Momentos da Vida (Wolverine e Ohana) escrita por lslauri


Capítulo 39
Se Arrependimento Matasse...




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texto em itálico são pensamentos

palavras em negrito são enfáticas na entonação

os nomes de quem fala estão antes de cada fala, em negrito apenas para que saibamos quem são

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SE ARREPENDIMENTO MATASSE...

O sangramento do ombro e a tremenda emoção fazem Amiko desmaiar antes de chegarem na modesta casa, Logan a recolhe em seus braços, Yukio vai logo atrás, ainda sentida e chorosa. Não demora muito para chegarem à casa da ninja; tomando a dianteira, ela abre a porta para que os dois possam entrar.
O canadense retira as sapatilhas e as deixa na porta, indo na direção do quarto, onde a deita com carinho e a cobre. A "mãe" dela vê tudo de longe, sem poder expressar por palavras o que lhe ia à alma.
Ele fecha a porta de correr, suspira e sai da casa, indo parar no telhado dela. Era sempre melhor tentar meditar ao ar livre do que dentro de qualquer construção. Especialmente se a casa não era feita para propósitos de meditação...
A velha ninja o acompanha sem nada pronunciar; senta-se ao lado dele e apenas medita, tentando encontrar um caminho sensato entre o que queria e o que devia fazer. Jamais suspeitara dos comportamentos da filha adotiva. Suas incursões noturnas eram totalmente misteriosas para ela. Isso a faz pensar em como não podia confiar em Amiko e, como o próprio Logan havia dito, o quanto ela mesma falhou em não perceber isso...

Wolvie: *Charlie... — ele contata telepaticamente – ‘tô com um problemão... Como ‘cê acha que eu posso resolver isso?*

Prof. X: *Logan! Mas que lua-de-mel é essa, meu amigo?... Deixe-me ver quais são seus problemas. — alguns segundos se passam e o telepata percebe tudo que o canadense passou nas últimas horas – Hum... Eu preciso de mais tempo para pensar. Quais são suas dúvidas?*

Wolvie: *Cê sabe que eu resolvo meus próprios problemas, mas não tô conseguindo conciliar o que eu quero com o que eu devo fazer. Ela pode não ser responsável pelos atos dela, mas matou uma porrada de gente. O Hidochi não vai aliviar a barra pra ela, ele tá com a Ohana sob custódia... Eu mesmo acho que ela devia pagar pelo que aconteceu. Gente inocente morreu, Charlie…*

Prof. X: *Permite-me entrar na mente dela e perceber o quanto é culpa dela e o quanto é culpa do Tentáculo?*

Wolvie: *Claro! Mais do que isso, dá uma checada pra ver se não tem mais nenhuma lavagem cerebral nela, pode ser?*

Prof. X: *Farei meu melhor. Aguarde meu contato, ok?*

Wolvie: *‘Tá certo, 'brigado…* O que faremos, Yukio-sama? - quebrando a concentração da amiga e colocando a cabeça dela em seu ombro.

Yukio: Não sei, Logan-san, mas se conseguirmos resolver mesmo isso como uma família, se todo o seu discurso não foi demagogia, com certeza, sairemos fortalecidos dessa. Como sempre saímos, não é? - aceitando a cabeça no ombro dele e abraçando-o pela cintura.

Wolvie: Eu não mudei muito... Ao menos, não passei pra mentiroso. Não tava mentindo quando disse pra enfrentarmos isso como uma família, Yu. Porque é isso que a gente é! – passando a mão nas costas dela, estava começando a ventar mais forte.

Yukio: Que bela família! Nossa "filha" sofre lavagem cerebral, vira uma assassina, com o único propósito de te matar e nenhum dos dois percebe isso! Acho que não nascemos pra colocar filhos no mundo, não é? - divagando.

Wolvie: Podes crer... – pensando em James, o canadense levanta os olhos e começa a mirar as estrelas.

Não demora muito para que Yukio adormeça abraçada ao mutante. Isso é um sinal de extrema confiança, na espécie animal, da qual fazemos parte. Tanto a emoção como a madrugada que já corria alta foram fatores estafantes, somente ignorados por um fator de cura e uma preocupação como a muito Logan não tinha. Pega a velha ninja cuidadosamente e enlaçando-a, entra na casa, colocando-a para dormir no sofá.

Prof. X: *Logan?...— entrando furtivamente na mente do canadense – Terminei de ler completamente a mente de Amiko e garanto: ela foi capaz de remover todas as imagens implantadas em sua mente. Contudo, as imagens das vítimas estão transformando-se em algozes poderosos. Mesmo com a ajuda de Jean, seu sono não está totalmente tranquilo, meu amigo…*

Wolvie: *Valeu, Charlie... Só quem matou pode saber o que ela vai enfrentar de agora em diante. Vamos dar todo o apoio pra ela, só não sei o que fazer com Hidochi... A carreira política dele vem em primeiro lugar, não vai ajudar nesse caso. Xá comigo! Eu me viro!*

Cancelando a conversa telepática, Wolverine olha para um canto da sala e resolve ir sentar-se ali, em posição de meditação, mas sem fechar os olhos, atento a todos os cheiros e sons. A respiração pesada e os grunhidos de Amiko eram imperceptíveis para qualquer um, menos o canadense. Acabam transformando-se num mantra e remetendo o velho combatente há tempos esquecidos, inimigos antigos, mortes quase inevitáveis, alianças inimagináveis... Apesar de permanecer com os olhos abertos, não via a mobília da sala de Yukio, mas cada uma das cenas ligadas a esses acontecimentos.

Jean: *Deixe o passado no passado, meu amigo...— aparecendo como um ser etéreo no meio da sala e estendendo a mão – Ele de nada vai adiantar para o que virá.*

O canadense estende a mão e vê sua parte psíquica saindo ao encontro de Jean, enquanto seu corpo permanecia sentado no canto da sala.

Wolvie: Pra onde a gente vai, ruiva? Não posso deixar meu posto. Elas precisam de mim, - olhando em redor, já quase sobre o teto da casa.

Jean: Relaxe, eu cuido delas enquanto vamos ver outra pessoa, ok? Não as deixarei acordar, pode confiar! – sorrindo confiantemente.

Wolvie: Ah! Por que não disse antes? Eu não tenho nenhum medo de deixar as duas nas mãos da maior telepata que conheço! - começando a subir e atravessar o teto.

O trajeto dura pouco, saindo da parte mais pobre de Tóquio para o centro da cidade, pensamentos vagos passam pela mente do mutante, ou seria Jean a pensar isso e transferir para o amigo? O céu que banhava as duas áreas era o mesmo, o mesmo clarão da Lua, nada mudava na natureza, algumas árvores presentes, estavam tanto na parte mais abastada quanto na área menos favorecida. Logan somente percebe onde estão indo quando divisa a construção da Delegacia Central de Polícia. Atravessam o telhado de uma sala específica onde, sentada num canto do sofá, ainda abraçada a mesma almofada, estava Ohana, cochilando momentaneamente.
Sem saber o que fazer, o mutante olha atônito para as duas ruivas, tentando focar-se em como resolveria esse problema, como iria desfazer essa "custódia"?

Jean: Não foi para ficar preocupado que o trouxe, Logan. Apenas resolvi atender um pedido de Ohana. – sorri de lado – Ela estava preocupada com você... Adormeceu assim. Vamos "acordá-la"?

Wolvie: ‘Cê tá certa! Tenho que aproveitar o momento... - agachando em frente de Ohana e passando a mão em seu rosto - Ruiva, vamos acordar? Preciso falar com você...

Delicadamente, a mão etérea de Ohana vai em direção ao braço forte de Logan e, enquanto este se levanta, vai trazendo consigo a parte psíquica da ruiva. Sem perder tempo, ela o abraça fortemente, pendurando-se em seu pescoço e fica assim por muito tempo, até que o próprio momento se perca e o abraço diminua de intensidade.

Ohana: Pensei que não ia mais te ver! Você não deu notícias, Hidochi está uma fera! Estava morrendo de saudades, meu amor! - segurando nas duas mãos dele e sorrindo, feito criança - Obrigada por ter feito isso, Jean. Não sei o que seria de mim sem você!

A telepata apenas sorri ao comentário, sem nada falar, dirige-se até a porta e passa pela mesma, desaparecendo no complexo policial e deixando os dois sozinhos.

Wolvie: Sumi porque estou enfrentando uns problemas muito sérios e não sei como sair deles sem magoar alguém, também não quero me magoar, tô num mato sem cachorro... Eu ia te contar, no momento certo, que eu... – ele desvencilha-se das mãos da esposa, dando um passo pra trás e passando a mão no rosto como se estivesse suando... O que é impossível.

Ohana: Chegamos até aqui por confiarmos um no outro. Você pode confiar em mim, não que deva, mas pode e sabe disso... – avança na direção dele, retirando a mão do rosto, levemente e sorrindo.

O canadense "respira" fundo, escolhe as palavras e, por fim, solta:

Wolvie: Antes de conhecer você, eu salvei uma menininha da morte e a adotei, como filha mesmo, sabe? A deixei aos cuidados de uma grande amiga, aqui no Japão, com quem eu já tive um histórico no passado. – ele acompanhava e buscava cada mudança no semblante de Ohana, mas apenas encontrava compreensão e incentivo – O nome da minha filha é Amiko, e da minha antiga companheira, Yukio. Nos conhecemos em circunstâncias não importantes agora. Confiei meu bem mais precioso a ela, porque antes ela era ninja do Tentáculo, então, tinha certeza de que saberia cuidar muito bem de Amiko. Por ser minha filha, tentaram várias vezes acabar com ela, mas sempre tinha alguém pra ajudar. – pausa para chegar mais perto da ruiva, pois ele sabia que a notícia a chocaria – Uma vez, conseguiram raptar a guria. A gente conseguiu tirar ela de lá e achávamos que tudo tinha acabado bem. Acontece que não acabou. Ela sofreu lavagem cerebral e, agora a noite, descobri o pior: ela era a assassina...
O corpo astral de Ohana treme diante da narrativa e isso reflete no seu corpo físico que agarra mais firme a almofada; sua garganta pensa em articular uma pergunta, mas cala. Ela coloca-se no lugar de Logan e imagina que ela não seria bem recebida nesse momento. O mutante parece entender a apreensão que a cerca e retoma a narrativa:

Wolvie: Eu não matei ela, ainda... Se era isso que ‘cê ia perguntar. A questão é: se eu não matar, com certeza, Hidochi vai. Por isso eu não sei o que fazer, Ana... Ela já viu que errou, eu sei que a morte de tantas pessoas vai ter seu peso na recuperação dela, mas acredito que ela possa ficar boa. Voltar a ter uma vida normal... – quando cita "morte de tantas pessoas" nova sacudidela assalta o corpo da ex-mutante, a imagem de Metabolisis aparece em sua mente e, inconscientemente, ela vira o rosto e aperta-se ao marido, sem saber o que dizer... Ao perceber o que aconteceu, Logan se maldiz por sua boca solta, mas percebe que as duas pessoas que mais ama estão passando por situações semelhantes, senão, iguais. Ele retribui o abraço apertado e percebe Jean passando novamente pela porta.

Jean: Precisamos voltar, Logan. – virando-se para Ohana – Farei com que lembre de tudo o que conversaram quando acordar, está bem? Agora, preciso que volte a sentar-se e descanse. Nos veremos em breve.

A ruiva obedece a telepata e, em poucos segundos, os dois estão prontos para partir, mas dessa vez, Jean fala:

Jean: Iremos do meu jeito dessa vez, a aurora já vem chegando, logo Amiko despertará - segurando nas duas mãos de Logan, ela simplesmente teleporta ambos para a casa de Yukio.

Diferentemente do teleporte de Kurt, este não dá nenhum enjoo, apenas acelera mesmo o tempo de chegada, fazendo com que o canadense viva a experiência única da rapidez do pensamento.

Wolvie: Valeu, ruiva. A gente ‘tava precisando mesmo se falar... Estranho eu ter tido como falar pra ela sobre a Amiko, sendo que em todos esses anos, nunca consegui falar. É como dizem: "antes tarde do que nunca", né não?! - agradecendo com um gesto de cabeça e indo em direção de seu corpo – a gente se tromba por aí! - e mergulha, sem nenhuma delicadeza, acordando de supetão.

A casa estava com o mesmo silêncio de quando saíram. A respiração de Amiko estava mais pausada, mesmo assim, alguns gemidos teimavam em aparecer, vez que outra. O canadense volta a pensar em como cuidar da situação: Hidochi x Amiko.

"O que é que eu vou fazer... Aquele cara não parece alguém disposto a negociar. Será que ele aceita meu sacrifício no lugar do dela? A gente ia saber que era uma farsa, mas o povão não... Hum... Péssima ideia, depois disso ia ser mais difícil colocar os pés no Japão de novo. Eu não escolhi amar esse país... Foi ele que me escolheu, não tenho como sacrificar isso..."— e passou os próximos minutos tentando concatenar as ideias, pensar em alguma solução, repensar como o Capitão da Polícia reagiria.

—----

Jubi: Ei, joga esse frisbee com força, tá parecendo um bebê! – a garota provoca, correndo bem além da piscina, tamanha a força com que August lança o disco. "Agora sim!"— ela pensa.

August: Vai pegar esse, sua metidinha! – fazendo uma concha com as mãos para que o som fosse mais longe ainda.

Olhando da sacada, Charles Xavier sorri diante das brincadeiras e da camaradagem existente entre eles.

Hank: Tem um minuto, Professor? Acredito que consegui isolar o gene responsável pela "boa vontade" do Remy. – tirando os óculos e coçando as vistas cansadas.

Prof. X: Não temos mais idade para renunciar a nosso descanso noturno, Hank! Acredito que o motivo tenha sido genuíno, mas a que preço? Prometa-me uma coisa: irá descansar depois de ter me mostrado suas conclusões, sim? – virando a cadeira e indo na direção do amigo.

Hank: "Que é o homem, se sua máxima ocupação e o bem maior não passam de comer e dormir?" (W. Shakespeare). Fique tranquilo, meu amigo, prometo cuidar de mim, logo que consiga terminar meu trabalho. – tomando a dianteira e indo até o LabMed, onde vários tubos de ensaio estavam dispostos sobre a bancada, num deles, uma solução azul-esverdeada estava ainda tomando forma.

Os dois entraram e discutiram vários aspectos sobre as descobertas de Hank, além de trocarem informações, ambos chegaram a um veredicto: seria mesmo possível isolar somente o gene responsável por essa parte da mutação. Para tanto, seria necessário trabalharem em conjunto: ciência e telepatia. A notícia deixa a todos na mansão muito felizes. Por motivos pessoais, apenas Jean e o Professor estavam sabendo sobre Logan e Ohana; decidiram manter assim, pois nada podiam fazer para ajudar e, portanto, não havia motivos para deixar os outros preocupados. Trocavam olhares, algumas vezes, para consolo mútuo e, mesmo diante da maravilhosa notícia de Remy, não conseguiram ficar 100% felizes, um pedaço de suas almas estava em frangalhos pelos sofrimentos dos recém-casados.
A primeira a saber da notícia é Vampira e ela corre para o imenso jardim, onde estava o cajun, tentando manter-se longe de problemas:

Vampira: Ele conseguiu, Remy! O Hank conseguiu isolar o gene que te deixa um canalha! – correndo em sua direção e abraçando-o assim que ele levanta.

Remy: Non é bem assim, mon coeur... Remy está bem longe de ser um canalha... – ressentido com a extrema felicidade da sulista – E quem garante que o restante de meus poderes mutantes não vai sumir junto com esse gene?!

Vampira: ‘Cê não ‘tá feliz, mô? – dando um passo para trás e visualizando o rosto e o jeito do mutante – Eu não acredito que você não ‘tá feliz! Como pode ter alguma dúvida do que o Hank falou? Você conhece o azulão! Ele só fala quando tem certeza! – dá uma pausa – Acho que você não quer é ficar sem esse seu gene da canalhice... Por isso, antes de me responder alguma coisa que se arrependa, vai conversar com o doutor, falô?

Ele ia abraçá-la, mas Vampira faz um sinal com a mão para ele manter distância e sai voando para a parte superior da mansão, entrando na janela que dava para o corredor dos quartos de hóspedes.
Ele suspira, dá de ombros e começa uma marcha – parecida com fúnebre – para dentro da mansão. Precisava mesmo ouvir o doutor e conversar corretamente com ele, expondo todos os seus medos. Não demora muito para chegar as pesadas portas do LabMed onde o dr. Hank o esperava, juntamente com o Professor Xavier, este, porém, decide sair assim que o mutante entra, deixando médico e paciente conversarem sem constrangimentos.

Remy: Her... nem sei como vou dizer isso, mas tenho minhas dúvidas sobre essa sua terapia gênica. E se non funcionar como deveria? Se afetar meus outros poderes, mon ami?

Hank: Hum... – levantando os olhos por sobre os óculos – esse seu medo não teria nada a ver com o que estou pensando, teria? Você não tem medo do tratamento realmente funcionar, tem Remy?

Remy: Je ne se como colocar isso, ami. Mas e se a Vampira non gostar mais de moi? E se Remy ficar sem poderes e sem a Vampira? – apoiando as mãos em cima da escrivaninha onde Hank estava e deixando uma gota de suor escorrer por sua face – Estou genuinamente preocupado! E com raison, non?!

O mutante azul sorri de lado, vira a tela do computador e, mostrando dois gráficos na tela, pigarreia antes de começar:

Hank: "Devemos aceitar o que é impossível deixar de acontecer" (William Shakespeare), meu amigo. Tentarei colocar da forma mais leiga possível. Foque esses dois gráficos: o da esquerda mostra o momento onde você esteve sozinho com Ohana na sala, perceba os picos hormonais e a instabilidade generalizada nessa parte superior – representando o organismo de nossa "cobaia"; agora, preste atenção ao gráfico da direita e compare as barras pintadas de verde, percebe que essa segunda não apresenta nenhuma oscilação? Esta representa o organismo de Vampira, Remy!

Remy: O que está querendo dizer, mon ami? O teste precisa ser refeito? Os eletrodos não foram colocados corretamente? Non existe nenhuma oscilação nessa barra... – coçando a cabeça com a ponta do dedo, numa indizível pose de perplexidade – Remy acha que ela non vai fazer novamente, está meio chateada... – baixando a cabeça.

Hank: Não é nada disso, meu obtuso amigo... Significa que no organismo da Vampira, sua mutação não tem o mesmo efeito! Portanto, seu medo é infundado... A Vampira gosta de você, por mais espantoso que isso possa parecer, do jeito que é. Nela, seus poderes persuasivos não têm o menor efeito, Remy. Portanto, não é necessário temer por isso. Além do mais, que vantagem existe em ter de usar sua mutação para conquistar uma mulher, meu caro?! – tirando os óculos e voltando o monitor a sua posição anterior.

O cajun não sabe o que dizer, ou fazer. Baixando a cabeça, ele aproveita para sentar-se na cadeira da sua direita, deixando seu corpanzil cair:

Hank: Irei deixá-lo sozinho; apesar de não achar ter o que se pensar a respeito, estarei com o Professor, naquilo que decida fazer, está bem? Jamais colocaria em risco a vida ou a mutação de um paciente meu e, com certeza, jamais faria algo sem seu consentimento, portanto, pense bem Remy; pense os prós e os contras e informe-me, certo, meu indeciso amigo... – deixa os óculos sobre a mesa e sai, sem esperar uma resposta.

Enquanto isso, num dos quartos de hóspedes, Vampira está sentada na cama, com a cabeça baixa, pensando em mil coisas ao mesmo tempo. Nem se deu conta quando Clarisse entra no quarto e se senta na cama, ao lado dela. Apenas volta a realidade quando suas pequenas mãozinhas tocam sua face e limpam o caminho de uma antiga lágrima:

Clarisse: Mami! Por que você está chorando? É porque a gente já vai embora? Podemos ficar mais se for por isso... – sorrindo.

A mutante vira-se para a filha e várias imagens antigas tomam posse de sua mente, ridiculamente, ela lembra-se novamente de Cody e de como um simples toque em sua pele havia deixado o rapaz em coma; segura a mão de Clarisse com um respeito e um amor que jamais sentiu por nada nesse mundo:

Vampira: Não é isso, meu amor... – voltando a sorrir – seu pai sempre consegue me surpreender, sabe?... – levantando as sobrancelhas – Mas, nada me importa mais nessa vida do que você, filha; por isso, com ou sem Remy, eu sempre vou estar feliz! Vamos brincar de pular no colchão? – desafia.

Clarisse: Puxa... eu queria tanto que vocês se acertassem. Eu não fico totalmente feliz somente com você, mamãe... desculpe, mas sou egoísta nisso. – fazendo cara de triste – Mas eu sei que tudo vai dar certo entre vocês! – tirando os sapatinhos e ficando em pé no colchão – VAMOS!

Ambas passam algumas horas de pura infância, sendo que nem sempre Vampira jogava conforme as regras, pulando e levando Clarisse para a altura do teto, com um voo leve, seguido de muitas gargalhadas.
Na biblioteca da mansão, Scott folheava alguns livros nunca explorados. Aproveitava que Jean estava ajudando o Professor com os alunos mais novos e ele ficava algumas horas lendo sobre as peripécias de ser pai; tanto em literatura científica quanto em romances e histórias. O que ele não sabia é que devido aos acontecimentos atuais com Logan e Ohana, Jean havia sido liberada da ajuda, era necessário ao Professor estar em contato incessante com ambos e, devido a isso, as aulas haviam sido suspensas:

Jean: Não sabia que meu maridão estava planejando uma conspiração desse nível! – a telepata chega, abrindo sorrateiramente a porta, com a intenção de surpreendê-lo.

O susto do líder dos X-Men é imediato e, batendo o livro com uma força desnecessária, ele vira-se para onde a conhecida voz vinha; através de suas lentes de quartzo rubi, Scott via tudo em tom avermelhado, tinha aprendido a diferenciar as nuances e, portanto, era capaz de distinguir tantos quanto os tons de branco que um esquimó é capaz de perceber. Ele caminha na direção dela, deixando o livro pousar sossegadamente sobre um sofá:

Scott: Você não tem ideia do que tem passado pela minha mente, Jean... – abraçando-a intensamente – Agradeço por isso, sabe? Apesar de poder, você nunca invadiu minha privacidade, nunca me obrigou a fazer coisas que não queria e, acima de tudo, me respeitou como pessoa. Eu sei que sou o cara mais sortudo do mundo por isso. Obrigado. – aninhando o rosto no ombro dela.

Jean: Oh! Scott! Você nunca agiu com leviandade para comigo, que motivos teria para desconfiar, invadir? Se você tem motivos para agradecer, tantos outros tenho eu. – sorri e aceita o abraço forte, aninhando também seu rosto no ombro do marido.

Os dois passam muito tempo assim, aconchegados, até que um deles decide quebrar o silêncio com uma canção:

Scott: Let me show you what I'm made of / Good intentions are not enough – ela ri, os dois começam a dançar

(...) And you can run from me; *eu nunca fugiria de você, Scott*— a ruiva projeta mentalmente a frase.

But you can hide from me; *nem me esconderia, meu bem.*

(...) You're my comfort; *você também é meu conforto, em todos os momentos.*

(...) And give you everything you dream about; *você já me dá tudo o que eu poderia sonhar: amor, compreensão, cumplicidade. O que mais eu poderia querer? E, além de tudo, é um gatão!*— os dois riem

(...) In this life; *e espero que, se existir uma próxima, você também esteja comigo*… (Chantal Kreviazuk – "In This Life")

Jean: Deixe-me retribuir isso, sim? – dando um passo para trás e sorrindo – Eu sei que você será um pai maravilhoso, Scott! Que tal deixar de ler sobre aquilo que os outros viveram e passar a viver você mesmo?... – levando as mãos até a aba do óculo e tirando-o – Confie em mim, pode abrir os olhos...

É claro que o mutante confiava em sua esposa e, lentamente, ele começa a abrir os olhos. As pálpebras estavam rubras e, assim que termina de abri-los, uma estrela vermelha aparece no centro de sua pupila, sendo, aos poucos, extinta pelos poderes telecinéticos de Jean. As cores começam a aparecer e, aos poucos, Scott começa a divisar como a ruiva estava vestida, sorrindo, mas com um estranho brilho no olhar:

Scott: Você nunca se perguntou o porquê de, em todos esses anos, nunca ter engravidado? Apesar de todos ao redor, acidentalmente, terem seus filhos?... Acho que criei essa imagem de durão e de não querer "encher o mundo com mais mutantes" pelo fato de ser incapaz de fazê-lo, Jean... Sei que não é uma coisa legal de se esconder da mulher que amo, mas não sabia mesmo como te dizer isso, até agora. De que adiantou eu ter dado amor, compreensão, cumplicidade, se menti pra você por tantos anos? – baixando a cabeça – Eu sei que uma das coisas que você mais queria era ser mãe. Infelizmente, não poderei ser o pai, mas não a impeço de tentar, caso queira. Apoiarei todas as suas decisões, está bem? – resignado.

Jean: Realmente, você está certo em dizer que era o que mais queria nesse mundo, Scott. Com certeza, estou chateada por não ter confiado em mim quanto a isso... Mas eu não quero que isso estrague o que temos, ‘tá bem? – sua voz parecia genuinamente chateada e, suspirando, ela recoloca o óculo – Ao menos, isso explica sua relutância em ter filhos, o que, de certo modo, é genuíno. Está tudo bem, eu já tinha na mente que as crianças desse instituto seriam como minhas filhas. – abraça-o e ficam assim por um tempo, esquecidos dos outros e, de certo modo, de si mesmos. Ao menos, por essa "traição" de Scott, ela não precisaria mais dizer ao marido que seu tempo havia passado e que, mesmo querendo, não tinha como ter filhos; com ou sem ele...

Correndo pelo corredor estava Remy LeBeau, atrás de seu doutor atual: Dr. Henry "Hank" McCoy, perguntando para qualquer um que cruzasse seu caminho, como maldizia o fato de a mansão ser tão grande nessas ocasiões! Parando num dos corredores, ele dá um tremendo tapa da sua testa e diz em voz alta:

Remy: C'est stupide, (você é idiota) Remy?! Ele disse que estaria com o Professor! Então é só enviar uma mensagem telepática para ele, oras!

Prof. X: Estou ouvindo, Remy. O que deseja?

Remy: O bom doutor está com o senhor, Professor?

Prof. X: Sim, estamos na estufa da Ororo, ele já está descendo, pode esperá-lo no LabMed, ok?

Remy: Oui, merci! - correndo para o laboratório.

Não demora muito para que o mutante azul conhecido pelos humanos como Fera e que, graças à Clarisse passaria a ser chamado por Hank na Mansão X apareça no LabMed e encontre Remy mexendo num dos tubos de ensaio da bancada. Assim que o vê, o cajun começa a falar:

Remy: Remy quer que você faça isso, Hank... Excuse se pareceu que non queria, mas é como perder um filho, non? Demora para pensar corretamente. Remy quer deixar de ser "canalha", como diz mon petit, oui? – agitando nervosamente as mãos.

Hank: Acho que foi a decisão mais sensata que já teve em toda sua vida, Remy! Dentro em breve o Professor estará conosco e poderemos começar, certo?

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Yukio: Está mesmo decidido, Logan? - ela pergunta, enquanto prepara o café da manhã.

Wolvie: Sim, Yu. Se não for pro pau, ele vai matar a Amiko. A gente sabe que ela não merece isso; ainda mais pra que um filho da put@ daqueles cresça na vida, não é? - ao lado da cama de Amiko, preparando-se para acordá-la - Mi, vamos acordar, linda?...

Não demora muito para que ela abra os olhos e encare os dois, já prontos para sair, na frente dela:

Amiko: /Onde vão?/

Wolvie: /‘Cê devia perguntar "onde vamos"?, limpar sua honra, Amiko./

Amiko: /Como assim, Rogan? Achei que todos do Tentáculo estivessem mortos.../

Wolvie: /É aí que tu te engana. Eu tenho quase certeza de que o chefe de polícia, Hidochi, ainda pertence ao Tentáculo e tá querendo dar uma última cartada para subir ao poder, guria! Tá nessa?/

Amiko: /Claro que sim! No que puder ser útil, minha vida é sua.../ - baixando a cabeça.

Wolvie: /Levanta essa cabeça, Amiko! Nenhuma filha minha pertence a ninguém e, acima de tudo, nenhuma filha minha vive na sombra dos outros ou do passado! O futuro tá aí, batendo na tua porta; uma nova chance, vai pegar?/ - levantando e estendendo a mão.

Ela agarra-se à mão de Logan e se levanta, abraçando-o.

Wolvie: /Ótimo, temos uns ninjas pra detonar!/


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