Mais que Um Granger escrita por ferporcel


Capítulo 17
Capítulo 17 - Perguntas Sem Respostas


Notas iniciais do capítulo

Capítulo dezessete! :0) Nathan tem uma nova fonte de informações, e Hermione e Severo têm muito o que pensar.



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Capítulo 17: Perguntas Sem Respostas

Nathan estava sentado numa das poltronas no escritório da diretora. Como parte do seu plano, ele procurara a Prof. McGonagall fingindo estar interessado em se candidatar a uma das vagas de assistente do Filch.

– Então, Sr. Granger, você entende o que significa ser um assistente de Hogwarts? Não é fácil – a diretora salientou depois de uma explicação chata sobre os deveres do assistente.

– Entendo, diretora – ele respondeu obedientemente, querendo saber por que estava demorando tanto para alguém chamá-la. O que está acontecendo com o Kevin e o Andy? – pensou apreensivo.

E foi como se eles tivessem ouvido seus pensamentos.

– Diretora – um retrato de um bruxo rechonchudo chamou atrás dela. – Acho que deveria ir até as masmorras.

– É o Pirraça? – ela perguntou resignada.

– Infelizmente não. É um monte daqueles fogos de artifícios; aquelas cobras coloridas – o retrato disse a ela –, e eles estão se multiplicando rapidamente.

McGonagall suspirou. – Sr. Granger, sinto muito, mas isso terá que esperar – disse, dispensando-o.

– Ah, eu posso esperar aqui até a senhora voltar, professora – ele disse, mantendo sua parte do plano em andamento. – Se a senhora não se importar.

Ela olhou para ele por um tempo, considerando sua oferta, e então assentiu com a cabeça. – Voltarei logo.

Nathan a observou sair, e assim que ela fechara a porta, olhou em volta para os muitos retratos pendurados na sala, dizendo urgentemente: – Preciso falar com Alvo Dumbledore.

– Ah, mas que moleque! – falou um bruxo com um bigode grande e chapéu azul. – Você está por trás dos fogos de artifício, não está?

Nathan ignorou aquela acusação e as outras que se seguiram e procurou na parede pelo bruxo que vira apenas em cartões de sapos de chocolate e fotos bruxas antigas.

– Estou aqui – disse uma voz calma à sua direita. – Sr. Granger, não é?

– Sim, senhor – ele respondeu e atravessou a sala para ficar em frente à moldura de Alvo Dumbledore. – Quero perguntar-lhe sobre um bruxo que o senhor conhecia – disse.

– O que você tem para perguntar deve ser muito importante. Um ataque de fogos de artifício não é uma manobra de distração fácil – Dumbledore disse divertido.

Nathan inquietou-se sob o exame minucioso dos olhos cintilantes do retrato. – Eu... O senhor conhecia o Prof. Snape muito bem, não conhecia? – ele perguntou nervoso.

– Sim, conhecia – Alvo respondeu vagarosamente.

– Ele... bem, eu sei que... – Por que é tão difícil simplesmente dizer isso? – Ele, o senhor sabe...

– Sim, minha criança, ele me matou – Dumbledore completou para ele. – Mas só porque não tinha escolha – acrescentou, observando Nathan intensamente. – Existem situações em uma guerra onde alguns sacrifícios devem ser feitos.

– O senhor o perdoou?

– Não havia o que perdoar. – Dumbledore alisou sua barba pintada. – Mas você já sabia disso, senão não estaria aqui. O que é que você não sabe?

Com aquelas palavras, Nathan percebeu que seria muito mais difícil do que pensara conseguir do velho bruxo no retrato que precisava. Esperara que o antigo diretor tivesse remorsos de Snape, e estaria disposto a compartilhar alguns segredos sórdidos sobre o passado do mestre de Poções. Ele ainda achava que valia a pena tentar, e então optou pela abordagem direta, já que não tinha muito tempo antes da diretora voltar.

– Ele sabe de uma coisa muito importante para mim, mas não quer me contar. Pensei que talvez o senhor pudesse me ajudar – Nathan explicou. – Preciso de informações que possa usar em troca do que ele sabe. Algo que ele não gostaria que a escola toda soubesse.

Era isso! Ele apelava ao desejo de vingança deste bruxo.

Dumbledore observou Nathan com ainda mais interesse agora. – Você é muito mais parecido com seu pai do que imaginei a princípio. Você está me pedindo para ajudá-lo a chantagear o Prof. Snape. Não é um pedido corriqueiro.

Os olhos de Nathan brilharam depois da primeira parte do discurso do retrato. – Como é que eu sou mais parecido com o meu pai, senhor?

Dumbledore não seria tentado tão facilmente, mas podia ver a oportunidade que esta conversa criava. – Você está mais disposto a conseguir o que quer, sem se preocupar em como conseguirá. Seu pai também era assim, e era uma das características que eu admirava nele... – Ele fez uma pausa. – ...mas apenas quando lutava pelas coisas certas.

Nathan estava hipnotizado pelo bruxo na tela. Dumbledore dissera mais sobre seu pai que qualquer outra pessoa já lhe dissera antes. – Vocês eram amigos?

– Gosto de pensar que ainda somos – Dumbledore respondeu com um sorriso leve em sua boca pintada. – Mas pensei que queria falar sobre o Prof. Snape – disse, erguendo uma sobrancelha.

Nathan perdera completamente o interesse no mestre de Poções. Agora ele estava muito mais interessado no quê o grande Alvo Dumbledore tinha a dizer sobre seu pai. – Não, tudo bem. Entendo que não queira falar sobre ele, senhor – ele dispensou o antigo assunto. – Podemos continuar conversando sobre o meu pai, se o senhor preferir... – E poderia começar me dizendo o nome dele – ele queria acrescentar.

Dumbledore se divertia. – Não acho que seria possível, mas você deveria saber que chantagear o Prof. Snape não o fará cooperar com você, meu jovem. Ele pode dizer-lhe quem é o seu pai se você ganhar o respeito e a amizade dele.

Nathan franziu a testa. Será que ele mencionara que informações seu professor de Poções estava segurando? Ele achou que não. Como o retrato soubera, então? – Eu não disse quais informações queria do Prof. Snape.

– Não, não disse.

Nathan estava ainda mais confuso. – Como o senhor sabia, então?

– Eu sei um monte de coisas. Sei que Basiliscos são daltônicos, que existem mil duzentos e setenta e quatro sabores de Feijõezinhos de Todos os Sabores Bertie Botts, e que a diretora esconde balas de limão na primeira gaveta da mesa dela. Por que você não pega algumas enquanto ela não está aqui? – Dumbledore disse, piscando com um sorriso travesso e inclinando a cabeça em direção à mesa.

A testa de Nathan franziu ainda mais. Ele olhou para a mesa, balançou a cabeça para organizar seus pensamentos, e olhou de volta para o retrato.

Antes que Nathan pudesse dizer qualquer coisa, Dumbledore o fez. – Tarde demais – ele disse, e podia-se ouvir barulhos vindos do outro lado da porta, prendendo a atenção de Nathan. – Você encontrará as respostas para suas perguntas quando parar de procurar por elas. Tudo o que você precisa está dentro de você – Dumbledore acrescentou com os olhos cintilando.

Nathan piscou olhando para o retrato e pensou. O que ele quer dizer? Entretanto, não tinha tempo para pensar ou perguntar mais nada. Voltou rapidamente para a poltrona em que estivera sentado antes da diretora sair e fingiu que estava entediado, como se tivesse ficado naquela posição o tempo todo.

McGonagall foi até a mesa, sentou-se e suspirou. – Onde estávamos, Sr. Granger? – perguntou meio que retoricamente. – Ah, sim. Os deveres do assistente. Bem...

– Diretora, enquanto esteve fora, tive algum tempo para pensar em tudo que disse e acredito que não estou preparado para a responsabilidade de ser um assistente de Hogwarts no momento. Agradeço seu tempo, diretora. Sei que é muito ocupada. – A confusão podia ser vista no rosto dela. – Obrigado, diretora – Nathan acrescentou, levantando-se de sua poltrona e deixando rapidamente o escritório.

Quando a porta se fechou atrás dele, sua confusão voltou a ficar claramente visível em seu rosto. Parar de procurar respostas? Tudo o que ele precisa está dentro dele? Do que aquele retrato maluco estava falando? E aquele era o famoso Alvo Dumbledore? – pensou. Não muito útil.

Desceu a escada em espiral, e enquanto voltava para a torre da Grifinória, algumas das outras coisas que aprendera naquela tarde voltaram à sua mente. Sou como o meu pai. Nathan sorriu. Ele ainda não conhecia seu pai, mas agora sabia mais sobre ele que antes. Ele luta pelo que quer, e eu também.

Imerso nos pensamentos sobre o que aprendera com Dumbledore, ele entrou na sala comunal para encontrar seus amigos travessos, que exigiram um relado completo da sua conversa com o retrato.

– Então o que você está dizendo é que ele também não disse nada – Kevin concluiu depois que Nathan terminou.

– Não tenho certeza. Ele pode ter dito algo de útil, de um jeito enigmático. Aquela foi a conversa mais confusa que já tive, e isso é dizer muito – Nathan confessou.

– Bem, você vai acrescentar isso aos arquivos, certo? – Andy perguntou.

– Sim, claro – Nathan assegurou-lhe. – Na verdade, vou fazer isso agora. Não quero esquecer nada do que aquele retrato disse, por mais absurdo que possa ter soado.

Nathan deixou a sala comunal e subiu as escadas para os dormitórios. Acomodou-se em sua cama, tirando dois rolos de pergaminhos da mochila. O primeiro era aquele que Andy mencionara: os arquivos Snape. Era onde Nathan mantinha as informações que achava relevante sobre o professor. O segundo, que os outros não sabiam que ele mantinha, era o que ele chamava de os arquivos Pai.

O segundo pergaminho tinha pequenas informações preciosas. Na primeira coluna estava uma lista de nomes entitulada Pessoas que sabem, à qual Nathan acrescentou Alvo Dumbledore. Além disso, tinha só mais uma referência sob a coluna Pistas: Professor Lupin mencionou os dias em que era estudante.

Nathan começara a tomar notas sobre o que sabia do seu pai depois da conversa que ouvira entre sua mãe e o professor de Defesa Contra as Artes das Trevas. Agora, ele tinha mais itens para acrescentar. O retrato de Alvo Dumbledore lhe dissera que fora amigo de seu pai. Ainda é – Nathan acrescentou mentalmente. Também soube que seu pai era um homem determinado, que não desistia das coisas que queria. Assim como eu – pensou sorrindo.

Ele continuou anotando os trechos de sua conversa com Dumbledore, e depois de reler os dois pergaminhos, percebeu que ainda não tinha o que precisava para descobrir quem era seu pai, ou para tirar a informação do Prof. Snape. Ele suspirou e deitou-se na cama. Observando o desenho vermelho e dourado da cortina da sua cama, Nathan pensou sobre a última coisa que o retrato dissera, tentando entender o que ele quis dizer com tudo que precisa está dentro de você.

*-*-*-*

Remo estava pensativo depois do que vira e ouvira nas masmorras no final de semana passado. Fora lá procurando uma confirmação para suas suspeitas sobre a descendência do Nathan e recebera, além da dita confirmação, muito mais. Observara a raiva do Nathan, a teimosia do Severo e a impotência da Hermione, e ouvira as explicações e lamentações dela.

Hermione lhe dissera que mantivera Nathan em segredo para Severo, e Severo em segredo para todos, incluindo o Nathan. Naquele momento, Remo começara a entender as reações de Severo em relação ao menino, e as ações dele aquele dia nas masmorras, mas depois de refletir por um tempo, Remo agora tinha mais perguntas que respostas.

De tempos em tempos, o pai misterioso do Nathan era o assunto em voga entre os Potter, os Weasley e outros membros da dormente Ordem da Fênix. No começo, quando eles descobriram a gravidez de Hermione, houve comoção por parte de uns e indignação por parte de outros. Quando ela declarara que a identidade do pai não era da conta de ninguém, as reações foram ainda mais fortes. Rony exigira que ela contasse a eles o nome do bruxo que fizera aquilo com ela; Minerva pedira a Hermione que confiasse neles, mas a reação mais calma, e ainda assim a mais preocupante, foi a do Harry. O salvador do mundo bruxo tinha um olhar frio, um olhar que traía o poder atrás das suas feições jovens e inocentes, e era algo que Remo vira somente umas poucas vezes e esperava nunca mais ver.

Hermione estivera mais calma que de costume e dissera-lhes que nada mudaria sua decisão. Mais protestos seguiram aquela declaração, mas morreram quando Harry decidiu falar. Ele aproximara-se de Hermione e dissera: – Se você está tão decidida a protegê-lo de nós, é melhor protegê-lo bem – e depois saíra da sala. Com o passar do tempo, tudo voltara ao normal. Nathan nasceu, Harry foi chamado para ser padrinho, e a identidade do pai continuou escondida.

Bem, isso não era verdade. Remo agora sabia que Severo era o pai do Nathan, e mais perguntas sem respostas flutuavam em sua mente. Por que a Hermione escondeu o Nathan do Severo? Por que ninguém soube do relacionamento deles naquela época, ou mesmo hoje? E agora que Severo sabia, por que eles não revelavam a verdade ao Nathan? Escondê-la do Harry e do Rony era compreensível – eles nunca gostaram do Snape – mas do Nathan... Só podia ser por causa da teimosia do Severo, porque Remo tinha certeza que a Hermione gostaria de revelar o segredo dela – deles – para o menino. Ele tinha certeza que ela sabia da admiração que o Nathan tinha pelo Severo – ou tivera no passado, já que Remo não sabia mais o que o menino pensava do mestre de Poções.

O que ele sabia era que os esforços do menino para ganhar o reconhecimento de Severo eram incansáveis. Remo podia lembrar do dia que encontrara Nathan desconcertado nas masmorras por ser dispensado sem o reconhecimento pelo seu bom trabalho na sala de aula. Mas observando o Nathan desde então, ele percebera que as coisas podiam ter mudado. Eles passaram um mês de detenções juntos afinal de contas. O que acontecera naquelas detenções? Ele não sabia...

Entretanto, Remo recordou sua última conversa sobre o teimoso professor. Nathan o procurara em seu escritório, pedindo uma explicação para o comportamento do Severo. Por que o Nathan ainda queria entendê-lo, mesmo assim? Será que o menino suspeitava de algo? Não, não suspeitava. Não depois do que ele dissera à Hermione naquele dia. Só podia ser o desejo do menino em ganhar o reconhecimento do professor mais difícil, assim como sua mãe quando fora uma aluna. Sorriu com a memória, mas o sorriso logo se transformou em uma expressão triste e desejosa; ele nunca veria a imagem de si mesmo ou de Tonks em nenhuma criança.

Remo entrou no Salão Principal por uma porta lateral, saudou aqueles já presentes, e sentou-se para almoçar. Correu seus olhos pelas quatro mesas à frente, tomando mais tempo para observar seus grifinórios. Não havia nada incomum, e continuou assim até que a maioria dos alunos terminara suas refeições.

Foi então que um movimento de sonserinos do primeiro ano, liderados por Devon Malfoy, pôde ser visto se aproximando das portas principais ao mesmo tempo que um grupo de grifinórios do primeiro ano, Nathan entre eles. De onde estava na Mesa Principal, Remo não podia ouvir o que Devon dizia, mas ouviu a risada dos companheiros dele.

Outro comentário do Devon foi seguido por mais risos, e Remo viu Nathan virar-se para encarar o sonserino. Levantou-se num instante, e viu Severo fazendo o mesmo. A caminho do círculo crescente de alunos que agora cercavam o grupo, ele ouviu a exigência furiosa do Nathan: – Retire o que disse, Malfoy! Retire o que disse!

Quando realmente alcançou o centro da confusão, Severo já segurava um Nathan furioso, que saltara para atacar Devon fisicamente. O sonserino tinha uma mão erguida para proteger o rosto, olhos arregalados de surpresa, medo e descrença. Ficou claro que Devon nunca fora atacado do jeito trouxa.

– Sr. Granger, isso é inaceitável! – sibilou Severo. – Dez pontos a menos para a Grifinória e detenção!

– E ele? Ele não vai ser punido também? – Nathan perguntou, apontando para o Devon. – Ele começou! Ele insultou minha mãe!

– Como eu posso ser culpado? Não posso fazer nada se ela não sabe quem é o seu pai – Devon retrucou, saindo do choque para se defender.

– Cala a boca, Malfoy! – Nathan vociferou.

– Chega! – sibilou Severo. O homem ainda segurava seu filho pelo braço.

Remo observava a cena, de repente sem palavras. Como o Severo pode assistir a isso e não reagir, não dizer ao Nathan que é seu pai? – pensou.

– Faça-se útil, Lupin! – clamou Severo.

– Dez pontos a menos para a Sonserina e detenção, Devon – declarou então, olhando intencionalmente para o Severo, que estreitou os olhos. – Bem, bem. O show acabou, vão para suas aulas – Remo acrescentou ao grupo de alunos ao redor deles, e eles começaram a se mover.

– Sr. Granger, independente do que o Sr. Malfoy disse ou fez, esse comportamento trouxa não será tolerado – Severo disse, olhando diretamente nos olhos brilhantes do Nathan. O menino não recuou ou mostrou qualquer sinal de reconhecimento.

Remo queria sorrir com malícia à atitude do menino. Mesmo ameaçado física (Severo ainda segurava o braço do menino) e verbalmente pelo temido mestre de Poções, ele não mostrava nenhum sinal de medo ou resignação.

– Entendeu? – Severo perguntou.

Novamente, sem desviar o olhar determinado dos olhos de Severo, Nathan respondeu: – Sim, professor. Posso ir, agora?

Severo soltou o braço do Nathan. – Ainda não – respondeu. – Sr. Malfoy, da próxima vez que o vir entrando numa briga, não precisarei de um grifinório para tirar pontos da Sonserina. Está claro?

– Mas tio Sev... – Devon começou a argumentar, só para ser interrompido pelo padrinho.

– É Prof. Snape, Sr. Malfoy – Severo sibilou –, e eu lhe fiz uma pergunta direta.

O menino loiro baixou a cabeça e murmurou: – Sim, professor.

Remo observava o menino com a testa franzida ao lado de Severo. Ele também não perdera o deslize de Devon. – Devon, esteja no meu escritório às sete. – O menino assentiu, levando a mão ao queixo novamente. – Você precisa ver a Madame Pomfrey?

– Não, professor – Devon murmurou.

Quando Remo tirou seus olhos de Devon, viu Nathan observando o loiro com uma expressão complacente no rosto. – O que o Prof. Snape disse também serve para você, Nathan. Se o vir em uma briga novamente, a Grifinória perderá mais pontos do que perdeu hoje. – Suas palavras tiveram o efeito desejado, e o sorriso malicioso sumira do rosto de Nathan.

– Verei você na minha sala de aula às sete, Sr. Granger – Severo disse, virando-se para deixar o Salão Principal. Sem se virar, acrescentou: – Não se atrase. – Remo viu Nathan revirar os olhos.

– Vão para suas aulas – dispensou os meninos, e quando estava certo que eles realmente evitariam um ou outro, Remo saiu em direção às masmorras.

Ele bateu na porta do escritório do mestre de Poções, mas não esperou a resposta. Abriu a porta, entrou e fechou-a atrás de si, e encontrou os olhos negros e estreitos do homem no outro lado da sala. – Não entendo como você pode ver a angústia do Nathan com isso e não fazer nada – começou. – Merlin sabe! Se eu pudesse ter um filho e fosse um menino, eu iria querer que ele fosse igualzinho ao Nathan. Ficaria tão orgulhoso que iria querer que o mundo soubesse que ele era meu... e você é o pai do Nathan. Você tem o direito de dizer que aquele menino maravilhoso é seu, mas você escolheu o contrário, mesmo sabendo que está deixando a vida dele mais difícil por causa dessa decisão ridícula.

A expressão de Severo não mudou ao longo do desabafo de Remo; era a mesma, fria e enfadonha, que sempre usava. – Terminou? – ele perguntou, erguendo uma sobrancelha em irritação. – Eu tenho uma aula em dez minutos.

Remo suspirou e balançou a cabeça. – Eu sei que você pode ver, Severo. Espero que possa colocar sua teimosia de lado a tempo. – Virou-se e deixou o escritório.

Severo suspirou assim que a porta fechou. O que Lupin não entendia era que isso era o melhor para o Nathan. Ele não precisava saber que Severo era seu pai, mesmo com Devon o insultando. Era só uma fase, e Nathan logo esqueceria isso tudo e veria que não precisava de um pai.

*-*-*-*

– Entre – Severo respondeu à batida na porta da sala de aula de Poções.

– Boa noite, professor – Nathan saudou, fechando a porta atrás dele e seguindo até a frente da sala

– Caldeirões, Sr. Granger. Você conhece o procedimento, nada de magia. Eu acho que não terá nenhuma reclamação depois da sua demonstração trouxa hoje mais cedo.

Snape estava certo. Nathan não reclamou e foi quieto até os caldeirões. Ele começou a esfregá-los e Severo continuou a trabalhar nas redações.

De tempos em tempos, Severo erguia os olhos da pilha de bobagens que os alunos do terceiro ano insistiam em escrever para observar seu filho. Podia ver que o Nathan estava realmente determinado a terminar a tarefa o mais breve possível. Bom – ele pensou.

Ouviu o menino guardar o primeiro caldeirão limpo e levantou os olhos das redações novamente. O menino olhou para ele, travaram olhares enquanto Nathan voltava para a bancada onde o segundo caldeirão imundo da noite o esperava. Nenhuma palavra ou sobrancelha erguida; nada.

Embora Snape interpretasse essa falta de interação como uma coisa boa, não seria honesto consigo mesmo se dissesse que não sentia falta dos olhares penetrantes, brigas de olhares, e respostas satíricas do Nathan sempre presentes durante o mês de detenções que passaram juntos. Seu menino era um quebra-cabeça, e essa versão quieta e objetiva dele era uma peça que Snape não vira antes.

Nathan estivera tão perto de descobrir a verdade quando ouvira a conversa de Lupin e Hermione em seu escritório na semana passada. E se ele não tivesse chegado a tempo? Nathan saberia que ele era seu pai, e...

Severo observava Nathan trabalhar e contemplava o que poderia ter acontecido então, como fizera tantas vezes antes. Quais seriam as reações do Nathan? Seu eu racional insistia que o menino o odiaria ainda mais do que já o odiava, mas não podia ter certeza. E se, contrário a todas as expectativas, Nathan... Não, não podia esperar por aquilo. Severo não era bobo de pensar que alguém iria aceitá-lo de boa vontade a fazer parte se suas vidas.

E então seus pensamentos o traíram com a imagem de Hermione Granger. De certa forma ela o aceitara de boa vontade em sua vida quando criou o filho dele. Por mais que ele tentasse, não conseguia entender aquilo. Além do mais, ela até achava que o Nathan também o aceitaria em sua vida... Que ia até gostar de saber que ele era seu pai. Ela, dentre todas as pessoas, sabia do que ele era capaz e, mesmo assim, continuava dizendo coisas para encorajá-lo a se revelar para o Nathan, a ser parte da vida do seu filho. Por que agora? Por que não antes, quando Nathan era mais novo? Porque ela sabe do perigo que você é – respondeu a si mesmo. Mas se isso era verdade, por que ela ia querer contar para o menino agora? Nathan tinha onze anos, morava em um internato; ele não precisaria dos pais por muito mais tempo. Quando ele deixar Hogwarts será um jovem rapaz, com a própria vida para construir. Ele não precisará mais de um pai.

Concentrou-se em sua tarefa de corrigir redações novamente, colocando aqueles pensamentos de lado, como sempre fazia agora. Não muito depois disso, Snape sentiu os olhos do Nathan nele. Entretanto, não tirou seus próprios olhos das redações. Algum tempo se passou, e ele podia sentir aqueles olhos negros novamente nele, mas novamente fingiu que não os notou. Porém, ele não podia mais ignorar os olhares do menino quando Nathan parecia mais interessado em observá-lo do que em limpar o caldeirão. – Sua tarefa é o caldeirão, Sr. Granger. Tente prestar atenção nela – disse sem tirar os olhos do pergaminho que lia.

Como ele fez isso? – Nathan pensou, olhando agora para o caldeirão. Tenho certeza que ele não tirou os olhos do que quer que ele esteja corrigindo nem uma vez desde que comecei o segundo caldeirão. Nathan sempre ficara impressionado com a atenção do Prof. Snape aos arredores, embora soubesse do passado do homem como espião.

Nathan pensara que poderia usar essa detenção para observar o Prof. Snape, em uma última tentativa de descobrir algo para acrescentar a sua pesquisa sobre ele. Quanto mais sabia sobre o mestre de Poções, mais ficava intrigado com ele.

Continuou limpando o caldeirão, repassando todas as informações que juntara sobre o bruxo até agora. Todas as coisas sórdidas que sabia sobre o passado do Prof. Snape já eram de conhecimento comum. Franziu a testa lembrando do que lera na noite anterior sobre o papel do mestre de Poções na guerra. A maioria das coisas ele já sabia, mas algumas das informações eram novidades e nenhuma surpresa agradável. Aprendera sobre os crimes que o Prof. Snape fora acusado de cometer, e embora soubesse que seu professor matara pessoas, ele sempre acreditou que fora em autodefesa ou sob ordens de alguém, como sua mãe lhe dissera. Era exatamente como o que o seu padrinho, e salvador do mundo bruxo, fizera. Mas aprender que seu professor torturara e matara pessoas por vontade própria fora perturbador. Nathan não temia o bruxo sentado à mesa a sua frente, mas pensava nas razões para que alguém como ele, com tantos talentos e tamanha inteligência, sentisse a necessidade de cometer aqueles crimes.

Nathan não percebeu que parara de esfregar o caldeirão até que a voz do Prof. Snape o tirou de sua contemplação. – Eu não estou ouvindo você trabalhar, Sr. Granger.

Nathan recomeçou seus movimentos mecanicamente, deixando por hora aqueles pensamentos de lado. Terminou rapidamente a tarefa e deixou as masmorras.

*-*-*-*

A biblioteca estava quieta naquela noite. Eram quase nove horas e poucos alunos ainda trabalhavam lá, corvinais, em sua maioria. Num corredor entre duas estantes altas, Nathan estava distraído, lendo um livro grosso sobre mapas astrológicos para sua redação de Astronomia, quando a luz pálida vinda de uma das lanternas foi bloqueada por uma sombra. Antes que pudesse reagir, seus braços foram agarrados por mãos fortes. Nem mesmo o barulho do livro atingindo o chão de pedra alarmou os outros para sua situação difícil. Os meninos que o seguravam não lhe deram escolha, mas ele lutava para se soltar e alcançar sua varinha mesmo assim. – Me solta!

– Eu disse que estava mexendo com o bruxo errado, Granger – Malfoy disse surgindo de trás de seus capangas.

– O que você quer de mim? – Nathan perguntou, ainda tentando se soltar.

– Estou aqui para fazê-lo pagar pelo que fez no Salão Principal – Devon respondeu dobrando uma manga de suas vestes.

Nathan aumentou os esforços para se soltar. – E você precisa de duas montanhas de músculos para ajudá-lo? – O aperto em seus braços ficou mais forte. – Pensei que você fosse melhor que isso. – Provocou o sonserino, mas sem sucesso.

Devon riu. – Você achou que eu viria até você despreparado? Não sou um grifinório estúpido. – Aproximou-se do Nathan. – Agora você vai aprender a não se meter com um Malfoy.

O soco atingiu Nathan bem no queixo. Doeu, mas ele não emitiu nenhum som. Malfoy pareceu desapontado com a falta de reação à agressão e o atingiu novamente, mais forte. Desta vez o golpe atingiu seu rosto logo abaixo do olho esquerdo, e ele ofegou com a dor que agora sentia. Devon tomou o queixo do Nathan nas mãos e olhou-o nos olhos, sorrindo com malícia.

– Acho que aprendeu a lição, Granger. – Ele soltou o rosto do Nathan, e começou a revistar as vestes de seu cativo. Quando encontrou a varinha do Nathan, tomou-a e disse aos seus companheiros: – Soltem o verme.

Nathan, agora sem varinha, sabia que não tinha a menor chance contra os sonserinos. Só observou os meninos se afastarem em direção à porta da biblioteca e viu quando Malfoy jogou sua varinha, virando-se para dizer em uma voz cantada: – Durma bem, Granger. – Eles saíram, rindo.

Nathan estreitou os olhos, mas doía ao fazer isso. Levou uma mão ao rosto, recuando do próprio toque; ele já podia sentir o inchaço. Fechou os olhos e suspirou; teria um hematoma. Nathan pegou o livro do chão e colocou-o na estante, foi até onde sua varinha estava, recolheu-a, e voltou para a mesa onde estavam suas coisas. Juntou-as e deixou a biblioteca.

Seguiu para a sala comunal, mas então achou melhor não entrar. Sabia que seu rosto estava machucado e não queria lidar com seus amigos agora. Continuou andando e, antes de perceber onde estava indo, encontrou-se olhando por aquela janela grande em um dos andares mais altos, focando nas luzes distantes de Hogsmeade.

Ainda estava bravo com o que acontecera na biblioteca. Não porque apanhara; não fora a primeira vez que evocara a ira de alguém, envolvera-se em uma briga e levara a pior. Estava bravo porque isso faria sua vida ainda mais insuportável do que já era. Malfoy se vangloriaria do triunfo dele como parte da vingança, e seus amigos sentiriam ainda mais pena quando vissem o hematoma no seu rosto... Quando isso acabaria?

Não, ele podia lidar com a dor pungente queimando seu rosto. Mais forte que a dor era seu sentimento de desamparo e solidão. Ninguém sabia como era receber olhares alheios de pessoas que você nem conhecia; como era ter pessoas como o Malfoy fazendo comentários maliciosos sobre sua família todo santo dia e não fazer, nem dizer, nada de volta; como era frustrante tentar finalmente fazer algo a respeito, só para fracassar.

De repente, era difícil respirar com o nó que se formava em sua garganta, e a visão das luzes brilhantes na vila distante ficou embaçada com o que ele sabia que eram lágrimas. Fechou os olhos e as deixou cair. Ele se sentia tão só. Queria os braços da sua mãe ao redor dele, e pensar nela trouxe uma nova série de lágrimas aos seus olhos. Ele sentia tanto a falta dela. Ela era a única que se importava com ele, e se ela estivesse aqui agora, ele não pensaria duas vezes em sua raiva e a abraçaria com toda força. Mas ela não estava ali e ele se abraçou ao invés disso, choramingando.

Entrando no corredor obscuro estava Severo Snape. Estivera revistando a escola por alunos fora da cama depois das nove, e lá estava um, o terceiro da noite. Aproximou-se sem fazer barulho, até reconhecer quem era o aluno e parar de aproximar-se – era o seu filho. O que ele estava fazendo fora da cama depois das nove de novo? Abriu a boca para repreender o menino e a insistência dele em quebrar as regras da escola, mas suas palavras se perderam quando ouviu Nathan puxar o nariz – o menino estava chorando. Ótimo – pensou irritado, mas no seu coração queria saber o que fizera seu menino chorar. Lembranças de seu próprio primeiro ano em Hogwarts invadiram sua mente. Meninos o insultando, preocupação com sua mãe sozinha com seu pai violento, falta de amigos, dias e noites de perambulação pelos corredores, sozinho. Severo franziu a testa, sentimentos amargos chegavam até seu coração.

– Apreciando a vista? – Severo perguntou, assustando o menino. – Já passam das nove, Sr. Granger – fato que tenho certeza que já sabe.

Nathan enxugou os olhos doloridos e o nariz escorrendo com a manga das vestes. Por que é sempre o Prof. Snape? – pensou.

– Está se tornando bem previsível, Sr. Granger. Diga-me, por que está aqui em cima, choramingando? – Ele enfatizou a última palavra. Quando nenhuma resposta estava por vir, ele exigiu: – Olhe para mim.

Nathan hesitou.

– Olhe para mim, Sr. Granger – Severo repetiu mais irritado.

Nathan obedeceu. Severo surpreendeu-se com o hematoma roxo sob o olho esquerdo do seu filho, visível mesmo na luz fraca. Sacando sua varinha, acendeu a ponta com um Lumos murmurado e levou a luz azulada para mais perto do rosto do seu filho. Tomando a outra mão para inclinar a cabeça do menino mais para cima, perguntou calmamente: – Quem fez isso?

Nathan ponderou se dizia a verdade ou não. O Prof. Snape não puniria Malfoy; ele vira a proximidade que tinham quando seu agressor chamara seu professor do mesmo jeito que Nathan chamava Harry e Rony.

Severo podia ver a indecisão nos olhos do Nathan. Não precisava de três tentativas para adivinhar quem batera nele, e a hesitação do menino era irritante. Será que ele está com medo do Malfoy, agora? Ou será que ele está com medo de mim? Será que ele vai ficar medroso e vai começar a chorar de novo? Severo não permitiria isso.

– Eu lhe fiz uma pergunta simples. Quem. Fez. Isso? – disse com mais força na voz.

– Não importa, professor. Eu não tenho provas e o senhor não o punirá sem elas – Nathan disse calmamente.

– Você não sabe o que eu vou ou não vou fazer, menino – Severo despejou irritado. – Nunca me ocorreu que você fosse um daqueles poucos grifinórios covardes – disse, observando os olhos do seu filho mudarem na luz –, mas eles aparecem mesmo de tempos em tempos. – Ele fez um gesto de pouco caso e continuou: – Você também anda choramingando pelo castelo com bastante freqüência. Talvez o Chapéu Seletor tenha cometido seu primeiro erro em séculos; você deveria estar na Lufa-lufa.

– Não sou covarde – Nathan afirmou com firmeza –, professor.

Severo podia ver os olhos vermelhos do seu filho brilharem com os sentimentos que suas palavras evocavam, como pretendido. Grifinórios são tão fáceis de provocar – pensou entretido.

– Então me diga quem fez isso com você, e lhe concederei o benefício da dúvida – Severo disse, erguendo uma sobrancelha.

– O senhor sabe muito bem quem fez isso, professor. E ele teve ajuda de mais dois sonserinos.

– Essa meia-declaração não é o melhor argumento para contrariar minhas suposições, Sr. Granger, mas acho que é tudo que sua coragem permite. – Os olhos do Nathan estavam brilhantes de raiva sob a luz de sua varinha. – Venha comigo.

Ele virou-se e Nathan o seguiu. Andaram em silêncio por um tempo, até que o menino falou novamente. – Esse não é o caminho para a minha sala comunal, professor.

– Não, não é. – Quando ouviu seu filho puxar o ar para indubitavelmente perguntar o destino deles, ele elaborou: – Estou levando você para a Madame Pomfrey. Ela dará um jeito nesse hematoma feio antes de acompanhá-lo até a Grifinória.

Nada foi dito durante o restante da caminhada para a ala hospitalar. Entraram na ala vazia, e Severo disse: – Fique aqui – e saiu para buscar a medibruxa.

Ela surgiu de uma porta estreita, fechando o penhoar. Severo veio logo atrás. Ela pediu para o Nathan sentar-se em uma das camas. – Oh, meu menino! – exclamou quando viu o ferimento do Nathan. – O que aconteceu? – Nathan não respondeu, e Severo o observava intensamente.

Madame Pomfrey lançou vários encantamentos no menino para ter certeza que aquele era o único machucado, e só depois que pareceu satisfeita com o diagnóstico foi que pegou a pomada curativa. – Eu vou aplicar isso no ferimento e levará de dez a quinze minutos para absorver e fazer seu trabalho. Quando terminar, você não sentirá dor e não nenhum hematoma será visto – ela explicou, e prosseguiu para esfregar a pomada no rosto do Nathan.

Nathan recuou com o primeiro toque, silvando de dor, mas não protestou mais. Severo ficou ao lado da medibruxa, observando o procedimento. Ela terminou a aplicação do remédio amarelado e dirigiu-se ao homem: – Você vai acompanhá-lo até a sala comunal, Severo?
Snape assentiu.

– Vou me recolher, então. Tente pegar quem fez isso com o menino – ela acrescentou exacerbada e deixou a ala.

Havia um silêncio pesado no ar. Nathan tinha as mãos cruzadas no colo, a cabeça baixa, olhando fixamente para o chão. Os olhos de Severo nunca deixaram o filho, e vê-lo assim tão para baixo estava deixando-o inquieto.

– Deixe-me ver se a pomada está sendo absorvida – Severo disse calmamente. Nathan olhou para cima; os olhos ainda um pouco vermelhos do choro de antes. – Você não devia chorar nos corredores onde os outros podem vê-lo – Severus se pegou dizendo. – Você não vai querer pessoas lhe chamando de chorão, acredite – resmungou, a palavra Ranhoso vindo à mente na voz de um Maroto.

Nathan encarava seu professor, confuso. Severo já se sentia embaraçado por dizer aquelas poucas palavras de conselho e não gostava do jeito que o menino o olhava. Ergueu a voz e disse: – Vamos andando, eu tenho coisas mais importantes para fazer do que tomar conta de grifinórios. – Ele estava no controle novamente.

Nathan franziu a testa. Só por um momento, o Prof. Snape parecera quase gentil, mas no outro ele já estava de volta, dizendo como o Nathan era um estorvo. Levantou-se da cama e começou a andar até a porta, atrás do seu professor.

*-*-*-*

O fogo ficou verde, chamando a atenção de Hermione. Uma cabeça com cabelos pretos bagunçados apareceu.

– Hermione? Você está em casa?

Ela se levantou da mesa onde corrigia redações e entrou na frente da lareira, no alcance de visão do Harry. – Estou, Harry.

– Posso atravessar, ou está muito ocupada?

– Não, não. Entre. – Hermione esperou até que seu amigo estivesse totalmente em sua sala de estar. – Como está?

– Estou bem, muito bem – Harry respondeu, tirando cinzas de suas vestes azuis escuras. Eles se abraçaram. – E você? Muito trabalho, pelo visto – ele disse apontando para a pilha de papéis na sua mesa.

– Final de semestre é sempre uma época ocupada para professores. Como vão Gina e as crianças? – Hermione perguntou.

– Estão ótimos. As crianças estão todas animadas com a chegada do Natal, e é por isso que estou aqui. Queremos que você e o Nathan passem o Natal conosco. Todo o clã dos Weasley já confirmou. Remo e Tonks devem vir também. Agora, para completar a reunião familiar, só faltam você e o Nathan – Harry disse sorrindo.

Hermione sorriu tristemente. – Eu não sei se seremos boa companhia.

Harry franziu a testa. – Do que está falando, Hermione?

– O Nathan não está falando comigo no momento, e eu não sei se estaremos em bons termos novamente até o Natal.

– Ele não está falando com você? Como isso aconteceu? – ele perguntou, confuso.

– Tivemos uma briga, das feias – ela disse desviando seus olhos do bruxo a sua frente.

– Foi por causa do pai dele? – Harry perguntou já sabendo a resposta.

Hermione suspirou. – Sim – disse simplesmente e sentou-se no sofá.

Harry seguiu, observando-a intensamente.

– Eu seu o que você está pensando, mas eu ainda não posso contar para ele. Eu queria que as coisas não fossem tão complicadas – ela murmurou, olhos fixos no fogo crepitante.

– Você explicou isso a ele?

– Sim – ela respondeu impacientemente, voltando a olhar para o Harry. – Ele não consegue entender. Ele me chamou de mentirosa, me acusou de tornar a vida dele um inferno, e disse que não falaria comigo até que eu tivesse um nome para lhe dizer.

– Eu simplesmente não posso, Harry. Esperei todo esse tempo e quero fazer as coisas direito. Não posso por tudo a perder depois de mais de onze anos.

– Sei que isso é difícil para você, que você deve ter um bom motivo para manter isso um segredo de todos nós, mas você sempre disse que revelaria a verdade quando o Nathan fosse mais velho. Por que está demorando tanto, Hermione? – ele perguntou a ela.

– Eu sabia que esse seria um ano difícil, com o Nathan indo para Hogwarts e tudo mais. Achei que estaria preparada para lidar com toda essa confusão quando a hora chegasse, mas a verdade é que eu não estou preparada. Pensei que estivesse, mas não estou. Não foi assim que eu imaginei que seria, Harry. Quero acabar com isso de uma vez por todas, e eu sei que o Nathan está preparado, mas ele não é o único envolvido.

– Entendo – Harry disse baixando a cabeça. – Queria poder ajudar, mas não há muito que eu possa fazer, já que nem eu sei da verdade – ele destacou.

Hermione sabia que o Harry nunca a perdoara realmente por esconder isso dele, mas ela não era boba de revelar a verdade agora. Harry e Severo não tinham esquecido o ódio um pelo outro, e se ela contasse ao Harry que Severo era o pai do Nathan, ela não sabia o que aconteceria. Não, por mais que ela quisesse contar para ele, ela também não podia.

– Sinto muito, Harry. Contarei tudo para você um dia – ela se desculpou.

Harry suspirou. – O que você vai fazer com o Nathan? Você quer que eu fale com ele?

– Não, eu vou falar com ele neste final de semana. Já passamos por isso antes. Ele não pode me ignorar para sempre, certo? – ela disse sorrindo tristemente de novo. – Se ele insistir em não me escutar, eu posso precisar de você.

– Estarei aqui – Harry disse sorrindo de volta para ela. – E mesmo se vocês não estiverem se falando, eu posso atazanar ele no Natal, então você não tem desculpa para recusar o meu convite, Hermione.

– Está bem – ela concordou, o sorriso mais sincero –, estaremos lá.

– Ótimo – ele disse levantando-se do sofá –, Gina ficará felicíssima, e a Lílian também.

Hermione também se levantou.

Harry ficou um pouco mais sério. – Tenho que ir agora, mas não hesite em me chamar, está certo?

– Tenho certeza que tudo ficará bem – ela o assegurou.

Ele assentiu com a cabeça. – Sei que ficará. – Ele a abraçou novamente e pegou um pouco de pó de flu. – Vejo você em duas semanas. – Harry chamou seu destino e logo se foi pelas chamas verdes.

Hermione suspirou e voltou para a pilha de redações. Ela ainda não sábia o que fazer com Nathan, ou com Severo. Deus, os dois eram tão teimosos! Bem, ela falaria com eles novamente no final de semana e só podia esperar que eles a ouvissem desta vez.

*-*-*-*

Severo entrou a passos largos no laboratório, resoluto. – Ele sabe. Eu contei para ele.

Hermione parou tudo que estivera fazendo e olhou fixamente para ele em surpresa. – Como ele recebeu a notícia?

– Ele está bem – Severo lhe assegurou. – Você estava certa; ele estava pronto para saber.

Ela soltou a respiração que estivera segurando com um longo suspiro. – Eu lhe disse que ele iria gostar de saber que você é o pai dele. – Hermione deu a volta na bancada para ficar em frente a ele e tomou as mãos dele nas dela. – Como se sente a respeito.

Ele não fugiu do seu toque. – Por mais que eu não possa entender porque você o teve para começo de conversa, estou feliz que o tenha feito.

– Eu o tive porque ele era seu filho. Sempre pensei em você como um grande homem, Severo. Eu sabia que o mundo estaria bem com um herdeiro seu, e ele era o resultado da sua lealdade, coragem e esperança no meu futuro. Obrigada por isso, e por me dar a chance de explicar meus motivos.

– Eu entendo, Hermione.

A menção do seu primeiro nome a fez erguer os olhos das mãos deles. Ela se afogou na intensidade do olhar dele e desvencilhou uma mão para afastar delicadamente aquela mecha de cabelo teimosa do rosto dele. Ele fechou os olhos sob seu toque delicado. – Hermione – ele sussurrou.

– Severo – ela respondeu num suspiro próprio, e foi tudo que conseguiu dizer antes dos lábios dele tocarem os seus. O beijo era tentativo, suave, e ela o agradecia pelo braço que a segurava agora. Ela derretia nas sensações, até...

...o despertador trazê-la de volta dos seus sonhos. Eram sete e meia, e sua vida real exigia que ela acordasse e fosse trabalhar. Ela lambeu os lábios secos e suspirou pela perda do seu Severo dos sonhos. Claro que era outro sonho – pensou. Ela tivera outros desse, e estavam acontecendo com freqüência demais para o seu próprio bem.

Suspirou novamente quando pensou no Severo real. Toda vez que eles conversaram, eles discutiram. Será que um dia ele veria além do que acontecera entre eles naquela noite? Ela esperava que sim, assim como seu Severo de sonhos vira. Hermione sabia que eles podiam ter uma camaradagem quase amigável. Eles trabalharam juntos satisfatoriamente bem durante a guerra, preparando tudo para a batalha final. Satisfatoriamente bem até aquela noite. Se as coisas tivessem sido diferentes, se ela não fosse capturada e ele não tivesse que salvá-la, o que seria do relacionamento deles então? Será que eles teriam se aproximado mais e se tornado amigos? Ela achava que não. Por mais que Hermione achasse que eles tiveram uma boa concordância depois dele não ser mais seu professor, ela não conseguia ver Severo ficando seu amigo sem uma luta. O pensamento que seguiu a fez sorrir; ela teria lutado.

Se não fosse por sua gravidez evidente, que decidira esconder tentando não aumentar os problemas dele, Hermione teria mantido contato com Severo independente dele querer ou não. Se ao menos ela tivesse lhe contado sobre o Nathan antes... O que teria acontecido então? Ele seria mais fácil de convencer, ou será que ele seria tão teimoso quanto está sendo agora? Se ao menos ele pudesse ver além da teimosia. Hermione tinha certeza que ele poderia ser um bom pai. Nathan estaria muito mais feliz com ele, e eu também. Um sorriso suave brincava na boca de Hermione com a possibilidade de beijos reais de um Severo bem real, e deixou sua cama para um banho.


No próximo capítulo… Hermione vai para Hogwarts para garantir que eles terão um feliz Natal.


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Notas finais do capítulo

Hey, o capítulo acabou! Cadê o Natal? Eu sei que eu prometi que o Natal seria neste capítulo, mas a contagem de palavras me fez mudar de idéia. O capítulo estava muito longo e eu tive que dividir em dois.
Agora, o que você achou deste capítulo? Adoraria saber de você, então deixe um review. :0)



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