Mais que Um Granger escrita por ferporcel


Capítulo 11
Capítulo 11 - Brigas


Notas iniciais do capítulo

Capítulo Onze, verdade! :0) É Dia das Bruxas e um duelo está agendado; e claro, mais detenções. Quem vai vencer?



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Capítulo 11: Brigas

Nathan ainda estava chateado quando a manhã seguinte chegou. A maneira como o Professor Snape usara o fato de que ele não sabia quem era seu pai o magoara profundamente. Ele confiara no Snape por causa da sua mãe. Tudo o que ela lhe falara sobre o mestre de Poções foi o suficiente para ele; confiara em Snape, somente para ver sua confiança ser manipulada. Sim, ele realmente estava desapontado com o Professor Snape. Ele também estava bravo consigo mesmo por ter baixado a guarda.

Era assim que ele se sentia quando entrou na sala de aula de Poções para mais uma detenção. Não cumprimentou o homem à mesa, como fazia sempre. Não atravessou a sala para falar com ele. Simplesmente foi para a bancada no fundo da sala, determinado a esperar que o Professor Snape tomasse a iniciativa. O que não foi necessário, porque ali na bancada estava um pergaminho com as instruções para a tarefa da noite.

Uma hora havia passado quando ele terminou outros dois metros de frases. Nathan não dissera uma palavra desde que chegara, nem o Professor Snape. Ele enrolou o pergaminho e deixou-o na mesa onde estivera trabalhando, levantou-se de seu lugar e recolheu suas coisas. Sem nenhum olhar na direção do professor, que lia em sua mesa no outro lado da sala. Nathan saiu.

O mesmo aconteceu no dia seguinte. Ele entrou, sentou-se na última bancada e encontrou um pergaminho com instruções para escrever mais frases. Nathan leu a tarefa e revirou os olhos, mas não expressou seu desprezo de nenhuma outra forma. Ele completou a tarefa e deixou as masmorras depois de passar mais de uma hora com a companhia silenciosa do mestre de Poções, que estivera corrigindo redações.

Snape tirou os olhos das redações do sexto ano assim que a porta se fechou e suspirou aliviado. Outra detenção passara-se em silêncio absoluto; nem uma palavra trocada entre ele e Nathan. Deixando a mesa, foi até a bancada que o menino tinha acabado de desocupar e recolheu o pergaminho enrolado. Ele abriu o rolo de pergaminho e confirmou seu conteúdo; novamente, somente uma repetição da frase que havia designado. O que eu estava esperando? Mais notas no final do pergaminho? Ele bufou com a idéia. O menino não faria isso.

Levando o rolo com ele para sua mesa, Snape voltou às correções. Ao menos ele tentou. Ficou pensando sobre o confronto com Nathan desde o ocorrido. A princípio, estivera contente em colocar o menino em seu lugar, mostrar-lhe que ele não era o homem bom e honrado que diziam que ele era. Mas agora, depois de duas noites em silêncio, imaginava o que o menino estava pensando. Lembrou-se da expressão de mágoa no rosto de Nathan e das suas acusações que lhe fizera, de usar suas próprias fraquezas contra ele. Aquilo o incomodava.. No momento em que pedira a Nathan para que dissesse o nome do seu pai, estava esperando que o menino admitisse tudo o que sabia e confessasse seu jogo manipulador. Mas ele estava errado. Nathan não sabia de nada e fora magoado. Por ele.

Snape largou a pena e levantou os dedos para apertar o nariz entre os olhos. Não queria se incomodar com o que o menino pensava dele. Ele não queria pensar no menino. Ele estava lutando contra isso, mas sabia que estava perdendo, e não gostava nenhum pouco disso.

*-*-*-*

O dia seguinte era sexta-feira, o dia da festa do Dia das Bruxas. Nathan saiu da sua melancolia, cativado pela excitação ao seu redor. Estava determinado a esquecer Snape e se divertir com seus amigos. Era Dia das Bruxas!

Era logo depois do almoço e os alunos do primeiro ano não tinham aulas nas tardes de sexta-feira. A sala comunal estava zunindo quando Nathan e os outros voltaram do almoço no Salão Principal. Encontraram uma mesa vazia e começaram um jogo de Snap Explosivo. Até Nathan, que raramente tinha tempo para jogar por causa das lições de casa e, é claro, das detenções, aderira desta vez. Estavam no meio da diversão quando um menino entrou correndo na sala comunal, ofegante como se tivesse corrido uma maratona.

– Está começando! – ele gritou, e acrescentou depois que tomara o tão necessário fôlego –, Eles estão lá fora, perto do campo de quadribol.

Havia uma agitação na sala e de repente todos estavam se apressando para sair. Os alunos do primeiro ano se entreolhavam, confusos.

– Vocês não vêm? – um aluno do terceiro ano perguntou.

– Onde vocês estão indo? – Kevin retrucou.

– Para o campo de quadribol. Vocês não ouviram? O duelo está começando! – o aluno do terceiro ano disse, como se fosse a reação mais natural ao que estava acontecendo.

– Um duelo? – perguntou Andy com olhos arregalados.

– É! Vamos, ou nós vamos perder – o menino respondeu e dirigiu-se para a saída.

Andy estava em pé no mesmo instante e Kevin fazia o mesmo, mas Nathan ainda estava confuso. – Espera aí, quem está duelando? – ele perguntou.

– Eu não sei, mas se um duelo de verdade está acontecendo lá em baixo, eu não vou perder! – Andy disse, já perto do retrato da Mulher Gorda.

A curiosidade de Nathan não o deixava ficar para trás. Levantou-se e seguiu os outros Grifinórios para os jardins do castelo. Ele alcançou seus amigos nas escadarias mágicas; parecia que toda a escola estava indo para o mesmo lugar.

Quando chegou ao campo de quadribol, um grande número de alunos já estava lá, a maioria eram Sonserinos. Eles estavam vibrando enquanto os Grifinórios pareciam apreensivos. Aquilo não era muito confortador, mas não era nada comparado à cena que Nathan se deparou quando finalmente conseguiu passar pela multidão. O Professor Snape e Harry Potter apontavam suas varinhas um contra o outro. Nathan empalideceu.

Uma luz azul e viva saía da varinha de Harry, mas ela foi interceptada por uma barreira invisível antes de chegar ao seu alvo. A varinha de Snape movia-se com rapidez impressionante e uma luz vermelha irrompeu da sua ponta, na direção de Harry, que sacudiu sua própria varinha, gritando – Protego! – e a luz vermelha se dissipou com um estalido.

Os dois bruxos estavam muito concentrados, observando um ao outro, para notar o Nathan parado ali perto, ficando mais preocupado a cada azaração. – Alguém tem que parar isso! – ele disse olhando em volta. Entretanto, ninguém parecia se importar. – Por que vocês não estão fazendo nada? – ele perguntou aos outros alunos a sua volta, exasperado.

– Não há nada a ser feito. Eles fazem isso todos os anos – uma menina mais velha respondeu.

Nathan ofegou – Todo ano? – mas ele não obteve resposta desta vez. Todos os olhos estavam nos bruxos duelando.

Outro clarão de luz forte passou pela visão de Nathan, levando sua atenção de volta para o duelo também.

Estupefaça! – ele ouviu Harry gritar. Com um aceno de varinha, Snape desviou a azaração estonteante. Harry então sacudiu sua varinha, dizendo – Inanimatus Conjurus! – e pedras apareceram do nada de repente na sua frente. Assim que elas estavam completamente formadas ele gritou – Oppugno! – e as pedras moveram-se rapidamente na direção de Snape. Entretanto, ele aparentemente esperava por isso e, com um aceno simples de sua varinha e uma expressão entediada em seu rosto, fez as pedras se desintegrarem antes de alcançá-lo.

– Você já acabou com as azarações infantis? – Snape disse com um sorriso malicioso.

A única resposta do Harry foi o estreitar de seus olhos e outra azaração, que Snape mais uma vez defendeu com facilidade, ainda sorrindo com escárnio.

Snape não esperou por outro ataque e balançou sua varinha dizendo – Serpensortia!

Uma cobra rastejou preguiçosa na direção de Harry, que parecia mais irritado que preocupado com ela, embora Snape ainda estivesse sorrindo. – Se você quer brincar com essas azarações de alunos do primeiro ano, eu posso muito bem me unir a você – Snape zombou.

Nathan parecia preocupado, mas Harry simplesmente sibilou para a cobra conjurada, provavelmente pedindo-lhe que voltasse na direção de Snape, que então destruiu o animal com um abano de sua varinha. Toda a escola parecia estar assistindo agora, havia um círculo grande de pessoas ao redor dos bruxos duelando e ainda mais pessoas nas arquibancadas. Nathan até podia ver alguns de seus professores, mas eles também não pareciam querer parar a briga; aquilo fez Nathan sentir-se desconfortável.

Mais um par de azarações foram trocadas e as coisas estavam piorando. Eles pareciam estar com mais dificuldade para defender os ataques um do outro, especialmente Harry. Os Sonserinos estavam particularmente satisfeitos. Nathan podia ver a satisfação nos rostos deles; Malfoy parecia estar tendo o melhor dia de sua vida.

O volume dos estouros e a intensidade das luzes aumentavam. Harry parecia ter feito uma azaração passar pela proteção de Snape, mas não foi o suficiente para tirar o bruxo mais velho do duelo. A expressão do Snape parecia mais determinada que nunca. Seus olhos estavam fixos nos de Harry quando ele sacudiu sua varinha sem dizer uma palavra. Uma linha de luz escapou da ponta da sua varinha em direção a Harry, que parecia confiante até que o movimento que fez com sua própria varinha não conseguiu parar a luz que avançava. Nathan podia ver a expressão de surpresa no rosto de Harry, e seu coração bateu descompassado. Cordas apareceram do nada, amarrando-se ao corpo de Harry e imobilizando-o no lugar. Ele caiu no chão, preso.

Nathan arregalou os olhos, e então olhou para o sorriso desdenhoso do Professor Snape, que se aproximava de Harry. Os Sonserinos estavam comemorando, os Grifinórios e os outros alunos pareciam desapontados, mas nenhum parecia preocupado com a posição de Harry no chão. Nathan correu para seu padrinho e ouviu o Professor Snape dizer – Você ainda não entendeu, Potter.

– Isso foi muito esperto – Harry admitiu. – Um Incarcerous modificado, que parece um Levicorpus quando lançado; bem Sonserino.

Snape ergueu uma sobrancelha ao ouvi-lo. – Talvez você esteja aprendendo alguma coisa afinal – e acrescentou então, com outro sorriso sarcástico –, mas aparentemente, ainda não o suficiente.

Harry estreitou os olhos e lutou contras as cordas que o prendiam. Nathan, vendo aquilo, disse em um tom de comando – Solte o tio Harry.

De repente, os dois bruxos mais velhos notaram Nathan parado ali. Harry falou primeiro – Fique fora disto, Nathan.

Mas ele não se importava com o que Harry tinha a dizer. Ele encarava o Professor Snape de maneira autoritária, esperando ser obedecido. Snape devolveu o olhar, primeiro com surpresa e irritação, mas agora ele parecia... divertido. Entretanto, ele não disse nada.

Harry parecia preocupado. – Deixe-o em paz, Snape – ele disse.

Aquilo chamou a atenção de Snape. Ele olhou para o Harry e respondeu – Ou o quê?

Aparentemente satisfeito com o silêncio de Harry, Snape se afastou, passando por Nathan como se ele nem estivesse ali.

Nathan não parecia nem um pouco preocupado com o que o Professor Snape poderia fazer com ele. – Eu disse para soltar o meu padrinho – ele disse para as costas do Snape.

Aquilo o fez parar. Ele ficou ali parado por um momento, sem virar-se para olhar para Nathan e então, sem dizer nada, pegou sua varinha e, em um movimento, as cordas que prendiam Harry desapareceram. Sem um olhar para trás, Snape atravessou rapidamente os jardins a passos largos e desceu para as masmorras.

Harry estava em pé assim que foi solto, esfregando seu braço esquerdo. Nathan virou-se para ele – Você está bem, tio Harry?

– Estou bem, estou bem – Harry respondeu, visivelmente irritado. – Eu me lembro de ter pedido para você ficar fora disso.

– É, você pediu – Nathan concordou –, mas também estava deitado e amarrado no chão – ele acrescentou, dando de ombros.

– Por mais que eu aprecie a sua preocupação, Nathan, eu não quero que o Snape tenha motivos para ser sórdido com você, e eu realmente não preciso que você fique entre nós dois – Harry disse em um tom bem sério.

– Por que vocês estavam duelando? – Nathan perguntou.

– Nós duelamos todos os anos – Harry respondeu de forma vaga.

– Foi o que eu ouvi, mas por quê? – Nathan não desistiu.

– Tem a ver com a guerra, Nathan. Não é nada que você tenha que se preocupar – Harry completou.

Nathan balançou a cabeça. – Um dia, alguém terá que me dizer o que realmente aconteceu durante essa guerra. Por mais que vocês digam que isso não me diz respeito, é como se eu de alguma forma eu fizesse parte dela, e sou o único que não entende o porquê – ele protestou. Ele sentia-se excluído, às vezes.

Eles pegaram o caminho para o castelo. Alguns alunos ainda estavam perambulando por ali, mas a maioria já estava de volta para dentro. Um Grifinório, provavelmente um aluno do sexto ano, aproximou-se deles. – Você o pega no ano que vem, Sr. Potter.

– É, mas é claro – Harry respondeu desinteressado.

Outros alunos fizeram comentários similares e Harry respondeu da mesma forma. McGonagall aproximou-se. – Quando isso vai acabar? – ela perguntou, visivelmente irritada. Harry a ignorou e ela acrescentou – Isso está ficando mais perigoso a cada ano. Você devia saber que isso não leva a nada, Sr. Potter.

– Você sabe que seria bem pior se nós realmente quiséssemos machucar um ao outro – Harry respondeu. – E eu vou pegar ele no ano que vem. Talvez quando eu ganhar, ele aprenda qual é o seu lugar e pare de ser o bastardo que ele é.

– Sr. Potter! – McGonagall repreendeu.

Nathan tinha uma expressão de surpresa no rosto, não pelo xingamento, mas por saber que Harry nunca ganhou antes. – Você está dizendo que nunca derrotou o Professor Snape em um duelo?

Harry não respondeu prontamente. Ele parecia um pouco desconfortável com a situação, até mesmo envergonhado. – Eu vou ganhar no ano que vem – ele disse com firmeza.

A Diretora estreitou os olhos.

Nathan percebeu que estava boquiaberto; saber que seu padrinho, que era dito o maior bruxo da sua idade, estivera perdendo duelos para o Professor Snape por anos, era demais. Ele não conseguia evitar que sua admiração pelo mestre de Poções aumentasse ainda mais, independente das conclusões a que chegara sobre o seu caráter duvidoso. O Professor Snape era realmente um grande bruxo, ele admitiu.

Eles chegaram ao Saguão de Entrada. A Professora McGonagall e Harry foram para o escritório dela. Nathan encontrou seus amigos e eles voltaram para a sala comunal. Ainda havia algum tempo para a festa do Dia das Bruxas.

*-*-*-*

Severo Snape estava de volta em seu escritório depois de ganhar outro duelo contra Harry Potter. Normalmente, isso era o suficiente para fazer sua semana, mas não este ano. Este ano ele tinha o Granger para tornar cada momento que poderia ser ótimo em algo miserável. Particularmente neste caso, Nathan era o responsável por sua desgraça. Ele não podia apagar uma palavra de sua mente: padrinho.

– Harry maldito Potter – ele murmurou. – Poderia ter sido qualquer outra pessoa, mas não. Tinha que ser o Potter! – Ele não conseguia ficar parado, mesmo que seu corpo precisasse de descanso depois do esforço do duelo. Ele começou a andar de um lado para o outro da sala. O padrinho do seu filho era Harry Potter.

Ele tentou se acalmar. Não tinha que se importar com nada disso, certo? Ele não tinha nada que ver com o menino. Se o padrinho dele é Harry Potter ou Neville Longbottom, eu não dou a mínima, ele forçou-se a pensar, mas não conseguia sentir-se assim de verdade. Ele se importava, e isso o consumia.

Sua mente estava tão acostumada a analisar os diferentes lados de uma situação que ele não conseguia parar de imaginar. Se Harry Potter era o padrinho do Nathan, e ele – Severo Snape – o pai do menino, não atuava em seu papel, então isso significava que Potter estava ocupando o seu espaço na vida de Nathan, seu espaço de direito. Não importava se ele não queria realmente ser o pai do menino; o problema era Potter ser o substituto dele. Isso não ia dar!

Ele andou de um lado para o outro mais um pouco e então suspirou. Tinha que acalmar-se. Potter é o padrinho do seu filho por mais de onze anos. Isto não era nada que algumas horas iriam mudar. Ele forçou-se a sentar. Por que eu me importo? pensava, inutilmente tentando mais uma vez negar que se importava. Ele urrou de irritação.

Hermione Granger sabia que eu nunca aceitaria isso, ele pensou. Por que ela fez isso? Suas mãos estavam fechadas em punhos, como todas as vezes que pensava em Hermione atualmente. – Ela terá sorte se viver na próxima vez que encontrá-la – sibilou por entre dentes cerrados, então fechou os olhos tentando recuperar seu controle. Quantas surpresas mais ela tem para mim? pensou.

Ele queria parar de pensar sobre aquilo. Abriu um livro, leu o mesmo parágrafo três vezes e fechou-o, irritado. Pegou uma pilha de pergaminhos do lado esquerdo de sua mesa – redações. Começou a corrigi-las, aquilo parecia distrair sua atenção por um tempo.

Uma hora se passara e ele estava quase terminando com a pilha de redações quando ouviu alguém na porta. Ele respirou fundo e disse – Entre.

Harry Potter entrou em seu escritório. Justamente o homem que eu queria encontrar, ele pensou sarcasticamente. Ele preparava-se para dispensá-lo, mas Potter foi mais rápido.

– Antes de começar seu discurso sobre como eu não sei de nada, e como você é muito melhor que eu, saiba que eu não estou aqui para falar de mim ou do duelo. Estou aqui para falar do Nathan – Harry disse, sentando-se na cadeira em frente ao Snape, mesmo sem convite, e lançando um olhar ao Snape que o desafiava a discordar.

Snape reclinou-se em sua cadeira e cruzou os braços a sua frente. Por dentro, ele se perguntava o quanto sua noite poderia possivelmente piorar. Em voz alta, ele simplesmente disse – Seja breve, eu sou um homem ocupado, Potter.

Harry bufou. – Certo. Direto ao ponto, então. Deixe o Nathan em paz – ele disse com um olhar penetrante.

Snape olhou para Potter por um momento, em silêncio. Ele tentava suprimir a vontade de dizer-lhe que ele não tinha nenhum direito de pedir aquilo ao pai do menino. – Eu acho que não estou entendendo o que você quer dizer, Potter – ele disse ao invés disso, desejando que o padrinho de seu filho lhe desse uma desculpa legítima para azará-lo.

– Eu quis dizer exatamente o que eu disse, Snape. Não lhe dê detenções por nada, não desconte pontos dele porque ele respirou fora de hora, e não lhe dê notas menores que as dos Sonserinos que fizeram um trabalho pior, só porque ele é filho da Hermione ou meu afilhado – Harry disse. – Deixe-o em paz.

Snape estreitou os olhos. – Está insinuando que eu estou sendo injusto com ele porque ele é seu afilhado? – ele disse.

– Sim, é exatamente isso o que eu estou dizendo – Harry confirmou.

– Eu nem sabia que ele era seu maldito afilhado até esta tarde. Se ele serviu detenções e perdeu pontos para a preciosa Grifinória, é porque ele é tão descuidado e travesso quanto vocês – Snape disse, curvando-se para olhar fixamente nos olhos verdes de Potter pelo outro lado da mesa. – Não tente me ensinar como disciplinar meus alunos, Potter.

– Bom, você foi avisado – Harry disse com descaso e deixou a cadeira em que estivera sentado. – Se eu tiver que falar com você sobre isso de novo, você não vai gostar. Tente lembrar que o Nathan tem alguém para olhar por ele, diferente de mim – ele destacou e deixou a sala.

Snape urrou. Que audácia! ele pensou. Respirou fundo e deixou seu escritório com passos largos em direção aos seus aposentos. Ele ainda tinha a festa estúpida do Dia das Bruxas para ir e outra detenção com seu pequeno castigo antes que este dia acabasse.

*-*-*-*

Nathan entrou no Salão Principal com seus amigos e maravilhou-se com o que viu. A Diretora McGonagall mantivera a tradição de Dumbledore de decorar o salão com morcegos vivos, velas e abóboras esculpidas. Era realmente impressionante.

A maioria dos professores já estava na Mesa Principal, incluindo o Professor Snape. Harry deixara Hogwarts antes da festa; Nathan sabia disso porque seu padrinho viera se despedir na sala comunal, causando o maior furor. Parecia que a derrota de Harry no duelo mais cedo não mudara sua imagem de herói.

Ele olhou para os Sonserinos, então. O humor deles parecia ter melhorado depois do duelo. Eles estavam muito mais animados que o normal, e de tempos em tempos eles olhavam na direção do Professor Snape e comentavam algo.

Nathan sentou-se à mesa em frente a Kevin; Andy pegou o lugar à sua esquerda. Eles estavam realmente animados com a festa.

– É o máximo, vocês não acham? – Kevin perguntou, olhando com admiração para o teto encantado, coberto de morcegos.

– É, é mesmo – Nathan concordou. – Mesmo já tendo ouvido sobre isto antes, eu não imaginava que seria assim.

– Veja o tamanho daquela abóbora! – Andy disse, apontando para uma particularmente gigante.

– É realmente grande – Kevin concordou.

Suas atenções voltaram-se para a mesa quando o jantar foi servido. Eles comeram um pouco de tudo e beberam muito suco de abóbora. Quando eles esperavam pela sobremesa, Nathan viu Kevin estreitar os olhos com algo atrás de si. Ele virou-se e encontrou a cara sarcástica de Devon Malfoy. Ele revirou os olhos e disse – Por que não estou surpreso?

– Bom duelo hoje, não achou, Granger? – Malfoy perguntou.

– É, foi sim – ele respondeu.

Aquilo pareceu desnortear Malfoy um pouco. Entretanto, ele recuperou-se. – Eu sempre soube que seu querido padrinho não era tudo aquilo que ele clamava ser – ele disse.

– Eu não me lembro dele clamando nada. Mas mesmo assim, você nem conhece ele – Nathan disse à altura.

– Entretanto, eu conheço o Professor Snape, e ele poderia derrotar Harry Potter de olhos fechados a qualquer hora que ele quisesse – Malfoy disse então, aparentemente desacostumado a perder uma discussão.

Antes que Nathan pudesse formular uma resposta, o assunto da discussão, Professor Snape, os interrompeu.

– Eu agradeço, Sr. Malfoy. Agora volte para o seu lugar – Snape disse com um sorriso malicioso, e então, olhando para Nathan, disse – Sr. Granger, nós ainda temos uma detenção depois do jantar, com ou sem Dia das Bruxas.

Nathan saiu logo depois da sobremesa, descendo para as masmorras. Ele entrou na sala de aula como fizera nas duas últimas detenções, dirigindo-se direto para a última bancada da sala. Lá estava: um pergaminho com instruções. Ele pegou o pedaço de papel e leu. – Mais frases? – choramingou em voz baixa.

– O que você disse, Sr. Granger? – Snape perguntou, sem esperar que o menino respondesse.

Nathan estava cansado dessas detenções enfadonhas, então, sentindo-se ousado o suficiente, repetiu – Mais frases, senhor?

Snape largou sua pena e entrelaçou as mãos a sua frente, descansando-as na mesa. – Você está reclamando, Sr. Granger? – ele perguntou e ergueu uma sobrancelha, desafiando-o a responder sim.

– Na verdade sim, senhor. Achei que poderíamos usar este tempo para algo mais produtivo que escrever frases. – Era isso; ele disse.

– Eu tenho alguns caldeirões bem sujos por aqui; você preferiria limpá-los ao invés disso? – Snape perguntou com um sorriso sarcástico.

– Na verdade eu preferiria, senhor – Nathan respondeu simplesmente.

Se Snape estava surpreso, ele não demonstrou. Sacou sua varinha e balançou-a, dizendo – Accio caldeirões. – Dois caldeirões imundos flutuaram da prateleira e pousaram na bancada à frente da mesa de Snape. – Estão aí, Sr. Granger – ele disse, sorrindo com malícia.

Nathan não disse nada, só foi até os caldeirões e começou a esfregá-los. Snape observava o menino de tempos em tempos com curiosidade. O menino tinha o talento de intrigá-lo, tinha que admitir.

Cansado de brigar contra sua curiosidade, e cansado de fingir que corrigia redações, Snape levantou-se de sua cadeira e andou para frente de sua mesa, recostando nela com os braços cruzados sobre o peito, de frente para Nathan.

O menino ergueu os olhos, surpreso com o movimento repentino. Ele parou de esfregar por um momento, mas como o Professor Snape não disse nada, voltou para sua tarefa.

Entretanto, minutos depois, o Professor Snape quebrou o silêncio. – Diga-me, Sr. Granger. Por que me confrontou hoje no campo de quadribol?

Nathan parou de esfregar, mas não ergueu os olhos. – Eu não queria confrontá-lo, senhor. Só queria que libertasse meu padrinho.

– Sei – Snape disse, e moveu-se de sua posição reclinada para andar de um lado para o outro, em frente a sua mesa. – Então, o grande Harry Potter é seu padrinho. Isso deve facilitar as coisas para você, tenho certeza.

– Cresci no mundo Trouxa, senhor. Não fazia nenhuma diferença naquela época, e nada mudou agora – Nathan disse, agora olhando para o Snape.

Snape observou o menino por um momento. – Tenho certeza que as coisas mudaram. Você deve ser bem respeitado na Torre da Grifinória por sua ligação com heróis como ele – insistiu.

Nathan não sabia onde o Professor Snape queria chegar com aquela conversa. – As pessoas já me conheciam antes de eu conhecê-las, mas é só isso. Eu não sei como isso muda alguma coisa – ele disse em resposta, e deu de ombros antes de voltar a esfregar o caldeirão.

Snape chegou mais perto do menino. – Você deve gostar muito dele para me desrespeitar daquele jeito.

Nathan parou em sua tarefa novamente. – Eu nunca tive a intenção de desrespeitá-lo, senhor. Sinto muito se achou que tive. – Ele estava começando a sentir-se desconfortável com o comportamento incomum do Professor Snape.

– Você gostaria que o Sr. Potter fosse seu pai? – Snape perguntou, sem conseguir segurar sua língua e repreendendo-se no instante em que as palavras deixaram a sua boca.

Nathan ergueu a cabeça em um movimento brusco. O Professor Snape dera-lhe as costas, e ele ficou olhando para elas por um bom tempo. – Ele não é – Nathan disse calmamente, baixando a cabeça novamente. Ele não é, certo? pensou, incerto.

Snape mal pôde ouvi-lo. – Não, ele não é. Mas esta não foi a minha pergunta. – Ele virou-se para encarar o menino, novamente. – Todo menino gostaria de ter um herói como Harry Potter como pai, e eu não acho que você seja diferente.

Nathan ficou ainda mais confuso com esta conversa maluca. Por que ele está me dizendo isso? O que ele quer dizer com isso? pensou. Será que ele sabe quem é o meu pai? Ele deve saber, senão por que ele teria sido tão claro ao afirmar que Harry não é o meu pai?

Snape estava de volta a sua mesa quando Nathan decidiu erguer os olhos. Qualquer coisa que ele quisesse dizer não saía. Ele terminou de limpar os caldeirões em silêncio. O Professor Snape sabia quem era o seu pai. Nathan agora tinha certeza.

Quando ele afastou-se da bancada para aproximar-se da mesa do mestre de Poções para dizer que tinha terminado, o Professor Snape falou – Se terminou, simplesmente saia.

E então foi o que ele fez.

*-*-*-*

Hermione Granger estava de volta em casa depois de um dia de trabalho. Mais tarde, ela ia para uma festa de Dia das Bruxas organizada por um dos professores da universidade. Ele e sua esposa organizavam esta festa todo ano, e todo ano ela recusava o convite deles com a desculpa de levar Nathan pela vizinhança ou para uma festa na casa de amigos. Entretanto, neste ano, Nathan estava em Hogwarts e ela não tinha nenhuma desculpa para evitar o evento.

William se oferecera para pegá-la, para que pudessem ir juntos. Ela não conseguiu inventar uma desculpa para recusá-lo, então agora ela estava esperando ele chegar. Ela havia se fantasiado de Julieta, já que William ia como Romeu. A princípio, ela revirara os olhos com o clichê, mas ele pareceu feliz com a idéia, então ela concordara. Mesmo assim, ela não queria ter que inventar outra coisa. Então, ali estava ela sentada, vestida com seu vestido transfigurado, esperando e pensando.

Desde sua visita à Hogwarts, Severo Snape estivera invadindo seus sonhos novamente. Entretanto, desta vez, não eram pesadelos com a noite em que fora capturada pelos Comensais da Morte; eram sonhos com aquelas mãos hábeis tocando o seu rosto, os seus cabelos. Aquilo estava... incomodando-a. Ela o respeitava, sim. Ela o admirava, claro. Mas isto era diferente. Isto era novo.

Severo Snape sempre fora parte de sua vida, desde seu primeiro dia em Hogwarts. Primeiramente, ela o respeitara por seu conhecimento e habilidades como um mestre de Poções; mais tarde, o admirara por sua visão e poder como um espião pela Ordem, depois por sua honra e coragem no cumprimento de sua promessa à Alvo; finalmente, ela o admirara por ter salvo a sua vida naquela noite. Desde então, ele fora parte de sua vida através de Nathan, mesmo que ausente fisicamente. E agora...

Agora, ela não sabia. Ela o encontrara novamente e de repente ele aparecia em seus sonhos. Não apenas como seu herói pessoal, mas também como algo diferente, algo mais. O que significava aquilo? ela refletiu. Será que estava tendo fantasias do seu homem ideal na forma do pai do seu filho? Será que era por causa da figura que Severo representava, ou será que era o homem que Severo realmente era? Talvez ela estivesse analisando excessivamente aqueles sonhos e eles não representassem nada. Afinal, interpretar sonhos era algo que Trelawney faria, não eu, repreendeu-se mentalmente.

Entretanto, tentar não analisar aqueles sonhos estava provando ser muito difícil. Ela tentou pensar em outra coisa, como no seu trabalho ou nos seus amigos. Mas por mais que tentasse, ela sempre voltava relembrar das mãos do Snape em seus sonhos. Até que uma distração mais consistente chegou; William estava à porta.

Ela o encontrou lá em baixo. Ele estava boquiaberto com a visão dela, e ela corou de vergonha. Ele pareceu recuperar-se o suficiente para curvar-se dramaticamente e dizer – Pois eu nunca vi beleza verdadeira até esta noite. Minha Julieta, você é tão bonita quanto a estrela mais brilhante no céu. – Ele sorriu.

Ela não conseguiu se conter e revirou os olhos à paquera boba, mas corou mesmo assim. – Bem, obrigada, Romeu. Você também está bonito – ela disse então, e aceitou a mão que ele estendera a ela. Ele a guiou para o carro dele e eles saíram rumo à festa.

Chegando ao local, foram recebidos pelos anfitriões da noite. A casa estava cuidadosamente decorada com abóboras estilizadas, teias de aranha falsas, e caldeirões cheios de fumaça de gelo seco. Ela suspirou, irritada com as memórias que isso trazia.

A casa estava cheia. Ela conhecia a maioria das pessoas da universidade. A música enchia os cômodos e havia casais dançando animadamente. William ofereceu-lhe uma bebida, que ela aceitou. Era uma festa boa, e uma boa distração para sua mente.

A noite ia bem. Ela conversou com alguns colegas, riu de algumas travessuras e dançara com William, que estava sendo muito legal com ela. Ele era uma boa distração.

Estava ficando tarde e ela sentia-se cansada. Chamou William para levá-la para casa, e ele aceitou prontamente. Despediram-se e ele a levou para casa, parando o carro perto da porta do prédio. – Eu gostei muito da noite – ele disse.

– Também me diverti. Obrigada por me convencer a ir – Hermione respondeu.

– O prazer foi todo meu, querida Julieta – ele disse, pegando sua mão e dando um beijo leve nas costas dela. Ele segurou sua mão um pouco mais, enquanto olhava fixamente em seus olhos castanhos.

Um silêncio embaraçoso caiu sobre eles. Hermione quebrou o contato visual primeiro, e olhou para suas mãos unidas, recolhendo a sua. – Vejo você na segunda-feira – ela disse então.

Ele pareceu um pouco desapontado quando respondeu – Claro, Hermione.

– Boa noite, então – ela ofereceu e entrou em seu prédio.

– Boa noite – ele respondeu para as costas dela, e foi embora.

Hermione fechou a porta atrás de si e suspirou. Ela perdera a briga com sua mente no momento que movera seus olhos para a mão segurando a sua. Não era a dele, não era a de Severo, e parecia errado.


No próximo capítulo… Um retrato tem algo a dizer; e adivinhe: mais detenções.


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Notas finais do capítulo

Snape venceu! Desculpe se você estava apostando no Harry. Gostou do capítulo? Diga no review! :0)
Neste capítulo o William usou uma passagem da peça de Shakespeare: Romeo e Julieta, Ato I, para elogiar a Hermione. Não sei se a tradução ficou como a oficial, mas a passagem em inglês é a seguinte: I neer saw true beauty till this night - Pois eu nunca vi beleza verdadeira até esta noite. :0)



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