DeH; Arcaia escrita por P B Souza


Capítulo 12
Epílogo




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Acordou no dia de seu casamento pensando em Tibero Sarrata e qual destino teria tido o pobre miserável. Provavelmente morto junto da maioria.

Havia prometido grandeza para Tibero. Mas agora apenas a terra o abraçava. Somos todos empréstimos a serem devolvidos, cedo ou tarde.

Se colocou de pé enquanto olhava para o véu ao redor da cama. A seda na qual dormia era macia e o colchão enchido com penas era tão fofo quanto os sonhos de uma menininha.

Convencer Hero que ela era quem dizia ser levou apenas um olhar, mas a corte ainda tinha suas dúvidas. Mesmo assim, era a escolha de Hero casar-se ou não. E o grande dia havia chegado.

Arcaia esperou maior negação, ainda mais do povo, mas sua presença era esperada. Dia após dia, depois que deixou Magmun para viver a aventura que se encerrava naquele dia, o povo vinha ao castelo trazendo oferendas e rezando pelo sucesso de sua viagem.

Quando retornou em ouro corpo, o espanto foi temporário. Mas era um corpo melhor, mais jovem e mais belo que o qual havia partido. Seu andar pelas ruas espalhava sorriso em todos, e as histórias de como os dragões estavam presos criavam canções em sua honra nas tavernas e estalagens. Meninas usavam o mesmo penteado que Arcaia, os meninos almejavam a posição de Nume ao lado dela. E Hero almejava a eternidade. Que nunca terá. Arcaia estava decidida, Hero Magmun não era merecedor da vida eterna. Seu papel na história seria lhe entregar o poder, e então ela governaria a terra de Magmun e montaria um exército, o maior dos exércitos, e marcharia contra os Vertram no sul. E crucificaria os Kognar nos esqueletos dos seus antepassados massacrados na guerra vazia contra o puritanismo.

Então o casamento ocorreu no grande salão, e Arcaia caminhou com Hero até os portões da cidade, para que todos pudessem ver sua nova Imperatriz.

E nos portões da cidade um homem solitário queria entrar, mas sua passagem era barrada pelos guardas. Arcaia olhou para o velho homem ali e reconheceu seus olhos e sua presença.

— Viajaste muito. — Ela disse, solene. E o homem a olhou com ternura de quem só desejava servir, como todos.

Tanto poder. Não era mais necessário esperar.

Arcaia apontou para o homem, o ar reverberou como se com um trovão. As nuvens sob suas cabeças se abriram e o sol brilhou forte enquanto o homem fora jogado três metros para trás, com sua pele se soltando do corpo em um processo acelerado da transformação. Ao cair no chão, com os gritos das pessoas, o homem rolou, parando deitado e depressa se ajoelhando, os olhos vermelhos, a pele em carapuça.

— Venha, junte-se ao seu filho. — Arcaia esticou o braço então, e Anker, o último de sua guarda lendária, juntou-se aos outros Numes; Ornannis, Goevro, Nadiro e Kedros.

E Hero Magmun envelheceu, como todos os homens. Dia após dia a vida se enfraqueceu em seu corpo. Arcaia lhe deu dezessete filhos, dos quais três morreram ainda jovens e seis partiram em aventuras e ela nunca mais os viu. Os outros reinaram ao lado da mãe e do pai, gerindo o Império crescente de Magmun e apoiando a religião Puritana como caminho para a salvação.

Arcaia fora considerada entre os mortais; Deusa. Em sua honra altares foram erguidos. E ela viu seu marido morrer, e seus filhos morrerem, e casou-se de novo, e teve mais filhos, e o ciclo se repetia, e seus corpos se desfaziam. E Arcaia escolhia novas hospedeiras para sua essência, mas agora as jovens faziam filas para serem escolhidas.

E o Império Magmun se tornou o Sacro-Império Magmun. E em dezenas de ciclos todas as cidades estavam envolvidas pelo caloroso abraço do puritanismo.

Centenas de ciclos se passaram com o reinado de Arcaia florescendo.

E dia após dia, corpo após corpo, Arcaia caia um pouco mais nas sombras que Eckat viu. Por centenas de ciclos tentou enganar e dissuadir, disfarçar e fingir, mas um dia chegaria, ela sabia, que as trevas seriam maiores que sua luz. E a deusa seria o monstro, e os dragões a temeriam, os com asa e os com pernas. Todos a temeriam. Não deixarei que me destruam.

As trevas cravavam fundo, e nas trevas nascia a crueldade.

Foi em uma tarde que um emissário da Ilha Dragão, no Sul, chegou.

Ele trazia mensagens sobre os dragões com pernas.

— Os Vertram caíram. Os Kognar estão se preparando. Eles querem guerra.

Arcaia olhava o horizonte.

Em sua mente passava a oportunidade perfeita para montar sua armada e navegar ao sul, invadir as casas de todos os dragões e tirar suas crianças dos seios das mães, executar seus cachorros, e torturar seus patriarcas à morte.

— Bom. — Respondeu, pensando em que graça teria uma vitória tão fácil? Esperará centenas de ciclos por aquilo. Queria um combate que valesse seu esforço. — Deixe que se reergam. Então terão guerra. Conhecerão fúria. E não haverá misericórdia — Olhou seus dedos, olhou a energia correndo por suas veias, a própria matéria se desfazia em sua presença e o tecido da realidade parecia se dobrar conforme filamentos de uma luz tão negra que sequer de luz podia ser chamada, desfilava por entre os dedos. — Esperarei por eles, e então destruirei todos eles!

Fechou os punhos com força e ouviu, atrás de si, o crânio do mensageiro se rachar. Esboçou um paco sorriso enquanto a vida do homem se esvaia, retornaria ao véu, mas o monstro dentro de si tinha sede própria. E Arcaia não sabia mais parar.

 Vainihr estava certo. Mas era tarde demais agora. O caminho havia sido trilhado. E o futuro não era Arcaia. Era incerto. E pela primeira vez desde quando chegará em Ipeiros, Arcaia sentiu algo primitivo. Sequer se lembrava daquela sensação enquanto suspirava prevendo uma tragédia. Prevendo sua tragédia; chorou. Não... aquilo não era medo. O que habitava dentro de si... vá embora. Pediu, implorou, mas era tarde demais, ela estava tão entrelaçada nas trevas que não podia mais se separar ou discernir quem era Arcaia e quem era o Monstro.

Pensou sentir medo, mas era pior. Pensou sentir pavor, pânico, fúria... não... aquilo era muito pior do que tudo que tinha nome.

O que sentia... podia negar, mas quando fechava os olhos via. O que sentia era inominável.


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Notas finais do capítulo

Fim!
Ao menos desta fic, mas a história da Arcaia está MUITO longe de terminar!
Tudo continua pela one-shot "Os Segredos da Rainha" narrando justamente essa parte dos Kognar que querem acabar com Arcaia.
E Arcaia voltará em pessoa na long; Draco et Homines III; Deuses e Dragões, ainda sem previsão para ser postada, mas também já escrita!
Espero que tenham gostado, e não deixem de comentar :)
E, quem sabe, até mesmo recomendar! Afinal, se vocês estão vivos é porque Arcaia permitiu, então sejam gentis para com a Deusa!



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