Momentos da Vida (Wolverine e Ohana) escrita por lslauri


Capítulo 41
Experienciando o Gatotsu




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/722294/chapter/41

texto em itálico são pensamentos

palavras em negrito são enfáticas na entonação

os nomes de quem fala estão antes de cada fala, em negrito apenas para que saibamos quem são

—-

EXPERIENCIANDO O GATOTSU

Sagara/Saitō não suportava traição! Foi por não a suportar que ele caçou e matou quase todos os integrantes do Shinsengumi e sendo da polícia isso permitia com que agisse com vistas a “cortar o mal pela raiz” (Aku Soku Zan). Era isso que guiava sua vida, era esse seu maior lema que ele, nos casos mais resistentes, fazia cumprir através de seu famoso golpe “Gatotsu”.

Ao passar correndo pela área dos policiais, outros dois foram atrás dele, só aguardando ordens e, assim, o trio entrou em um carro e partiu, rumo à casa de Yukio e Amiko. A sua comedida calma havia retornado e os movimentos, apesar de rápidos, não denotavam mais contrariedade. Ele já sabia como seria: teria que enfrentar o mutante e sua protegida, para que a justiça fosse feita e o caminho para suas ambições pessoais pudesse ser, finalmente, realizado.

Pelo rádio, os outros policiais do distrito informaram sobre a caça ao mutante gaijin e qual o próximo passo a seguir, com descrição física e dos poderes, bem como informando sobre Yukio e a possível acompanhante, descrevendo-a como a mais perigosa dos três.

Dentro da delegacia, Ohana bebericava uma xícara de chá de modo despretensioso, enquanto pensava em como abordar as policiais para descobrir algo sobre o ocorrido… Acontece que ela estava pensando pequeno! Como uma mera humana… Se Logan tinha escrúpulos ou ego demais para pedir auxílio aos X-Men a ruiva não precisava tê-los! E ela sabia que podia contar com aquela família incrível para todo e qualquer problema! Pegando uma bolachinha amanteigada e fechando os olhos para se concentrar, Ohana imagina a figura de Charles Xavier em sua frente, enquanto ambos estavam em pé, dentro de um ambiente estéril *Charles, você pode me ouvir?* ele emitiu ondas vibracionais mentais, aguardando pela resposta do tutor… Após um silêncio incômodo que obrigou Ohana a abrir os olhos e beber mais um gole do chá para disfarçar, uma voz nítida e calorosa aparece em sua mente *Olá, querida Ohana, estou aqui, no que posso ajudar?!*

Ohana: *Professor! Como o senhor está? Se puder perscrutar minha mente e ver os últimos acontecimentos, agradeço…*— e após responder positivamente, a ruiva tem sua mente como se um cobertor morno se estendesse por ela e fosse capaz de alcançar todas as nuances da sua existência; esse sentimento persiste por alguns minutos e, em seguida, o Professor se pronuncia:

Prof. X: *Hum… Que situação complexa, minha filha… Eu soube de alguma coisa pelo próprio Logan, pois ele me pediu para checar se Amiko havia conseguido destruir todas as amarras psíquicas da lavagem cerebral do Tentáculo. Ela conseguiu, Ohana, como você já sabe pelo próprio Logan… Acontece que o senhor Sagara não sabe disso e, algo me diz que se souber, não alteraria  muito sua opinião. É uma pessoa de gênio forte e, coisa que poucos sabem, um mutante também.*

Ohana: *O Capitão de polícia é mutante?! Qual é a habilidade dele e por que a esconde, Professor?*

Prof. X: *Ele é tão velho quanto Logan, ao que parece, também tem alguma capacidade regenerativa e some-se a isso sua astúcia e maestria no kenjutsu e teremos um rival à altura de Logan, não é, minha cara? Os motivos de esconder o fato são o receio de que isso atrapalhe seus planos políticos...*

Ohana: *Eu queria ser capaz de ajudar para que não houvesse esse combate! Mas sei que minha posição atual não permite… Mas talvez, tendo uma visão de fora do problema, o senhor possa me dar alguma perspectiva, sabe?*

Prof. X: *Podemos conversar com as duas policiais sobre o ocorrido e ver o quanto elas aceitariam disso… Uma delas é mãe, a outra é irmã e filha… São postos capazes de criar empatia, dependendo de como forem abordadas. O que me diz?*

Ohana: *Eu aceito qualquer ideia que possa me tirar da imobilidade, Professor! Vou conversar com elas! Muito obrigada!*

Prof. X: *Não há de quê! E eu estarei por aqui, pois respondendo a sua pergunta sobre o como eu estou, creio que meu corpo está quase realizando a viagem de retorno, minha filha…*

Ohana não se conformar em ouvir aquilo daquele modo que parecia quase leviano para ela, como se a morte dele não fosse importante!

Ohana: *Como assim, Charles?! Está me dizendo que está morrendo? E eu o chamei bem nessa hora?*— a projeção mental da ruiva gesticula, entristecendo o cenho e pedindo para ter entendido errado.

Prof. X: *Bom, pelo que podemos perceber, eu não estou morrendo! Nunca me senti tão vivo quanto agora! Eu posso, praticamente, ter acesso às mentes de todos nesta delegacia, quiçá no quarteirão! Isso é algo que eu não faço desde os meus 30 anos, Ohana… Tenho certeza de que com a morte do meu corpo, essa mente persistirá! Será diferente, mas continuarei sendo eu mesmo, de um modo intangível e diferente, mas ainda eu mesmo e, ao que parece, sem os empecilhos do meu corpo degenerado… Tudo isso é muito instigante!...*

Ohana desliga, pela emoção, o elo mental e retorna com os olhos marejados, obrigando-se a engolir outro biscoito para que as policiais não percebessem algo de errado. Sua mente solta um doloroso “Charles…” enquanto pensa também nos outros Filhos do Átomo, todos órfãos… O quanto Logan sofreria silenciosamente?

Em algum outro ponto de Tóquio, três pessoas estavam sentadas nos fundos de uma lanchonete que alegava ser ocidental, muito mal cuidada. Todos com roupas comuns das ruas do Japão, pedindo à garçonete uma porção de fritas, dois cachorros-quentes e três refrigerantes grandes. O terceto estava reunido ali por essa lanchonete ser muito conhecida pelos espiões e ninjas de plantão. Ali se comia bem, barato e se podia conversar sobre tudo, pois para manter a tradição, a família toda era surda e fazia questão de não aceitar tecnologia dentro do seu recinto.

Wolvie: /Então é isso, meninas… Os rádios da polícia estão gritando nossos nomes e descrições, Yu… E alegando que você está sempre acompanhada por uma adolescente, possivelmente sua filha e, pelo modo como descreveram, o alvo é essa terceira pessoa… Sagara é mesmo astuto e, de algum modo, descobriu…/ - comentava casualmente o canadense, enquanto bebia aos goles o refrigerante.

Yukio: /Não teríamos problemas em nos esconder ou mesmo sumir do Japão… Podíamos ir pra Madripoor, Logan. Mas a questão é que isso não resolveria nosso problema. Só adiaria algo que, sinceramente, o quanto antes terminarmos, melhor! Não é?/ - mordendo gostosamente um cachorro-quente, com algum molho de tomate e mostarda.

Amiko já tinha entendido que eles estavam apenas superficialmente despojados, suas preocupações reais advinham do que Sagara poderia fazer a ela, pelas mortes causadas durante seu momento de “lavagem cerebral”; por algum tempo, essa atitude despreocupada tinha funcionado em deixar a mais jovem tranquila, contudo, quando os dois começaram a agir como se não tivessem que se preocupar de modo algum, aí ela precisou intervir...

Amiko: /Gente… Eu saquei que estão tentando me proteger, em certo ponto, de mim mesma… Mas e seu eu me entregasse pro tal Sagara? Afinal, eu não tenho intenções de sair ilesa do que fiz, sabe?/ - os olhares dos dois eram de incredulidade mesclada com orgulho do que a pequena havia se tornado.

Wolvie: /Se o Sagara fosse seguir os protocolos da polícia no teu caso, eu super ia concordar contigo, saca? O problema é que só te prender não vai ser o suficiente pra ele... Conheci pessoas assim minha vida toda! E o problema delas é não aceitar a capacidade de mudança dos outros. Eles acham que só eles mudam e ficam melhores nessa vida… Egoístas de merda!/ - pegando várias batatas e comendo de uma vez.

Yukio: /Bom, uma coisa é certa: ele não faz parte do Tentáculo. Tudo que está tramando é para favorecer a si mesmo, o que não deixa de ser um alívio, né? Pensar que ninjas teriam planos de subir ao cenário político japonês de modo mais ostensivo do que simplesmente manipulando alguns políticos de carreira aqui e ali é algo que mereceria ser cortado na raiz! Posto isso, querida Amiko, percebe por que não podemos deixar que se entregue? Precisamos enfrentar o Sagara, e somente ele, o que poderá ser quase impossível, para tentar colocar um pouco de juízo na sua mente!/

Wolvie: /Mesmo que tu quer enfrentar o escroto por isso? Eu quero é colocar três garras na mente dele!/

Amiko não deixa de rir dos dois, sempre discordando em tudo e sempre tão perfeitos para ela… Ao serem pegos pela risada da garota, os dois sorriem também, mas já afiam as mentes para tentar pensar num meio de conseguir o impossível: que um Capitão de polícia aceite se encontrar com eles sem a polícia… O que poderia motivá-lo?

De volta à Delegacia, Ohana reúne coragem para abordar as duas policiais e conseguir alguma informação sobre o Capitão que pudesse ser utilizada em uma batalha. Depois da morte de James Ohana havia se reaproximado de Deus em seus pensamentos, mesmos porque se achava indigna de dirigir-se ao filho diretamente e pedia sempre aos anjos que o protegessem. Partindo dessa premissa, ela pensou que fosse como Deus achasse melhor, independente daquilo que nosso egoísmo quer.

Ohana: /Peço perdão, policiais, mas fiquei bastante receosa com o comportamento do Capitão Sagara mais cedo… Ele poderia machucar meu marido? Entendam como uma dúvida plausível de uma esposa preocupada!…/ - e levantou-se, fazendo reverência com o tórax e permanecendo assim em sinal de respeito a elas.

As duas entreolharam-se e, mesmo sem Ohana saber, com uma ajudinha de Charles que, como havia prometido, ficou por ali para ajudá-la, a primeira policial, que era casada e tinha um filho tomou a palavra:

Policial 1: /Nunca o vimos assim, sra. Rogan! Esse caso dos assassinatos está realmente perturbando sua paz interior…/ - e, encontrando eco no rosto da companheira, ela solta: /O Capitão é muito reservado… Nunca soubemos nada da vida particular dele, mas sempre nos questionamos sobre isso e, bem…/

Charles aproveitou o hiato para estimular levemente o sistema límbico da segunda policial que funcionou melhor do que ele esperava!

Policial 2: /Ah! Qualé, Kaoru? Ser policial não é fazer parte de uma seita, não devemos nenhuma lealdade absurda a esse capitão! E eu sei que assim como eu, você achou um absurdo ele manter uma civil presa aqui, sem nenhuma acusação contra ela!/

Kaoru: /Isso é verdade, sra. Rogan… Isso é cárcere privado. Legalmente, eu e Akemi não podemos mantê-la aqui…/

Akemi: /Sem contar que o sr. Sagara usa a presença da senhora pra chantagear seu esposo! Ultrajante!/

Ohana: /Puxa! Kaoru, Akemi… Eu nem sei como agradecer por suas palavras! Eu só posso dizer que estou à disposição se precisarem de mim, tenho certeza de que meu esposo também. Se… ele se livrar dessa, claro!…/ - essa última sentença foi falada muito para dentro, mas, ainda assim, audível às policiais presentes. - /O que eu queria mesmo é poder ajudar Logan de algum modo! É a primeira vez que venho ao Japão, não tenho nem ideia dos locais que ele me levaria, por isso não tenho do que reclamar quanto a esse “cárcere”, sabem?…/

Akemi: /A Kaoru estava querendo dizer que alguns de nós o consideram “mutante”, sabe? Algumas vezes ele se entrega, usando composições gramaticais muito antigas pra nossa era… Alguns acham que ele é imortal, sra. Rogan!/

Kaoru: /Ah! Akemi! Não temos como provar nada! Não diga besteiras que podem nos prejudicar!/

Ohana: /Fiquem tranquilas, eu nada comentarei com ninguém… Apenas seria uma informação interessante se pudesse ser confirmada, não é? Daria ao meu esposo alguma vantagem numa eventual batalha… Mas eu entendo que já se comprometeram demais! E agradeço muito, pois com essa informação poderei pedir ajuda aos meus amigos, os X-Men./

As duas arregalaram os olhos e cochicharam entre si, tinham esquecido que ambos eram ligados ao maior Instituto de mutantes já criado na Terra. Era emocionante estar diante de uma das integrantes, elas queriam saber algumas histórias, algo que pudessem contar aos conhecidos e foi assim que as três passaram o restante das horas, até o início da tarde. Não antes de Ohana comunicar à mente de Charles se ele queria fazer papel de espião desta vez? Não foi necessário insistir no convite, o Professor, já mais liberto do corpo e, ao que parece, de alguns escrúpulos, aceitou na hora e deu uma pesquisada pelas ruas de Tóquio até encontrar Hidochi Sagara, ainda na viatura a caminho da casa de Yukio e Amiko.

Como atualmente os X-Men atuavam manipulando as mentes daqueles que se firmavam no mal, Charles tinha adquirido uma capacidade de penetrar a mente de outros seres furtivamente. E foi assim que adentrou a de Sagara, sem que este sequer imaginasse que estava sendo devassado em suas memórias. O que ele encontrou foi rico material sobre o Bakumatsu(1) e o forte intuito de acabar com o mal pela raiz, esmerando-se num golpe que fosse efetivo de perto, especialmente furtivo e que requeresse muita força “ki” para ser executado. Com isso, Sagara se especializou no “Gatotsu”, contando com 4 variações e sendo o “Gatotsu Zeroshiki” o suprassumo dessa técnica que ele utilizou apenas algumas vezes em sua longa vida. O Prof. X também teve acesso aos amores deste guerreiro, compreendendo o que era viver para sempre enquanto os outros ao seu redor simplesmente deixavam de existir… O telepata também esteve com eles quando chegaram à casa de Yukio e revistaram tudo por lá, sem nenhuma pista de onde eles pudessem estar. Sagara saiu do carro e já acendeu outro cigarro, adentrando a construção e entendendo o quanto ela era estéril só pelo seu sexto sentido. Nenhuma foto ou nome da garota. Apenas uma foto de Yukio e Wolverine, dentro de um livro sobre navegação.

Capitão: /Não adianta perdermos tempo aqui… Eles não estão e não teremos pistas! Esse lugar é estéril, rapazes… Não há vida aqui! Creio que venham somente para dormir e, quem sabe, comer… Vamos retirar. Avisarei por rádio que já estivemos aqui e este lugar não deve ser checado novamente. Vamos!/ - e sua voz autoritária fez os dois subordinados partirem com as cabeças baixas para dentro do carro.

Assim que terminou sua averiguação, o Prof. X resolveu avisar Wolverine imediatamente, sem perder tempo precioso indo até a delegacia para não ter o que informar a Ohana. Encontrar o canadense era questão de tempo para a mente mais poderosa do mundo, quase desenfaixada de seu corpo físico. Ao se concentrar, o telepata pensou no padrão já conhecido do mutante e, em seguida, só necessitou seguir uma intuição que conectava os pensamentos. *Logan, precisamos conversar...*

E Logan, que estava naquele momento de busca do meio como atrair somente o Sagara para um duelo acabou se surpreendendo com a chegada de Charles, dando uma saltada em sua cadeira e chamando a atenção das duas mulheres com ele, nem notou que estava verbalizando a conversa mental:

Wolvie: Caracas, Chuck! O que tu quer?!

Prof. X: *Olá, Logan! Estou aqui a pedido de Ohana, trazendo novidades sobre o sr. Sagara. Quem sabe será capaz de te ajudar nessa dúvida de como atraí-lo?*

As duas entenderam que estava acontecendo algo além das meras paredes da lanchonete. E, sem esperar uma resposta ou retruque do canadense, o Prof. X jogou todo o pacote de conhecimento na mente dele, tudo que havia conseguido extrair da mente de Sagara poucos minutos atrás. O semblante de Logan foi se alterando, primeiro brabo por ter sido invadido assim, depois surpreso por Ohana estar por trás daquilo e, por fim, grato por tantas informações importantes sobre o mais recente rival, não pensando em fazer uso delas para prejudicá-lo, mas sim para que ele não quisesse realizar seu intento macabro…

Wolvie: ‘Tá certo, Charlie… Eu te agradeço! Agradeça a Ohana por mim, diga que sinto saudades e que espero sair logo dessa pra continuar nossa lua-de-mel… Diga que independente do que acontecer, eu a amo… - todas ouviram, havia uma urgência de comunicar coisas importantes para aqueles que acham ter alguma chance de morrer, não é? Logan sentiu o poder de Sagara e sua tenacidade. Ele também conhecia seu próprio poder e, igual tenacidade. Não renunciaria a Amiko… Assim como o rival. Agora, mais do que nunca, ele sabia.

Yukio: /Vai nos explicar o que foi isso, Rogan?/ - dizia a velha ninja, com uma sobrancelha levantada.

Wolvie: /Claro! Yu, Amiko, tive uma ajuda dos X-Men e, com isso pude compreender qual é o maior defeito e qual a melhor qualidade de Sagara… Sei como atraí-lo, mas também sei que ele não vai desistir daquilo que acha certo e, no caso, eu também não sou de desistir…/ - estendendo o olhar de compreensão para Amiko e recebendo da garota um sorriso de agradecimento. - /Vamos agir assim: eu vou até ele, acabou de sair da sua casa e terei uma conversinha, indicando um dos templos mais afastados do Monte Fuji, tu conhece, certo, Yu?/ - ela acena positivamente com a cabeça – /E aí conto contigo pra desencorajar algum policial que resolva segui-lo, sabe?/ - piscando para ela.

Amiko: /E se ele não for sozinho? A gente debanda? Tô cansada de fugir…/ - baixando a cabeça.

Wolvie: /Ele vai sozinho, guria. É um cara de palavra! Mas pode ter algum abelhudo, saca? Agora, vão indo pra lá, que eu vou fazer minha parte, ok?/

O grupo se dissipa, com Wolverine celeremente seguindo as direções mentais de Charles para chegar onde Sagara estava. Assim que vira uma rua com seu carro, Sagara precisa brecar bruscamente, pois o canadense estava parado em pé no meio da rua, vestindo roupas civis e com um charuto acesso na boca.

Sagara: /Saia da frente, gaijin! Você não cumpriu com sua tarefa e ainda nos atrapalhou! Vou discipliná-lo depois!/ - ele gritava de dentro do carro, gesticulando com o cigarro na mão e sendo observado pelos outros dois cuidadosamente.

Wolvie: /Não sou da tua corja pra tu falar assim comigo, Sagara! Ou devo te chamar de Saitō?/ - revidou em voz alta também, sem se mover.

O Capitão fechou a cara ao ouvir aquele nome; um nome pertencente a outra vida e que poderia ser um peso morto no presente… Ele ordenou aos comandados que dirigissem de volta à delegacia e não se preocupassem com ele, pois agora tudo seria acertado. Os dois tentaram retrucar, mas ele os olha de modo tão assustador que engolem as palavras e resolvem obedecer. Sagara desce com a fisionomia alterada, Logan podia sentir o “ki” dele se concentrando e crescendo, mas ele também sabia focar e movimentar seu “ki”; “maldito Ogun!”— ele pensa, agradecendo mentalmente aquele que o treinou e a quem ele foi obrigado a matar.

Sagara também passa a sentir a força interior de Logan e aperta mais os olhos na direção daquele estrangeiro que sabia tanto e se passava mais por japonês do que alguns nativos que ele conhecia!

Sagara: /Vejo que teve tempo de pesquisar sobre mim, sr. Rogan… Resta saber o quanto isso poderá ajudá-lo! Sua vinda aqui, desse modo, só me faz pensar que meu raciocínio estava certo: a assassina é algo caro seu e você resolveu quebrar nosso acordo e protegê-la, estou certo?/ - ele não movimentava um músculo sequer. Todo ele na expectativa do próximo passo de Logan.

Wolvie: /Tu ‘tá meio certo, Saitō… Eu não vim aqui pra brigar, só quero explicar e deixar tua razão decidir. Por favor?/ - tragando com prazer o charuto.

Mas Sagara não parecia querer esperar e nem mesmo ouvir o restante da explicação. Ao perceber um sutilíssimo movimento de seu pé esquerdo Logan entendeu que não ia ter conversa naquele momento e seria necessário sobreviver ao que viria para ser digno de barganhar com o Capitão sobre a vida de Amiko. Cuspindo o charuto, o canadense distancia as pernas e posiciona os braços lateralmente ao corpo, preparando-se para receber o famoso “Gatotsu” de um dos “Lobos de Mibu”(2). A tensão no ar era tanta! Alguns papéis voavam ao redor dos dois, mesmo sem nenhum vento batendo na rua deserta… Sagara retira a katana da bainha rapidamente segurando a empunhadura com a mão direita e a posiciona na altura dos ombros, focando no alvo com a mão esquerda onde a ponta da lâmina se apoiava. Wolverine cerra os dentes, sentindo que o golpe vai ser desferido a qualquer momento e, antes que possa pensar em algo ou que seus olhos sejam capazes de acompanhar ele percebe tarde demais um brilho de metal em seu peito. O impulso foi tamanho quando o metal da katana encontrou o adamantium do esterno que ambos foram arremessados a alguns metros de distância e, se não fossem seus fatores de cura, eles ficariam caídos por algum tempo no chão. Mas, como essa batalha era entre dois poderosos mutantes, ambos se levantam quase ao mesmo tempo, Wolverine cospe sangue e Saitō sorri de lado, preparando nova investida enquanto Logan ejeta as garras e se prepara para ao menos defender-se do golpe que o samurai pensava em desferir. Pela posição até desleixada de Saitō seu oponente pôde inferir que o próximo golpe teria de ser dado mais de perto, pois era a técnica suprema do estilo “Gatotsu”, sem esperar para que o japonês tivesse vantagem, Logan libera seu lado selvagem e inicia a grunhir enquanto corre na direção do outro com as garras em riste. Para Hajime parece um ataque suicida, deixando um buraco na defesa, o que ele não sabia era que o Wolverine também podia ser rápido, apesar de seu peso pelo esqueleto de adamantium e, ao desferir o golpe, uma falha na defesa também ocorria no tórax esquerdo do espadachim. Antevendo o golpe em sua mente e acelerando a decisão do oponente pela velocidade com que avançava, Logan obriga-o a golpear num momento menos propício, conseguindo interromper o poderoso golpe da katana com as garras esquerdas e, com a mão direita, passando rapidamente pelo tórax, girando seu corpo para o chão, distanciando-se de Saitō e deixando três linhas de sangue escorrendo do uniforme do policial. Os dois arfavam, distanciados por alguns metros, dessa vez quem sorriu foi o canadense:

Wolvie: /Podemos ficar assim o dia todo, Saitō… Me escuta, caramba!/

Capitão: /O que um gaijin como você pode ter pra me falar, hein? Como não tenho o poder de voltar no tempo, quero apenas acabar com esse inconveniente antes de continuar com meus planos… Nada do que fizer vai mudar minha decisão de acabar com a assassina e, mais cedo ou mais tarde, conseguirei “cortar o mal pela raiz”!/

Wolvie: /Isso eu não posso permitir, xará! Tem uma pessoa inocente no caminho e tuas aspirações políticas não valem mais pra mim do que a vida de uma filha! Se tu quiser decidir essa treta direito, te espero no Templo Hongu Sengen Taisha, e vá sozinho, falou?/ - e percebeu que os olhos de Saitō voltaram ao normal, como que respondendo positivamente ao convite.

Capitão: /Então ela é sua filha?… Que patético! Eu aceito ir ao Templo, mas levarei dois policiais comigo. Eu não tenho garantias de que não é uma emboscada para me matar, não é mesmo? Mas como você percebeu, isso não será tão fácil./

E desse modo Logan desaparece pela rua, sem que o policial faça menção de segui-lo.

—---

Legenda:

(1) "(...) período que abrange os últimos anos do período Edo, que corresponde ao final do Shogunato Tokugawa na história do Japão (...) e início do período imperial"

(2) "(...) Vestindo uniformes azuis-claros com detalhes de branco e agindo sob a bandeira escarlate com o ideograma para a sinceridade, eles eram chamados de Miburo, os Lobos de Mibu que fizeram Kyoto tremer de terror com as suas espadas letais e um espírito que sobrepujava o medo da morte. Foram derrotados pelas armas de fogo modernas e desapareceram da história, mas provavelmente foram o último, o maior e o mais forte grupo de espadachins da história do Japão."


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Momentos da Vida (Wolverine e Ohana)" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.