus arredores.

A princípio, ele não notou nada de diferente, mas conforme avançava, andando para mais longe das portas, podia sentir algo pesado no ar. O que era apenas uma sensação se tornou real quando Nathan ouviu um grito abafado. Ele parou e olhou em volta, esperando encontrar alguém ali, logo atrás dele. Seu coração batia mais rápido, e ele não queria ficar ali muito mais tempo. Talvez este não fosse um teste tão bobo assim afinal.

Nathan se forçou a se aproximar das estantes. As lombadas dos livros entregavam o quanto eles eram velhos e obscuros; algumas mostravam um título, outras nada além de um símbolo, outras ainda nem mesmo isso. Muitos dos livros estavam escritos em línguas que Nathan não conseguia entender.

Um gemido agonizante chegou aos seus ouvidos, e Nathan se virou assustado novamente, procurando sua origem. Um livro se moveu nas prateleiras de cima, chamando sua atenção, fazendo Nathan recuar e bater nos livros atrás dele. Alguma coisa decididamente não humana rosnou em resposta.

Estava na hora de pegar algum livro – qualquer livro – e sair dali. Nathan alcançou o primeiro tomo que conseguiu pegar e afastou-se rapidamente dos gritos e grunhidos dos livros. Somente quando sentiu que estava relativamente a salvo foi que ele pensou em olhar se o livro que ele segurava cumpria os requisitos do desafio do Malfoy.

Anima Codex, ele leu. Seu latim básico traduziu como Decodificando Almas. Bem, qualquer magia com almas era trevosa, então deveria ser suficiente. Nathan emergiu no salão principal da biblioteca para encontrar apenas seus amigos ali.

– Cadê o Malfoy?

– Ele foi chamar a Madame Pince, aquele nojento – Kevin amaldiçoou. – Por que você demorou tanto?

– Vamos, precisamos sair daqui antes que eles voltem! – Andy pressionou, pegando o Nathan pela manga das vestes.

Irracionalmente, Nathan queria ficar e mostrar o livro ao Malfoy, para esfregar na cara dele e provar que... Provar o quê? Isso não provava nada... Droga! O Malfoy armou para ele, e Nathan estava tão perdido na sua luta interna que nem percebeu!

Entrar na Seção Reservada só serviu para provar que cabeça-oca ele era. Estúpido! Estúpido! O que eu estava pensando? – Nathan pensou enquanto seguia automaticamente seus amigos rumo à sala comunal da Grifinória. Trombou com Kevin quando ele parou em frente a Mulher Gorda de tão distraído que estava com os seus pensamentos.

– Desculpa – Nathan disse.

Kevin resmungou uma resposta e trocou olhares com o Andy, Nathan percebeu. Ele suspirou.

– Estava distraído, está bem? – Nathan acrescentou irritado e despejou a senha, passou rápido pela sala comunal e direto para o dormitório no andar de cima. Ficou aliviado quando ninguém o seguiu, e Nathan despencou na cama, cansado de se sentir miserável. Amanhã era o seu aniversário, e ele tinha certeza que ninguém se lembrava ou se importava – seu pai, muito menos.

O que deu errado? Que deuses ele insultara para merecer isso? Nathan se virou no colchão, enterrando o rosto no travesseiro. Eu não vou chorar, não vou! Ele não devia derramar mais nenhuma lágrima com isso. Virou-se novamente para encarar as cortinas carmesins e sentiu algo nas suas costas – a mochila que jogara na cama antes de despencar nela.

Nathan se sentou, tirou os sapatos e abriu a mochila, procurando o livro que socara ali enquanto fugia da biblioteca. Ali estava; Anima Codex. Tirou a mochila do caminho e sentou-se de pernas cruzadas com o livro das Trevas em mãos. Nathan não sabia por que estava fazendo aquilo, somente que estava fazendo.

Passou pelo primeiro capítulo com interesse crescente. Era um livro antigo, mas o português difícil não o intimidou. Aprender sobre almas era muito interessante e envolvente, bem o que Nathan precisava neste momento. Ele avançou no livro, passando pelas teorias da origem da alma, da sua consistência etérea e da sua ligação com o corpo, apesar da sua existência independente, precisando de mais e mais e espaço na sua mente e arranjando-o onde antes ficava sua frustração e desapontamento com seu pai, sua mãe, o Tio Harry e o Prof. Lupin, bem como sua raiva do Malfoy.

Seus amigos vieram e foram dormir há horas, e Nathan ainda estava cativado pelo livro proibido. Ninguém o vira com ele, fora cuidadoso; Nathan não queria ouvir que não era para estar lendo aquilo, especialmente agora que estava ficando realmente interessante. Havia poções que afetavam a alma diretamente, para o bem e para o mal, encantamentos que amarrariam as almas as libertariam, e até menções da existência das Horcruxes e o que elas eram, como Nathan ouvira em muitas das histórias da guerra.

Algumas poções eram complicadas até para entender a receita, imagina para realmente prepará-las. Nathan se perguntou se o Prof. Snape seria capaz de fazê-las e depois lembrou que ele não se importava com o Prof. Snape. Alguns dos encantamentos eram tão difíceis quanto muitas das poções, mas outros pareciam bem fáceis. Batendo o olho num desses encantamentos fáceis, Nathan começou a se perguntar se conseguia lançá-los.

Esse encantamento em particular parecia bem inofensivo, e Nathan sentiu vontade de tentar. Certamente, libertar a alma de alguém numa experiência de projeção astral não poderia ser nocivo. Ele não o lançaria em ninguém senão em si mesmo. Nathan pensou nas conseqüências e não conseguiu encontrar um motivo para não tentar. Seria divertido! Ele queria se divertir!

Nathan praticou o movimento de varinha pensando duas vezes sobre lançar o encantamento. A cada minuto que passava, ele ficava mais confiante, e pensar em não tentar parecia bobagem, até mesmo estupidez. Ele conseguiria, e isso provaria a ele que tudo o que eles disseram e pensaram dele estava errado. Mais algumas repetições do movimento fácil de varinha consolidaram sua resolução.

Bem baixinho, ele leu e releu o encantamento, aprendendo as palavras que teria que dizer. Nathan faria isso porque podia, porque ninguém estava ali para lhe dizer que ele não podia. Respirando fundo, Nathan balançou a varinha enquanto falava o encantamento, e tocou com ela no seu terceiro olho. Ele sentiu uma tontura que logo sumiu. Nathan olhou para baixo e viu suas pernas ali, ainda uma massa bem sólida de carne e osso, e começava a pensar que tinha falhado quando olhou para trás e viu a parte superior do seu corpo deitada na cama.

Nathan arregalou os olhos, embora seus olhos de verdade não se moveram, permanecendo fechados. Ele se levantou, e o copo – seu corpo – ainda estava no colchão. Ele finalmente pensou em olhar para o seu corpo etéreo, e seus olhos se arregalaram novamente, acompanhados de um ofego – Nathan podia ver através do seu corpo, como se fosse um dos fantasmas do castelo.

O choque do seu sucesso eventualmente passou, e Nathan abriu um sorriso, olhando seu outro ele dormindo pacificamente enquanto sua alma estava bem acordada. Isso podia ser bem útil! Ele poderia ir para lugares e ter o álibi perfeito – seu corpo numa cama. Tantas possibilidades...

Entretanto, agora ele precisava dormir de verdade. Essa ocorrência o animara, e ele se sentiu pronto para encarar seu aniversário sozinho pela manhã. Nathan falou o encantamento que o levaria sua alma de volta ao seu corpo e fechou os olhos, esperando alguma sensação ruim que acompanharia o religamento. Quando não sentiu nada, Nathan abriu os olhos e encontrou a si mesmo na cama à sua frente. O encantamento não funcionara.

Nathan entoou as palavras cuidadosamente de novo e abriu os olhos para o mesmo cenário. Uma terceira tentativa e nada aconteceu também. Nathan começava a se preocupar. Mais algumas tentativas, e nenhuma mudança – a essência de Nathan ainda não estava nem perto de voltar ao seu corpo. Ele começou a tentar variações do mesmo encantamento, chegando mais perto da parte dele que repousava, tentando tocá-lo enquanto entoava, e nada, nada, nada... nada.

Ele estava em pânico depois de uma hora de tentativas frustradas de se tornar completo novamente.


No próximo capítulo… Nathan está preso fora do seu corpo, preocupando seus pais.


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Notas finais do capítulo

É isso. Espero que as coisas estejam mais interessantes agora. Ela beijou ele, e Nathan está encrencado. Severo não é um bruxo de sorte, ou é? ;0)
Agora é hora de agradecer minhas betas incríveis da versão original, Indygofeathers e GinnyW, e da tradução, BastetAzazis, porque elas dão um duro danado. Valeu!
Você sabe que estou sempre curiosa para saber sua opinião sobre os capítulos. Se tiver um tempinho, deixe um review. :0)