Conte Nossa História escrita por LilyMPHyuuga


Capítulo 20
Familiaridade


Notas iniciais do capítulo

Boa noite, genty! *-* ♥
Quase não demorei, né? ^^" O plano era vir mês passado, mas o bloqueio me abraçou e não queria me largar. =v Por sorte, consegui me livrar dele nos últimos dias e trazer esse capítulo para vocês! ♥ Era para acontecer algumas coisas nele (que eu comentei com alguns leitores), mas ele foi ficando longo demais e eu resolvi cortá-lo. Então peço desculpas se não acontecer algumas coisas que vocês estão/podem estar esperando. ^^"
Sem mais delongas, vou deixar o resto do textão para as notas finais. xD

Lembrando que a fonte normal são acontecimentos do presente (e um sonho, mais para o fim do capítulo) e fonte em itálico são lembranças do Harry. =)
Boa leitura! ♥



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O semblante bobo chamou a atenção de sua esposa, que estalou os dedos em frente ao seu rosto para tirá-lo do mundo dos sonhos.

— Não se perca. Quero saber tudo ainda.

Harry riu, oferecendo a mão para que se levantassem.

— Por que está sorrindo como um idiota?

— Porque o começo difícil está acabando. — Ele a abraçou quando chegaram na sala de estar, guiando-a em passos leves mesmo sem música. — Porque dezembro está chegando e ele é meu mês favorito.

— É mesmo? — Ela sorriu de volta, ansiosa pelo momento que aguardava desde que começou a ouvir a história: eles enfim ficando juntos.

— Sim... foi em dezembro que eu me conformei que nunca a teria para mim. — Ela estranhou a revelação, mas ficou aliviada quando ele continuou: — Mas foi em dezembro que seus segredos deixaram de fazer sentido e eu fucei mais sobre nossa história... e encontrei a foto de William Campbell.

Hermione franziu o cenho novamente, finalmente percebendo que deixou passar um detalhe.

— Campbell? Você disse que viu a foto de William Francis no anuário de Elizabeth.

Ele sorriu, confirmando com a cabeça.

— Sim, você aproveitou que haviam dois William em 1550 e me mostrou o outro. Teve medo de que eu a rejeitasse de novo caso mostrasse o verdadeiro.

Os lábios da mulher tremeram, penalizados com os segredos que não lembrava.

— Dezembro também foi o mês que me beijou n’A Toca e me fez lembrar de tudo... e eu decidi que não queria esperar mais um dia para tê-la para mim. Eu a encontrei e a pedi em casamento.

Harry fez um gesto rápido com a varinha, ligando o rádio e fazendo um cd flutuar até ele. Uma música começou a tocar e, nas primeiras notas do piano, ele a olhou quase emocionado.

— Você lembra dessa música?


“The night becomes the dawn
(A noite se torna em amanhecer)
To prove that love goes on (E prova que o amor continua)
It's written in the stars and in my heart of hearts (Está escrito nas estrelas e em meu coração de corações)
With you is where I still belong (Com você é onde eu ainda pertenço)

 

— Não, mas... — Hermione fechou os olhos, deixando-se levar pela dança e pela suave melodia. — Ela me traz sentimentos bons. — Abriu os olhos, animada. — É a nossa música?

— Não sei. — Ele riu junto. — Mas foi a primeira música que dançamos oficialmente como um casal. Você também adora O’Children...

— Qual?

— A música que tocou enquanto estávamos na barraca, no meio do nada, quando Rony nos deixou sozinhos para procurar as horcruxes.

— Ah... — Os olhos castanhos brilharam com a lembrança, ainda vívidas em sua mente de dezoito anos. — Eu adoro aquela música!

— Exatamente. Mas essa — apontou para o rádio — nos marcou. Estava tocando em uma festa próxima ao cartório trouxa onde casamos. Dançamos nossa primeira valsa no meio da rua.

— Que romântico! — Ela não zombava, ao contrário, estava ainda mais sorridente, pois sempre preferiu gestos espontâneos. — Quero que me mostre essa lembrança também!

Harry encostou a testa na dela.

— A partir de agora não vou contar nada. Só mostrar...


“Through every page we turn
(Por toda página que nós viramos)
Each lesson that we've learned (Cada lição que nós aprendemos)
Will finally set us free or bring us to our knees (Finalmente nos libertará ou nos colocará de joelhos)
But love is right and never wrong (Mas o amor é certo e nunca errado)
All For Love – Michael Bolton

 

Hermione fechou os olhos antes de mergulhar nas lembranças do marido e se ver novamente em Hogwarts.

 

~*~

 

— Bom dia.

Ele quase se engasgou com a comida, mas disfarçou a tempo, levantando o rosto e forçando um sorriso.

— Dia.

Hermione sentou à sua frente, servindo-se de torradas e suco.

— Onde estão os ruivos?

— Dormindo, eu acho.

— Vão acabar se atrasando, para variar.

O tom impaciente, típico da estudante mais aplicada que Hogwarts já viu, fez o moreno abrir um pequeno sorriso, verdadeiro dessa vez. Harry tentou voltar para sua comida, mas ao relembrar a noite anterior e o possível último beijo que dera em Hermione... era como se tivesse desaprendido a usar o garfo.

Custara a pegar no sono quando enfim decidiu voltar ao dormitório. Rony já dormia, assim como os outros colegas, o que o deixou à vontade para apreciar a paisagem pela janela durante boa parte da madrugada.

O rostinho daquele bebê talvez não saísse tão cedo de sua cabeça.

— Você deveria praticar Oclumência um pouco mais.

Quase se assustou com a voz da morena. Hermione fechava as mãos com força para não tremer, evitando seu olhar.

— Você continua lendo meus pensamentos? — Ela confirmou com a cabeça. — Como? Eu não a escuto mais!

Se esforçou para esconder a indignação na voz, mas sentia que a moça tinha notado. Quando finalmente o encarou, ela respirou fundo antes de responder:

— Porque eu sei esconder meus pensamentos... há muito tempo. Mas não sei como quebrar nossa conexão.

— E não há nenhum livro na biblioteca que possa dizer isso? — ironizou.

Agora você quer quebrar essa ligação? — falou sarcástica. — Por quê? Só porque agora eu vejo seus segredos também?

Hermione se levantou, chateada. Harry teve a sensação de que ela poderia azará-lo se dissesse mais uma palavra, então apenas a deixou ir, já arrependido de sua grosseria. Afastou o prato e deixou cair o rosto na mesa, bufando. Não durou dez segundos e sentiu a gola ser puxada, forçado a encarar uma Gina tão furiosa quanto a amiga que saíra dali.

— Você quer, por favor, parar de brigar com Hermione? Não percebe que é por sua causa que ela estava se afastando da gente?

— O quê?

— Você é o melhor amigo dela! — rebateu, como se fosse óbvio. — Acha realmente que ela ficaria bem brigando com você o tempo todo?

— Mas é ela quem está teimando, Gina! Ela não vê que não faz sentido...

— Não interessa o que faz sentido ou não! — A ruiva largou a mochila ao lado dele, voltando-se para encará-lo com toda a determinação que tinha. — Vá atrás dela agora — apontou para a saída do Salão Principal — ou corra o risco de continuar perdendo sua melhor amiga também!

Foi como uma pequena luzinha acendendo em sua mente. Juntou suas coisas rapidamente e seguiu o conselho da Weasley, correndo disparado pelas escadas e corredores.

Por Merlin, quando ia parar de agir como um idiota? Não fora na noite anterior que prometera a si mesmo que aceitaria o pedido de Hermione? Que parariam de brigar e voltariam a ser amigos? Que tipo de amigo ele estava sendo, discutindo por cada detalhe ou decisão que a morena tomava?

Alcançou-a no segundo andar, pouco antes que ela entrasse na sala de aula. Ainda ofegante e sob muito protesto da parte da garota, ele a puxou para outra sala, vazia, a uma boa distância dos outros alunos.

— O que você quer? Veio continuar com o deboche? Acha que está sendo fácil...?

— Não, chega — interrompeu, segurando os braços dela e a obrigando a olhá-lo nos olhos. — Eu não quero mais brigar, Mione... isso está acabando comigo! Está acabando conosco! Eu... — Ele soltou o ar que percebeu estar prendendo, enfim percebendo que tremia por causa de um único pensamento: — Eu não quero perdê-la, Mione. Você é importante para mim! Eu sou um idiota a maior parte do tempo...

— Sim, você é!

— Eu sei. Mas eu preciso que saiba que, mesmo se eu voltar a agir como um idiota, o que eu prometo tentar não voltar a ser... eu quero que lembre que você ainda é a pessoa mais importante na minha vida! Olhe para mim — ele pediu quando ela fez menção de desviar os olhos marejados. — Eu ainda a amo, Mione... e isso nunca vai mudar, independente do que aconteça.

A declaração que ela fizera no Largo Grimmauld surgiu na mente da garota também, o que o fez sorrir e voltar a ter esperanças.

Ele ainda podia senti-la, afinal.

— Me desculpe, Mione... — falou sincero. — Se eu puder fazer qualquer coisa...

“Flores” ela pensou por um instante. Harry não entendeu bem, mas acatou, mesmo confuso.

— Flores? — Ele a soltou, parando para pensar em algum feitiço que conjurasse um ramalhete. — Certo, eu posso fazer isso. Só me dê um instante.

Hermione pareceu surpresa por um momento. Ele apenas imaginou que a garota não esperava que fosse realmente fazer qualquer coisa por eles dois.

Puxou a varinha, ainda forçando a mente em busca de um encantamento.

— Tem preferência por alguma flor?

— E-Eu... eu gosto de rosas.

— Ótimo! Foi o que eu pensei. — Ele apertou a varinha com força, ficando apreensivo ao se dar conta que não sabia mesmo nenhum feitiço. — Cor?

Hermione abriu um sorriso bobo, os olhos castanhos perdidos em algum ponto atrás dele, provavelmente envergonhada.

— Brancas... rosas brancas.

— Certo... algo mais? — perguntou, ainda buscando tempo.

— Chocolates.

Harry engoliu em seco. Seria possível ele conjurar chocolates? Existia algum feitiço que criasse flores e chocolates? Ela com certeza deveria saber, mas parecia distraída demais com os próprios pensamentos para compartilhá-los novamente.

— E um dragão.

Ele abaixou a varinha, o queixo caído.

— U-Um... um dragão? Você gosta de dragões?

— Não. — Ela riu, um pouco nervosa. — Eles me aterrorizam.

— Então como...?

— Uma miniatura é o suficiente. — Ela mostrou um tamanho com o indicador e o polegar. — Como aquela que você ganhou no Torneio Tribruxo.

Harry lembrou-se do pequeno Rabo Córneo Húngaro que sorteou há mais de quatro anos, pouco antes de enfrentar um em tamanho real. Hermione só podia estar brincando! Ele queria poder dar à jovem tudo que ela desejava – flores, chocolates, bichos de pelúcias e até um maldito dragão – mas isso estava além das capacidades dele.

— Mione, eu...

Ela abriu um enorme sorriso, afastando-o para o lado e apreciando melhor o que tanto a distraíra. Os olhos verdes se arregalaram ao ver.

Tudo o que imaginara para Hermione estava ali, nas suas costas! Era o que a surpreendera o tempo inteiro! As mais belas rosas – brancas em sua maioria –, ursos de pelúcia, vários chocolates sobre a mesa... e um pequeno Rabo Córneo Húngaro soprando fogo na pelúcia mais próxima.

— Por Merlin! — ele gritou, apontando a varinha para o bicho que agora rosnava na direção dos dois. Hermione ria, abaixando seu braço em seguida.

— É só uma ilusão — garantiu. — Não irá nos fazer mal.

— Foi você quem fez tudo isso? — perguntou em choque.

A simples questão, no entanto, fez sumir a alegria no semblante da morena. Ela pigarreou e todos os presentes sumiram num piscar de olhos.

— F-Foi... desculpe, eu... foi sem querer.

Hermione não teve coragem de olhá-lo. Juntou sua mochila caída e se direcionou para a saída. Harry acordou a tempo.

— Espere! — Ele a abraçou a poucos passos da porta. — Desculpe, eu não sou capaz de criar tudo aquilo para você — sussurrou no ouvido dela. — Mas meus sentimentos por você são bem verdadeiros, Mione. Eu não quero perdê-la.

Sentiu-a agarrar com força sua roupa nas costas, e ele não hesitou em apertá-la mais contra si.

— Eu também não, Harry.

Uma rápida imagem de Hermione rindo por causa de um pequeno dragão, diferente da ilusão de poucos minutos atrás, surgiu na mente do rapaz, e ele a afastou um pouco.

— O que foi isso?

— Desculpe, eu... — ela dizia envergonhada, evitando encará-lo novamente. — Foi algo que lembrei... eu pedi um dragão porque, em outra vida, William se divertiu ao criar um pequeno dragão para me assustar. Achei que...

— Eu não queria assustá-la! — disse rapidamente.

— Eu sei que não, só... deixe para lá.

Hermione voltou a abraçá-lo, bloqueando sua mente outra vez.

Harry, por outro lado, achou a lembrança extremamente familiar. Sentiu uma pontada em sua cabeça ao tentar forçar a memória, acreditando firmemente que Hermione confundira-se com o tempo, não ele.

 


Os dias passaram rápido para os dois. A amizade voltava aos poucos, apesar do receio do rapaz de que William poderia surgir a qualquer momento, mesmo isso não fazendo muito sentido – confirmou mais de uma vez de que não havia ninguém parecido com William Francis na escola. Evitava pensar nele perto de Hermione e parecia estar dando certo... para ambos.

Porém, o último dia de aulas do trimestre trouxe uma nova preocupação a Harry. Uma que ele achava já ter superado.

Ronald Weasley.

Hermione parecia ter feito as pazes com o ruivo, pois ele foi o escolhido para ser seu par no último exercício de Feitiços daquele ano. A moça fingia praticar o feitiço pedido pelo professor enquanto conversava discretamente com Rony. Os dois pareciam aliviados por finalmente conversarem sem brigas, e Harry sentiu uma pontada de ciúmes ao vê-los tão próximos de novo.

Virou o rosto, tentando não sentir nada e bloqueando sua mente. Hermione não precisava saber o que pensava ou sentia... não mais.

Olhou para o outro lado da sala, reparando que Gina se esforçava para realizar o feitiço, recebendo ajuda de algumas colegas.

Como tudo havia mudado tão drasticamente? Ele olhava para Gina e não sentia nada além de carinho e amizade pela ruiva. Não sentia mais a vontade de ter a garota consigo, de passar o resto da vida ao lado dela.

Voltou o rosto novamente para Hermione. Ela agora ria de algo que o Weasley dizia.

E o coração de Harry parecia que sairia pela boca quando via aquele sorriso!

Respirou fundo. Não havia como continuar se enganando. O Espelho de Ojesed mostrou-lhe perfeitamente qual era seu novo sonho, afinal.

Soltou outro suspiro, finalmente confessando a si mesmo o que negava há meses: estava apaixonado por Hermione.

 


As malas já estavam quase prontas quando a porta do dormitório abriu com força, fazendo os cinco garotos ali darem um pulo no lugar. Hermione Granger invadia o quarto com certa revolta, trazendo consigo um pergaminho.

— Meus pais! — ela explicou para os outros três, fechando a porta atrás de si e caminhando até a cama de Rony. — Acabei de receber essa carta. Eles vão viajar amanhã para o Brasil e compraram uma passagem para mim também! Eu tinha dito que queria ir para A Toca com eles!

— E qual é o problema? — perguntou o ruivo, confuso.

— Eu queria passar o Natal com vocês também. Mas essa é uma data para se passar com a família, não é? — Ela soltou um muxoxo. — Estou indecisa.

— Viaje com seus pais — Harry falou pela primeira vez, chamando a atenção da amiga. — As aulas recomeçam no início de janeiro, então não poderá ficar com eles a viagem inteira. Aproveite as duas semanas. Nós nos reencontraremos depois do recesso.

— Mas...

— É a sua família, Mione.

Não a olhava enquanto debatia, preferindo focar nas roupas que dobrava e colocava no malão.

O coração estava acelerado ao lembrar do último Natal, em que ele e Hermione encontraram os túmulos de Tiago e Lílian Potter. Sua família...

O que ele não daria para estar passando o Natal com seus pais? Lílian e Hermione preparariam a ceia enquanto Tiago e Sirius enchiam a casa de pisca-piscas, animando um pequeno Ted Lupin que insistiria em fugir dos cuidados de Remo e Ninfadora...

E ele, Harry, permaneceria na sala de estar, ninando um pequeno bebê de rebeldes cabelos negros e olhos castanhos, que mesmo morrendo de sono, teimaria em ficar acordado para ver o avô carregar luzes coloridas por ali...

— Mione? — chamou Rony. — Está tudo bem?

Harry parou o que estava fazendo para olhá-los. Hermione o encarava fixamente, os olhos marejados. Só então o rapaz se deu conta de que não escondera seus pensamentos.

— Mione, e-eu... desculpe, eu...

Ela se levantou num pulo, fugindo de seu contato e abanando uma das mãos como se não tivesse importância. Praticamente correu até a porta.

— É uma boa ideia, Harry — disse rapidamente. — Obrigada, farei isso.

E saiu sem se despedir, deixando um moreno se martirizando para trás.

“Parabéns, Potter! Conseguiu esconder seus sentimentos por uma semana! Agora ela vai fingir que nada aconteceu e vocês voltarão à estaca zero!”. Ele chutou a própria cama, ignorando completamente o rosto chocado de Rony. “Excelente oclumente você é! Abrindo a boca causaria menos estrago!”.

— O que acabou de acontecer aqui?

Harry bufou, sentando na cama e cobrindo o rosto com as mãos, abafando um grito de frustração.

— Harry... você gosta da Mione?

— É claro que eu...

— Não estou falando nesse sentido — interrompeu. O moreno sentou quando viu Rony olhar para trás, certificando-se que os colegas de quarto não ouviriam a conversa. O ruivo baixou o tom: — Quero saber se está apaixonado por Hermione.

Ele engoliu em seco, mas como demorou muito para abrir a boca, Rony continuou:

— Eu não sou idiota, sabe? Eu os vi bastante unidos nas férias. Mas de uns meses para cá, eu percebi que, apesar das brigas, vocês anseiam para estarem juntos de novo. — Ele hesitou. — E eu notei quando você disse que acreditava na história dela, mas não em quem ela dizia amar. — Rony desviou o rosto por um momento, parecendo envergonhado e chateado. — Amar... eu nunca o tinha ouvido falar sobre amor. Nem mesmo com Gina. Mas sobre Hermione, você já falou de amor duas vezes.

“Eu a amo como uma irmã e acho que ela sente o mesmo com relação a mim. Sempre foi assim. Pensei que você soubesse”* dissera um sincero Harry tentando consolar o amigo enciumado, sem imaginar que os próprios sentimentos em relação à Hermione mudariam tanto em menos de um ano.

— Nós não temos a menor chance. Você sabe disso, não é?

Harry não fez questão de esconder, limitando-se a concordar com a cabeça.

— Você está com ciúmes de William, não é?

Novamente, mais um aceno, seguido de um pequeno protesto:

— Ela não ama William, Ron... eu tenho certeza disso.

— Acha que ela ama você?

O moreno deu de ombros, sem saber o que responder. Porém, seus lábios tremeram antes de fazer a pergunta que queimava na garganta:

— Você me odeia?

Causando grande surpresa, Rony soltou uma risadinha.

— Não. Deveria, mas não — ousou brincar. — Já faz algum tempo que eu me conformei que nunca teria Hermione. E então fui percebendo que nossas brigas nunca foram paixão reprimida, como eu imaginava ser. Quero dizer, não é como vocês dois, que brigam mas sentem saudades um do outro no minuto seguinte. Quando eu brigava com Hermione, parecia uma disputa de quem matava o outro primeiro! — Harry abriu um pequeno sorriso, recordando-se de palavras parecidas que a amiga lhe dissera na Mansão Black/Potter, quando ele perguntara se a moça nutria sentimentos pelo Weasley. — Sendo bem sincero, Harry... eu prefiro que ela fique com você do que com um cara que nunca vimos. Eu sei que você faria Hermione feliz mais do que o cara que a deixou ser amaldiçoada por quinhentos anos!

— A escolha sempre foi dela, Rony...

— Então faça com que ela escolha você, oras!

 


Harry ainda martelava as palavras do amigo na cabeça enquanto viajavam rumo a Londres. A viagem até King’s Cross foi regada a brincadeiras e muito falatório por parte dos Weasley, Luna, Neville e Hermione. O rapaz ria das piadas e de vez em quando opinava em algo, mas passou a maior parte do tempo no mundo da lua, perdido em pensamentos que envolviam a morena ao seu lado, que insistira em ficar na cabine com os amigos, aproveitando os últimos momentos que teria com eles até sua próxima viagem – ela não era a única monitora, afinal.

O trem parou na Plataforma 9 ¾ no meio da tarde. Os seis desceram tranquilamente para resgatarem seus malões, os casais Weasley e Granger já os esperando na estação.

Harry engoliu em seco quando todos passaram a se despedir de Hermione. E respirou fundo, tomando coragem, quando percebeu que ela o deixaria por último.

— Sentirei saudades — ele falou assim que a moça se aproximou, fazendo-a sorrir, meio envergonhada.

— Não seja bobo. Eu irei para A Toca depois do Natal, passar os últimos dias do recesso com vocês.

— Ah... — Ele não fora informado dessa parte antes (ou não prestara atenção), o que causou surpresa e ansiedade. — Mas eu sentirei mesmo assim.

Ele puxou de um dos bolsos uma caixinha preta, ao qual os olhos castanhos rapidamente reconheceram.

— Eu guardei... — gaguejou. — Não consigo deixar de pensar que combina com você. Mas se não quiser, — falou rapidamente, nervoso — eu posso comprar outra coisa e enviar por coruja.

Os lábios dela tremeram, e ele estava para guardar a caixinha novamente, desesperançoso, quando a morena concordou com a cabeça, emocionada.

— E-Eu aceito. Eu... — Hermione recebeu o colar com o pequeno anjo como pingente. Harry notou suas mãos trêmulas. — Eu adorei, de verdade. Mas nunca tive coragem de pedir de volta.

— Sempre foi seu, Mione... eu o guardei para você.

A jovem bruxa então cedeu às lágrimas, puxando o rapaz para um abraço.

— Eu o usarei na próxima vez que nos virmos.

O moreno a puxou mais contra si, mergulhando o rosto nos cabelos dela e desejando não apenas que os dias passassem rápido para poder voltar a abraçá-la, mas também que Hermione sentisse sua falta e confessasse que retribuía seu mais novo sentimento.

 


Era manhã do dia vinte e cinco quando Harry desistiu de tentar dormir e saiu do quarto de Rony. Seu coração batia descompassado desde a noite anterior, em ansiedade, como se algo estivesse prestes a acontecer. Não era vidência ou nenhuma previsão, apenas uma sensação de que faltava algo.

E era difícil não pensar que era por causa dela que não conseguiu dormir. Não quando a saudade parecia insuportável depois de sete dias sem vê-la.

Não havia ninguém na sala às cinco da manhã, nem mesmo a Sra. Weasley, que estava acostumada a acordar antes de todos para preparar o café. Harry então jogou-se na poltrona do Sr. Weasley, entendendo o motivo para Arthur sempre ficar ali nas horas vagas. Sentia-se quase relaxado e tentado a dormir ali mesmo quando ouviu um barulho na lareira. Franziu o cenho e teve que reprimir um grito de susto quando as chamas ficaram esverdeadas, mostrando uma figura cheia de fuligem cair sobre o tapete. Harry levantou da poltrona num pulo ao reconhecê-la.

— Mione?

Ela ficou de pé no instante seguinte, praguejando mentalmente pela viagem longa e por ter sido vista em tais condições mesmo planejando chegar cedo. O rapaz apenas riu e voltou para sua poltrona, deixando-a boquiaberta.

— Não recebo nem um abraço de boas-vindas? — brincou.

— Depois que você se limpar, quem sabe...

Hermione acenou com a varinha, fazendo toda a fuligem voltar para a lareira. Ela estreitou os olhos na direção do rapaz, cobrando-o silenciosamente por seu abraço. Harry abriu um largo sorriso, abrindo os braços.

— Seu preguiçoso — reclamou a moça, que cedeu mesmo assim, pulando no colo dele e o abraçando pelo pescoço, saudosa. Ele passou os braços pela cintura fina, apertando-a também e pousando a cabeça no ombro dela, sorrindo bobamente ao encontrar uma correntinha prateada familiar no pescoço feminino.

O moreno teve a impressão de que agora poderia dormir tranquilo se tentasse.

— Você está nervosa? Ansiosa? — Ele resolveu conferir.

— Um pouco — respondeu sem se afastar, justificando sem saber o motivo por ele ter ficado tão ansioso nas últimas horas. — Decidi vir noite passada. O fuso ainda está me confundindo um pouco... eu combinei de passar a virada com papai e mamãe... você sabia que no Brasil se comemora o Natal na virada do dia 24 para o dia 25? — Ela se interrompeu, Harry sentindo sua empolgação com informações novas. — Enfim. Combinei de comemorar com eles antes de voltar para a Inglaterra. Não tem uma hora que vi os fogos e jantei, e aqui já está quase amanhecendo! E há alguns lugares do Brasil que ainda é dia vinte e quatro!

Harry riu com ela.

— E por que o nervosismo?

Sentiu a hesitação dela, esperando que Hermione respondesse o que seu coração desejava. Não se decepcionou:

— Porque eu também senti saudades — falou a morena, apertando-o mais em seus braços.

Saíram da poltrona e foram para o sofá, em busca de mais espaço. Sentaram lado a lado, abraçados, e ficaram conversando baixinho até pegarem no sono, exaustos e aliviados. Simplesmente foram acordados perto da hora do almoço, quando já era impossível manter silêncio na casa para deixar os morenos dormirem. Hermione saiu do abraço do amigo envergonhada, pedindo desculpas pelas futuras dores e pegando sua única mochila antes de subir para o quarto de Gina. Harry nem hesitou em ir atrás dela, disposto a ignorar a vergonha (de ambos) e não passar mais um dia distante. Começou a contar como foram os últimos dias ali, animado, sem deixar de revelar até a vez em que Rony se engasgou quando soube que os Lovegood passariam o Natal n’A Toca também.

— Acha que ele está interessado em Luna? — perguntou uma curiosa Hermione enquanto tirava as coisas da mochila e guardava em uma gaveta da cômoda da ruiva.

O rapaz deu de ombros, deixando o mistério no ar. Desceram para o almoço, dessa vez conversando sobre os dias que Hermione passou no Brasil, com Harry verdadeiramente interessado em saber se o Cristo Redentor era tão alto quanto diziam.

Ouviram um bufo baixo ao sentarem à mesa, seguido de uma impaciente Gina saindo do aposento. Hermione arregalou os olhos quando notou que a raiva era dirigida ao menino-que-sobreviveu.

— O que houve?

— Ela está chateada comigo — disse sem rodeios. — Ela crê que nossas brigas afastaram você da gente.

— Mas não é...

— É verdade sim. — Ele a olhou profundamente, percebendo que a moça engolia em seco. — Não precisamos fingir que não. Nós brigamos demais, Mione... brigamos por uma vida inteira.

Harry serviu aos dois nos minutos silenciosos que seguiram. A culpa que ela sentia era quase palpável, e ele suspeitava que a sentiria mesmo sem aquela conexão.

Almoçaram ainda quietos, mas o rapaz ainda planejava passar o dia com ela para deixar o clima ruim persistir. Assim que a viu terminar, fez um gesto com a varinha e deixou os pratos sujos voarem até a pia, para só então puxá-la pelo braço e levá-la até o quarto de Rony, onde puderam conversar mais à vontade. O ruivo não demorou a juntar-se a eles, que conversaram até o início da noite – até a Sra. Weasley pedir ajuda para arrumar a tenda que abrigaria a festa natalina.

Harry e Hermione passaram o jantar inteiro de olho em Rony, rindo do amigo que parecia estranhamente afoito quando Luna lhe direcionava a palavra. Os morenos até deram um jeito de fazer com que a loira sentasse entre Rony e Hermione, para que a mais velha visse de camarote o rosto corado do Weasley e repassasse tudo para Harry, que dividia a atenção entre os amigos e um animado Ted Lupin.

— Você bem que podia ser a madrinha dele — o rapaz comentou a certa altura para Hermione. — E me ajudar com esse peso — brincou, se referindo aos mais de dez quilos do gordinho bebê de oito meses.

— Vamos dar uma chance para sua futura esposa — a garota brincou também. — Ela pode ficar enciumada.

— Eu duvido. Ninguém seria mais responsável do que você para cuidar de uma criança. É um consenso.

— De quem? — Ela riu.

— Tem alguma suspeita de alguém que a consideraria irresponsável?

Hermione concordou depois de refletir a respeito, rindo quando o bebê praticamente se jogou para o colo dela e pareceu satisfeito em sentar voltado para a mesa, sossegado e confortável.

— Viu? Teddy gosta de você. Tenho certeza que ele não se incomodaria em chamá-la de dinda.

— Ou dindinha...

Os olhos castanhos brilhavam.

— Eu já falei com Andrômeda — ele confessou, deixando-a de olhos arregalados. — Só estamos esperando sua resposta.

— É sério?

Harry confirmou tranquilamente enquanto admirava Hermione com seu afilhado, uma visão que o encantava e o fazia ter certeza de que nenhuma outra mulher cuidaria tão bem de Teddy quanto aquela moça de cabelos cacheados.

Os lábios dela tremeram antes de encostar a cabeça na de Teddy, murmurando algo que só o menino pôde ouvir. Ele virou o rosto para cima, mirando os olhos castanhos e sorrindo abertamente, expondo seus dois dentinhos para a jovem emocionada.

— Acho que ele gostou da ideia — ela falou timidamente, ainda com o olhar preso na criança em seu colo.

Harry sentiu-se aliviado, segurando a mão dela por debaixo da mesa, a fim de demonstrar a alegria por tê-la ao seu lado naquela nova aventura.

 


Perdera a noção das horas enquanto conversava com Rony e Luna. Apenas olhou o relógio quando Andrômeda se aproximou para se despedir, um adormecido Ted em seu colo. Harry deu um beijo no topo da cabeça do menino antes que a Sra. Tonks dissesse:

— Hermione adormeceu com Teddy na sala. Tive pena de acordá-la.

— Não se preocupe. Eu farei isso daqui a pouco.

Despediu-se dela e logo depois fez o mesmo com os amigos. Rony disse que ainda ficaria acordado mais um pouco para acompanhar Jorge e despedir-se dos Lovegood.

Entrou na casa e encontrou Hermione adormecida na sala de estar, a cabeça pendendo sobre um dos ombros. Ele sorriu ao vê-la, tomando cuidado para ser o mais silencioso e cuidadoso possível ao chegar perto e carregá-la nos braços, que mesmo parcialmente adormecida, passou os braços pelos ombros dele.

Will?

Harry engoliu em seco.

— Sim?

— Onde está Teddy?

— Foi para casa com Andrômeda — sussurrou, para que ela não se espertasse e notasse que ele andava lentamente, aproveitando o momento que a tinha ali, tão próxima.

Harry a levou até o quarto de Gina, no andar superior. Deitou-a sobre o colchonete ao lado da cama da ruiva, que ainda não subira para dormir. Hermione se aconchegou quando o garoto a cobriu com o lençol, fazendo-o sorrir novamente.

— Boa noite, Mione.

Beijou-a na testa e fechou os olhos.

“Não ouse fugir, Potter. Eu o estou vendo aí!”

Ele se afastou rapidamente, arregalando os olhos. O que fora isso? Aproximou-se de novo, encostando suas testas levemente.

“Hermione movia-se de um lado para outro de forma suave, ninando o bebê Lupin em seus braços.

— Meu par dormiu no meio de nossa dança. — Ela fingiu mágoa. — Da próxima vez, me chame para dançar primeiro.”

Era um sonho. Acabava de descobrir mais um poder compartilhado com a bruxa.

“Ele riu baixo para não acordar o menino, enfim eliminando as distâncias. Harry a abraçou como pôde, enquanto a mulher passava seu braço livre por um ombro dele, ambos equilibrando Ted entre eles.

— Eu já lhe disse que está belíssima hoje?

Ouviu-a soltar um riso anasalado.

— Não... creio que não.

Harry afastou-se um pouco para admirar os olhos cor-de-mel.

— Pois está — falou sincero. — Não há mulher mais bonita que você, Mione.

— Harry...

— Mione, eu preciso saber... — Engoliu em seco, torcendo para que pelo menos no mundo dos sonhos a morena não fugisse de suas perguntas. — Você me ama?

Os olhos dela se arregalaram antes que ela os desviasse, envergonhada.

— O-O que está d-dizendo? Harry, eu...

— Sim ou não, Mione. Eu preciso apenas de um sim ou um não.

Sentiu a jovem apertar a gola de seu suéter, ainda sem olhá-lo, demonstrando o nervosismo que sentia.

— Você sabe que sim.

Um arroubo de felicidade o tomou, e ele não fez questão de escondê-lo.

— Que bom, pois estou com saudades.

— Saud...?

Não a esperou assimilar, roubando um beijo carregado de paixão dos lábios de que tanto sentia falta. O coração batia muito rápido...”

Abriu os olhos, sentindo a respiração pesada. “Como isso é possível?” perguntou-se. Parecera tão real!

— Harry?

Nem notara que Hermione acordara, olhando-o surpresa.

— Tudo bem? — perguntou preocupada. A moça olhou ao redor e viu que se encontravam sozinhos no quarto de Gina. — Como viemos parar aqui? Onde está Teddy?

Ela coçou os olhos, sonolenta. Olhou para o moreno e percebeu que ele ainda estava com o mesmo semblante sério e confuso.

— Tudo bem, Harry? — repetiu, sentando-se em seguida. — Você está pálido!

— Sim! — falou rapidamente, tomando uma distância segura dela. — Estou ótimo. Você adormeceu no sofá e eu a trouxe, só isso.

— Ah...

Harry passou a mão pelos cabelos, nervoso, despedindo-se sem esperar resposta e saindo do quarto. Correu para o de Rony, enfiando-se debaixo das cobertas e esquecendo de trocar de roupa.

Hermione o amava... certo? Havia alguma possibilidade de ela ter mentido em sonho? Haviam tantos sinais – o último beijo que compartilharam na Sala Precisa ainda não saía de sua cabeça – de que a morena gostava dele e não de William... como não criar esperanças de que ela poderia escolhê-lo? De que gostaria de viver essa nova paixão?

Seria egoísmo demais desejar que ela o escolhesse ao invés de William, correndo o risco de reencarnar mais uma vez?

Harry bufou, virando para o lado e encontrando um de seus presentes de Natal no criado-mudo: um broche prateado, com um brasão contendo a cabeça de um leão e uma letra P ao centro. Hermione o entregara durante a conversa que tiveram ali no quarto, dizendo que estava na hora da casa dos Potter ter um símbolo.

— Eu sou o único Potter, Mione — ele dissera.

— E pretende ficar solteiro e acabar com sua linhagem? — interviu Rony, em tom provocativo.

O moreno não tinha prestado atenção no presente naquele momento, deixando-o de lado assim que mudaram de assunto. Mas agora, olhando-o bem...

Levantou da cama, pegou-o e saiu do quarto na ponta dos pés, desistindo de dormir e evitando acordar outro Weasley na casa. Voltou a atenção para o broche assim que sentou à mesa da cozinha, a cabeça recebendo uma estranha pontada ao ter, novamente, a impressão de ver algo familiar.

Inevitavelmente pensou em Hermione, em como tinha a mesma sensação quando a beijava. Também sentiu quando ela contara sobre William e o dragão. E por fim, quando conhecera aquela menina extremamente parecida com Hermione, pouco antes do primeiro jogo de quadribol da temporada... era curioso como nunca mais a vira em Hogwarts. E ela certamente era da Grifinória, ou não teria entrado no Salão Comunal.

O que significava toda aquela familiaridade? E com momentos que não tinham ligação nenhuma? Beijos trocados, uma garota da qual nunca soube o nome e a história de Hermione que não parecia ser com Will... e agora o bendito brasão “dos Potter”.

Por Merlin, ele estava ficando louco? E piorando ao pensar que, de alguma forma, existia sim uma ligação? Que tudo estava conectado à Hermione? E com os sentimentos que compartilhavam e não tinham coragem de admitir para o outro?

— O brasão é de uma família antiga. — A voz da morena o sobressaltou, e ele teve a impressão de que o pescoço estalou com a velocidade que usou para vê-la. — Desculpe, seu nervosismo não está me deixando dormir.

A garota sentou à sua frente, mexendo as mãos nervosamente e respirando fundo antes de explicar:

— Você deve ter achado o brasão familiar porque o viu em um dos livros de História da Magia — falou simplesmente, deixando-o em dúvida. Não era como se ele lesse livros de história com frequência... — Eu me baseei em um símbolo de uma família extinta, que não tem herdeiros ou parentes vivos que possam reclamar por você usá-lo.

— Que família?

Hermione hesitou, fugindo de seus olhos.

— Os Campbell.

Ao perceber que ele não falaria nada, a jovem voltou a olhá-lo, que tinha apenas as sobrancelhas erguidas.

— Esse nome devia significar alguma coisa? Eu deveria reconhecê-lo?

A risadinha que ela soltou parecia de alívio, deixando-o confuso novamente.

— Não... é claro que não — falou com um pequeno sorriso, desviando o olhar novamente e pensando em algo que ele não podia ver, mas que a fazia sonhar. — É uma família extinta, como eu disse.

“William” ele pensou quase como num estalo, escondendo-o a tempo. Aquele semblante sonhador era o mesmo de quando ela vira o Espelho de Ojesed. Era impossível confundir, pois desconfiava que abria o mesmo sorriso ao pensar naquele bebê no colo de Hermione.

Ficava bobo ao pensar no filho deles, mas o sonho rapidamente deu lugar ao ciúme ao perceber que a moça não sonhava com ele, e sim com um homem que não aparecera na sua vida até o momento, em seus breves, mas turbulentos, dezenove anos de vida.

William demoraria mais para aparecer? Havia alguma encarnação em que William e Elizabeth não se encontraram? E, principalmente, poderia haver uma chance para ele, Harry?

Não era a primeira vez que desejava que William Francis não reencarnasse e desse à Hermione outra oportunidade de amar...

Ele parou, atônito.

Francis? Hermione dissera “Campbell”.

Sentiu um arrepio percorrer todo o corpo quando um nome ainda mais familiar o atingiu:

William Campbell.

— Mione... — A voz saiu rouca e trêmula.

Não pôde continuar, no entanto. Uma animadíssima Gina surgiu na cozinha, chamando pela morena e dizendo que precisava contar algo com urgência. Ambos Harry e Hermione perceberam que talvez a ruiva tivesse bebido demais depois que os pais foram dormir.

— Já estou indo — a mais velha garantiu à outra, que sorriu e saiu correndo, seus passos apressados podendo ser ouvidos escada acima. — Está mais calmo? — perguntou ao rapaz.

Não, não estava. Sequer tinha ideia de como conseguia esconder os pensamentos, o nervosismo e a mais nova – e louca – teoria que surgiu da garota que se levantava. Confirmou com a cabeça e recebeu um sorriso de alívio em troca.

— Vou subir, então. Se ainda tiver dúvidas sobre o brasão, falamos pela manhã, está bem?

Mais um aceno antes da moça se aproximar para dar-lhe um beijo de boa-noite.

Se pudesse adivinhar o futuro... ou se ao menos pudesse ter lido os pensamentos dela naquele mesmo instante...

Hermione, aparentemente distraída, pôs uma mão no rosto dele e o beijou.

Na boca.

Apenas um selinho, mas ela só teve consciência do que fizera quando se afastou e viu as íris verdes arregaladas. Ela fez o mesmo, pensando em desespero:

“Merlin, o que eu fiz?”.

Hermione fugiu antes que ele reagisse, correndo para o quarto de Gina. Quando finalmente deu por si, Harry sabia que era tarde, que ela já tinha se trancado e enfeitiçado o quarto para não o ouvir ou dar qualquer chance de ele fazer um escândalo e chamar a atenção dos outros Weasleys.

 


Acabou dormindo mais do que deveria. Passou tanto tempo rolando na cama que só conseguiu pregar os olhos quando estava perto de amanhecer, dando tempo suficiente para Hermione arranjar uma desculpa e fugir d’A Toca. Ele soube por Molly que a morena e Gina saíram cedo para o Beco Diagonal, com a desculpa de reabastecer o estoque de poções.

Era mais de meio-dia quando Gina finalmente retornou, sozinha. Harry não a deixou dizer um “oi” antes de perguntar por Hermione.

— Recebeu uma coruja dos pais logo cedo — falou tristemente. — Algo aconteceu com o Sr. Granger, então ela voltou para o Brasil. Me mandou uma carta há meia hora, pedindo para arrumar as coisas dela, pois só a veremos em Hogwarts.

As aulas começariam oficialmente em nove dias... tempo demais para que ele pudesse esperar.

Seguiu Gina até o quarto e, com o coração apertado por fazer aquilo, lançou um feitiço na garota:

— Confundus.

Ela estancou na porta do quarto. Piscou os olhos algumas vezes e se virou, sorridente.

— Ah, Harry, que bom que vai me ajudar a arrumar as coisas da Mione! Sabia que ela é um pouco desorganizada no quarto? É assustador para alguém que sabe organizar os deveres como ninguém!

A ruiva abriu a porta, ainda animada, e o deixou entrar.

— C-Como... como posso ajudá-la?

Ela deu de ombros, apenas apontando para o colchonete onde a morena dormia.

— A mochila está embaixo da minha cama. Vou lhe passando as coisas e você arruma lá dentro, ok?

Confirmou, sem saber direito por que fizera aquilo com uma garota tão legal quanto Gina... manipulá-la daquela forma, e sem ideia do que poderia obter ali... seu desespero apenas pedia por alguma pista, qualquer coisa que indicasse que Hermione poderia ter mentido sobre William e sobre o broche que agora carregava no bolso.

Gina lhe passou alguns livros, ao que ele tentou organizar na mochila magicamente ampliada por dentro. Por categorias, ele decidiu, lembrando que ela fizera o mesmo quando viajaram pelo país à procura das horcruxes. As roupas vieram logo em seguida, e ele ficou corado – a amiga riu ao perceber – ao receber as roupas íntimas.

— Talvez eu devesse cuidar dessa parte — sugeriu a Weasley, ao que ele prontamente concordou.

Trocaram de lugar: a jovem foi para a cama com a mochila e ele foi para a cômoda, esvaziando-as. Passou as roupas e pequenos objetos pessoais. E parou novamente ao encontrar uma pequena fotografia virada para baixo. Soube que era uma foto porque seu sangue gelou ao ler as palavras escritas pela letra redonda de Hermione:

“Will e Lizzie”.

A mão se aproximou devagar do papel e tremia ao virá-lo. Os olhos verdes se arregalaram como nunca antes ao mirar o verdadeiro rosto de William.

O mesmo de Harry Tiago Potter.

Uma forte dor de cabeça o acometeu, mais forte do que todas as outras vezes que sentia algo familiar relacionado à Hermione. Seus joelhos cederam e ele largou a foto, fechando os olhos com força devido à dor. Gina correu em sua direção, assustada.

A última coisa que viu antes de apagar no colo da ruiva foi o olhar amoroso de William em direção à Elizabeth. Provavelmente igual ao que dava há meses para Hermione...

 


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Notas finais do capítulo

*Trecho retirado do livro "Harry Potter e as Relíquias da Morte", capítulo 19 - A Corça Prateada.

Por enquanto é isso, pessoas. ^^" Planejava deixar nesse capítulo, mas como já estava com quase 7 mil palavras, resolvi deixar o Harry tomando uma atitude só no próximo capítulo. Ele provavelmente será menor, porém todo romântico e proibido para diabéticos. *-* ♥ Não tenho data para trazê-lo, mas, se o bloqueio não me encontrar de novo, deve sair até o fim desse mês. ^^" Torçam por mim! ♥
Hora dos agradecimentos! *-* Seus lindos, muito obrigada de coração aos 128 acompanhamentos e 23 favoritos! *-* Muito obrigada também a Aly e Srta Potechi por comentarem no último capítulo! ♥ E agradecimentos do tamanho de Júpiter para __Nathy__, minha beta maravilinda, que gostou da minha historinha JiLy e veio dar uma chance para minha Harmione! *-* ♥ E que agora está conhecendo o mundo mágico pelos livros! *-* ♥ Muito, muito, muito obrigada! ♥ A todos vocês! ♥

Espero que tenham gostado. ^^" Qualquer dúvida, erro ou crítica, podem dizer à vontade! Juro que não mordo! xD
Até o próximo! =* ♥



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