Através de um vidro escuro escrita por Scya


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Boa noite pessoal, no capítulo de hoje teremos outro flashback sobre a infância de Teddy e Victoire. Tenham uma boa leitura!



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Através de um vidro escuro

Capítulo 6

Por Scya

 

O aniversário de 9 anos de Victoire Weasley foi comemorado na Toca. Ela era a neta mais velha da família Weasley e o centro de toda atenção da festa. Para esse aniversário, Victoire estava vestida com uma roupa prateada de balé e era seguida de perto por sua tia Gabrielle Delacour. Victoire dançava balé desde seus três anos e ela era incrivelmente boa nisso, frequentando aulas de dança com sua tia Gabrielle e outras crianças de famílias bruxas que viviam na região.

Sua tia vinha visitar a Inglaterra duas vezes por mês para ministrar as aulas para crianças e mesmo nas ocasiões que não podia comparecer, suas alunas se reuniam para praticarem nas casas umas das outras. Recentemente, a irmã mais nova de Victoire, Dominique, havia se juntado aos treinos de dança e mesmo não sendo tão talentosa quanto sua irmã mais velha, ela insistia em mostrar os movimentos recém aprendidos para todos os membros da família.

As meninas que pertenciam ao grupo de balé de Victoire, que também eram suas melhores amigas, podiam ser facilmente reconhecidas no meio do emaranhado de cabeleiras ruivas que pertenciam á família de seu pai, Bill Weasley.  Todas usavam roupas de balé em tons claros de branco e azul e tinham os cabelos presos em penteados altos e apertados. Victoire era a única entre elas que usava roupa de balé prateada e tinha os cabelos compridos e loiros soltos nas costas.

Teddy agradeceu intimamente por ter conseguido sair do meio dos convidados sem ser visto. Ele não sabia o que era mais desconfortável quando estava no meio de tantas pessoas, se era o fato das amigas bailarinas de Victoire o olharem torto e com desconfiança toda vez que ele se aproximava demais da aniversariante, ou talvez como elas cochichavam baixo e davam risinhos quando Teddy acabava sendo desastrado demais ou mudava a cor de seus cabelos com maior frequência – ele não podia ainda controlar suas habilidades como metamorfomago, muito menos quando recebeu um beijo na bochecha de Victoire e um forte abraço após entregar o seu presente de aniversário. Ela era sua melhor amiga e isso poderia ser considerado completamente normal, exceto que seus cabelos mudaram rapidamente da cor verde para a cor vermelha, assim como ele suspeitava que tivesse acontecido também com suas bochechas. Quando ouviu o risinho baixo das amigas de Victoire atrás dos dois, ele imediatamente se afastou e acabou derrubando uma pilha de presentes no chão.

Depois do almoço, na hora dos parabéns, outra coisa que pegou Teddy desprevenido foi o momento que Victoire entregou as três primeiras fatias de seu bolo de aniversário. A primeira delas foi para o seu avô, Arthur Weasley, a segunda foi para sua irmãzinha, Dominique, e a terceira foi inesperadamente para Teddy. Ele nunca tinha sentido suas mãos tremerem tanto quanto sentiu naquele dia enquanto tentou equilibrar o pedaço de bolo. Ele deveria estar com uma aparência terrível, porque quando sorriu para agradecer Victoire pelo pedaço, ela se aproximou dele e perguntou se ele estava se sentindo bem enquanto meia dúzia de amigas com roupas idênticas riam descaradamente da expressão de Teddy.

Tudo seria mais fácil se ele pudesse simplesmente sair para correr atrás de gnomos como James Sirius e Fred II fizeram durante a festa toda. É claro que ele precisava se lembrar de que James Sirius e Fred II tinham cinco anos e ele já tinha onze, fora que os dois não eram os melhores amigos da aniversariante, diferente dele. Victoire arrastou Teddy para todos os cantos da festa, puxando-o pelo braço, pela mão, pela camiseta, por qualquer parte que conseguisse alcançar. Ela queria que ele estivesse do seu lado em todos os momentos para receber todos os presentes e conversar com todos os convidados. A meia dúzia de amigas bailarinas de Victoire seguiam os dois pelos calcanhares, lançando olhares de reprovação para o cabelo verde de Teddy e para seus passos desengonçados.

O único momento em que Victoire permitiu que Teddy se afastasse dela foi quando a hora da apresentação chegou. Victoire e suas amigas precisavam ensaiar novamente os passos para realizar a apresentação para a família, como era um costume em todos os seus aniversários. Ela soltou a mão de Teddy com o único pedido de que ele estivesse bem perto para assistir e ele foi o que ele prometeu.

Os ensaios costumavam durar por volta de meia hora. Alguns anos atrás, Victoire fazia questão de que Teddy assistisse até mesmo os ensaios, mas com o passar do tempo as amigas de Victoire disseram se sentir desconfortáveis com a presença do garoto e Teddy foi deixado de lado naquele ano. Não completamente desapontado, mas profundamente aliviado, Teddy seguiu até a tenda onde estava acontecendo a festa. Encontrou sua avó Andrômeda conversando com Fleur Weasley e acenou para as duas que sorriram de volta para ele.

Ele sabia que aquela data, 2 de maio, não era um dia fácil para aquela família e tampouco era para ele. Mesmo já tendo 11 anos, tudo ainda parecia bastante difícil de entender. Ele e a avó fizeram o mesmo procedimento de todos os anos, caminhando juntos até a Igreja e depois até o cemitério para depositar flores novas para seus pais e seu avô, Ted Tonks. O aniversário de Victoire, que deveria ser o momento de maior alegria do dia, estava se tornando extremamente desconfortável para ele. Talvez ele fosse tão desastrado quanto sua mãe e tão tímido quanto seu pai em alguns momentos, o que poderia ser uma mistura perigosa, mas Teddy sabia que era um dia muito especial para Victoire e que era importante que tudo saísse perfeito. E a família toda se esforçava para que isso acontecesse.

Os tios e tias de Victoire sabiam o que viria a seguir, sabiam o que teriam que passar ainda naquele dia, assim como lutavam intimamente para não trazer as lembranças á tona no momento inoportuno. O nascimento de Victoire no aniversário da Batalha de Hogwarts só poderia significar uma vitória, um motivo para celebrar um dia como esses, o único motivo. Em anos anteriores, e com uma frequência cada vez maior nas lembranças de Teddy, ele se lembraria de que quando a tarde terminasse todos estariam no seu limite. Antes que a festa chegasse ao fim e todos fossem para o memorial em Hogwarts, sempre alguém desabaria em lágrimas ou começaria a conversar sobre o que aconteceu e então não teria mais volta: o aniversário estava acabado. Todos sabiam. Era uma questão de tempo. E nesse tempo, tudo tinha que ser perfeito para Victoire.

Quando Teddy se lembrava da morte de seus pais, havia uma dor profunda que costumava deixá-lo com vontade chorar e gritar bem alto. Não por poder realmente sentir falta deles já que nunca chegou a conhecê-los, mas por lembrá-lo de como sua vida era diferente por causa daquilo. Ele acreditava fielmente que Remus e Nymphadora Lupin foram grandes heróis para o mundo bruxo e eram lembrados principalmente por sua coragem de lutar pelo o que era certo e disso ele se orgulharia para sempre. Embora Teddy soubesse que seus pais fizeram uma escolha nobre e que fez diferença para uma Guerra de proporções bem maiores, intimamente ele se perguntava como poderia ter sido se eles estivessem aqui e era isso que deixava Teddy triste de verdade.

Ele queria poder conhecer os pais, saber qual o som da voz deles ou até mesmo como seria quando eles fossem levá-lo para embarcar em seu primeiro ano em Hogwarts, no 1º de Setembro daquele ano.

Teddy ainda não havia recebido sua carta, mas já estava conversando com Harry sobre isso desde o ano passado. Os dois comprariam todo o material escolar de Teddy no Beco Diagonal assim que ele recebesse sua carta e ele estava torcendo para que a vovó e Ginny pudessem acompanhá-los com James, Albus e a pequena Lily, porque só assim sentiria sua família realmente completa.

Durante todos esses anos, Teddy se sentia extremamente próximo da família de seu padrinho. Ele não sabia se isso era o suficiente para substituir seus pais, mas não saberia dizer caso não fosse. Sua avó era sua figura materna mais próxima, embora ele confiasse mais em Ginny para confidenciar alguns segredos. Harry era o mais próximo que ele já teve de um pai e a único que ele poderia pensar para esse posto. Ele poderia estar completamente enganado a respeito disso e talvez estivesse confundindo seu relacionamento com Harry e Ginny, mas a verdade era que ele realmente os considerava como seus pais.

Por mais que o padrinho sempre fosse o único que conseguisse acalmá-lo em momentos de nervosismo (e ele sabia que isso seria muito útil quando estivesse embarcando para Hogwarts, porque se sentia cheio de nós de ansiedade somente por pensar na ocasião) e Ginny fosse sua escolha favorita quando precisasse de um abraço ou de alguém para conversar, Teddy nunca havia conversado sobre isso com eles. Ele se sentiria constrangido se precisasse admitir aqueles sentimentos, principalmente porque não queria pressionar o padrinho a nada: Harry tinha a esposa e seus três filhos para se preocupar. Apesar de ter crescido ao lado da família de Harry, ele não queria sobrecarregá-lo com suas inseguranças.

Mas ele sabia que sempre que precisasse de um lugar para ir, poderia contar com os Potter.

Ginny estava sentada ao lado da tia Hermione, as duas segurando seus bebês no colo e conversando animadamente. Quando Teddy se aproximou, Ginny rapidamente gesticulou para que ele se sentasse ao seu lado.

— Perdeu Victoire de vista? – Ela sorriu para ele.

— Ela está ensaiando. – Ele deu de ombros conforme sorriu para a pequena Lily. A mais nova integrante da família tinha um pouco mais de nove meses e Teddy achava que ela estava crescendo rápido demais. No alto de sua cabeça, o cabelo ruivo estava bagunçado e seus olhos escuros estavam encarando os cabelos verdes de Teddy.

Quando Lily nasceu, Teddy se lembrava de como houve um impasse sobre qual seria a cor de seus cabelos. James e Albus nasceram com um tufo de cabelo preto bem visível no alto de sua cabeça, mas Lily nascera completamente careca, o que criou muita expectativa por parte de sua mãe, Ginny. Algum tempo depois, ela teve a certeza de que a filha herdara seus cabelos ruivos.

Como bom afilhado de Harry que era, ele se lembrava de quando Lily nasceu. Ele ficou impressionado em ver James assumindo o posto de irmão protetor rápido demais e como Albus não demorou muito para começar a ter ataques de ciúmes com a irmã mais nova. Teddy sempre precisava arrumar a bagunça daqueles três: fazer Lily parar de chorar quando James ainda não era cuidadoso o suficiente, fazer Albus parar de chorar quando James tomava seus doces, fazer James parar de chorar quando caía de uma vassoura. Basicamente, ser o irmão mais velho dava muito trabalho.

Desde que Lily nasceu, Teddy fez um juramento secreto de não deixar aqueles dois fazerem nenhum mal para ela. Ele sentia que Lily e ele tinham uma ligação e isso não estava de jeito nenhum relacionado com a sua facilidade de impressioná-la com seus cabelos que mudavam de cor magicamente, como James insistia em conspirar. Teddy era o favorito de Lily.

— Quando você receber sua carta de Hogwarts, - Ginny se apressou para falar, seu tom tão animado como de costume. – eu prometo que vou levá-lo para um jogo de Quadribol da Liga.

— É mesmo? – Teddy rapidamente encarou Ginny, procurando qualquer sinal de brincadeira em seus olhos. Já fazia algum tempo desde que Teddy tinha ido até um jogo de Quadribol e mesmo ele não sendo muito bom em jogar, ele adorava assistir tudo da cabine da imprensa com Ginny. Hermione riu da surpresa de Teddy e ele percebeu em seu colo Hugo, que ainda não tinha dois meses, estava adormecido. Diferente de Lily, que Teddy havia conquistado com seus cabelos coloridos, Hugo sempre chorava quando Teddy mudava-os de cor.

— É mesmo. – Ginny sorriu para ele antes de arrumar Lily em seus braços.

Ao longe ele avistou seu padrinho, com os característicos óculos redondos e cabelos bagunçados, ajoelhado no chão para ficar da altura de James Sirius, que com cinco anos já tinha os mesmos cabelos bagunçados que seu pai. Harry tinha um olhar preocupado enquanto conversava com o filho e James parecia triste.

— Teddy, será que aconteceu alguma coisa? – Ginny perguntou no ouvido de Teddy, vendo que o afilhado olhava para a mesma direção. – Jimmy parece triste.

— E não é a mesma cara que ele faz quando rouba biscoitos ou quando alguém descobre que ele estava tentando conseguir mais sobremesa. – Teddy completou, seguindo a mesma linha de raciocínio de Ginny. Sem pensar duas vezes, ele decidiu ir até lá.

Aproximou-se dos dois rapidamente, sendo capaz de ouvir a voz infantil de James dizer para o seu pai: - Obrigada, papai.

No instante seguinte, James abraçou Harry pelo pescoço com muita força. Por cima do ombro de James, Harry avistou Teddy e sorriu.

— Olá Teddy. – Harry cumprimentou, tentando fazer James se desvencilhar de seu pescoço. O garoto então se virou para Teddy, o olhar triste já bastante distante de seu rosto.

— Ei! – James chamou repleto de energia enquanto pulava em direção de Teddy. – Vamos jogar quadribol Teddy!

— Mas eu nem trouxe minha vassoura. – Teddy deu de ombros, tentando se livrar dos planos mirabolantes de James que provavelmente ocupariam sua tarde toda. O garoto pareceu suspeitar de que Teddy estivesse mentindo e Teddy torceu para que ele não se lembrasse de que havia muitas vassouras no velho armário da garagem.

Porém, assim que avistou Fred II e Dominique Weasley, dois de seus primos que tinham a mesma idade, James correu em direção a eles como se nada tivesse acontecido. Foi só quando o filho estava longe que Harry se levantou do chão onde estava ajoelhado.

— O que aconteceu com ele? – Teddy perguntou para o padrinho. – Ele pareceu assustado.

— É a idade que vocês geralmente começam a fazer perguntas. – Harry disse simplesmente, arrumando os óculos no rosto. – Perceber que tem alguma coisa errada.

— Eu tinha quatro anos quando você me contou sobre os meus pais. – Teddy o lembrou conforme começou a seguir o padrinho enquanto ele caminhava pela festa.

— É verdade, eu me lembro bem como você recebeu a notícia... James estava tentando roubar mais um pedaço de bolo na cozinha quando viu sua avó Molly chorando. Ele perguntou se tinha alguma coisa errada e depois ficou muito confuso com o que ela respondeu. – Harry explicou ao mesmo tempo em que apanhava um copo em cima da mesa.

— E você disse pra ele? – Teddy perguntou.

— Ele sabe sobre o tio Fred, mas eu ainda não contei sobre a Guerra. Pode confundi-lo um pouco, mas mesmo assim é melhor conversar com ele do que deixar que ele descubra sozinho com o tempo. Crianças são assim, elas pegam as coisas no ar, fragmentos de conversas, sensações... E formam sua própria ideia do que está acontecendo. – Harry parou de frente para Teddy e o encarou por um instante antes de sorrir para o afilhado. – Como você está?

Apesar de tudo, Harry era o melhor amigo de Teddy. O padrinho sempre estava disposto a escutar tudo o que Teddy tinha a dizer, todas suas inseguranças e medos, seus sonhos e preocupações, todas as suas aventuras e brincadeiras. Harry sempre presente para ele.

— Nervoso. – Teddy confessou, sabendo que Harry estava falando da carta de Hogwarts. Era uma conversa que Teddy só teve com Harry e Ginny, algo exclusivo deles.

— Teddy, seus anos em Hogwarts vão ser os melhores anos da sua vida. Não tem com o que se preocupar. – Harry começou dizendo, reconhecendo aquele olhar de insegurança do afilhado.

— Vai ser difícil... – Teddy respirou fundo antes de continuar falando. – Eu vou ver Victoire e vocês só durante as férias e eu não sei se ela vai gostar disso... – Percebendo o olhar insinuante que Harry lançou, Teddy precisou continuar. - O que eu quero dizer é que eu vou sentir saudades...

— Teddy... – Harry abraçou gentilmente o afilhado pelos ombros. A diferença de tamanho entre eles estava ficando cada vez menor, mas Harry ainda conseguia uma grande vantagem quando estava lado a lado com Teddy.  - Você pode sempre mandar uma coruja para mim, para a Vic, para sua avó, para a Ginny e se quiser mandar para o James eu prometo que vamos ler para ele até ele conseguir ler sozinho.

O padrinho bagunçou os cabelos verdes de Teddy com uma mão, do mesmo jeito que fazia desde que ele era pequeno. Os dois começaram a caminhar pela festa conforme Harry continuava dizendo:

— O que eu quero dizer é que você pode sempre escrever, todos os dias se quiser. Você não vai estar sozinho. Neville está lá para ajudar caso você precise de alguma coisa e eu sempre vou visitar a diretora McGonagall... – Harry indicou para uma mesa onde a diretora McGonagall estava conversando com Kingsley e Hagrid. - Ser amigo da diretora têm suas vantagens e eu vou sempre ficar de olho em você na escola, só para o caso de você ter puxado para os amigos do seu pai ou para sua mãe...

— Eu conheço a diretora McGonagall. Ela sempre gostou muito de mim. – Teddy comentou enquanto ele e seu padrinho continuavam passando por entre as mesas de convidados.

— E é por isso que ela vai esperar grandes coisas de você. – Harry o encarou com um olhar cheio de presunção antes de alcançar uma mesa e encher o seu copo com suco de abóbora.

— Você acha que eu consigo me tornar um Monitor? – Teddy parecia confuso. Ele já havia pensado nas possibilidades sobre o que aconteceria com ele em Hogwarts, como seria a sensação de conhecer tantas pessoas da sua idade que sabiam tudo sobre seu passado e também sobre quem seu padrinho era. Por mais que tudo aquilo fosse desconfortável, ele imaginava que poderia ajudá-lo a conseguir amizades rapidamente, independente de qual casa o chapéu o selecionasse.

— Para falar a verdade, eu nunca terminei os estudos. E olha só, me tornei um auror!  – Harry riu com a lembrança de quando tinha 17 anos e se tornou o herói do mundo bruxo. Ele queria ter continuado em Hogwarts, que era sua verdadeira casa, mas acasos o afastaram cada vez mais de retornar ao castelo e quando ele se deu conta, havia se tornado um auror. - Mas você não vai ter a desculpa de ser um herói de Guerra para te ajudar... E eu nunca fui Monitor, também. Dumbledore achou que me nomear Monitor fosse me sobrecarregar e por isso ele escolheu Ron e Hermione. Sua mãe pensou que eu tivesse ficado chateado com isso e veio conversar comigo... Ela me disse que também nunca foi Monitora quando estava em Hogwarts, não por não ser inteligente, mas porque ela aprontava demais.

— É mesmo? Você nunca me disse isso! – Os olhos de Teddy brilharam do jeito que sempre faziam quando ele descobria alguma coisa inédita sobre os seus pais.

Harry assentiu com a cabeça, olhando admirado para a reação do afilhado enquanto tomava mais um gole do suco de abóbora antes de continuar:

— Você pode puxar para um dos dois. Nymphadora era uma bruxa muito talentosa. Você sabe que ela se tornou uma auror também, embora nunca tivesse sido Monitora e se metesse em muitas encrencas. O tio Charlie Weasley estudou em Hogwarts nos mesmos anos que ela, embora ele fosse da Grifinória e ela da Lufa-Lufa, eles eram amigos. – Harry observou a mesa onde Charlie Weasley tentava ensinar sua sobrinha Roxanne Weasley a assoviar da maneira que ele costumava fazer quando estava trabalhando com dragões. Ele se divertia muito vendo as caretas que a garotinha fazia enquanto comprimia os lábios e ficava completamente frustrada quando não conseguia produzir som algum.

— Agora o seu pai... – Harry pensou um pouco antes de continuar. - Bom, Remus foi Monitor. De todos os amigos dele, ele era o bom garoto. Um aluno muito talentoso e inteligente, ele poderia ter tido um futuro brilhante senão fosse por sua condição como lobisomem. Era um dos melhores alunos e foi Monitor junto com a minha mãe.

— Eu também não sabia disso... – Teddy comentou tristemente.

— Tem algumas coisas que você não sabe. Então, não precisa se sentir pressionado. Você pode ser quem você quiser ser, de qualquer modo, sempre será parecido com eles. – Harry terminou seu suco de abóbora e repousou o copo em cima de uma mesa. Ele e Teddy sorriram quando viram o olhar desesperado de Ron Weasley enquanto ele tentava convencer sua filha Rose a limpar o chocolate que estava sujando suas bochechas e sua boca, embora a garotinha parecesse muito confortável com seu rosto lambuzado.

Molly Weasley se aproximou dos dois com uma badeja cheia de tortinhas de caramelo e insistiu para que ambos provassem pelo menos uma, embora Teddy tenha ficado feliz em aceitar duas. Teddy havia terminado de comer a primeira e estava se preparando para morder a segunda quando seu padrinho continuou dizendo:

— De qualquer modo, ir para Hogwarts vai ser um momento único para você. Eu realmente espero que você se sinta em casa enquanto estiver lá, assim como eu me senti. – Teddy assentiu com a cabeça e gostaria muito de dizer alguma coisa, mas sua boca estava cheia de torta de caramelo e por isso Harry continuou, observando seu afilhado com o carinho e orgulho característicos de um pai. - Ginny e eu estamos muito emocionados por ver o quanto você cresceu e eu tenho certeza que sua avó sente o mesmo. Vamos estar com você em todos os momentos, entendeu? Afinal, daqui a alguns meses, nosso garoto vai estar indo para Hogwarts.

Teddy teve a impressão de que fosse engasgar a qualquer momento. Ele se apressou para engolir a tortinha de caramelo e poder dizer para o padrinho o quanto ele estava feliz em ouvir aquilo, mas infelizmente Harry rapidamente deu um tapinha nas costas de Teddy antes de sair andando. Quando Teddy percebeu o motivo, tudo ficou claro. Ele engoliu a tortinha de uma vez e olhou para o centro da festa, onde uma turma de garotas bailarinas se preparava para começar a apresentação.

Um semicírculo se formou rapidamente ao redor das garotas bailarinas. Teddy ainda não viu sinal de Victoire entre elas, mas continuou com o pescoço esticado tentando encontrá-la. Tio Ron então parou ao seu lado. Teddy percebeu que ele havia deixado Rose ficar repleta de chocolate, tanto no rosto quanto nas roupas. Ele logo percebeu também que Ron provavelmente deixara porque Rose estava ficando com o rosto triste e prestes a chorar. Ele ergueu a filha de 3 anos no colo e confidenciou para Teddy:

— Espero que Hermione não veja isso, ela ficaria furiosa com nós dois. – Ele indicou toda a sujeira que a filha sentia-se confortável em manter e deu de ombros. Teddy apenas sorriu.

A meia dúzia de bailarinas com roupas azuis e brancas começaram a se enfileirar e se organizar no meio do semicírculo. Elas começaram a se movimentar de lá para cá com pequenos pulos em intervalos regulares e ensaiados. Ao fundo, Teddy viu Gabrielle enfeitiçando uma harpa para começar a tocar quando os pulos foram se tornando mais altos e frequentes até que se estendessem por um longo período de tempo. Com o último som da harpa, que soou por vários segundos no ar, as bailarinas rodopiaram antes de caírem no chão em um movimento ensaiado. Em seguida, houve o silêncio enquanto a meia dúzia de garotas continuava no chão com a cabeça baixa quase se encostando aos próprios pés.

Teddy olhou confuso quando o silêncio se seguiu por muito tempo. Ele se perguntava onde estaria Victoire e se isso era mesmo o que estava ensaiado para acontecer. Se esforçasse sua memória o suficiente, ele poderia se lembrar de quando Victoire passou horas explicando-lhe os nomes que eram usados no balé como, por exemplo, um ‘Interlúdio’, que eram apresentações curtas feitas por cantores e dançarinos durante os banquetes e celebrações. Ele se lembrava de como Victoire ficava se perguntando se as pequenas apresentações que realizava no seu aniversário poderiam ser consideradas um Interlúdio.

E foi quando Victoire Weasley apareceu. Ela entrou no semicírculo na ponta dos pés, com um andar oscilante e ao mesmo tempo gracioso, ambas as mãos na cintura. Quando chegou ao centro do espaço deixado pelas garotas, Teddy reconheceu quando ela realizou um movimento chamado Attitude, apenas para deixá-la orgulhosa por ele se lembrar da palavra. É uma posição numa perna só com a outra levantada para trás com o joelho dobrado num ângulo de noventa graus e bem virada para fora para que o joelho fique mais alto do que o pé. Depois, ela deixou os braços baixos, uma posição típica de atenção para uma bailarina. Quando o som da harpa voltou a tocar, ela arqueou um braço para o alto e o esticou até o outro lado de seu corpo, se mantendo em uma perna enquanto a melodia da harpa tomava ritmo.

Teddy se sentia completamente perdido quando observava Victoire dançar por tempo demais. Se fosse qualquer outra pessoa, Teddy ficaria confuso com tantos movimentos e os trataria com indiferença, mas com Victoire, ele não conseguia desviar o olhar, observando conforme ela dava uma série de voltas rápidas, saltos e giros, como se estivesse flutuando por entre as meninas que continuavam no chão com as cabeças baixas.

Foi só depois de Victoire realizar um salto muito mais elaborado e aterrissar próximo a uma de suas amigas que ela se levantou. Logo, Teddy entendeu o que estava acontecendo. Uma a uma as amigas de Victoire voltaram a dançar conforme ela realizava uma série de movimentos próxima delas, como se estivesse incentivando-as a retornar. Logo, estavam todas as seis bailarinas dançando com Victoire no semicírculo, embora para Teddy nenhuma pudesse ser comparada a Victoire, nem em aparência e muito menos em talento.

Para Teddy Lupin, sempre haveria apenas Victoire Weasley.


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Notas finais do capítulo

E então, gostaram do capítulo? Adoraria saber a opinião de vocês. O próximo capítulo deve ser postado semana que vem e eu espero ver vocês por lá. Um abraço.



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