Gabrielle suspirou aliviada ao perceber que não teria como Arabella estar em seu dormitório, pois o mesmo já estava completo. Ela dividia o mesmo com Jeanette, Bridgett, e uma menina mais quieta chamada Amelie.

Após o jantar – o qual ela passou olhando para o prato o tempo todo – as quatro voltavam para o quarto enquanto conversavam. E para sua tristeza, o assunto não podia ser outro.

— Por que será que ela foi transferida? – Bridgett questionou enquanto arrumava a trança no cabelo. – Ouvi dizer que foi porque ela bateu em uma aluna mais nova.

— Eu ouvi que ela ofendeu a diretora... – murmurou Amelie mexendo no pingente do colar.

— Vocês têm mesmo que falar sobre ela o dia inteiro?!

— É o assunto do momento, querida. – começou Jeanette – E cá entre nós, pelo jeito, ela foi transferida por... Ter beijado outra menina.

— Não acredito! – Bridgett exclamou com sua boca formando um perfeito “O” – Eu sabia que ela não era muito normal!

Ao chegarem ao dormitório, cada uma sentou em sua cama. Gabrielle reuniu toda coragem para dizer:

— E qual o problema? – as amigas a encararam – Quero dizer, de ela ter beijado uma menina?

Bridgett parou de mexer no cabelo na mesma hora e Jeanette a olhou como se ela tivesse dito que ia trabalhar cuidando de dragões.

— Você enlouqueceu? Olha Gabie, eu sei que a sua irmã se apaixonou por um lobisomem horrível, mas, só por isso, você não tem que achar o que a Price fez normal.

— O que disse? – Gabrielle fechou o punho com força, sentindo as unhas afundarem na palma de sua mão.

— Disse que só porque a sua...

— Fique você sabendo que o Bill nunca se transformou uma única vez, e mesmo que tivesse feito isso, Fleur não sairia do lado dele, porque ela o ama, e ele a ama também, e é a melhor pessoa para a minha irmã. – o sotaque saiu mais forte do que ela queria. Depois disso, pegou pergaminho, tinta e pena e se dirigiu ao banheiro, não sem antes dizer – Nunca mais fale do Bill ou da minha irmã. Eu não vou hesitar em te azarar.

...

Na manhã seguinte, saiu antes de todas. Primeiro, passou no corujal e enviou uma carta a sua irmã, e logo, foi tomar seu café da manhã.

Após alguns minutos, Amelie sentou-se com ela.

— Você está bem? Depois do que a Jeanette disse ontem?

— Não concorda com ela?

— Claro que não! Mas não quis dizer nada. Prefiro não arrumar briga com alguém como ela. – disse após pegar um morango – Eu acho muito fofa a história da sua irmã.

Gabrielle sorriu. Era bom saber que uma de suas amigas pensava do jeito certo.

— Você tem História da Magia agora, Ame?

— Não, Poções. Eu não entendo uma palavra do que o professor diz. Deseje-me sorte. – elas riram e cada um foi para sua aula.

...

Gabrielle se esforçava para manter os olhos abertos enquanto a professora discursava sobre o surgimento da magia em algum país, o qual ela não havia se importado em lembrar o nome.

Arregalou os olhos com o susto após as portas serem abertas.

— Se perdeu senhorita Price? – questionou a professora, a irritação era perceptível na voz por ter sido interrompida.

— Depois de errar o andar e depois errar a sala quatro vezes, eu resolvi perguntar para alguém. Desculpe professora.

— Sente-se. – continuou a explicar a matéria.

Gabrielle olhou para a garota e depois para a cadeira vazia a seu lado. “Ah não.”— pensou – “Só pode ser brincadeira.”.

Quando Arabella sentou-se ao seu lado e sorriu para ela, sentiu suas bochechas esquentarem e virou a cabeça para o outro lado. “Qual é o meu problema?”.

— Se você tiver Feitiços como segunda aula vai ter que se acostumar comigo sentada do seu lado. – Arabella sussurrou. Droga, ela tinha Feitiços depois.

Limpou a garganta e torceu para que seu rosto não estivesse corado ainda. Pelo jeito estava, pelo modo como Arabella soltou um riso baixo quando a Delacour a encarou. Ela tentou ignorar, e murmurou:

— E por que eu deveria sentar com você depois?

— Porque você é a única que fala comigo sem me olhar com nojo. E eu não quero ser a novata que fica sozinha, é muito humilhante.

Gabrielle suspirou, batendo as unhas levemente na mesa.

— É verdade? O que dizem ter sido a razão da sua transferência?

— Qual das versões? – Arabella perguntou arqueando a sobrancelha e sorrindo divertida.

— Que você... Bem, que você beijou uma menina.

Arabella soltou a mesma risada de antes, pois o rosto da Delacour ficou vermelho novamente.

— Não precisa ficar com vergonha. Eu não me importo de falar sobre disso. Sim, é verdade. Eu beijei uma garota. Ashley O’Connel. A diretora viu e Ashley disse que eu tinha agarrado ela a força, o que eu juro pra você que é mentira. – Arabella se moveu para mais perto dela e continuou – Quando meus pais souberam, decidiram que se eu estudasse em uma escola como essa, que tem alunas com comportamento e históricos tão perfeitos, o meu “mau comportamento” acabaria.

— Mau comportamento?

— Pois é, dá pra acreditar? Espero que não pense assim, porque eu gosto de você.

— Você nem me conhece. – Gabrielle a olhou confusa.

— Isso não me impede de achar que você fica uma graça quando cora.

Gabrielle mordeu o lábio inferior e sentiu o rosto esquentar mais uma vez. “Eu preciso controlar isso!”. Então Arabella sorriu.

— Não disse?