Complicated escrita por Ana Carolina Potter


Capítulo 8
Capítulo 7




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Capítulo 7 - Harry III

Claire: Que tal filme e pipoca?

Harry: Acho ótimo. Passo na sua casa às 20h?

Claire: Perfeito!

Deixei meu celular na cama enquanto rumava em direção ao banheiro. Faltava duas semanas para o fim das férias e eu já estava ansioso para a próxima. Cansado não era bem a palavra que eu usaria para o que estava sentindo, eu estava exausto.

O dia de hoje no estágio tinha sido muito corrido. De manhã, eu fui ao fórum com dois advogados para uma sessão de júri, depois, por volta das 15h, quando eu finalmente consegui almoçar, meu chefe pediu para que eu fizesse o resumo de alguns processos que iriam ser julgados na próxima semana. Saí do trabalho depois das 18h, bem depois do meu horário habitual, que era 17h.

É por isso que quando Claire sugeriu ver um filme eu suspirei de alívio, pois não sei se eu teria alguma disposição para alguma festa ou barzinho. Tirei a roupa, entrei no chuveiro e dei um gemido de satisfação. Água quente batendo nos meus músculos travados era uma sensação maravilhosa.

Enquanto fazia minha higiene pessoal, comecei a pensar nas atividades que eu teria que fazer na próxima semana. Eu e o pessoal do centro acadêmico teríamos que ir na faculdade todos os dias para ajudar na decoração do local, que teria cores temáticas para a Semana de Recepção.

Nunca pensei que realizar/organizar um evento desse tanto trabalho, sorte que eu podia contar com o pessoal da comunicação, porque eu não daria conta de fazer todas as coisas que estavam programadas.

Claire me ajudava bastante com os detalhes, porém, tinha coisas que somente eu, sendo o presidente, poderia resolver. Ela estava muito animada com a repercussão positiva que o evento estava ganhando nas redes sociais, o que me deixava aliviado, porque a concorrência para a promoção da semana foi alta. Quase perdemos o evento para o curso de psicologia.

Sem falar em todos os problemas que eu tinha com a eminência do início das aulas e o aumento de atividades no trabalho, eu também estava lidando com a minha recém amizade com Ginny. Ela, finalmente, me aceitou nas redes sociais e eu pude olhar todas as fotos, os eventos que ela participou nesses últimos anos e percebi que ela era uma garota muito querida entre os seus amigos norte-americanos. Deu também para ficar com ciúmes de um tal de Lucas, que curte todas as fotos dela. “Que se dane, né? Ela não é da sua conta, Potter”, resmunguei para mim mesmo enquanto enxaguava os cabelos.

Desde nossa reconciliação, eu pude perceber uma nova Ginny. Uma garota independente, engraçada e que continuava não levando desaforo para casa. Ela parecia feliz por estar em casa e por ter um emprego para chamar de seu, mas dava para notar que ela sentia falta dos amigos e da rotina que ela tinha nos Estados Unidos. Eu não poderia julgá-la, afinal foi a vida dela por quatro anos, não é mesmo? Embora eu nunca tenha saído de casa, eu sabia que a sensação de retorno para o lar dos pais era uma “droga”, segundo vários amigos meus. Você voltava a dar satisfação sobre suas atividades e tinha horário para voltar, entre outras coisas. Você perdia, de certa forma, a liberdade que adquiriu com a sua casa, mesmo que ela fosse “capenga” ou dividisse com outras pessoas.

Nós começamos a conversar bastante, principalmente por e-mail, já que ela me ajudava a resolver as burocracias que envolviam a Semana da Recepção e me auxiliava a decidir cores, padrões e temas de artes que seriam propícios para atrair os jovens dos demais cursos para o evento.

Eu tinha que reconhecer que ela era ótima com redes sociais. Ela e Dean formavam uma boa dupla, pois eles se complementam nos detalhes e entendiam perfeitamente o trabalho um do outro.

Terminei meu banho, me enxuguei, me troquei e sai do quarto em direção as escadas. Somente meu pai estava em casa e ele estava totalmente entretido com algum jogo no videogame.

— Vai sair, Harry? - Ele falou assim que eu cheguei na sala sem desgrudar os olhos da tela.

— Vou na casa da Claire. O que você está jogando?

— É um novo game que o Sirius me apresentou. É quase um RPG, mas mais divertido. - Parecia realmente divertido, porém, o tema era zumbis, algo que eu não gostava muito. Todas as vezes que eu e o meu pai jogávamos jogos que envolviam esse tipo de bicho eu sempre demorava para dormir. E dormir era algo que eu realmente estava precisando nesse fim de semana.

— Cadê mamãe? - Me sentei ao lado dele para ver seu desempenho ao enfrentar os zumbis.

— Por incrível que pareça está na casa da frente. Ginny chamou-a para tomar um chá. Eu já estava preocupado que a sua mãe iria colocar gatinhos de tanta ansiedade que ela estava em falar com a nossa afilhada.

— Hum. - Eu não estava afim de falar sobre minha recente amizade com Ginny, por isso, não esbocei nenhum comentário sobre o assunto. Minha mãe sempre gostou muito dela, então, eu só pude ficar feliz que elas tenham retomado o contato.

— Bem, eu vou para casa da Claire. Devo voltar tarde, okay? – mudei rapidamente de tema, antes que ele inventasse de me contar todas as novidades sobre o retorno do relacionamento entre minha mãe e minha ex-namorada.

— Ui, vai ser intenso hoje! - Meu pai e seu ótimo senso de humor!

— Pai!

— Tô só brincando, Harry. Mande um beijo para minha nora preferida.

— Pai… você só tem uma nora!

— Mas ela não pode ser minha preferida?

— Okay, pai! Até mais tarde. Não fique acordado jogando esse negócio.

— Tá bom, Lily Potter II.

Estirei a língua para ele, mas como meu pai estava muito concentrado no jogo ele acabou não percebendo minha ação. Peguei as chaves do carro e sai para a garagem. O caminho até a casa de Claire era relativamente curto, porém, era extremamente belo. Essa parte da cidade era considerada “mais nobre”, por isso, tinha mais árvores e flores que as demais localidades. Minha namorada costumava brincar que foi por essa razão que seus pais escolheram o bairro para viverem há mais de 20 anos.

Cruzei as avenidas e alamedas até chegar na casa de dois andares toda pintada de branco no meio do quarteirão. Desci do carro, acionei o alarme e toquei a campainha anunciando minha chegada. A irmã de Claire veio me atender.

— E aí, cunha? - Celiny era a irmã caçula de Claire, que era a filha do meio de Peter e Jasmine. Darwin era o irmão mais velho e morava na Holanda há dois anos, por isso, não era comum encontrá-lo na casa dos pais, com exceção dos feriados prolongados em que ele aproveitava as passagens aéreas para visitar a família. Celiny estava no ensino médio e era bem moleca, sempre rendendo ótimas risadas com seus dramas adolescentes.

— Hey, cunha. Tudo bem? - Cumprimentei-a com um beijo na bochecha e já fui entrando na casa dos meus sogros. Com o espaço amplo, o ambiente era dividido entre sala de estar e sala de televisão, onde eu podia ver que Celiny estava vendo sua série preferida do momento que, segundo ela, era imperdível. Pretty Little Liars não era, definitivamente, o meu estilo de seriado.

— Tudo e você? - Ela fechou a porta e já foi se encaminhando para a sala.

— Bem também. Cadê sua irmã?

— Está no quarto dela.

— E seus pais?

— Saíram para jantar e não quiseram me levar. Mas tudo bem, eu não queria mesmo!

— Entendi. – Acabei rindo do seu típico drama. - Bem, eu vou subir, então.

— Vai lá, cunha. Vou ver esse episódio. Claire pediu uma pizza para gente que já deve estar para chegar.

— Beleza.

Fui em direção às escadas para chegar ao quarto da minha garota. Claire ocupava o terceiro quarto do corredor, bem próximo ao dos pais, que era o último. Não estranhei ao encontrar a porta fechada e aproveitei para fazer uma graça e dar três batidinhas para sinalizar minha chegada.

— Oi, amor! - Ela disse assim que abriu a porta.

— Como sabia que era eu? - disse levantando a sobrancelha.

— Você é o único que bate na porta. - Ela ficou na ponta dos pés e me deu um selinho.

— Sou educado, o que eu posso fazer?

— Ou você é educado ou todo o pessoal de casa é sem noção mesmo!

Nós rimos e ela me puxou para seu quarto. Claire tinha um bom gosto, eu tinha que admitir. Com papel de parede em tons de branco e dourado, o ambiente tinha um ar sofisticado. Prateleiras de livros ocupavam toda a parede esquerda, que também servia para esconder a porta do banheiro que completava a suíte. Uma cama queen size estava disposta do lado oposto, onde havia duas mesas de cabeceira uma de cada lado. Uma outra porta, próximo à entrada do cômodo que levava ao banheiro seguia para o closet e ela ainda tinha uma penteadeira repleta dos mais variados produtos ao lado da escrivaninha, que ficava embaixo da janela. Diferentemente da minha, a visão de Claire do quarto dava para o jardim da casa, que era cheio de árvores e flores cultivado com todo o carinho pela minha sogra.

Nós sentamos na cama e ela aproveitou para me dar um beijo de forma apropriada. Nosso último encontro tinha sido no último fim de semana e ambos estávamos com saudades. Quando as carícias se intensificaram, eu tentei parar porque sabia que Celiny estava no andar de baixo.

— Amor, Celiny está em casa. - Ela me olhou e fez um biquinho, fato que me fez dar um riso baixinho e depositar um selinho em seus lábios.

— Como foi sua semana? - Deitei na cama de Claire e puxei-a para um abraço.

— Foi boa. Eu consegui estudar bastante pro processo seletivo do mestrado.

— Você vai mesmo tentar o mestrado em Cambridge?

— Mas é claro! - Ela me olhou como se eu fosse doido.

— Já saiu o edital?

— Não, eu estou estudando pelo edital do ano passado.

— Nerd - disse fingindo uma tosse no mesmo momento em que ganhei um tapa leve no ombro.

— Alguém tem que estudar, não é mesmo?

— Eu não disse que não estudo, só não vejo a necessidade de estudar um edital que já não está mais valendo, Claire.

— Mas os livros, às vezes, se repetem, por isso, eu já estou me adiantando e aproveitando as férias para colocar a leitura em dia.

— Se você chama isso de aproveitar.

Ela revirou os olhos e colocou a cabeça no meu peito. Eu aproveitei para fazer carinho nos cabelos dela.

— Você viu as artes que a Ginny mandou?

— Sim, vi.

— Ela arrasa, né? - Claire realmente gosta do trabalho de Ginny.

— Uhum.

— Eu não sabia que ela era irmã de Ron. O Dean me contou esses dias enquanto estávamos arrumando a faculdade. Por que você não me disse que ela era sua vizinha?

— Porque eu não vi necessidade. Eu não falo direito com Ron desde o início da faculdade, então, não achei que era uma informação relevante, amor.

— Tudo bem. Ela é uma garota muito legal e parece que manja muito do trabalho. Espero que Remus a efetive na London.

— É.

— Tá tudo bem, Harry?

— Tá sim, amor. Mudando de assunto, que filme você selecionou para vermos hoje? - eu realmente não queria contar para Claire sobre o meu passado com Ginny. Era uma coisa um pouco estranha “viu, amor, então, sabe a Ginny da faculdade? Aquela garota que faz as artes do centro acadêmico… então, ela é minha ex-namorada! Nós namoramos por três anos, antes de eu pegá-la nos braços do Malfoy… sabe aquele cara que sempre dá em cima de você para me provocar? Então, o próprio... Nós terminamos, ela foi para o Estados Unidos e atualmente nós estamos tentando ser amigos, apesar de todos os problemas. Tudo bem para você?”

 - Que tal fecharmos a nossa maratona de filmes da Marvel para vermos Homem Formiga e a Vespa no cinema?

— Ótima ideia!

Nós descemos as escadas, convidamos Celiny para a sessão pipoca e aproveitamos que a pizza chegou para jantarmos. Eu nunca fiquei tão aliviado em ver filmes de super-heróis. Isso impedia de Claire tecer elogios para Ginny e eu de pensar na ruiva que vinha povoando meus pensamentos há vários dias - dias, não! Anos! Sem falar que era uma ótima maneira de relaxar da semana cansativa que eu tive! Mal podia esperar para o próximo período de férias. Será que demorava muito?

***

 

Eu cheguei em casa totalmente esgotado, mas com a sensação de que tinha feito um ótimo trabalho. Era sexta-feira, e a Semana de Recepção tinha sido um sucesso. Com duas semanas de trabalho intenso, eu só queria um bom banho e minha cama, porém, ainda tinha a festa de encerramento do evento e eu, como presidente do centro acadêmico que estava promovendo a ação, não poderia deixar de comparecer.

Claire foi fantástica com toda a organização, já que eu passava grande parte do dia no estágio. Ela coordenou as atividades, me ajudou com o discurso de abertura e também fez toda a ponte com os demais grupos estudantis. Ela deixou a festa por minha conta, porém, eu contei com o auxílio dos outros membros que foram super prestativos nesse quesito.

O Habeas Corpus era um evento tradicional do curso de direito, contudo, abrimos para os demais cursos neste ano, em virtude da Semana de Recepção. Como toda boa festa a fantasia, haverá concursos para a melhor temática e o melhor casal fantasiado. Os ingressos estavam esgotados desde quarta-feira e eu tenho que admitir que o pessoal da comunicação tem total responsabilidade por esse sucesso, uma vez que a divulgação ajudou no engajamento dos alunos com a ação.

A promoção criada por Ginny teve como ganhadores dois estudantes do curso de psicologia, algo que não me agradou muito, pois um deles era Cho Chang. Eu não gostava dela desde a época da escola e isso se intensificou quando, após eu terminar com a ruiva, ela se “achou” no direito de dar descaradamente em cima de mim. Confesso que no começo meu ego achava um “máximo” ter uma garota gostosa daquela dando “mole” para mim, porém, com o tempo eu já não aguentava mais as suas mensagens, seus comentários, suas mãos que passavam pelo meu corpo sem licença em todas as festas que comparecíamos juntos – não, nós não íamos juntos, mas ela sempre dava um jeito de saber em qual evento eu ia marcar presença somente para também dar “um oi” por lá. Só o seu perfume me deixa enjoado.

Para piorar a situação, Cho nunca aceitou o meu namoro com Claire. Quando eu comecei a namorar, ela fez um verdadeiro escândalo em casa. Gritou que eu era um cafajeste, porque eu tinha a enganado - Oi?! Nós nunca nem beijamos - e que eu ia pagar muito caro por ter trocado ela por aquela morena sem sal. Minha mãe teve que interferir dizendo que o filho dela não era de se engraçar com qualquer uma por aí, como ela que estava gritando em frente à residência dos outros e, por consequência, incomodando muitas pessoas.

Desde então, Cho tenta, sem sucesso, me fazer ciúmes, o que é algo realmente hilário, eu devo dizer. Claire não liga a mínima para o que a chinesa, japonesa ou coreana - eu realmente não sei a ascendência de Chang - faz e os meus amigos usam as atitudes dela para me zoar, o que me rende algumas risadas, eu devo admitir.

Depois de tomar banho, colocar minha fantasia inspirada na série “La Casa de Papel”, que minha namorada acha incrível, desci as escadas para pegar as chaves do carro.

— Filho, você não vai ser confundido com um assaltante com essa roupa? Muitas pessoas estão usando essa fantasia para assaltar bancos e lojas! - Meu pai me olhou com preocupação enquanto eu pegava a carteira e as chaves.

— Sério, pai? - Levantei minhas sobrancelhas.

— Só estou preocupado. É sério! Eu vi no noticiário que tentaram roubar uma loja usando roupas parecidas com essa que você está…

— É de um seriado, pai.

— Sim, que os caras assaltam a Casa da Moeda da Espanha.

— Pai, relaxa!

Minha mãe saiu da cozinha carregando um balde de pipoca e me olhou de cima a baixo com um ar de reprovação.

— Você podia ter escolhido uma fantasia que valorizasse seus olhos, filho.

— Vocês dois estão de complô, né? Bem, eu vou ir na festa antes que vocês me coloquem para dormir…

— O que fazemos com os jovens dessa geração, James? - disse minha mãe indo em direção ao sofá. Meu pai se sentou ao lado dela, pegou algumas pipocas e balançou sua cabeça.

— Eu me pergunto isso todos os dias, amor. Juízo, Harry. Não queremos netos, okay? Encapa o menino.

— Tô saindo. - Eu saí no mesmo momento que ouvi minha mãe rindo alto do último comentário do meu pai. Ele tinha um péssimo senso de humor. Sério!

Na garagem, liguei meu carro e coloquei um rock bem tranquilo para dirigir até a casa de Claire. Em poucos minutos, cheguei em meu destino e mandei uma mensagem para ela dizendo que estava esperando na frente de sua casa.

Ela veio em minha direção vestida de indiana. Com os cabelos negros presos em uma trança lateral, ela estava linda em um vestido todo azul. Claire não era uma garota de usar muita maquiagem, apesar de amar os acessórios e tendências que lançavam a todo o momento no mercado. Hoje, no entanto, ela estava com os olhos bem marcados pelo delineador preto, que fazia composição com todas aquelas pulseiras e detalhes em prata da sua vestimenta.

— Você está maravilhosa, gatinha.

Ela arrumou o vestido quando se sentou no banco do passageiro e me lançou um sorriso tão lindo, que foi difícil me conter. Dei um beijo longo e cheio de paixão para garota mais linda que eu veria naquela festa.

— São seus olhos, meu amor. Você está lindo, todo bad boy.

Enquanto ela colocava o cinto de segurança e eu ligava o carro, eu contei a ela sobre os comentários “ótimos” do meu pai sobre a minha fantasia, o que rendeu boas risadas dela.

— Seu pai é um sarro.

— E eu não sei disso?.- disse concordando.

— Como ele e o Sirius não foram expulsos da escola?

— É algo que eu me pergunto todos os dias.

Quando nos aproximamos da boate que alugamos para o evento pude perceber grande movimentação.

— Vai estar lotado! - eu disse olhando para o tanto de carros estacionados que tinham ao redor da boate.

— Isso é um ótimo sinal. Fizemos um bom trabalho, amor. Eu, você e toda a equipe do centro e da comunicação. Hoje é dia de aproveitar e relaxar.

— Você tem razão. Essa semana foi tão corrida, tão intensa, que nós merecemos aproveitar a noite.

Ela sorriu ao meu comentário e eu comecei a procurar uma vaga para estacionar o carro. Demorou dez minutos até eu achar a vaga perfeita e caminhar até a entrada do salão, que já contava com uma fila para as pessoas entrarem na festa.

No caminho encontrei com dois amigos de Claire, que ela parou para cumprimentar e Dean, que já estava com uma garrafa de cerveja nas mãos. Ele citou que a Habeas Corpus estava sendo um sucesso e que as pessoas estavam muito animadas pelo DJ que iria tocar em breve.

— Você não vai entrar?

— Tô esperando uma amiga. Ela deve estar pra chegar.

— Hum, amiga! Sei, Dean! - comentou Claire.

— Pior é que é verdade.

— Tudo bem, então! Vamos entrando. Te vemos mais tarde. - disse puxando a mão de Claire para entrarmos na fila.

— Até mais tarde, casal 20.

Quando finalmente conseguimos entrar na festa, o local estava, como eu previra, lotado. Toda a pista de dança era composta por pessoas alegres, bebendo, dançando ou conversando entre si. Pude avistar um grupo de amigos nosso próximo ao bar e dois colegas do futebol que estavam próximos da escada que dava para o andar superior, que era composto pelo camarote, mas que na noite de hoje serviria para o descanso das pessoas, principalmente das mulheres que insistem em andar de salto alto.

Caminhei com Claire até o bar, onde cumprimentamos um casal de amigos nossos e pedi uma bebida. Conversamos por cerca de uma hora até eu notar que Ron e Hermione estavam relativamente próximos e olhavam para mim. “Acho que está na hora de resolver essa situação”, pensei.

— Eu já volto, amor - comentei no ouvido de Claire. Ela concordou com a cabeça vendo para a direção em que eu olhava e me deu um aperto na mão, como se estivesse me incentivando a tomar a atitude de falar com meus dois melhores amigos.

Caminhei nervoso em direção ao casal que cresceu junto comigo, que participou de diversos momentos de minha vida e de quem eu sentia muita falta. Quando cheguei próximo aos dois, minha voz quase não saiu.

— Oi.

Hermione sorriu para mim, mas Ron me olhou desconfiado. Ele tinha todas as razões do mundo, afinal, eu era ex-namorado da irmã dele, aquele que tinha “quebrado o seu coração”, como ele tinha me alertado tantas vezes para não fazer.

— E aí, cara! - disse finalmente meu amigo de infância.

— Eu queria falar com vocês. Esclarecer algumas coisas que eu deixei o tempo ir sepultando cada vez mais.

Hermione me olhou com certa dúvida, como se valesse a pena esse tipo de conversa.

— Diga - retrucou Ron.

Me encostei no balcão, ficando de frente para eles e, podendo dessa forma, olhá-los nos olhos.

— Vocês têm todos os motivos para não falarem comigo, principalmente depois do que aconteceu entre mim e Ginny. Mas, mesmo assim, vocês ficaram do meu lado, continuaram nossa amizade e eu só tenho a agradecê-los por não me abandonarem. Quando eu comecei a namorar a Claire, pude perceber que vocês se afastaram de mim - Hermione fez um movimento de iniciar uma fala, mas eu levantei uma mão, como que para concluir o meu raciocínio - eu não os julgo, porque eu provavelmente teria feito a mesma coisa. Só que eu fiz as pazes com Ginny nas últimas semanas e, embora as coisas entre nós estejam ainda recomeçando, eu acho que não faz mais sentido eu e vocês nos tratarmos como estranhos. Somos amigos de infância, fomos melhores amigos por vários e vários anos, passamos por muitas coisas juntos e, apesar de não ter dado certo entre mim e Gin, eu não desejo que isso mude a amizade linda que eu tinha com vocês. Podemos voltar a conversar e, quem sabe, voltarmos a ter aquela relação ótima que tínhamos antes desse trator passar por cima de nossa história?

Hermione começou a chorar e Ron acabou por tomar a iniciativa.

— Eu não sei o que se passou entre você e a minha irmã, Harry. Somente o que eu sei daquela noite é de levar minha irmã no hospital passando muito mal, porque alguém colocou alguma coisa na bebida dela. Ela nunca falou coisas ruins de você e eu acho louvável que ela tenha te preservado, mesmo depois de tudo o que aconteceu. Quando eu olho para você, eu tento ver meu amigo de infância, o cara que brincava comigo, que aprontava comigo na vizinhança e que apresentou o amor da minha vida. Tentar separar a visão do Harry meu amigo, do Harry meu ex-cunhado me ajudou a lidar com toda essa situação. E, embora nós tenhamos nos afastado, eu sinto muito a sua falta.

— Nós queríamos dar um espaço para você aproveitar essa nova experiência e achamos que seria muito estranho, pelo menos da nossa parte, forçar uma relação de amizade com Claire, porque eu acho que ela acharia meio complicado os laços que nos unem, principalmente ela sendo sua namorada e, bem, temos a Gin… Não queríamos que você tivesse que fazer aquela péssima escolha entre ela e nós. - comentou Hermione.

— Claire jamais faria isso! - disse exasperado. Minha namorada não era esse tipo de pessoa. Embora ela não soubesse o nome da minha ex-namorada.

— Hoje nós sabemos disso, mas na época nós não a conhecíamos. Desculpe por nosso pensamento egoísta. Claire é uma pessoa maravilhosa e vocês formam um casal lindo, de verdade. Ela nunca me perguntou sobre o motivo que fez eu e os meus dois melhores amigos nos afastarmos, principalmente pelo fato de ela saber que esse assunto me machucava.

— Obrigado, Hermione. - Sorri fracamente pelo elogio.

— Nós também sentimos sua falta, Harry. Você nos perdoa?

— Eu não tenho nada para perdoar, Mione. Só quero que nossa amizade volte… não vou ser hipócrita e pedir que passemos a nos falar todos os dias, porém, eu quero poder contar com vocês em todas as situações e saber que vocês também podem contar comigo.

— Nós nunca duvidamos disso, cara.

Aproveitei a deixa e abracei os dois. Senti as lágrimas de Hermione molhando minha camiseta e os tapinhas de Ron nas minhas costas. Quando nos separamos, percebi Claire vindo em nossa direção com um grande sorriso no rosto.

— Eu sempre esperei por esse momento. Vocês são os amigos mais unidos que eu já conheci, não gostava da ideia de vocês separados. - disse apertando minha mão.

— Espero que nunca mais fiquemos separados - comentou Hermione, recebendo um abraço de Ron pela cintura.

— Nem eu. - disse ele, que depositou um beijo no pescoço da minha amiga.

Eu ri de forma leve pela primeira vez em anos. Parece que um peso enorme saiu das minhas costas. Eu, finalmente, teria os meus amigos de volta.

— Harry e Claire, vocês nos dão licença por um minuto? Combinamos de esperar o Neville aqui no bar, mas ele mandou uma mensagem um pouco antes de você, Harry, chegar avisando que o carro dele quebrou e se nós podíamos buscar ele a Luna - comentou Hermione.

— Ah, claro. Vocês querem ajuda? - Claire disse olhando para mim.

— Não é necessário. Parece que ele já acionou o seguro, mas eles só poderão ir na casa dele ver o carro amanhã de manhã. Como ele já tinha comprado o ingresso dos dois, nós nos oferecemos para buscá-los. Devemos estar de volta em breve. - falou Ron, colocando a mão no bolso para tirar as chaves do carro.

— Okay. Avisa o ocorrido na portaria e diz que qualquer problema pode vir falar comigo. - Afirmei.

— Obrigado, cara.

Ele e Hermione se despediram rapidamente e seguiram em direção à porta. Aproveitei que o casal tinha saído e abracei Claire bem forte, como que transmitindo para ela o quanto eu estava feliz. Ela retribuiu o gesto e afundou o rosto no meu peito. Com todo o amor que sentia nesse momento, puxei o queixo dela para cima e dei um beijo longo na minha namorada.

Quando voltei à realidade, reparei um par de olhos castanhos que me olhava com um semblante, ao mesmo tempo, surpreso e assustado. Ginny tinha acabado de perceber que eu e Claire estávamos juntos, que éramos, de alguma forma, um casal.

***

 


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Notas finais do capítulo

N/A: Oi, pessoal, tudo bem? Queria dizer – antes que todo mundo me mate, rs – que a Claire é uma pessoa maravilhosa e que não é preciso odiá-la. Sério! Eu não consigo vê-la como alguém do “mal” ou algo do tipo, mas como alguém que ama uma pessoa que já sente alguma coisa muito forte por outra, que nesse caso é o Harry. É dessa forma que eu a escrevo e tento retratá-la para vocês! Em relação ao capítulo: finalmente Harry, Hermione e Ron tiveram uma conversa de adultos sobre a relação deles. Quero saber a opinião de vocês sobre tudo e, principalmente, sobre o final, né? Grande beijo e até a próxima!



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