Através de um vidro escuro escrita por Scya


Capítulo 14
Capítulo 14


Notas iniciais do capítulo

Capítulo novo postado e temos um novo flashback. Muito obrigada a todos que estão deixando comentários na fanfic, vocês são demais! Fico imensamente feliz em saber que estão gostando. Tenham uma boa leitura.



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Através de um vidro escuro

Capítulo 14

Por Scya

        

Victorie Weasley se sentiu profundamente aliviada quando ouviu os rumores de que Teddy Lupin e Anna Spinnet tinham terminado seu namoro de quase oito meses. Era um sinal, aquele término repentino, de que ela e Teddy poderiam voltar a serem amigos. Foram os oito meses mais longos da vida de Victoire, onde ela havia perdido seu melhor amigo pelo simples fato de não conseguir encará-lo por muito tempo sem que imagens inapropriadas de Teddy e Anna se beijando invadissem seus pensamentos e a fizessem ficar com vontade de socá-lo no nariz.

Ela não sabia explicar o que estava acontecendo ou por que aquele sentimento de raiva a invadia subitamente em momentos inoportunos. Dinah insistia na teoria de que Victoire tinha ciúmes de Anna, mas aquilo não poderia ser mais ridículo. Afinal, Victoire poderia se sentir incomodada de ter que dividir o tempo de seu melhor amigo com outra garota, mas isso não seria considerado ciúme, seria? Ou até mesmo sentir vontade de sair correndo toda vez que entrava no Salão Principal e seus olhos seguiam automaticamente para a mesa da Lufa-Lufa, apenas para checar se os dois estavam abraçados na mesa principal ou não.

Na hora do almoço, ela vasculhou com o olhar a mesa da Lufa-Lufa e não encontrou Teddy em lugar nenhum, nem perto de seus amigos Elliot e Oliver. Anna estava sentada na ponta da mesa orientando algumas alunas do primeiro ano. Victoire sempre sentia que o olhar de Anna conseguia alcançar o seu em qualquer ocasião, especialmente quando Victoire a encontrava se beijando com Teddy nos corredores. Nada poderia deixá-la mais irritada.

O que havia acontecido para que Teddy Lupin e Anna Spinnet tivessem parado de sair juntos era um mistério que Victoire não estava interessada em descobrir. Tudo o que ela precisava fazer era encontrar Teddy.

Por ter sido sua melhor amiga durante anos, Victoire sabia exatamente onde encontrá-lo. Ela foi até a cozinha e usou a entrada especial que Teddy havia ensinado em seu primeiro ano em Hogwarts. Avistou imediatamente vários elfos domésticos se apressando para preparar a próxima refeição do dia e também um tufo de cabelos loiros como o sol sentado em uma mesa, rodeado de elfos domésticos e comendo carne mal passada.

Algumas vezes, Teddy tinha impulsos engraçados que havia herdado de sua descendência como filho de um licantropo. Uma dessas manias, que Victoire estava acostumava a observar com o comportamento de seu próprio pai, era o de comer carne mal passada. Isso costumava assustar a maioria das pessoas, portanto sempre que Teddy precisava de privacidade ou de um lugar para se esconder, ele procurava comer na cozinha com a agradável companhia dos elfos domésticos pelos quais Teddy tinha grande afeto.

Aproveitando-se do momento de distração de Teddy, Victoire se aproximou devagar. Embora muitos elfos a conhecessem, eles ainda a observavam desconfiados. Teddy sorria e gargalhava enquanto um dos elfos com quem ele conversava estava dançando sapateado em cima da mesa onde Teddy estava comendo. Outro elfo, claramente mais rabugento, parecia incomodado e fazia comentários maldosos a respeito do seu colega.

Quando Victoire se aproximou por trás, perto o suficiente para tocá-lo, ela encostou gentilmente a mão em seu ombro. Ela observou por um momento o novo corte de seu cabelo, que provavelmente Teddy já havia adquirido meses atrás e que Victoire não havia conseguido se aproximar o suficiente para perceber. Ela observou como o cabelo loiro e bastante dourado de Teddy combinava com seu uniforme amarelo da Lufa-Lufa e ressaltava ainda mais os dois piercings de metal cintilante que Teddy havia adquirido recentemente na orelha esquerda.

Quando Teddy se virou, ela percebeu que ele ficou surpreso ao vê-la. Já fazia tanto tempo desde que os dois tiveram a última discussão, na Toca, durante as férias de Natal... Ele se lembrava de pensar que estava tudo acabado entre os dois. Todos da família perceberam que Teddy e Victoire estavam brigados e aquilo gerou uma série de conspirações de seus parentes e familiares para tentar fazer os dois se entenderem novamente, o que piorou as coias e fez com que Teddy levasse Anna para jantar na Toca em um final de semana nas férias. Aquilo terminou com qualquer chance de conseguir recuperar sua amizade com Victoire. Os dois não tinham trocado uma só palavra desde então.

Agora, vendo Victoire logo a sua frente, Teddy se perguntou o que teria acontecido. Ela costumava frequentar a cozinha há muito tempo atrás, quando os dois eram grandes amigos e passavam mais tempo juntos do que separados. Ela sorriu para ele timidamente, fazendo suas bochechas ruborizarem conforme ela se sentou ao seu lado e os dois continuaram calados por muito tempo. Victoire esperou Teddy terminar de comer para conversar com ele e, poucas palavras depois, os dois já estavam completamente conectados um com o outro, como deveria ser.

Durante toda sua vida, Victoire nunca havia parado para pensar sobre Teddy Lupin. Ele sempre foi o tipo de amigo que sempre esteve presente e que ela não precisava se esforçar muito para imaginá-lo em seus pensamentos ou para saber o que ele faria em cada situação. Agora, os pensamentos de Victoire giravam em torno de como Teddy Lupin era incrível e que, provavelmente, havia uma série de garotas disputando sua atenção pelos corredores. Victoire não tinha nenhuma chance. Ela passava a maior parte do tempo tentando captar informações sobre Teddy Lupin que não tinha conseguido reunir antes:

Teddy era um dos garotos mais populares da escola e ele não era popular por motivos óbvios, como por ser bom em Quadribol ou inteligente. Ele era popular por ser diferente. Era excelente em Transfiguração e em tinha um carinho especial por Trato das Criaturas Mágicas, mas apesar disso era péssimo em Poções e não entendia como a matéria de Adivinhação poderia ser útil para sua vida. Ele tinha muitos amigos e era extremamente gentil e simpático, não sendo um tipo de simpatia forçada dos garotos populares da Sonserina, porque Teddy realmente se importava em ajudar outras pessoas.

Ele passava a maior parte do tempo vagando pelo castelo com seus afazeres como Monitor, embora sempre reservasse um tempo para visitar o Guarda Caça Hagrid e os elfos na cozinha. Ele era alto e completamente desengonçado, magricela, tinha os ombros caídos e dentes tortos. Não era um bom jogador de Quadribol embora gostasse muito de assistir as partidas da arquibancada. Seus olhos estavam sempre da cor castanho claro, embora ele constantemente estivesse alterando-a, assim como fazia com seus cabelos. Era comum encontrar Teddy com cabelos rosa chiclete em um período do dia e no outro encontrá-lo com cabelos cinzentos. O que importava era que Teddy estava sempre em constante mudança, sempre inédito e diferente, sempre cheio de surpresas. E Victoire cada vez mais se perguntava se aqueles cabelos arrepiados eram realmente tão macios como pareciam ser e se cheiravam a chiclete, como pareciam, ou se cheiravam a madeira, como o perfume que Teddy usava.

Apesar de tudo, Teddy Lupin era gentil e seu sorriso, mesmo com dentes tortos, era charmoso e verdadeiro, fazendo Victoire admirar cada esboço dele.

Teddy Lupin conhecia e entendia de Transfiguração como se fizesse parte de si mesmo. Ele era muito habilidoso com a matéria e isso fazia parte de entender quem ele é. Seu talento natural para transformar objetos e alterar características rapidamente chamou a atenção da professora Mcgonagall e antes que Teddy pudesse perceber, ele havia se tornado o monitor para auxiliar outros alunos com aquela matéria em Hogwarts. No completo oposto disso, estava Victoire. Nos primeiros anos, Transfiguração não apresentava nenhum desafio estrondoso para a garota que sempre foi inteligente e curiosa, mas conforme os anos foram se passando e a matéria se tornando cada vez mais complexa, Victoire sentia que não poderia conseguir o seu melhor desempenho dessa vez. Por isso, Teddy sempre estava esperando prontamente Victoire vir procurá-lo para pedir ajuda. Poderia ser qualquer dia, qualquer hora ou qualquer lugar, ele sempre parava tudo o que estava fazendo para ajudá-la com as atividades mais complicadas e se empenhava para consertar quaisquer dos seus encantamentos que tivessem dado errado.

Eles costumavam se encontrar em uma sala vazia que ficava perto do corredor dos troféus de Hogwarts. Era um lugar suficientemente perto das salas comunais da Lufa-Lufa e da Grifinória, o que facilitava para que os dois se encontrassem.

No final de cada aula, Teddy sempre surpreendia Victoire quando, com um aceno de varinha, coloria as pontas de seu cabelo ou algumas mechas para qualquer cor que estivesse o cabelo de Teddy naquele dia, o que arrancava gargalhadas de ambos e fazia Victoire caminhar pelos corredores orgulha em exibir suas mechas coloridas, sempre inéditas e de cores diferentes.

Mas a cor favorita de Victoire sempre foi azul.

Ela começou a notar que os piercings que Teddy adquirira naquele verão eram muito legais e que combinavam com ele. Ela inclusive teve vontade de usar alguns... Seu pai seria o primeiro a aprovar. Eles combinavam horários para estudarem juntos na Biblioteca, embora passassem a maior parte do tempo conversando. Quando as provas e os exames estavam se aproximando, Victoire se esforçava para tentar fazer o desempenho de Teddy em Poções ser menos catastrófico. Mesmo sendo dois anos mais nova, Victoire ajudava Elliot, o garoto grandalhão que era o melhor amigo de Teddy, a conseguir estudar para Runas Antigas e Aritmância.

O namoro de Teddy e Anna nunca foi assunto de nenhuma das conversas dos dois. Para Victoire, o que importava era que eles estavam voltando a serem melhores amigos. Teddy sempre se esgueirava para a mesa da Grifinória durante o café da manhã, mesmo aquilo fazendo a Monitora-Chefe, Charlotte, torcer o nariz. Ele não podia esperar quando precisava discutir com Victoire sobre seus sonhos mais estranhos e inusitados, fazendo os dois gargalharem alto e chamarem atenção de todo o salão.

Ela se sentia como parte de algo inédito quando estava com ele. Ele era descontraído de uma maneira divertida e seu jeito atrapalhado de caminhar tornava seus movimentos ainda mais charmosos. Quando não estavam na aula ou dormindo, eles passavam o tempo todo juntos. Haviam começado a almoçar juntos todos os dias na cozinha de Hogwarts, com os elfos, para poderem se sentar juntos e continuar conversando, o que as vezes podia trazer encrenca por serem de casas diferentes em Hogwarts e estarem sempre mudando para a mesa um do outro no Salão Principal.

Porém, foi só uma questão de tempo até Victoire sentir seus movimentos se tornando inquietos perto dele, quase como se ela tivesse medo de tocá-lo. Sentia seus dedos formigavam quando observava demais as cores chamativas de seus cabelos, imaginando como seria passar seus dedos por todos aqueles fios desgrenhados e arrepiados. Sua pele também formigava quando Teddy a segurava pelo braço para guiá-la ou para mostrá-la alguma coisa, ou quando segurava suas mãos para ensiná-la algum feitiço.

A situação se agravava quando Teddy a abraçava e ela sentia que seu coração fosse sair pela boca. Como ele conseguia ser tão espontâneo? Ele despertava tantas sensações e sentimentos diferentes em Victoire, com cada toque e olhar, que era impossível que ele não estivesse fazendo isso de propósito – ou que não estivesse percebendo o que estava acontecendo.

Victoire sentiu que isso estava se tornando um problema quando ela começou a passar mais tempo pensando em Teddy do que pensando em seus afazeres ou nela mesma. Victoire se perguntava ela era alguém de quem Teddy pudesse gostar com tanta intensidade como, definitivamente, Victoire gostava dele.

Conforme os dias foram passando e Teddy e Victoire foram se tornando cada vez mais próximos, ela se acostumou a chegar ao Salão Principal durante a manhã e rapidamente vasculhar com os olhos a procura dos cabelos coloridos e diferentes que rapidamente chamavam sua atenção. Só que hoje Victoire não os encontrou em lugar nenhum, fazendo seus ombros caírem e seu olhar se tornar mais ansioso. Ela foi até a mesa da Grifinória e se sentou lá, rapidamente alcançando uma jarra de suco e um copo.

— Vocês viram Teddy hoje? – Ela perguntou casualmente para Dinah e Daisy, suas melhores amigas, que haviam descido mais cedo para tomar café da manhã.

— Ah, o senhor Lupin. – Daisy imitou o olhar sonhador e exagerado que Victoire lançava quando via Teddy de manhã. – Ele saiu bem cedo hoje... Estava muito ocupado. Mas não se preocupe, ele deixou um bilhete com Dinah antes de sair.

Victoire, que estava servindo-se com suco de abobora, lançou um olhar de lado para Dinah para saber se aquilo era verdade ou se era apenas Daisy implicando com seus sentimentos. Dinah, a mais confiável, rapidamente tirou um pequeno bilhete dos bolsos de suas vestes e o entregou a Victoire.

— Ele me pagou cinco galeões para não ler... Deve ser importante.

Percebendo os olhares insinuantes que suas duas amigas lançavam-lhe, Victoire sentiu suas bochechas ruborizarem ao mesmo tempo em que as fuzilava com o olhar. Ela alcançou o bilhete com a ponta dos dedos e imediatamente soube que o bilhete era mesmo de Teddy pela maneira como o pedaço de pergaminho estava mal dobrado e parecia ter sido feito ás presas. Ela abriu o bilhete e seus olhos percorreram rapidamente as palavras excessivamente curvadas da caligrafia quase ilegível de Teddy Lupin.

“Me encontre as 8 da noite no campo de Quadribol. Vista algo vermelho e elegante.

Teddy.”

Imediatamente Victoire soube que suas bochechas ficaram mais vermelhas do que seria possível. Vários olhares curiosos dos outros alunos da mesa da Grifinória eram lançados para ela, porque o rubor contrastava muito com sua pele clara. Ela dobrou o bilhete apressadamente e o enfiou nas vestes do uniforme, torcendo para que ninguém tivesse percebido seus dedos trêmulos.

Ela respirou profundamente enquanto sentia seu coração acalmando-se. Alcançou seu copo de suco e bebericou o conteúdo distraidamente. Teddy Lupin estava planejando alguma coisa, ela sabia. Victoire sempre foi uma garota que não costumava se arriscar demais ou envolver-se com situações inéditas, mas curiosamente sempre que acabava se metendo nessas situações, Teddy estava com ela. Era parte do sentimento que ele despertava nela: uma mistura inédita de tudo o que Victoire nunca havia sentido ou experimentado antes. Ela foi invadida com pensamentos sobre Teddy e curiosidade sobre o que ele estava planejando para esta noite... Eles estavam acostumados a passar muito tempo juntos, onde Victoire o acompanhava em seus turnos de Monitoria ou os dois se esgueiravam para jantar na cozinha com os elfos, mas desta vez Victoire não fazia a menor ideia do que a esperava.

E no meio de tantos pensamentos, ela nem percebeu que hoje era dia 1º de Maio.

— Então, quando vão se casar? – Daisy perguntou e Victoire sentiu seu rosto se ruborizando cada vez mais. Dinah e Daisy gargalharam juntas da expressão de pânico de Victoire e a garota teve vontade de se enfiar de baixo da mesa.

— Ele comentou algo sobre levá-la para jantar quando deixou o bilhete. – Dinah tentou tranquilizá-la. – Então vai ficar tudo bem. Deve ser só um piquenique.

— E vermelho... Isso é bastante inusitado. Não tanto quanto o campo de Quadribol, mas... – Daisy começou a tagarelar e Victoire teve vontade de atirar um pote de geleia no rosto da garota.

— Você disse que ele te pagou cinco galeões para não ler o bilhete! – Victoire exclamou, sentindo-se completamente exasperada.

— Ele pagou cinco galeões para a Dinah, eu não recebi nada. Não é minha culpa! – Victoire acotovelou Daisy nas costelas e terminou de tomar seu suco antes de se levantar, sentindo que já estava mais vermelha do que a bandeira da Grifinória que pairava sobre suas cabeças.

— Quando é que vocês vão se beijar e acabar logo com isso, hein? Está ficando ridículo. – Daisy reclamou em voz alta, atraindo ainda mais olhares para a conversa das três garotas. - A escola toda pensa que vocês dois são namorados.

— Nós não somos namorados, somos melhores amigos. – Victoire respondeu com uma voz irritada e fuzilou Daisy com o olhar - Teddy não gosta de mim, ele provavelmente deve estar saindo com outra garota agora mesmo... Então parem de espalhar isso!

Quando Victoire exclamou, ela acidentalmente elevou ainda mais sua voz e agora os alunos da mesa da Corvinal estavam observando-as com curiosidade. Victoire sentiu suas orelhas ficando mais quentes e girou seu corpo para sair logo dali. Porém, antes que Victoire pudesse dar pouco mais do que um passo, Daisy a segurou pelo braço e Victoire se virou novamente para ela e lançou-lhe um olhar de desafio.

— Você acha que ele não gosta de você. – Enfatizou Daisy.

— Ele não gosta. – Afirmou Victoire com rispidez.

— Como você pode ter certeza? Ele te convidou para jantar. – Dinah comentou em voz alta, fazendo Victoire encará-la com surpresa. Até Dinah estava contra ela.

— Jantamos juntos desde que éramos crianças! – Ela se defendeu.

— E você também não gosta dele? – Daisy perguntou e o olhar insinuante de sua amiga serviu somente para fazê-la se desfazer da mão que a segurava e sair dali. Não podia confiar em mais ninguém para contar sobre seus sentimentos.

— Vocês são inacreditáveis. – Ela resmungou uma última vez antes de sair do Salão Principal com passos apressados.

No decorrer do dia, Victoire não conseguiu prestar atenção em nenhuma de suas aulas. Mesmo na matéria de Estudo dos Trouxas, que Victoire havia escolhido cursar somente para relaxar, a professora precisou chamar sua atenção porque Victoire não parecia atenta ao documentário trouxa que explicava como eram feitos os efeitos especiais do cinema. Como desculpa, Victoire disse que estava pensando em convencer seus pais a assistirem um filme no cinema trouxa durante as férias. Aquilo pareceu deixar a professora bastante animada.

Na hora do almoço, Victoire precisou se sentar novamente na mesa da Grifinória e lidar com suas amigas interrogando-a sobre Teddy Lupin. Ela mentiu dizendo que não havia pensado sobre o assunto ainda ou que não sabia o que vestiria para se encontrar com ele mais tarde naquele dia. Era, é claro, uma mentira. Victoire havia vasculhado todo seu guarda-roupa mentalmente procurando algo que fosse elegante e vermelho o suficiente para vestir quando fosse encontrar Teddy. Ela havia separado mentalmente as peças de roupas que provaria antes de se decidir e havia pensado em usar o seu cabelo preso, embora não gostasse muito da ideia – e nem Teddy, que gostava de seus cabelos soltos e ligeiramente ondulados.

Ela não conseguiu comer durante o almoço, mas suas amigas não perceberam seu nervosismo exagerado. Na aula de Herbologia daquele dia, Victoire teve muito cuidado com suas unhas enquanto fazia a adubação de algumas plantas mágicas. Durante a aula de Astronomia, Victoire observava o movimento dos planetas na Torre de Astronomia e fazia anotações incoerentes no seu pergaminho enquanto rabiscava os cantos das folhas com as iniciais de Teddy Remus Lupin. Quando entregou o pergaminho para seu professor, ele torceu o nariz e pareceu surpreso, mas mesmo assim Victoire conseguiu nota naquela atividade.

Com o final do dia chegando, Victoire não foi até o Salão Principal para jantar. Ela não sabia se conseguiria esconder seu nervosismo por muito mais tempo. Na Sala Comunal da Grifinória, ela observou Dinah e Daisy descendo para jantar e esperou as outras duas garotas que também dividiam dormitório com ela saírem pelo buraco do retrato. Quando teve certeza de que estava sozinha, Victoire subiu até o dormitório e entrou debaixo do chuveiro. Sentindo a água quente escorrendo por suas costas, ela tentou respirar fundo. Sempre que fechava os olhos, o sorriso torto de Teddy invadia seus pensamentos, a maneira como ele movia os lábios ou como seu sorriso era tão expressivo que Victoire conseguia saber que ele estava sorrindo apenas observando seus olhos. Ela pensava na maneira como Teddy tocava gentilmente em seus ombros quando andavam juntos pelo corredor e na sensação engraçada que tomava conta de seu estômago quando Teddy a abraçava...

Quando terminou o banho, Victoire se observou no espelho por um instante. Ela sabia que era uma garota bonita, que muitos diziam que era uma garota perfeita, embora ela não enxergasse perfeição em si mesma. Seu rosto era perfeitamente angular e com traços delicados e belíssimos delimitando as maçãs de seu rosto e seus olhos. Seus lábios eram finos e seu nariz era levemente arrebitado. Os olhos azuis que herdou de seu pai eram expressivos e extremamente cintilantes á luz do sol. As sardas que pincelavam seu rosto eram muito mais visíveis e marcantes quando Victoire era mais nova, agora sendo apenas uma sombra pontilhada que apenas as pessoas mais atentas conseguiam observar.

Ela era delicada, esguia e tinha uma postura perfeitamente correta devido aos anos que praticou balé. Cada um de seus movimentos era sincronizado e em perfeito equilíbrio e seu toque era tão macio quanto o de uma luva de veludo. Apesar de muitos de seus atributos mais marcantes e sua beleza excepcional fossem resultado da porção de sangue Veela presente na família de sua mãe, ela considerava seus olhos como os verdadeiros responsáveis por sua beleza e estes foram, curiosamente, herdados de seu pai.

Quando terminou de secar seus cabelos loiros, usou um kit de feitiços que comprou no Beco Diagonal e que usava sempre para deixar os cabelos levemente ondulados. Ela se lembrava que o kit foi um presente de sua tia Angelina no ano passado e que Victoire usou ela primeira vez no jantar de aniversário de seu tio Harry. Na ocasião, Teddy havia comentado como Victoire havia ficado bonita com os cabelos daquela maneira e por isso, no dia seguinte, ela encomendou caixas e mais caixas do kit feitiço para usar em Hogwarts.

Quando Victoire saiu do banheiro, quase deu um pulo de susto. Dinah e Daisy estavam sentadas na sua cama e ambas já haviam separado uma série de acessórios e maquiagem. Quando ela ergueu os olhos e viu que havia uma peça de roupa separada no canto de sua cama, ela abriu os lábios em um sorriso e todo o peso em seus ombros pareceu se multiplicar.

***

Houve a certa controvérsia quando Daisy e Dinah discutiam com Vic sobre o que ‘vermelho e elegante’ significava. O vestido que as amigas de Victoire haviam escolhido era ‘muito elegante’ e ‘muito vermelho’, e por mais que Victoire estivesse guardando-o para uma ocasião especial, não achava que deveria usá-lo agora. Todas as combinações de roupa que Victoire escolheu, porém, não agradaram suas amigas e ela rapidamente desistiu da ideia. Quando percebeu que estava ficando sem opções, ela aceitou usar o vestido embora suspeitasse que a ideia houvesse sido aceita desde o começo.

Caminhando pelos corredores até o campo de Quadribol, Victoire atraiu olhares curiosos e masculinos pelo caminho que a deixaram incomodada. Seu vestido era curto e havia servido perfeitamente em seu corpo. Seus sapatos eram baixos e confortáveis, embora também bastante elegantes. Seus cabelos loiros estavam do jeito que ela adorava e se movimentavam em suas costas conforme ela caminhava pelos corredores de pedra. A noite já estava caindo e Victoire, levando apenas uma pequena bolsa preta onde havia guardado sua varinha, ainda não tinha certeza do que estava fazendo.

Será que era assim que todas as garotas se sentiam quando estavam indo no primeiro encontro com um garoto realmente legal e que despertava sensações curiosas em seus estômagos? Ela nunca havia se sentido assim quando saiu com outros garotos. Ela sempre tinha o controle e ria da expressão deles quando percebia que estavam nervosos. Ela sempre procurava descontrair e tornar as coisas mais confortáveis e agradáveis com todos os garotos que já havia saído. Por que com Teddy nada parecia seguir a lógica? Todos os garotos pensavam em Victoire como a garota perfeita e inalcançável, além de se sentirem inseguros na presença dela, enquanto Victoire apenas podia torcer para ser boa o bastante para Teddy. Ela nem sabia, também, se estava indo para um encontro romântico com Teddy.

E se estivesse exagerando? E se, no fim, os dois fossem apenas fazer um piquenique em algum lugar do castelo? E se Teddy estava apenas brincando quando disse ‘vermelho e elegante’? As palavras daquele bilhete não saiam da cabeça de Victoire. Depois de todo esse tempo que conhecia Teddy, por que agora ele havia a convidado para sair? Quer dizer, ela não sabia se era um encontro romântico, mas se fosse... Por que agora?   E por que não convidá-la pessoalmente?

Se as coisas saíssem do controle, Victoire sabia que sairia correndo.

Quando se aproximou do campo de Quadribol, encontrou o time da Corvinal saindo do campo e caminhando em direção ao castelo para jantar. Quando toda a movimentação pareceu cessar, ela olhou ao redor pelo gramado e seus olhos vasculharam as arquibancadas pouco iluminadas. Já estava escurecendo e após alguns instantes, ela concluiu que estava sozinha.

Sentindo sua ansiedade diminuindo e percebendo que agora não poderia mais voltar atrás, ela caminhou até os bancos de madeira nas laterais do campo e esperou. Poucos instantes depois, ela ouviu passos rítmicos entrando no campo e no instante seguinte a silhueta de um garoto apareceu na penumbra.

— Por aqui! – Ele acenou e indicou para que Victoire o acompanhasse. Mesmo conseguindo ver somente sua sombra, ela tinha certeza que era Teddy pela maneira atrapalhada como ele se movimentava. Contornando o campo atrás da silhueta, Victoire seguiu até a entrada dos vestiários esportivos. Teddy estava terminando de abotoar seu casaco e quando Victoire se aproximou o suficiente, ele sorriu para ela.

É claro que por um instante ambos não sabiam o que fazer. Victoire se perdeu nos próprios pensamentos quando Teddy a encarava com um olhar admirado. Ele percorreu os olhos para cada detalhe, sentindo uma sensação curiosa o invadindo no peito. Victoire estava magnífica e ele parecia ter sido atingido por um feitiço petrificante. Quando encarou Victoire nos olhos novamente, ele esboçou um sorriso torno e nervoso.

A garota, por outro lado, conseguiu apenas observar os olhos de Teddy se movendo conforme a avaliavam. Ela tentava ler a expressão engraçada que se formou no seu rosto, mas seu nervosismo não permitia que Victoire seguisse qualquer linha racional de pensamentos. Ela observou os piercings de metal cintilando nas orelhas de Teddy e observou que seus cabelos pareciam ainda mais rebeldes e arrepiados hoje. Ele estava completamente azul: seus cabelos, sua camiseta, seus olhos. Teddy era azul e, para Victoire, nenhuma outra cor importava.

— Por aqui. – Teddy indicou novamente quando conseguiu piscar e reunir seus pensamentos para o que realmente importava.

Ele caminhou alguns passos em direção ao vestiário e Victoire o seguiu. Quando se aproximaram da entrada para o vestiário feminino e masculino, ela de repente se perguntou o que estavam fazendo e que tipo de jantar seria aquele. Então, ela percebeu que Teddy estava empurrando a porta para o vestiário da direita e antes que pudesse pensar no que estava acontecendo, ela gritou:

— Teddy, você não pode entrar no vestiário feminino!

Ele imediatamente se afastou da porta para o vestiário e revirou os olhos.

— Vic, já é de noite. Não tem ninguém no vestiário...

— Mas por que temos que entrar no vestiário? O que você está tramando? – Ela indagou, colocando ambas as mãos na cintura como todas as mulheres da sua família costumavam fazer quando estavam irritadas. Mas Teddy sabia que, na verdade, ela só estava curiosa.

— Eu nós vamos sair do castelo. Eu prometi te levar para jantar hoje. – Ele esclareceu, falando com o mesmo tom professoral que usava para ensiná-la a matéria de Transfiguração.

— Eu pensei que fosse um piquenique... Ou que fossemos comer na cozinha com os elfos. – Victoire comentou, sentindo-se completamente surpresa por não ter pensado da ideia antes... É claro que eles sairiam do castelo... Por que isso não fez sentido antes?

— Se você quiser, pode verificar se não tem ninguém. – Teddy concluiu, apontando para a porta do vestiário com o polegar.

— Por que o vestiário feminino? – Ela indagou novamente, expressando toda sua cautela e desconfiança.

— Vic, estamos sem tempo. – Teddy respondeu apressadamente.

Percebendo que não conseguiria nada discutindo com Teddy Lupin, Victoire se adiantou até o vestiário feminino. Ela entrou no cômodo espaçoso com armários de metal, cabides nas paredes, armários com equipamentos de quadribol e uma porta indicando a entrada para o banheiro aos fundos.

— Não tem ninguém aqui. – Ela concluiu depois de caminhar entre os armários e a pilha de uniforme de treino da Corvinal.

Ainda parecendo impaciente, Teddy entrou no vestiário e, como se conhecesse o caminho como a palma de sua mão, ele seguiu entre os vários armários até a parede dos fundos, onde havia uma porta que indicava um armário de zeladoria – ou seja, limpeza.

— Certo... Por aqui. – Ele indicou para Victoire conforme abriu o armário de limpeza e se deparou com uma pilha de esfregões, baldes e espanadores de pó.

— Você já esteve aqui antes? – Victoire perguntou cautelosamente, o seguindo de perto conforme o garoto se esgueirava pelo armário apertado.

— Por aqui, Vic. – Ele continuou dizendo, sentindo a respiração de Victoire em suas costas. Retirou uma pilha de panos de limpeza do caminho e moveu alguns esfregões para a direita.

— O que você costuma fazer no vestiário feminino? – Victoire insistia em saber, parecendo subitamente incomodada.

De repente, Teddy se virou e ficou de costas para a parede de tijolos que indicava o limite do pequeno cômodo de limpeza. Ele pediu para Victoire fechar a porta atrás de si e quando ela se virou de novo percebeu que ali dentro havia apenas escuridão, esfregões, baldes e Teddy Lupin de frente para ela, tão próximos que Victoire podia ouvir sua respiração.

Daisy estava certa afinal. Victoire havia se enfiado em um armário de vassouras com Teddy Lupin no seu primeiro encontro oficial.

Por um tempo, ela não entendeu o que estava acontecendo. Teddy estava logo a sua frente e parecia ansioso, esperando que algo fosse acontecer. Algo em seus pensamentos procurou por um vestígio de lógica naquilo. Ele estava esperando que ela fosse beijá-lo?

Quando Teddy deu um passo para frente e tocou os braços de Victoire com seus dedos, ela pensou que algo fosse realmente acontecer ali. Ela o ouviu respirando fundo e, de repente, ouviu o barulho de uma porta se abrindo.

— O que é isso? – Victoire rapidamente olhou para trás, mas a porta do cômodo ainda estava fechada. Percebendo uma risada baixa de Teddy, ele ergueu sua varinha e, com um feitiço Lumos, Victoire pode perceber que seus rostos estavam tão próximos que uns poucos centímetros bastariam para que seus lábios se encostarem.

— É uma passagem secreta. Para Hogsmeade. – Ele indicou, orgulhoso, para o buraco que surgiu na parede ás suas costas.

— E desde quando isso existe? Isso não pode ser legal... – Victoire questionou conforme Teddy se virava novamente de costas para ela e com sua varinha iluminou a passagem adiante.

— Não é legal e não existe há muito tempo. Não tem no mapa do maroto, já verifiquei. – Ele a tranquilizou.

— Mas Teddy, nós não podemos sair do Castelo... – Ela imediatamente se desesperou. Tinha ouvido anteriormente Teddy dizer que a levaria para fora do castelo, mas não pensava que esse momento fosse chegar tão rápido. Ela nunca tinha saído do castelo ilegalmente antes e isso estava fora de cogitação para acontecer agora. - Não podemos ir para Hogsmeade no meio da semana. Se alguém nos encontrar lá... Estamos encrencados! Você perde se titulo de Monitor e eu perco minha chance de me tornar Monitora ano que vem e...

E lá estava de novo. Victoire falando rápido demais. Com a iluminação do feitiço, Victoire sentiu vontade de socar Teddy quando ele esboçou um sorriso torto antes de se virar para ela, completamente convencido.

— Ninguém vai nos encontrar lá. Eu tomei conta de tudo.

— Teddy, o que você está aprontando? Eu não posso ter nenhuma detenção, você sabe! Eu preciso manter o meu histórico limpo se eu quiser me tornar Monitora ano que vem e... – Ela enfatizou novamente enquanto gesticulava para tentar fazê-lo entender a gravidade da situação.

— Não estamos fazendo nada errado. E você não vai ganhar nenhuma detenção, a não ser que eu mesmo te coloque em uma. – Ele usou um tom sério de voz e a olhou no fundo dos olhos para convencê-la novamente.

— Isso seria abuso de poder... – Victoire estreitou seus olhos enquanto olhava ainda desconfiada para seu melhor amigo.

— Você confia em mim? – Ele perguntou simplesmente. Havia dois pequenos degraus entre a entrada e a passagem propriamente dita. Teddy desceu os dois degraus e esperou Victoire já dentro da passagem secreta, um caminho sinuoso e apertado feito de terra e pedregulhos.

— Confio, mas não é certo, Teddy. Devemos seguir as regras. – Ao contrário do que ele esperava, Victoire recuou um passo para trás.

— Nem todas as regras e nem o tempo todo. É só um dia, Vic. E vai ser muito especial. Eu planejei isso por semanas... Se você não confia em mim e não quiser ir, tudo bem. Ainda podemos ir jantar na cozinha. – Ele estendeu as mãos em um sinal de redenção enquanto a fitava com as sobrancelhas arqueadas e um olhar desapontado.

— Foi por isso que você disse que seria melhor eu colocar um vestido? – Com a luz iluminando somente a passagem adiante, ficou difícil para Teddy distinguir a expressão no rosto de sua melhor amiga, mas teve a impressão de que ela estava sorrindo.

— Exatamente. – Ele piscou para ela e estendeu sua mão esquerda para convidá-la e ajudá-la a descer os degraus.

— Tudo bem. – Victoire alcançou a mão de Teddy Lupin e, quando passou pela entrada da passagem secreta, a parede se fechou atrás dos dois.


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Notas finais do capítulo

Inicialmente esse capítulo seria imenso e por isso eu decidi dividi-lo em duas partes. A continuação desse primeiro encontro será no próximo capítulo de flashbacks e também será o ultimo flashback da história.
Um abraço



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