Complicated escrita por Ana Carolina Potter


Capítulo 7
Capítulo 6




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Capítulo 6 - Ginny IV

Minha primeira semana de trabalho foi, como eu poderia dizer, okay. Amélie era uma ótima chefe e sempre me dava desafios para cumprir durante o expediente, principalmente na área de mídia sociais, algo que eu adorava desde o começo da faculdade. Dean se mostrou um excelente colega de trabalho e me mostrou quase todos os cantos da universidade que eu poderia imaginar.

Conforme os dias foram se passando, eu estabeleci uma rotina agradável: acordava, me trocava, tomava café da manhã, pegava o metrô até o trabalho, cumpria o expediente, voltava para casa de metrô e procurava descansar no período noturno. Eu já tinha feito o meu trabalho de conclusão de curso, por isso, não estava preocupada com outras atividades da faculdade.

A primeira semana de trabalho coincidiu com a minha primeira festa em Londres. Hermione e Ron, juntamente à Luna, me levaram para uma festa de república promovida pelos amigos do meu irmão. Confesso que me senti deslocada: eu não conhecia ninguém, as músicas eram diferentes das que eu ouvia em Miami e as pessoas me olhavam com certa curiosidade, como se nunca tivessem visto uma pessoa que tenha feito intercâmbio ou estudado em outro país. Foi bizarro, mas me rendeu pelo menos alguns bons beijos de um antigo colega de classe de Hermione, que era gentil e engraçado.

E durante esse período de experiência no estágio e adaptação em solo britânico também teve a troca de e-mails com Harry. Megan me disse que foi muito maduro da parte dele deixar o passado para trás e tentar uma relação amigável comigo, principalmente porque teríamos que nos ver com certa frequência durante este semestre. Ela ainda continuava, no entanto, o achando um idiota por ter caído na armação da “Bela Adormecida” que foi feita contra mim.

Disse a ela que eu tinha me prometido dar uma chance ao que o Harry tinha me proposto. Mas confessei a ela que eu tinha uma “certa” pulga atrás da orelha, uma vez que eu sabia o quanto ele era teimoso diante de diversos assuntos.

Em nossa conversa pelo Facetime, Megan me confortou em relação ao meu antigo namorado e me disse para aproveitar mais Londres: sair, conhecer novas pessoas, deixar que as feridas antigas fossem curadas e, acima de tudo, fazer um bom trabalho no estágio para conseguir uma ótima carta de recomendação e voltar para os Estados Unidos assim que possível. Ela também me contou como estava sendo o seu estágio e que estava “pegando” um cara dez anos mais velho que ela, o que me rendeu ótimas gargalhadas. Megan sabia aproveitar a vida, eu tinha que reconhecer.

Dois dias depois da festa que fui com Ron, Hermione e Luna, Harry mandou solicitações de amizade nas redes sociais. Deixei o convite em aberto e decidi esperar para ver o que poderia dar. Não estava afim de ver sua felicidade no feed de notícias - já me bastava ter que ver sua casa sempre que eu saísse da minha.

Sem falar que os e-mails me deixavam com um certo arrepio na espinha. Ele era sempre muito educado e solícito quanto aos meus pedidos de informações para promover a semana de recepção. Dean e eu estamos organizando algumas táticas de comunicação para o evento, por isso, eu era obrigada a me comunicar com Harry quase todos os dias para alinhar as estratégias, já que ele era o presidente do centro acadêmico.

Em menos de 30 minutos, ele me respondia com detalhes sobre o que eu precisava e se colocava à disposição para o que eu precisasse. Era essa solicitude que me deixava apreensiva em relação a minha nova convivência com Harry, pois eu não sabia onde eu estava exatamente me enfiando.

Hermione me contou que Harry tinha se afastado deles, sem grandes motivos. Na realidade, eu sabia que era por minha causa - afinal, eu era irmã e cunhada dos seus dois melhores amigos e, por isso, deveria ser estranho ele continuar mantendo uma relação amigável com pessoas que lembravam minha presença, onde quer que ele fosse. Ela me confessou que não houve brigas e que sentia, de certa forma, saudades do seu amigo de infância. Não consegui esboçar nenhuma reação diante desse comentário de Hermione, por isso preferi ficar em silêncio e tomar um gole da minha bebida quando ela me disse isso durante nosso chá da tarde.

Na semana seguinte ao meu início no trabalho eu conheci uma garota chamada Claire. Ela era a vice-presidente do centro acadêmico e também participava da organização da semana de recepção. Diferentemente de Harry, com ela eu conseguia ser eu mesma e, por isso, eu tinha impressão que o meu trabalho rendia mais.

Claire me parecia uma pessoa simples, educada e muito inteligente. Dean me contou que ela era a primeira aluna da turma dela e, provavelmente, iria receber o prêmio de honra ao mérito concedido aos primeiros alunos de cada turma no fim da graduação. Realmente, ela era uma pessoa muito simpática, que possuía uma conversa fácil e adorava piadas nerds. Descobri que ela tinha um fascínio pelo livro Orgulho e Preconceito, assim como eu, e que amava The Fray, embora, segundo ela, seu namorado a tenha feito gostar de Foo Fighters nos últimos meses.

E era sobre isso que estávamos conversando quando Dean chegou para trabalhar depois do almoço.

— O que vocês estão discutindo, meninas? - Ele se sentou na sua mesa, enquanto ligava o monitor do computador.

Eu gostava dos objetos que ele deixava como decoração em sua mesa: alguns funkos de Star Wars, livros sobre fotografia e uma foto de seus pais. Ele realmente tinha bom gosto para filmes.

— Sobre Foo Fighters. Eu estava contando à Ginny que eu peguei um certo gosto pela banda nos últimos anos. Eu até vou no show deles nas próximas semanas. - Claire contou toda animada enquanto olhava as anotações das últimas reuniões do centro acadêmico. A morena de cabelos ondulados era extremamente organizada, quase uma Hermione com suas fichas de estudo. Não me surpreenderia se as duas não competissem para ver qual era a mais inteligente da University of London.

— Nem sabia que eles iam tocar em Londres. Eu tive a oportunidade de ir ao um show deles em Nova York com minha amiga. A energia é tão incrível que vale a pena. Você vai gostar bastante. - Eu me arrumei na cadeira enquanto me lembrava do show que compartilhei com Megan anos atrás.

— Meu namorado está mais animado que eu, na verdade. Ele sempre quis ver o Dave de perto. Tá decorando todas as músicas do último CD e está me fazendo decorar as antigas para poder cantarmos juntos. Toda vez que saímos juntos no carro dele, eu sou “obrigada” a ouvir a banda.

— Run é maravilhosa, mas eu prefiro These Days.

— Ah, você é das fãs antigas?

— Eu costumava ouvir muito na adolescência por causa dos meus irmãos e de um amigo. - Harry e eu ouvíamos demais quando namorávamos.

— Você devia ir, Ginny. Dizem que o segundo show que vemos de nossa banda preferida é ainda melhor - comentou Dean. Ele virou sua cadeira em minha direção, desgrudando seus olhos da arte que estava preparando para a semana de recepção.

— Não sei, de verdade. Mas vamos ao que interessa: como estão as artes?

Passei o restante da tarde conversando com os dois e organizando os detalhes da primeira ação da semana. Eu não sabia se já podia considerá-los como amigos, mas a companhia dos dois deixava o meu dia muito mais gostoso.

***

Na sexta-feira, eu estava caminhando até a estação de metrô para ir ao trabalho quando um carro preto parou ao meu lado. Eu não reconhecia o modelo e, muito menos, a placa, por isso apressei o passo para me distanciar do veículo. Vai que era um maluco tentando me assaltar, não é mesmo?

— Que tal uma carona, Ginny? - olhei em direção ao vidro do carro, cujo motorista tinha abaixado para poder falar comigo. Harry estava com os cabelos molhados, de camiseta cinza e calça jeans e parecia muito relaxado, como se estivesse feliz pelo fim de semana ter finalmente chegado.

— Não precisa, Harry! Muito obrigada.

Era só o que me faltava: Potter decidiu ser solícito comigo até no caminho ao trabalho. Comecei a apressar ainda mais o passo e cruzei os meus braços para espantar o ar frio que começava a soprar naquele horário da manhã.

— Não é nenhum incômodo. Eu tenho que ir fazer minha matrícula na faculdade e, como nós dois vamos para o mesmo lugar, não me custa te oferecer uma carona. Vamos lá? A menos que você não esteja indo para o trabalho... - Ele estacionou o carro no meio-fio enquanto falava comigo. Eu poderia continuar negando, porém, eu sabia que ele insistiria até eu aceitar sua oferta.

— Okay. Mas não pense que eu estou abusando - brinquei enquanto abria a porta do carro e me sentava no banco do passageiro. Prontamente, ele veio em minha direção e me deu um beijo na bochecha. O perfume que ele usava ainda era o mesmo de anos atrás.

Consegui disfarçar os efeitos que esse ato me causou ao colocar o cinto de segurança, no entanto, percebi que ele me olhou com atenção, principalmente para a roupa que eu estava vestindo, que era um vestido florido e um casaco fininho. Harry colocou o carro em movimento e eu pude perceber os detalhes do veículo. Eu tinha que confessar que ele tinha bom gosto para escolher “possantes”. Não era o mesmo de quando namorávamos.

— Então, Ginny. Tá gostando do estágio? - Ele me perguntou quando paramos no semáforo.

— Sim, está ótimo. Eu mexo com redes sociais, algo que eu sempre gostei. E Dean está sendo um excelente colega de trabalho, gosto bastante da companhia dele. Conheci a vice-presidente do centro acadêmico esses dias. Ela também é bem legal. - Percebi quando ele se mexeu desconfortável no banco, fato que eu estranhei. Será que ele não gostava dela? Bem, se ele não gostava, ele teria que aguentá-la por, pelo menos, mais seis meses, já que trabalhavam juntos. Mas isso era problema dele, né!

— Claire é maravilhosa mesmo. Mas você anda saindo? Como está sua volta a Londres?

— Ah, eu fui a uma festa com Ron, Hermione e Luna em uma república que eu não vou lembrar o nome. Foi divertida.

Harry engatou a marcha para continuarmos o trajeto. Tinha esquecido o quão sexy era vê-lo dirigir. “Ginny, pode parar já com esses pensamentos pecaminosos. Lembre-se que ele é o Potter, cabeçudo, mané, idiota e que não vale seus encantos belos e topíssimos. Lembre-se, garota!”.

— Deve ter sido na Wolfers, eu acho. Me convidaram para essa festa, mas eu tinha uma viagem marcada no dia seguinte, então, achei melhor cancelar minha participação. Você gosta de festa de república?

Ele estava concentrado no trânsito, por isso, não notou quando eu encarei suas mãos no câmbio do carro. Harry tinha algumas veias saltadas nas mãos, algo que eu sempre achei sedutor e que, infelizmente, era um dos meus atrativos para homens. O que eu podia fazer se eu gostava de mãos fortes com veias saltando?

— São diferentes das festas que eu costumava frequentar em Miami. É meio desorganizada essa coisa de promover eventos para muitas pessoas em sua própria casa. Eu fico imaginando o dia seguinte, eles tendo que limpar toda a sujeira, lama, bebida que caiu no chão…

Harry soltou uma gargalhada.

— O pessoal da Wolfers tem uma faxineira contratada justamente para isso. Ela passa o dia todo na casa só para retirar a lama do chão, que foi deixada pelos sapatos dos convidados. O legal mesmo são as histórias que saem das festas de república: o pessoal não tem limites.

— Como assim? - me sentei mais confortavelmente no banco, virando para ele. Harry me olhou com ar de riso.

— Normalmente as melhores histórias da faculdade saem dessas festas. Pessoal bebe demais, fala muita besteira, fica meio inconsequente. Tem gente que vai pegar placas depois que sai da república ou roubar um carrinho de supermercado. Já presenciei até banhos em fontes de praças depois de uma grande bebedeira do povo.

— Ressaca deve reinar, né?

— Com certeza, até porque a bebida oferecida não é de tão alta qualidade. O povo compra a mais vagabunda e barata que tiver no centro de distribuição. O importante é ficar bêbado!

Permanecemos em silêncio enquanto Harry fazia a rotatória que nos levaria para o bairro onde ficava a universidade.

— Você sente falta dos Estados Unidos? – Percebi que ele tentava, de todas as maneiras, manter a conversa que tinha estabelecido comigo.

— Confesso que sim, mas, principalmente, dos meus amigos.

— Você tinha muitos amigos lá? - Ele olhava para o trânsito com toda a atenção do mundo, porém, ainda mantinha um olhar de canto para a nossa conversa. Notei, nesse momento, que ele não estava falando comigo apenas por educação… Harry queria mesmo saber da minha vida, dos meus hábitos… era quase como se fossemos amigos.

— Sim, eu tinha. Tinha não… eu tenho! Eu converso todos os dias com a minha roomate, a Megan.

— Imagino que deve estar com saudades.

— Muitas!

Ele manobrou o carro para chegar na rua da faculdade.

— Você quer voltar para a América quando terminar o estágio?

Eu não queria contar os meus planos para Harry, mas eu não vi porque eu deveria mentir sobre esse assunto. Não era como se ele fosse espalhar para outras pessoas. Decidi, portanto, dizer uma meia verdade.

— Preciso voltar para pegar meu diploma. Depois, só  tempo dirá!

Ele seguiu pela portaria e começou a procurar uma vaga para estacionar o carro.

— Sua mãe ficará arrasada se você voltar para os Estados Unidos. Ela sentiu muito a sua falta, Gin.

Como ele sabia dessa informação? Eu não tinha a mínima ideia, contudo, a fala dele me pareceu sincera.

— Ela tem outros filhos para cuidar, Harry. - Comecei a pegar minhas coisas para descer do veículo, já que ele tinha estacionado na vaga próxima ao prédio onde eu trabalhava.

— Mas nenhuma é a menina dela, né?

Ele tirou o cinto de segurança e eu já estava me preparando para agradecer pela carona e sair do carro quando ele me chamou.

— Gin?

— Sim!

— Obrigado por ter aceitado a carona. É muito bom poder conversar com você novamente. - Harry me pareceu tão sincero nessa afirmação, me olhando com seus orbes verdes tão brilhantes por detrás dos óculos, que eu reparei que eram mais modernos que os últimos pares que eu estava acostumava da nossa adolescência. Fiquei tão sem defesas que pensei em correr do carro, mas eu não era essa garota! Sendo assim, procurei responder com a mesma verdade que eu vi nele.

— É muito bom poder conversar com você também, Harry. Sem todas as mágoas que nos cercam. É ótimo não ter que brigar com você!

Ele virou o corpo na minha direção.

— Graças a Deus! Eu sempre perco nas discussões que eu tenho com você!

Nós dois rimos.

— Mas sério. É ótimo poder restabelecer nosso contato, conversar com você. Nesses últimos anos, eu achei que nunca mais iria te ver ou ouvir sua voz. Poder ter isso de volta é reconfortante.

Já que ele tocou nesse assunto, eu “liguei” o foda-se e me virei em sua direção. Eu queria conversar com ele sobre esse tópico desde a última vez que nos vimos, há quatros anos. Na época, ele não me deixou falar, então, ele iria escutar nesse momento.

— Você finalmente acredita que eu não fiz aquilo?

Ele foi pego de surpresa. Acredito que não esperava que eu entrasse nesse assunto tão rapidamente.

— Depois que você foi embora - ele respirou fundo - eu entrei em depressão, Ginny. Eu fiquei realmente mal, porque, no fundo, eu sabia que não era você naquele momento, no entanto, ver a cena me deixava com ódio. Caramba! Era o Malfoy e você sabe o quanto eu odeio traição, o quanto isso é um assunto proibido na minha família - ele bateu a mão no volante, como se ele estivesse com raiva.

Uma chave estralou no meu cérebro: Harry não gostava de traições, porque James - quando ele era criança - traiu Lily. Era um tópico censurado na casa dos Potter e que demorou anos para minha madrinha superar. Hoje, no entanto, eu os via como o casal perfeito que eu desejava ser com o meu futuro marido um dia, assim como meus pais.

— Eu não conseguia acreditar no que os meus olhos viam, porque era minha namorada com o cara que eu mais odeio nesse mundo. No fundo, bem no fundo, eu sabia que você não poderia ter feito aquilo.

— Harry, alguém me dopou… - ele colocou a mão para o alto, no intuito de me silenciar para continuar seu raciocínio.

— Sua madrinha ficou doida comigo. Ela me dizia que eu tinha que ter, pelo menos, ouvido sua versão e quando eu comecei a não ter nem vontade de viver, ela surtou e me levou no médico. Comecei a fazer terapia e eu brinco que isso mudou meu jeito de ver as coisas que a vida me entrega.

Me surpreendi: nunca imaginei que Harry tinha ficado nesse estado após o término do namoro.

— Eu pensei em te ligar várias vezes nesse tempo. Em te visitar nos Estados Unidos ou, até mesmo, em te caçar nas redes sociais, mas meu orgulho falou mais alto. Eu coloquei uma venda nos meus olhos e fingi um ódio que eu não tinha, de verdade. Foi preciso que Remo e, novamente, minha mãe - Ele riu. Nós dois sabíamos que Lily era impossível quando queria - me abrissem os olhos. Eles me pediram para que eu buscasse estabelecer uma relação, pelo menos, profissional com você, pois, querendo ou não, teríamos que conviver nesse semestre. Nós últimos dias eu vi que eles estavam certos e que eu queria tentar para ver o que esse caminho iria me levar.

— Mas você não me respondeu, Harry. Você ainda acredita que eu fiz aquilo?

Eu queria ouvir da boca dele que ele sabia que eu não tinha beijado o Malfoy.

— Você quer saber o que eu acho daquela noite?

— Sim. - Me acomodei melhor no banco, não ligando para o meu horário de entrada no estágio. Que se dane! Eu quero ouvir o que Harry pensa sobre aquele momento, eu quero que ele acredite que eu nunca o enganei.

— Eu fui enganado naquela noite, Gin. Não estou dizendo que você tenha me feito de otário - ele complementou quando eu abri a boca para retrucar - Eu acredito que alguém armou para nós dois, mas não sei quem poderia ter feito isso. Malfoy não faria aquilo sozinho, porque foi muito bem executado. Ele teve ajuda de alguma pessoa, alguém que não gostava de você, muito provavelmente. Só não entendo o que essas pessoas ganharam…

— Talvez a satisfação de nos ver separados?

— Muito possivelmente, Gin. Quando eu penso naquele dia, eu fico muito mal, porque eu vi o quanto eu fui injusto com você, porém, a raiva que me atingiu foi tão grande que eu fiquei louco.

— Você sempre teve uma tendência ciumenta, Harry.

Ele cai na gargalhada.

— Pensando com clareza, eu busco acreditar que não é sua culpa, mas o estrago já está feito, né? Não temos como voltar no tempo e usar algum feitiço para reverter o que ocorreu.

O homem na minha frente tinha toda a razão do mundo.

— O que nos resta é continuar e tentar mudar o presente - digo com toda a convicção.

— Todo mundo me diz que eu tenho que te dar uma nova chance, Gin. Não para voltarmos a ser namorados, eu nem te pediria isso. Mas para que possamos reconstruir a amizade que sempre tivemos. Eu venho pensando nisso e eu me sinto pronto para tentar ser seu amigo de novo. Sinto falta da sua companhia, porque, muito antes de sermos um casal, nós sempre fomos melhores amigos. Por isso, você pode me perdoar, Ginny? Quero ser novamente seu melhor amigo!

Suas palavras caíram como uma bomba em mim. Eu sempre esperei que ele me pedisse desculpas, mas nunca imaginei que seria em um clima tão bom, tão calmo. O Harry que eu conheci jamais pediria perdão de forma tão tranquila. No mínimo, ele brigaria comigo para que, no final, eu acabasse pedindo desculpas por algo que não seria minha culpa - pelo menos era assim em todas as brigas que tivemos. Quero o telefone desse terapeuta, porque ele ou ela é realmente muito bom!

— Eu te perdoo, mas quanto a sermos amigos novamente, como éramos, eu acho que podemos ver onde esse novo caminho vai dar, como você mesmo disse, não?

— Com certeza.

Harry foi em minha direção e me abraçou com força. Deixei que todas as minhas tristezas e o nosso passado ficassem enterrados nesse momento, onde deixei as lágrimas caírem como há anos eu não deixava. Senti quando ele me puxou ainda mais e colocou seu queixo no topo da minha cabeça. Pude sentir suas lágrimas também molhando meus cabelos, assim como eu molhava sua camiseta.

Foi como se nós tivéssemos nos libertando de todas as mágoas, ressentimentos e palavras de raiva ditas e não ditas. Ele fazia um carinho tão gostoso nas minhas costas que eu desejava que esse momento ficasse eternamente em minha memória.

Ele sempre foi louco pelo meus cabelos e, por isso, não estranhei quando ele aproximou seu nariz dos fios começou a cheirá-los como se fosse uma espécie de droga. Eu me aninhei no seu peito com a intenção de me acalmar, mas eu só conseguia pensar em como seu cheiro era delicioso, em como seu corpo era perfeito. Harry deu um beijo no topo da minha cabeça, atitude que fez com que eu despertasse e notasse que eu estava atrasada para o trabalho.

Desencostei do seu peito, ele secou minhas lágrimas e me deu outro beijo, mas esse na minha testa. Me olhei no espelho retrovisor para me arrumar antes de dizer que precisava correr para o estágio, porque eu estava atrasada.

Percebi que Harry estava meio desnorteado.

— Tinha esquecido, Gin. Me desculpa! - seus olhos estavam brilhantes pelas lágrimas que ele também tinha derramado.

— Sem problemas.

— Eu te acompanho, eu preciso fazer minha matrícula mesmo!

Nós saímos do carro, ele acionou o alarme e caminhamos em direção ao prédio da faculdade em que eu trabalhava. Harry me deixou na minha sala e se despediu dando um beijo na minha bochecha antes de seguir até a secretaria para acertar seus horários.

Me sentia anestesiada, tanto que não percebi quando Dean chamou meu nome.

— Mundo da Lua chamando Ginny. Mundo da Lua gritando por Ginny.

— Oi, Dean, me perdoa, eu estava distraída.

Ele riu enquanto pegava um café e ia em direção a sua mesa.

— Eu percebi. Está tudo bem?

— Está sim. Agora está tudo ótimo. - Sorri para a porta. Eu não sabia o que futuro me reservava em relação à Harry, mas o presente tinha sido muito bom comigo no dia de hoje.


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Notas finais do capítulo

N/A: Esse foi, sem dúvidas, um dos capítulos mais difíceis de se escrever. Eu demorei semanas para deixá-lo perfeito, pelo menos do jeito que eu acho que deveria ser uma conversa entre os dois. Espero que vocês tenham gostado e, por favor, me façam feliz: deixem comentários para essa pobre autora :P Grande beijo.