Complicated escrita por Ana Carolina Potter


Capítulo 9
Capítulo 8




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/722325/chapter/9

Capítulo 8 - Ginny V

Se eu achava que estava preparada para ver Harry com outra mulher eu estava enganada. Meu coração falhou uma batida e meu peito começou a doer de formas que eu achei que seria impossível.

Por fora, no entanto, tentei parecer o mais indiferente possível. Sorri de forma tímida e me encaminhei para o bar da festa, com o intuito de mostrar para meu ex-namorado que eu estava ótima com a decisão dele de ter seguido em frente.

Eu tinha que ser racional: desde o nosso rompimento tinham se passado quatro anos, então, é natural que Harry tivesse uma nova companheira. Eu só não esperava que Claire fosse a garota que ele chamaria de “meu amor”.

Não sei se era recente o relacionamento deles, mas não era o que me parecia pelo jeito com que se comportavam. Eles eram muito próximos e cúmplices, algo que eu sei que só conseguimos – não que seja uma regra – com os anos. Não que, novamente, isso seja minha conta.

— Por favor, poderia me dar uma bebida bem forte? – pedi ao garçom assim que consegui me aproximar da bancada do bar.

Enquanto recebia minha bebida, notei que Ron e Hermione tinham acabado de voltar para o salão acompanhados de Neville. Luna, que estava do outro lado da festa, atravessou o espaço para cumprimentá-los.

Esse encontro com Harry tinha acabado com o meu bom humor, por isso, eu via com bons olhos que eles ainda não tivessem me descoberto nas proximidades do bar. Eu gostaria de ficar o resto da noite com o meu copo de bebida e, quem sabe, curtir a solidão como se deve.

Não era muito sensato de minha parte ficar remoendo um relacionamento que acabou há quatros, mas era mais forte que eu, não é mesmo? Harry Potter tinha sido o meu primeiro amor, meu primeiro namorado e também o meu primeiro cara. Eu ainda consigo lembrar de todas as sensações que ele me proporcionava, de todos os momentos bons que passamos juntos e também de como foi difícil a nossa separação.

Meu orgulho era maior que todas as minhas outras características, por isso, eu me negava a admitir, mesmo que internamente eu concordasse, que ele me fazia falta até os dias de hoje. Essa nova versão de si mesmo que ele me apresentou nos últimos dias vinha me agradando muito, principalmente porque eu conseguia ver o quanto ele amadureceu nesses anos.

Como tudo que é bom sempre acaba, eu teria que sepultar minhas esperanças, pois eu não seria capaz de estragar o relacionamento de ninguém, muito menos de uma pessoa como Claire, que era maravilhosa. Se alguém merecia nessa vida ser feliz, seria ela.

— Por que você está sozinha, Gin? – Tomei um susto quando notei que Dean estava do meu lado segurando uma garrafa de cerveja quase que pela metade. Eu me recordava que ele estava na festa, mas até aquele momento eu não o tinha visto circulando entre os presentes. Talvez ele tenha acabado de chegar, não é mesmo?

— Uma mulher não pode ficar sozinha em uma festa, Dean? – rebati sua pergunta me acomodando melhor na bancada do bar. Ele me acompanhou nesse gesto.

— Claro que pode. Só estou achando estranho essa atitude.

— Acabei de receber uma notícia, se é assim que podemos dizer, que me deixou pensativa. Resolvi afogar minhas mágoas em uma boa bebida, como todo jovem inglês da minha idade.

Ele riu do meu comentário.

— Não faz muito o seu tipo. Quer conversar? – Dean sempre era muito solícito, gentil e preocupado. Será que eu poderia confiar nele? Resolvi, por isso, contar “meias verdades”.

— Eu namorei um cara antes de ir para os Estados Unidos e descobri hoje que ele tem uma namorada.

— Hum, você finalmente descobriu que o Harry namora Claire?

Fiquei assustada com seu comentário. Eu não sabia que ele conhecia minha história.

— Como você sabe que eu e Harry namorávamos, Dean?

Ele deu um gole em sua cerveja e apoiou os cotovelos de forma displicente na bancada do bar. Esse gesto me chamou atenção por ser, ao mesmo tempo, relaxado e sexy.

— Ginny, Harry é o cara mais popular da faculdade. Eu ainda não estudava no campus quando a história de vocês acabou, porém, eu soube posteriormente de todos os comentários que envolviam a vida dele. Ele foi assunto de fofocas por meses, principalmente porque ele ficou muito mal com o fim do namoro. Eu não sei até que ponto a Claire sabe desse passado, mas eu duvido que ela associe com você. Eu só sabia que era você porque eu conhecia o Ron e o Harry da época da escola.

Não pude impedir de satisfazer a minha curiosidade.

— Já que você é um dos caras mais informados da Universidade de Londres, me conta: como o casal 20 se conheceu?

Dean sempre riu dos meus comentários sarcásticos. Ele não perdeu a chance de soltar uma boa gargalhada após a pergunta sair dos meus lábios.

— Eu não sei todos os detalhes, então, eu acho que a melhor pessoa para você perguntar isso seria para os dois ou para Hermione, já que ela era a melhor amiga dele na época. Só sei que Claire é caloura de Harry e há uma tradição no curso de direito que faz com que os veteranos “adotem” um dos calouros por um ano.

— Adotar? – Ergui minha sobrancelha.

— O curso de direito é cheio de regras e tradições. É um tremendo saco! – Nós rimos, porque concordávamos que o pessoal de direito era cheio de frescura, mas quem era nós para argumentar, não é mesmo?

— O aluno do segundo ano é considerado veterano direto dos calouros, então, eles têm como missão adotar um estudante deste respectivo ano para ensiná-lo das tradições, dos costumes e das regras da faculdade. O veterano e seu calouro comparecem às festas juntos e, geralmente, acabam desenvolvendo uma grande amizade. Quem escolhe o “bicho” para o veterano é a comissão de boas vindas do curso e Claire acabou sendo designada para ele. Harry não teve muita escolha! Sei que os dois se tornaram amigos e depois de um ano eles começaram a namorar. Dizem que ela foi a responsável por tirá-lo do poço, mas eu duvido disso, se você quer saber.

— Por quê? – Virei meu corpo em sua direção.

— Porque eu não acho que as pessoas superem um amor com outro amor, entende? E eu convivo com vocês dois há algumas semanas... Deu para perceber que o que quer que tenha havido entre vocês ainda não acabou.

— Somos só amigos, Dean! – Tratei de deixar bem claro porque eu ainda não sabia se poderia confiar nele e eu não queria que isso se tornasse uma fofoca na faculdade. Claire não merecia isso, de verdade!

— Gin, se vocês fossem só isso... se você não sentisse nada mais por Harry, por que você está nesse estado lastimável, bebendo em uma sexta-feira à noite e sozinha?

Touché!

— Por que eu quero?

— Ah, claro! E eu sou o Papa Francisco!

Resolvi não ligar para os comentários de Dean e tomar mais um gole da minha bebida. Ele tinha razão: eu me importava com o relacionamento entre Harry e Claire... me importava até demais e isso me incomodava, porém, eu não podia deixar esse sentimento me atingir ou transparecer, porque eu não tinha mais direito de achar/julgar nada. Harry não era mais meu namorado há vários anos e não fazia sentido eu achar ruim porque ele seguiu em frente com a vida dele.

— Eu não tenho esse direito, Dean.

Ele virou em minha direção e colocou uma mão no meu ombro.

— Somos humanos, Gin. Você até pode não fazer nenhum escândalo, mas tem o direito de sentir as coisas. Não deixe esse amontoado de sentimentos te sufocar, garota! Você pode/deve colocar tudo para fora. Eu não sou próximo ao Harry, porém, eu consigo ver que sua presença mexe com ele. Aliás, ele não tirou os olhos da gente desde o momento em que cheguei. Se é um sinal que você precisa para acreditar que a história de vocês ainda não acabou, então, aí está!

Eu realmente olhei no lugar onde Harry estava com Claire e pude perceber que ele me observava. Não consegui, como não conseguia na época em que namorávamos, decifrar o seu olhar, no entanto, algo me dizia que ele estava irritado.

— E eu acho que ele está com ciúmes de estarmos tão próximos – Dean concluiu o pensamento por mim.

— Problema dele.

Nós rimos.

— Harry pode ficar sossegado. Meu coração já tem dona!

Foi minha vez de encará-lo.

— Ae? Cadê ela?

— Tá conversando com seu irmão e Hermione.

Olhei na direção onde estavam Ron e minha cunhada e pude observar uma morena muito bonita, com cabelos lisos que caiam pelas costas e olhos bem marcantes.

— Qual é o nome dela?

— Parvati. Só que ela não me dá atenção. – Ele suspirou antes de tomar mais um gole de sua bebida.

— Ainda né, meu querido! Ela não tem namorado, certo? – Ele negou com a cabeça. – Então, a batalha ainda não está perdida. Você já conversou com ela?

— Eu não consigo, Gin. Sou tímido demais para isso.

— O quê? Nada disso! – Coloquei minha bebida no balcão e pedi para o garçom encher novamente o meu copo. – Você trate de me escutar, entendeu? Você vai terminar essa cerveja e vai em direção da mulher dos seus sonhos, okay? Puxe conversa com ela, fale seu nome, diga no que você trabalha e fala que você esteve observando-a a noite toda e gostaria de dançar com ela. Se ela não topar, então, meu querido, o problema é dela por ter perdido um cara tão incrível como você!

Dean me olhou com descrença, como se eu estivesse falando absurdos sobre constelações, naves espaciais e etc.

— Você acha mesmo que eu devo tentar?

— Dean, eu não acho. Eu tenho certeza. Além do mais, se você nunca tentar, você nunca saberá...

— Okay.

Ele terminou de tomar sua cerveja, colocou a garrafa vazia no balcão, me deu um beijo na bochecha e olhou em direção a Parvati.

— Me deseje sorte.

— Boa sorte, Dean.

Ele deu dois passos e olhou para mim.

— Gin?

Recebi o copo do garçom com a minha segunda dose de bebida e respondi ao chamado do meu amigo.

— Muito obrigado.

— Foi um prazer!

— E vê se segue os seus próprios conselhos – ele riu.

— Vai logo, Dean! – gritei para ele.

Vi quando ele se aproximou da garota e notei o sorriso que ela lançou quando ele a levou para pista de dança. Eu esperava que, pelo menos, alguém nessa noite tivesse boas notícias.

***

Fiquei mais uma hora e meia curtindo minha “fossa” próxima ao bar. Eu deveria ser mais racional, até porque eu não fui nenhuma “santa” nos Estados Unidos. Tive meus casos e até um relacionamento, então, por que pensar que Harry seguiu em frente me dói tanto?

Porque eu sou uma idiota?

Essa é uma excelente colocação para o que eu estava passando nesse momento.

Eu já não reparava na quantidade de álcool que eu colocava para dentro do meu organismo. Não era mesmo a Megan que me dizia que bebida curava qualquer coisa, inclusive, dor de cotovelo? Ops! Eu estava com ciúmes do Harry? Era isso mesmo, produção? Era só o que me faltava!

Me virei para a pista de dança e encontrei Hermione e Ron dançando bem coladinhos. Era aquele momento da festa em que a música desacelera e os casais se juntam para aproveitar a noite. Eu tinha certa inveja “branca”, porque eles formavam uma dupla e tanto e eu me pegava pensando se eu teria a mesma sorte em um futuro breve. Quem sabe, não é mesmo?

Quando o último acorde pode ser ouvido no salão eu percebi que Hermione caminhava em minha direção e Ron seguia na direção oposta, provavelmente indo ao banheiro masculino.

Ela encostou no balcão ao meu lado e começou a se abanar.

— Eu realmente não sirvo para dançar! - disse minha cunhada, enquanto eu tomava mais um gole da minha bebida.

— Ron insistiu que você dançasse coladinho com ele? - ri baixinho.

— Não! - ela também riu. - Eu pedi, na verdade, porque fazia muito tempo que não podíamos dançar juntos, com tantas coisas acontecendo e com o fim da faculdade. O ano letivo passado foi tão corrido que não tínhamos muitos momentos juntos, Gin.

— Ainda bem que você já se formou, né? - coloquei os meus cotovelos no balcão e passei a olhar novamente a pista de dança. Eu não estava com tanta vontade de conversar com minha cunhada, embora eu gostasse de sua companhia. Eu queria ficar sozinha, curtindo a minha tristeza e bebendo até onde eu conseguisse. Hermione, no entanto, percebeu que eu já tinha passado da “dose”.

— Você não acha que já bebeu demais, Gin? - Ela me olhou com ares de preocupação. - Eu venho te olhando há algumas horas e você não largou o copo em nenhum momento.

— Eu acho que eu ainda não bebi o suficiente, minha cunhada querida. Cadê meu irmão?

— Foi no banheiro.

Eu e ela permanecemos em silêncio por cerca de cinco minutos. Continuei olhando a pista de dança e percebi que Harry ainda lançava alguns olhares em minha direção, mesmo rindo de alguma coisa que Claire e seus amigos diziam. Dean dançava bem animado com Parvati e meu irmão voltou do banheiro e parou para conversar com alguns colegas de sala.

— Nós conversamos com Harry mais cedo. - Ela comentou como se tivesse falando do tempo que iria mudar nas próximas semanas. - Ele nos pediu desculpas, acredita? Acho que voltaremos a ser amigos. - Ela sorriu com a notícia que acabara de me dar e eu aproveitei a oportunidade para colocar “para fora” tudo o que estava sentindo nesse momento. Foi ela quem tocou no nome do meu ex, certo? Então, eu não tinha por que me sentir mal em desabafar.

— Por que você não me contou, Hermione?

— Por que acabou de acontecer. Como que eu ia te contar? - Ela me olhou como se eu fosse maluca ou coisa do tipo. Mione, sempre tão prática.

— Não é isso. - Eu respirei fundo antes de confessar o que meu corpo e mente gritavam para dizer em voz alta. - Por que não me disse que Harry tinha uma namorada? E que ela era a Claire? Eu virei amiga da menina, Mione. E provavelmente ela deve me “odiar”, se é que ela sabe do meu passado com o atual namorado dela.

— Ah. - Hermione chegou mais próxima de mim e pediu uma bebida com nome estranho para o garçom. Eu sabia que ela faria isso para ganhar tempo antes de falar.

— Eu achei que não era o meu direito, Ginny. E também não vi a necessidade de contar algo que, aparentemente, vocês superaram. Vocês não estão conversando?

— Estamos. Mas isso não quer dizer que eu precisava topar com o meu ex-namorado beijando outras bocas na minha frente. Eu acabei de vê-los juntos. Fiquei pensando se Claire sabe que eu sou a ex-namorada do seu seu atual namorado, entende? Ela é tão legal comigo, mas agora tudo o que eu consigo pensar é que ela beija o que já foi meu, entendeu? Se for só beijar, ainda tá bom, mas eu duvido que SÓ isso esteja acontecendo. Harry não é propriamente um santo, entende? Eu fico pensando se ela se “faz” de minha amiga, se ela realmente sabe e não liga ou se ela não sabe que nós tivemos uma história.

— Ginny, eu acredito que ela saiba que o Harry teve uma ex-namorada, mas eu não acho que ela saiba que seja você. Ou talvez ela ainda não tenha feito essa associação. Ela é nossa caloura, então, ela não estava na faculdade quando vocês terminaram. Se alguém contou, não foi o Harry.

— Por que você acha isso?

— Por que ele não falava o seu nome há muitos anos.  - Ela se aprumou no balcão para conseguir me olhar melhor. - Ele ficou muito mal quando vocês terminaram… parecia que o mundo tinha acabado para o Harry! Eu não sei o que aconteceu, mas, aos poucos, eu sei que ele foi retomando a vida. A Sra. Potter não sabia mais o que fazer com ele, sinceramente. Nesse meio tempo, nós, eu e Ron, tentamos manter a amizade da mesma forma, porém, quando ele começou a sair com Claire nós vimos que seria melhor nos afastar.

— Por que seria totalmente estranho o seu ex-cunhado ser melhor amigo da sua atual namorada, né?

— Mais ou menos por aí - Nós duas rimos com a afirmação.

— Claire me parece ser uma pessoa ótima - Hermione continuou seu pensamento. - Mas não sei se ela é a garota certa para o Harry. Ela foi importante para que ele superasse toda a depressão e tudo de ruim que ocorreu com o fim do namoro de vocês, porém, como eu posso dizer…

Eu já estava tão “alta” que eu estava achando engraçada a maneira como ela estava se expressando “cheio de dedos”.

— Fala logo, Mione! - Implorei.

— Ela é a garota certa para o cara errado, entende? - Hermione, como sempre, filosofando. Era sexta-feira à noite, eu estava totalmente bêbada e por isso eu pedi que ela me explicasse o contexto dessa frase.

— Bem, ela é uma pessoa ótima, uma garota estudiosa, inteligente, meiga e engraçada, mas o Harry não é o cara certo para ela. Ele tem conflitos que eu acho que ela não merece passar, entende? - Ela me olhou profundamente.

— Não! Eu tô bêbada, Hermione. Então, você precisa ser totalmente clara para fazer sentido nessa noite – Ela bufou.

— Harry ainda precisa se entender consigo mesmo, Gin. Ele não consegue assumir certas coisas que sente e nesse processo, além dele mesmo sofrer, ele faz Claire sofrer. Pode ser que ela ainda não tenha percebido isso ainda, porém, para mim está claro que ele não a ama.

Eu fiz uma cara de confusão e, por isso, eu percebi que ela voltou a explicar seu ponto de vista.

— Ele gosta demais dela e não há como negar esse fato, mas nós sabemos quem ele realmente ama. Eu e você sabemos muito bem disso! Pode ser também que ele ainda não tenha se dado conta...

— Eu realmente não sei quem o Harry ama e você tá muito profunda nessa noite, Mione. Necessito ir urgentemente ao banheiro. - Deixei o meu copo no balcão e tentei dar um passo, contudo, acabei me desequilibrando.

— Você precisa de ajuda? - Hermione me olhou preocupada.

— Nah! Eu tô ótima. Só preciso ir no banheiro. Já volto!

Caminhei até o banheiro feminino, que ficava do outro lado do salão, em uma ala, de certa forma, espaçada do restante do imóvel. Não havia filas, então, eu achei ótimo, pois pude fazer minhas necessidades de forma rápida e sem esperar pela liberação das cabines. Quando eu estava saindo, no entanto, acabei topando com um conhecido desagradável. Nossos ombros colidiram e ele me pegou pela cintura.

— Olha só quem deu o ar da graça em solo europeu. Ninguém menos que Ginny Weasley! - Draco Malfoy tinha acabado de sair do banheiro masculino e trombado contra o meu corpo. Nesse momento, eu percebi o quanto eu estava bêbada, porque eu não tinha forças para guiar as minhas pernas o mais longe possível desse babaca.

Meus pensamentos me guiaram para a noite da minha formatura e tudo o que eu pude sentir foi asco.

— Vê se me erra, Malfoy!

— Hum, vejo que os Estados Unidos mudaram o seu vocabulário. Tá mais crescidinha a Gininha, não é? - Percebi que ele tentava me encurralar na parede, no momento em que eu forçava uma saída daquele local. Ele colocou uma de suas mãos na parede que estava atrás de mim, não me deixando nenhuma escolha senão olhá-lo nos olhos.

— Uma coisa não mudou: você continua gostosa para caramba. Não sei como o Potter deixou você escapar, mas ele é um idiota, então, não conta, não é mesmo? - Ele começou a me olhar com desejo e a tocar com a mão livre minha barriga. Percebi que ele subia em direção aos meus seios.

— Me larga. - Falei alto com a esperança de que alguém viesse me socorrer.

— Por que? Nós estamos só começando a nossa brincadeira, Gin. - Ele colocou uma mecha do meu cabelo solto atrás da minha orelha e passou a cheirar o meu pescoço. Um sentimento de nojo e repulsa correu pelo meu corpo.

— Eu já disse para me largar, Malfoy. - Dei um chute nas suas partes íntimas e, enquanto ele se contorcia, eu tentei sair da área dos banheiros, porém, ele foi mais rápido e me pegou pelos pulsos.

— Você não aprende, né Weasley? Você vai ver o que é bom! - E me empurrou com força para a parede. Ele imobilizou minhas mãos e começou a beijar meu pescoço com “gosto”. Eu gritei por socorro e tentei me debater, mas, finalmente, a bebida começou a fazer efeito e minha cabeça rodava. Comecei a sentir náusea, vergonha e medo dele. E se ninguém me visse nesse espaço? E se ninguém me salvasse? Eu não tinha forças para conseguir me livrar das mãos de Malfoy, que me seguravam fortemente contra a parede. Ele parecia estar se divertindo.

— Os anos te deixaram uma garota gostosa para caralho, Ginny. Como que eu não pude me aproveitar antes? - Ele tentou beijar minha boca, porém eu consegui desviar de seus lábios.

— Você é nojento, Malfoy. Eu te odeio com todas as minhas forças. Me solta! - comecei a me debater, mas ele ainda era mais forte.

No mesmo momento em que eu rezava para que todos os deuses me salvassem, eu percebi que alguém puxou Malfoy pela camisa.

— Não sabe ouvir uma mulher, Malfoy. Ela falou para você largá-la, seu verme. - Eu reconheceria aquela voz em qualquer lugar. Meu salvador tinha nome e sobrenome: Harry Potter.

— Ora, ora. Não é que o Potter não consegue ficar dois metros longe da Weasley? Você tá atrapalhando minha “foda”, cara! - Ele se soltou de Harry e tentou continuar o que estava fazendo, porém, Harry foi rápido.

— Você é ridículo! - Harry socou a cara dele e o derrubou no chão com todas as forças. Eu só consegui ficar parada enquanto Harry o golpeava no rosto, na barriga, no peito… Draco, que também não era nada “fraco”, passou a revidar os golpes de Harry, que ora desviava e ora sentia na pele os ataques de seu maior inimigo.

— Harry? - Ron chegou no mesmo momento em que sangue começava a sair da boca de Malfoy.

— Harry, chega! - Meu irmão puxou os braços do melhor amigo para cima no mesmo momento em que Hermione e Claire chegavam ao local. Percebi que diversas pessoas tinham parado para observar a briga. Vincent Crabbe, um dos amigos de Malfoy também chegou próximo a roda e pegou os braços dele, que estava no chão. Harry fez um belo estrago no rosto daquele verme.

— Potter, você vai pagar caro! - disse Malfoy quando conseguiu ficar de pé. Ele segurava o maxilar, como se estivesse doendo muito o local atingido pelos socos de Harry.

— Pagar caro? Se enxerga, Malfoy. Você deveria ouvir quando uma garota diz que não quer nada com você. - gritou Harry. Ele estava tão bravo, tão “puto”, que eu podia sentir suas ondas de raiva reverberando pelo local.

— Por que? Por que ela deveria querer transar com você, não é mesmo? Vocês terminaram, Potter. E, se eu não me engano, já faz bastante tempo!

— Quê? - Harry tentou se soltar de Ron, mas meu irmão puxou ele mais forte contra o peito, em uma tentativa de fazê-lo não voar no pescoço do loiro. Eu não sabia o que fazer: claramente eles estavam discutindo a minha vida, no meio de uma festa e todas as pessoas que eu conhecia - e as que eu não conhecia também – e que iriam falar sobre mim por horas, dias e semanas. Eu não queria virar “uma fofoca” na universidade, contudo, eu não sabia o que fazer.

Nesse meu momento de indecisão eu resolvi olhar para Claire, que visualizava a cena entre Malfoy e Harry totalmente impassível. Questionei-me sobre o que ela estava pensando, mas não tive coragem de formalizar as minhas perguntas, uma vez que Harry começou a gritar novamente.

— Quando uma garota diz “não” é porque ela não quer nada com a gente, Malfoy. Você é um crápula, um idiota, um nojento. Fica longe da Gin. - Eu nunca tinha visto Harry tão puto como esse momento. Hermione colocou as mãos sobre o meu ombro sem também saber o que dizer.

— Sabe, Potter. Não precisa ficar com ciúmes. Ela pode ser totalmente sua depois dessa noite, mas você não pode privar um cara de dar uns bons amassos nessa gata, enquanto você tá com a oficial, né?

Harry tentou sair dos braços de Ron, sem tanto sucesso.

— Seu verme. Cala sua boca! Quem você pensa que é para falar da Gin dessa forma? - Harry gritou a plenos pulmões.

— Se eu fosse você, Claire, tirava o seu time de campo, porque toda Londres sabe que o Potter lambe o chão que a Weasley pisa. Mais cedo ou mais tarde você vai ganhar um belo de um par de chifres, sabia? Toma cuidado! - Com essa frase ele saiu de perto do grupo com seu amigo como guarda-costas.

Harry ainda gritou coisas como “seu idiota”, “cala a sua boca”, “você não sabe o que tá falando”, “você ainda me paga” e “eu vou quebrar sua cara”, mas Malfoy já estava longe.

Eu me sentia tão perdida, tão confusa e com tanto asco de mim mesma pelos toques nojentos do Malfoy que eu ainda sentia em minha pele, que tudo o que eu fiz foi me enfiar nos braços de Hermione e começar a chorar. Parecia que a noite da minha formatura tinha ganhado uma reprise quatro anos depois.

— Calma, Gin. Já passou! Vai ficar tudo bem! - minha cunhada tentava me confortar.

Meus soluços, no entanto, não paravam. Percebi os cochichos das pessoas e o quanto Ron e Dean, que deve ter chegado durante a briga tentavam afastar os curiosos. Quando eu consegui abrir os olhos, eu pude perceber que Harry estava encostado na parede respirando bem fundo, enquanto Claire estava com o semblante fechado e buscando entender o que tinha acabado de acontecer.

Depois de certo tempo, Harry foi em minha direção e colocou as mãos no meu ombro. Hermione me soltou brevemente para que seu amigo conseguisse falar comigo.

— Você tá bem? - sua voz demonstrava preocupação, cansaço e tristeza. Tantos sentimentos juntos para uma única pessoa.

— Me sinto um trapo, minha cabeça dói e eu tô com nojo do meu próprio corpo, mas eu vou ficar bem, Harry. - Minha respiração falhou um momento quando eu o vi fechar os olhos, como se tentasse apagar da memória a cena que tinha acabado de se desenrolar na sua frente.

— Desculpa ter chegado tão tarde. Ele não tinha o direito de te tocar, Gin. Eu ainda vou socar a cara daquele babaca! - Ele realmente estava puto.

— Tá tudo bem. Eu não te disse ainda, mas muito obrigada. Você salvou o dia. - Harry riu.

— Pena que eu cheguei tarde, né? Eu percebi quando ele veio atrás de você, mas eu não sabia que ele iria tentar alguma coisa. Como eu sou idiota!

— Harry… - eu não sabia o que dizer: ele estava me vigiando? Ou ele estava preocupado? - Já passou.

Ele respirou fundo e bagunçou os cabelos já tão arrepiados. Hermione olhava para nós dois com o semblante cerrado, como se tivesse entendido alguma coisa que nós, meros mortais, não tivéssemos, porém, ainda não podia se pronunciar por qualquer motivo besta.

— Você vai ficar bem? - Ele finalmente perguntou enquanto colocava as mãos nos bolsos.

— Vou tentar.

Harry respirou fundo. Claire, que até aquele momento não tinha se pronunciado, chegou perto dele e pediu, aos sussurros, para ir embora. Ele concordou.

— Eu vou indo. Qualquer coisa vocês me avisam? - Hermione fez que sim com a cabeça e disse que nós também iríamos embora. Que ela só iria ver onde Ron estava, uma vez que ele e Dean tinham ido dispersar a pessoal, mas ainda não tinham voltado.

— Pode deixar, Harry. Eu só vou esperar o Ron voltar para irmos embora. Eu acho que a noite já acabou por aqui também.

Ele mordeu os lábios, como se ele quisesse dizer alguma coisa que não poderia ser dita naquele instante.

Minha cabeça rodava com o tanto de álcool que eu tinha consumido, meu corpo doía e eu ainda podia sentir as mãos de Malfoy pelo meu corpo. Eu só queria tomar um banho para me livrar dessa sensação incômoda e dormir pelas próximas 12 horas.

Harry começou a sair do salão, com as mãos unidas nas de Claire. Eu despertei do meu torpor e chamei pelo seu nome. Ele me olhou confuso. Me desvencilhando de Hermione, eu não pensei em mais nada a não ser em dar um abraço bem forte de agradecimento nele. Ele retribuiu e afundou o rosto no meu cabelo.

— Obrigada - sussurrei em seu ouvido.

— Não fiz nada demais, Gin. Na verdade, eu deveria era ter quebrado a cara dele, isso sim! Babaca! - o comentário dele me fez rir.

— Não tem problema. Ele nunca mais vai encostar em mim, eu tenho certeza.

— Se ele chegar perto de você mais uma vez ele vai desejar não ter nascido. Eu não quero pensar no que ele teria feito se eu não tivesse aparecido. Você tem certeza que está bem? - ele se soltou do nosso abraço para me olhar. Seus olhos verdes brilhavam de um jeito diferente, eu via tanto carinho naquelas íris que eu queria me afundar desesperadamente.

— Vou ficar! Agora vai! - Ele ainda me abraçou mais uma vez antes de ir atrás de Claire, que estava encostada em um pilar com um semblante muito sério. Será que ela iria brigar com ele por ele ter defendido uma amiga? Eu esperava que não. Tudo o que eu não queria após essa noite era arrumar problemas para Harry.

Quando eu voltei para perto de Hermione, ela sorria de uma maneira perspicaz.

— Você realmente não sabe quem ele ama, né? - Ela levantou uma sobrancelha, como se estivesse debochando da minha afirmação anterior.

— Mione, eu só quero ir pra casa. Eu quero me livrar desse cheiro de Malfoy que está no meu corpo.

— Desculpa, Gin. - Ela me abraçou. - Eu realmente sinto muito por tudo o que aconteceu nessa noite. Eu deveria ter vindo com você para o banheiro. Você tinha bebido bastante e eu poderia ter te defendido daquele idiota! - Ela acariciou meus cabelos, buscando me oferecer um conforto.

— Tá tudo bem, de verdade. Só vamos para casa?

— Vamos! Cadê o Ronald? - Ela olhou em direção para a pista de dança e viu quando meu irmão sinalizou para irmos em sua direção. Nós rumamos para casa em silêncio e quando eu me tranquei no meu quarto nenhum dos dois soube o que falar.

Depois do banho, que durou cerca de uma hora e meia e que deixou minha pele quase em carne viva de tanto que eu esfreguei para retirar qualquer “sinal” de Draco Malfoy, eu fui até minha janela. Pude ver que as luzes do quarto de Harry estavam acesas. Suas cortinas estavam abertas e ele estava sentado próximo à janela, tomando alguma coisa que eu achava ser uísque, pela cor do líquido que estava na garrafa.

Nossos olhares se encontraram e Harry fez um sinal de concordância com a cabeça para me cumprimentar. Dei um sorriso de canto e fechei a janela e as cortinas. Chega de Harry Potter, chega de sofrimento, chega de lágrimas, chega de Claire, chega de histórias mal resolvidas, chega de Malfoy e seus toques ousados, chega... Eu só queria dormir e esquecer que essa noite existiu em minha história.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Oi, pessoal, tudo bem? Eu só quero saber uma coisa: se vocês fossem a Claire o que vocês fariam depois de “pegarem” seu namorado brigando e todo “amorzinho” com sua ex-namorada? Fica aí o questionamento hehehe. O próximo capítulo, infelizmente, ainda não está escrito (embora eu saiba T-U-D-O o que irá ocorrer nele), por isso peço paciência de vocês, porque eu tô escrevendo minha dissertação e o meu tempo está “levemente” escasso. Mas minha promessa de atualização mensal continua, okay? Um beijo para vocês! Não esqueçam de comentar para eu saber o que vocês estão achando – como diriam os youtubers: isso ajuda muito a continuar o meu trabalho :P