Através de um vidro escuro escrita por Scya


Capítulo 10
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Nesse capítulo, como de costume, teremos um flashback! Espero que gostem e tenham uma boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/722666/chapter/10

Através de um vidro escuro

Capítulo 10

 

Por Scya

 

Hogwarts estava bastante movimentada naquela noite de 2 de maio, a noite em que aconteceria o memorial ás vítimas da Primeira e Segunda Guerra Bruxa. Nessa época, Teddy Lupin era um garoto em seu 4º ano em Hogwarts, ainda muito desengonçado e magricela, usando os cabelos em uma tonalidade de verde claro e frequentemente alterando-a ao longo do dia.

Como uma tradição, o memorial acontecia em Hogwarts todos os anos na mesma data, durante a noite. Era um dia especial para toda a comunidade bruxa que um dia foi assombrada pela ameaça da Guerra e do controle de um bruxo das trevas. A escolha de Hogwarts como local do memorial foi simples e facilmente justificável: foi o local da última Batalha, onde finalmente Harry Potter derrotou o Lord das Trevas e terminou com o terror que assolava o mundo bruxo.

Foram naqueles terrenos, quatorze anos atrás, que Voldemort caíra. Foram naqueles terrenos, também, que muitas das piores lembranças e medos foram concretizadas com a morte de amigos, de família, de heróis. Hoje era um dia especial para lembrar a todos da grande importância de cada um desses heróis, desses familiares, desses amigos. Era o dia para lembrar-se do verdadeiro significado de uma Guerra e, consequentemente, de sua dor.

Mas nem tudo era apenas tristeza. O mundo bruxo e o mundo trouxa foram salvos, também nessa mesma data, quatorze anos atrás. Era um dia para se comemorar! Para celebrar a liberdade e a paz duradoura que surgiu desde então, possibilitando que o mundo se tornasse um lugar melhor para uma nova geração crescer e prosperar.

Era o único dia do ano que Hogwarts estava aberta para aparatações externas devido ao constante fluxo de bruxos e bruxas pelo castelo. Durante o dia, os alunos todos se organizavam para preparar a majestosa cerimônia, preparando os jardins para receber o palanque de discursos e a imensa plateia que assistiria, ao lado da Pedra Branca.

A Pedra Branca era um memorial que foi construído quando Hogwarts foi reconstruída após a Guerra. Tratava-se de um grandioso pilar que era muito similar a um obelisco, com seu formato quadrangular alongado. Na Pedra Branca, estavam inscritos os nomes das vítimas da Primeira e Segunda Guerra bruxa, todos lembrados de uma maneira especial e com um espaço reservado para seu reconhecimento eterno nos jardins do castelo. Teddy por muitas vezes se encontrava parado de frente para o obelisco, apenas observando os vários nomes gravados na pedra branca. Por muitas vezes, ele se flagrava observando os nomes de seus pais. E por outras várias vezes, apenas observava as inscrições na pedra, facilmente legíveis de longe: “Vocês morreram para tornar a sociedade mágica um lugar melhor. Seremos eternamente gratos a vocês.”.

Depois dos discursos nos jardins, todos deveriam seguir para o Salão Principal, onde era sempre realizado um grandioso banquete para todos os bruxos e bruxas presentes na ocasião. Em Hogsmeade, não era diferente. O vilarejo teve um grande papel durante a Guerra e por muitas vezes era lembrado como igualmente heroico. Lá, assim como na casa de muitos bruxos e bruxas ao redor do país, muitas outras celebrações tomavam espaço.

Agora, faltava exatamente uma hora para o início dos discursos. Muitos bruxos estavam chegando pelas lareiras de flu ou aparatando nos jardins. Teddy observava cada um com muita curiosidade conforme andava de um lado para o outro, inquieto e nervoso. Era um dia muito especial para ele, ouvir seus pais sendo mencionados em um discurso como heróis e ver tantas outras pessoas se emocionando por seus respectivos amigos e familiares vítimas da guerra.

Ele nunca estaria realmente pronto para isso. Todos os anos, havia uma surpresa especial. Ele nunca poderia prever o que poderia acontecer em seguida, se muitos outros bruxos o reconheceriam, como sempre acontecia, como o filho de Remus e Tonks. Ele nunca saberia se sentiriam pena dele ou se o congratulariam pela coragem de seus pais.

Ele observava com atenção os Monitores organizando os alunos para o inicio da cerimônia, assim como observava o professor Neville Longbottom dando os ajustes finais no palanque, sempre muito emotivo e com os olhos já cintilantes. Ele chorava em todo memorial, sem exceções.

Reparou que a maioria dos Weasley já estava presente. Ginny parecia estar pacientemente respondendo ás perguntas de Albus sobre o que eles estavam fazendo ali e as reclamações de Lily de que era um lugar muito triste. A avó Molly Weasley carregava um lencinho em uma mão enquanto caminhava por entre os assentos disponíveis procurando um lugar ideal para assistir a cerimônia, com George, Angelina e Arthur a seguindo de perto.

Teddy pensou na possibilidade de ajudar Ginny a encontrar um bom assento para as crianças, já que Harry estava visivelmente ausente. Ele fez uma nota mental para questionar o padrinho sobre se deixar a esposa sozinha com três filhos confusos era uma boa ideia. Exceto que, no meio de suas reflexões pessoais, seus olhos rapidamente avistaram o cabelo loiro pérola e o uniforme vermelho da Grifinória.

Victoire estava conversando com seus pais, que já estavam sentados em um assento logo á frente do palanque. Sua irmã e seu irmão mais novos, Dominique e Louis, tinham uma aparência tão confusa quanto das crianças Potter e ele observou com muita atenção Victoire aproximar-se de cada um deles e tranquilizá-los, depositando um beijo protetor e sincero nas testas dos dois irmãos antes de se sentar ao lado da família.

Teddy não conseguiria explicar por que sentia tanta fascinação pelo simples modo como Victoire tratava os irmãos, com tanta atenção e carinho de uma irmã mais velha e extremamente protetora. Ele podia se lembrar com clareza de como observou Victoire ao longo de todos esses anos, ajudando os irmãos e os primos a levantarem quando estavam aprendendo a andar ou a ser a primeira a socorrê-los quando acabavam se machucando. Ele sempre precisou ajudá-la com a tarefa de cuidar dos mais novos, mas não tinha a mesma paciência e muito menos o mesmo toque gentil.

Hoje era o aniversário de 12 anos de sua melhor amiga. Ele foi um dos primeiros a parabenizá-la durante o café da manhã, quando se esgueirou para a mesa da Grifinória e a abraçou com força, derrubando um prato de torradas no processo e chamando a atenção de todo o Salão para a risada dos dois em seguida. Victoire sempre se divertia com todo o jeito desastrado de Teddy e o sorriso dela, para ele, fazia com que nenhuma das torradas que foram estragadas importassem mais.

Quando Victoire percebeu que seu melhor amigo a observava, ela gesticulou para que ele fosse se sentar ao seu lado, mas Teddy no mesmo instante se preocupou percebendo que sua avó, Andrômeda, não estava no local da cerimônia. A avó já havia aparatado em Hogwarts mais cedo, ele havia tido uma longa conversa com ela antes de ajudá-la a escolher um bom lugar, mas agora a avó não estava em lugar nenhum. Gesticulando de volta para Victoire, ele se apressou para tentar encontrá-la.

Com a habilidade de um estudante do quarto ano, Teddy esgueirou-se por entre os alunos que tumultuavam o caminho. Sempre observando os lados e procurando a figura familiar de sua avó, Teddy seguiu para dentro do castelo novamente, andando por entre os corredores com passos apressados.

Ele duvidava que a avó estaria em algum lugar ali dentro, mas não fazia ideia de onde mais procurá-la. Chegou então até um corredor onde escutou vozes familiares. A Diretora Mcgonagall conversava com algumas pessoas em uma reunião privada antes da cerimônia, provavelmente discutindo sobre os discursos que seriam feitos. Teddy tomou cuidado para que ninguém percebesse sua presença quando passou pela sala e seguiu em frente.

Mais adiante, mas não tão distante, havia outra sala ocupada por vozes familiares. Teddy reconheceu imediatamente a voz de seu padrinho, Harry Potter, conversando com o senhor Kingsley Shacklebolt. Teddy não costumava entreouvir conversas alheias, mas havia uma curiosidade sobre o que eles estavam conversando que rapidamente chamou a atenção de Teddy.

— Eu admiro muito Remus por tudo o que ele fez e pelo grande homem que ele foi. – Dizia a voz de Kingsley de dentro da sala. – Por todo o tempo que trabalhamos juntos para a Ordem, eu não tenho o que reclamar de Remus. Ele foi um grande amigo e um bruxo extremamente inteligente e talentoso.

— Sem dúvida que foi. – A voz de Harry concordou em seguida. – O melhor professor que Defesa Contra as Artes das Trevas que eu já tive e isso quer dizer alguma coisa, já que dizem que sou especialista no feitiço do patrono que ele me ensinou.

— Remus teve um papel grandioso para toda a sociedade bruxa. Tenho certeza que o Ministro Finley Griffiths vai mencioná-lo em seu discurso. – Continuou dizendo Kingsley, que pelo seu tom de voz deveria estar bebendo alguma coisa. – A Ordem de Merlin póstuma que ele recebeu teve um significado imensurável para que os lobisomens tivessem novas oportunidades de participar da comunidade bruxa. É a primeira vez que um lobisomem foi condecorado com essa honraria. Seu exemplo de vida ajudou a enaltecer todos os lobisomens.

— Ninguém nunca esqueceu sua bravura, um homem amável que deu sempre o melhor de si e ajudou mais pessoas do que jamais imaginou. – Harry adicionou em seguida, com um tom triste bastante ressaltado em sua voz.

O silencio se estendeu por algum tempo. Teddy poderia imaginar com clareza os dois homens dentro daquela sala, lamentando juntos sobre a perda de um amigo enquanto discutiam suas grandiosas realizações. O jovem considerou ir embora e continuar procurando sua avó quando a voz de Kingsley surgiu novamente:

— Sabe Harry, sempre teve uma coisa sobre Remus que me intrigou bastante. – Começou o ex-Ministro da Magia, sua voz se tornando mais cautelosa. – Você se lembra daquela época... Daquela ocasião... Quando Remus foi procurá-lo durante sua missão?

— Uh? – Harry perguntou, inicialmente sem entender onde Kingsley queria chegar. – O que quer dizer?

— Quando ele decidiu seguir sozinho para encontrar você... E se ofereceu para ajudá-lo na missão, mas você recusou. – Kingsley esclareceu.

— Ah, é claro. Remus estava bastante perdido naquela época. Ele não estava pensando direito... Estava com medo e bastante perturbado com a possibilidade... Bom, você sabe. – Harry respondeu, deixando a voz cada vez mais entristecida.

— Eu me lembro de quando ele saiu da sede da Ordem dizendo que não voltaria sem antes ajudá-lo a terminar a missão. Eu me lembro de como ele parecia furioso e ao mesmo tempo... Ferido, entende? Havia alguma coisa errada. – Kingsley expressava profunda preocupação conforme continuava falando. – Eu fiquei sabendo algum tempo depois que naquela noite ele havia deixado Tonks na casa dos pais após descobrir que ela estava grávida. Ele não planejava voltar.

Quando Teddy ouviu aquelas palavras, ele imediatamente se recostou na parede para poder ouvir melhor. Nunca havia ouvido nenhuma história daquelas sobre seus pais e de repente a possibilidade de descobrir algum ponto delicado da vida dos dois que todos mantiveram longe dele por tanto tempo parecida tentadora.

— Eu só estava me perguntando... O que você pode ter dito a ele que o fez mudar de ideia. Ele apareceu na sede da Ordem não muito tempo depois, completamente abatido e miserável, mas parecia ter recuperado o juízo. – Kingsley terminou, abrindo espaço para que Harry respondesse em seguida.

Harry, porém, permaneceu calado, fazendo com que Teddy se inclinasse cada vez mais sobre a parede, em completa ansiedade.

— Remus deixou Tonks quando descobriu que ela estava grávida. – Harry começou bem devagar, quase como se estivesse convencendo a si mesmo de que era certo conversar a respeito disso. – Ele tinha medo de que o bebê fosse nascer um lobisomem e que isso fosse tornar a vida de Tonks uma desgraça, com um filho e um marido acometidos com essa condição especial. Ele teve medo de que, por ter se casado com Tonks, tivesse a condenado a ter uma vida tão miserável quanto à de seus próprios pais. E então ele fugiu.

— Isso não parece uma coisa que Remus faria...

— Ele fez, Kingsley. Ele foi um covarde, ele simplesmente abandonou a esposa grávida por medo, por acreditar que estava fazendo o melhor para ela. E foi isso que eu disse a ele naquela noite, quando ele me encontrou no Largo Grimmauld. Eu disse a ele que ele era um covarde, que ele deveria voltar para a sua esposa e para o seu filho ainda não nascido e se certificar de ficar com eles, protegê-los, em todos os momentos.

— Eu imagino que Remus tenha pensando... Como antigamente as pessoas temiam lobisomens, não aceitavam um homem com essa condição perto deles de maneira nenhuma. A maneira como o mundo bruxo encarava essas criaturas, por tanto tempo, como desgraçadas e amaldiçoadas, sem direito de conseguir viver uma vida...

Mas Teddy não ouviu mais nada. No instante seguinte, ele já estava caminhando por corredores cada vez mais profundos dentro do castelo, completamente disposto a fazer qualquer coisa para conseguir esquecer o que havia acabado de ouvir.

Como era possível que seu pai, um herói de Guerra respeitado por tantos, tivesse simplesmente sido capaz de fazer isso com ele? Com sua mãe? Ele não acreditava nisso... Recusava-se a acreditar que Remus Lupin preferiria abandonar seu filho a fazer o possível para protegê-lo e amá-lo. Recusava-se a acreditar que o pai tivesse agido como um covarde por medo de sua própria condição, por medo do que todo o mundo bruxo fosse pensar ou de como eles fossem tratar seu filho durante sua vida...

Era verdade, pelo o que sua avó tinha lhe contado, de que Remus viveu uma vida condenada por ser um lobisomem. De que ele sofreu muito por sua condição especial e nunca teve a oportunidade de ser tratado de maneira igual pela maioria dos bruxos que conheceu. É claro que era compreensível que Remus tivesse medo de que seu filho fosse condenado a viver de maneira semelhante e que os dois compartilhassem da mesma condição, mas nem mesmo procurando todas as justificativas possíveis, ele não conseguia compreender o que teria levado seu próprio pai, o homem que aprendeu a amar e se orgulhar durantes tantos anos, tivesse sido capaz de fazer algo terrível para sua esposa e seu filho.

E se Remus tivesse mesmo se arrependido de ter se casado com Tonks? E se ele nunca mais voltasse para casa? Teddy sabia que havia convivido com os pais por pouco menos de um mês, mas imaginar sua mãe sozinha durante toda a gravidez, abandonada pelo marido no meio de uma Guerra e tendo que cuidar de um filho recém nascido por conta de um ato egoísta de Remus que poderia resultar, talvez, em um destino completamente diferente para ambos. Se Tonks estivesse sozinha com Teddy, ela teria participado da Batalha de Hogwarts?

Era difícil descobrir.  Teddy ouviu também muitas histórias sobre como sua mãe era uma Auror talentosa e que nunca dispensaria ou viraria as costas para alguém que precisasse de sua ajuda, como sendo também uma talentosa Lufana.

Talvez nada fosse capaz de mudar o destino dos dois, afinal.

Teddy não considerou retornar para a cerimônia, não depois de tudo o que tinha descoberto. Ele se sentia imensamente traído e furioso com seu pai, mesmo que sua raiva não pudesse ser transmitida diretamente á ele, sentia que se ouvisse palavras memoráveis sobre quem foi Remus Lupin talvez fosse perder a cabeça e acabar se retirando da cerimônia sem dar satisfações para sua avó e para Vic, o que causaria um maior tumulto depois.

Se não comparecesse á cerimônia, com certeza poderia inventar alguma desculpa, dizendo que estava assistindo dos fundos com seus amigos da Lufa-Lufa ou que precisou buscar alguma coisa no dormitório e perdeu-se no tempo.

Nenhuma das duas possibilidades parecia justificável o suficiente, mas deveria bastar. Ele se sentou quando chegou do outro lado dos jardins, onde tinha certeza que estaria deserto agora com toda atenção voltada para o espetáculo ao redor da Pedra Branca. Recostou-se contra um pilar de pedra e ficou em silencia, com um olhar distante em direção a floresta.

Ouviu o exato momento em que a cerimônia começou, com todos os aplausos para as autoridades presentes. Pôde ouvir a diretora de Hogwarts dando as boas vindas para todos e iniciando o seu discurso sobre como Hogwarts foi palco de acontecimentos significativos durante a Guerra.

Teddy preferiu não ouvir mais nada depois disso, embora as vozes magicamente ampliadas não facilitassem as coisas. Teve o Ministro da Magia Finley Griffiths e o seu antecessor Kingsley Shacklebolt, assim como o Juiz da Suprema Corte Bruxa e diversos outros chefes de Departamento, como Hermione Weasley, que fizeram discursos rápidos relembrando as etapas da Guerra e seus períodos mais marcantes. O Professor Longbottom contou sobre a Armada de Dumbledore enquanto Kingsley orgulhosamente contou sobre o surgimento da Ordem da Fênix.

Era estranho, pensou Teddy, estar demorando tanto para o discurso de seu padrinho começar. Ele geralmente era um dos primeiros que falava ao palanque, sempre com um discurso inspirador sobre o que o fim da Guerra representava para todos e como deveríamos celebrar esse dia com alegria. Ele nunca estava presente no palco quando começavam o memorial ás vítimas e o motivo sempre foi bastante evidente.

Nessa Guerra, foi Harry Potter quem sofreu as maiores perdas.

— Lá está! Meu afilhado favorito! – Disse uma voz ás costas de Teddy, fazendo o garoto se levantar em um salto.

Ele imediatamente olhou para trás surpreso por encontrar seu padrinho, Harry Potter, caminhando em sua direção.

— O que está fazendo aqui? – Teddy perguntou, não se preocupando em esconder a surpresa em sua voz. – Você não deveria estar fazendo o discurso?

— O discurso pode esperar. Ou Hermione pode fazê-lo por mim. – Harry deu de ombros conforme de aproximou de Teddy e apagou a luz da ponta de sua varinha com um feitiço. – Então, o que está fazendo aqui? Eu rapidamente percebi que você não estava na cerimônia, assim como sua avó percebeu também, e Victoire, e Ginny, e seus amigos da escola que vieram me perguntar se você estava bem...

— Certo... – Teddy percebeu como tinha sido uma ideia equivocada simplesmente não comparecer a um evento intimamente relacionado com ele. – E como me encontrou?

Harry arqueou as sobrancelhas com um olhar sugestivo e foi somente quando ele esticou uma mão para dentro de sua capa e retirou um pergaminho velho que Teddy se sentiu completamente tolo por não pensar nessa possibilidade também.

— Você costuma carregar o Mapa do Maroto para todos os lugares? – Teddy perguntou, subitamente indignado.

— Não, mas como eu estava vindo visitar Hogwarts, talvez fosse uma boa ideia. Você sabe, para encontrar você ou algum professor... – Harry começou a gesticular, tentando convencer Teddy da praticidade do Mapa.

Eles ficaram em silêncio por um instante. Harry observou o afilhado o suficiente para captar uma expressão diferente em seu rosto, mas não soube identificá-la de imediato. Talvez tivesse alguma coisa errada, talvez algo tivesse acontecido e que tivesse feito Teddy se sentir triste... Ou talvez ele só estivesse triste por causa dos motivos do Memorial.

— Teddy? – Chamou Harry então, estendendo uma mão para alcançar seu ombro. – Está tudo bem?

— Por que você nunca me contou... – Teddy abaixou o olhar e encarou fixamente seus próprios sapatos. – Por que nunca me contou que meu pai abandonou minha mãe quando descobriu que ela estava grávida? Por que nunca me contou que ele teve medo e se arrependeu de ter se casado com ela?

E então, Harry percebeu que o olhar no rosto de Teddy era um misto de decepção e raiva. Imediatamente ele soltou o ombro do afilhado e o observou completamente surpreso. Não precisava se esforçar muito para imaginar de onde ele estava tirando aquela história.

— Você me ouviu? – Harry deduziu rapidamente. – Me ouviu conversando com Kingsley mais cedo?

Teddy assentiu, mas ainda não levou o olhar dos próprios sapatos.

— Teddy... – Harry chamou. – Você precisa entender uma coisa sobre o seu pai. Parece fácil para você julgá-lo assim, mas você precisa entender toda a história. Seu pai retornou para casa quando percebeu o erro que cometeu e eu tenho certeza que ele não se sentiu nenhum pouco arrependido quando você nasceu e...

— Mas ele foi embora! – Teddy disse mais alto, finalmente levantando os olhos para encarar Harry. – Ele foi embora e preferiu me abandonar a me ajudar! O que aconteceria se eu tivesse nascido um lobisomem? Ele teria simplesmente ido embora de novo?!

Harry conseguia se lembrar, com uma clareza assustadora, das palavras de Remus naquele dia em que viu, pela primeira vez, a sombra do lobo em seu rosto humano. A lembrança veio á tona conforme observava o olhar de tremenda reprovação e angústia que transparecia no olhar de seu filho.

“- Você até hoje só me viu na Ordem, ou sob a proteção de Dumbledore, em Hogwarts! Você não sabe como a maioria do mundo bruxo encara as criaturas como eu! Quando descobrem a minha desgraça, nem conseguem mais falar comigo! Você não percebe o que eu fiz? Até a família dela se desgostou com o nosso casamento, que pais querem ver a única filha casada com um lobisomem? E o filho... o filho...”

Lupin chegou a arrancar tufos dos próprios cabelos; parecia muito descontrolado.

— A minha espécie normalmente não procria! Ele será como eu, estou convencido. Como poderei me perdoar, quando conscientemente corri o risco de transmitir a minha deficiência a uma criança inocente? E se, por milagre, ela não for como eu, então estará melhor, mil vezes melhor sem um pai do qual sempre se envergonhará!”

Harry respirou fundo e indicou para que ele e Teddy se sentassem perto do pilar onde Teddy estava recostado anteriormente. Eles se sentaram lado a lado e Harry não teve coragem para dizer nada por algum tempo, eles apenas ouviram as palavras da cerimônia em silêncio.

Depois de algum tempo, Harry decidiu falar.

— Não há nada que justifique o meu o seu pai fez. Eu concordo com você que ele foi covarde e que estava agindo de uma forma completamente egoísta com sua mãe e com você. – Ele buscava o olhar do afilhado enquanto falava, mas Teddy parecia convencido a observar o céu estrelado. – Eu mesmo o chamei de covarde e tive uma briga com ele na noite em que soube o que tinha acontecido.

— Por que você não me disse antes? Por que não me contou? – Teddy insistia em perguntar, ainda evitando olhar diretamente para Harry.

— Eu não sei por que eu nunca te contei. – Harry admitiu. - Talvez nunca parecesse o momento certo. Talvez eu mesmo estivesse tentando esquecer sobre isso conforme observei você crescer por todos esses anos. Acontece Teddy, que eu vejo muito de mim quando olho para você. Ninguém disse para mim a verdade sobre os meus pais também, eu passei minha infância acreditando que os dois tinham morrido em um acidente de carro.

Naquele momento, Teddy percebeu que a voz de Harry parecia profundamente arrependida. Ele se virou para o padrinho e percebeu que os olhos de Harry estavam cheios de lágrimas quando ele continuou a falar.

“Foi com 11 anos que soube que eles haviam sido mortos por um bruxo das trevas. E descobri também que eles foram grandes heróis, talentosos e que tinham muitos amigos e pessoas que se importavam com eles, como seu pai e o meu padrinho.

Mas mesmo assim, ninguém nunca me disse a verdade sobre o meu pai. Eu tive que descobrir, depois de um tempo, que ele nem sempre foi exatamente o herói que eu estava disposto a defender. Ele era bastante arrogante quando mais jovem, entende? Eu descobri isso por acaso e me lembro de como me senti traído por todos terem mentido para mim sobre quem ele foi. Remus e Sirius tiveram que me explicar como meu pai havia mudado e como ele sempre foi corajoso, precisando passar por muita mudança para se tornar o herói que se sacrificou por mim e pela minha mãe quando Voldemort atacou nossa casa...

O que eu quero dizer Teddy é que para nós que nunca conhecemos nossos pais é bem provável que eles se tornem heróis inalcançáveis em nossos pensamentos, tão distantes que muitas vezes esquecemos que eles também eram humanos. Tanto Remus quanto o meu pai tinham defeitos e cometeram erros, alguns mais severos do que outros, mas mesmo assim continuaram a fazer o que era certo. Seu pai voltou para casa, ele cuidou de você e da sua mãe, além de ter lutado na Batalha de Hogwarts para acabar com a ameaça ao mundo bruxo.”

De todas as vezes que já tinha ouvido um discurso de seu padrinho no alto de um palanque, nunca havia sentido tanto pesar em suas palavras como sentiu agora. Ele sabia que Harry estava sendo sincero com ele e que as palavras eram verdadeiras. Ele tinha um olhar entristecido e repleto de expectativa conforme observava Teddy antes de voltar a falar:

— Eu não sei se fui eu que fiz Remus mudar de ideia, mas eu sei que eventualmente ele me perdoou pela nossa discussão e ele se arrependeu profundamente pelo que fez, me chamando para ser o seu padrinho na outra vez em que conversamos.

— Eu fico feliz por você ter aceitado. – Teddy disse então, esboçando um sorriso fraco. Harry se animou no mesmo instante, percebendo que sua sinceridade havia convencido e ajudado Teddy a entender mais sobre o seu próprio pai.

Naquela noite, nenhum dos dois compareceu durante os discursos. Eles ficaram sentados nos jardins, observando as estrelas no céu e o campo de Quaddribol mais adiante. Harry nunca saberia o que se passou na cabeça de Teddy naquele dia, mas esperava que tivesse sido o suficiente.

Foi somente na hora do jantar no Salão Principal que os dois decidiram se juntar aos seus familiares. Teddy nunca mais comentou sobre o ocorrido e seu bom humor pareceu ter se restaurado no instante em que seus olhos avistaram Victoire Weasley.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero muito os comentários de vocês sobre esse capítulo, ele é muito importante porque é o primeiro capítulo que vemos Hogwarts no dia 2 de maio e também pelas revelações que Teddy acaba descobrindo sobre seu pai.
Opiniões? Nos vemos nos comentários e até o próximo capítulo.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Através de um vidro escuro" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.