Momentos da Vida (Wolverine e Ohana) escrita por lslauri


Capítulo 36
Os primeiros passos de um detetive




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texto em itálico são pensamentos

palavras em negrito são enfáticas na entonação

os nomes de quem fala estão antes de cada fala, em negrito apenas para que saibamos quem são

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Os primeiros passos de um detetive

Capitão: /... E foi por isso que decidi optar por suas habilidades em troca de limpar sua ficha. O que me diz, Sr. Rogan? Estamos entendidos?.../  – fumando um cachimbo totalmente curvo e de madeira escura.

Wolvie: /Não sei o que seu departamento tem a ver com isso, Hidochi. Afinal, não foi citado nenhum chefão. Trata-se apenas de roubos a joalherias... O que tu ganha solucionando um crime desses?/  –  com a sobrancelha curvada, recostando-se na cadeira e cruzando a perna.

Capitão: /Os roubos em si nada têm de importantes, mas sim, a pessoa que os faz. Ainda não conseguimos um retrato falado dela, nem mesmo das câmeras de segurança. Essa pessoa é invisível! E sabemos que não se trata de um dos famosos ninjas, pelo modo como os golpes são dados e pela rapidez com que extermina os oponentes. Esse ladrão está atrapalhando minha reputação, dividindo a opinião pública e dando um xeque-mate nas minhas tentativas de tentar uma carreira política.../  – soltando uma poderosa baforada de fumaça.

Wolvie: /Eu entendi direito: quer que eu trabalhe pra ti, limpando uma barra que tu não consegue pra que entre num cargo político e possa "fazer tua cama"? É isso?/ - voltando a sentar na ponta da cadeira, com cara de poucos amigos.

Capitão: /Sabia que não faria isso por mim, nem pelos meus motivos, mas, gostaria que visse essas fotos, Sr. Rogan./ - abrindo uma das gavetas e jogando uma pasta preta na direção do canadense - /Faça pelas pessoas inocentes que pereceram tentando cumprir seu dever... Na verdade, quando decide roubar determinada joia, ele extermina todos no prédio, inclusive aqueles que não são responsáveis pela segurança e nem estão no seu caminho. Como pode ver pelas fotos, não faltam requintes de crueldade, não é mesmo?... Encontramos, inclusive, algumas réplicas de cenas de filmes classe "D", como nesta foto aqui/ - mostrando uma foto onde o corpo foi totalmente desfigurado para que parecesse um daqueles gigantes répteis que atacavam o Japão e sempre eram mortos pelos heróis japoneses.

Logan responde com um grunhido e aponta para uma vítima mais adiante:

Wolvie: /O que é isso, Hidochi?/ - afundando o dedo na imagem.

Capitão: /É o que parece. Uma criança... Curiosamente, ele não a matou, mas furou seus olhos e cortou sua língua, para que não pudesse fazer uma descrição do assassino... Essa criança ainda não acordou do coma e, sinceramente, espero que nunca acorde... Que vida ela teria depois de um trauma desses?/ - maneando a cabeça.

Wolvie: /Eu aceito! Ao que parece, vai demorar mais do que eu achei que ia, não? O que mais ‘cê tem pra mim, sobre esse caso? Já tentaram fazer uma cilada?/

Capitão: /Já tentamos, mas, depois das perdas, decidimos não fazer mais. Tem que entender que estou de mãos atadas. Nenhuma delegacia quer cooperar e, no lugar deles, eu faria o mesmo! Nenhuma de nossas Forças Tarefa Especiais foram capazes de voltar de suas missões e nem mesmo conseguimos descobrir onde ele mora, ou o que faz nas horas vagas./

Wolvie: /Quero ver a guria da foto, onde ela tá?/ - cerrando os dentes.

Capitão: /No Hospital Geral de Tóquio. Se estivermos entendidos, eu gostaria que começasse amanhã cedo sua investigação. Todo o corpo policial do Japão será informado de sua missão e prestarão os esclarecimentos necessários. Se precisar de armas.../

Wolvie: /Eu sou a arma, Hidochi... E vou acabar com esse maldito!/ – uma fagulha de raiva podia ser vista em seus olhos - /Onde ‘tá minha esposa?/

Tocando novamente o interruptor, a mesma guarda traz Ohana de volta à sala. E a ruiva não gosta do que encontra, um pensamento de "onde colocaram meu marido?" passa por sua mente e muitas dúvidas tomam conta de si. Mas Logan pede para que Hidochi explique tudo para ela e passam mais meia hora na delegacia.
A ruiva fica horrorizada com tudo o que vê e seu primeiro palpite é de que seja um mutante, pois o rastro de destruição era tão grande que não parecia ser feito por nada além de um mutante, e um extremamente poderoso!
Logan chega bem perto de Ohana e sentencia:

Wolvie: ‘Cê entende que dessa vez, eu tenho que agir sozinho, né, gata? Se eu te perdesse por um descuido meu, nunca ia me perdoar... Já conversei com o Hidochi e ele prometeu cuidar muito bem de você. Eu tenho que confiar nisso, senão, não vou conseguir fazer meu trabalho direito. ‘Cê entende? – baixa a cabeça e esfrega uma das mãos nervosamente na calça.

Ohana não consegue pensar em nada para dizer naquela hora. Sabia que era o certo a se fazer, sabia que não deveria ficar triste. Mas o pensamento que mais martelava sua mente era "por que perdi meus poderes?!". Ela apenas o abraça, colocando sua cabeça exatamente no vão do ombro do canadense. Não demora muito e este sente um frio em sua pele, proveniente das lágrimas silenciosas que sua mulher chorava. Levantando o ombro, encostam a cabeça e então Ohana começa a soluçar, colocando a mão oposta no outro ombro e o abraçando com mais afinco:

Ohana: Aquelas... fotos... Tudo tão horrível!... Eu não quero que você...

Wolvie: Shiii! Ruiva, ‘cê sabe que eu jamais mentiria pra você. Eu vou voltar, ou ‘cê pensa que vai se livrar de mim assim? A gente prometeu, lembra? Um pro outro! Não é minha vez, guria, eu sei que não. – quase murmurando essas palavras em seu ouvido.

Ela não responde mais com palavras, não conseguiria mesmo que tentasse. Maneia a cabeça, concordando, enquanto seu corpo faz um movimento totalmente diferente, agarrando-se ainda mais forte a ele. Sorrindo um pouco, Logan começa a se libertar do abraço, mais por obrigação que por vontade. É doloroso ter de separar-se de quem se ama, mesmo tendo a certeza de que essa pessoa o sabe. O canadense enche os pulmões do perfume de Ohana e sai, sem olhar para trás, com passos firmes e decididos, cruzando a porta, solta um:

Wolvie: Cuida muito bem da minha mulher, Hidochi! - dando um tom de ameaça e sumindo no corredor, em direção à saída.

Capitão: /Seu marido tem um jeito muito peculiar de dizer que se preocupa, não?.../ - voltando a sentar-se.

Ohana: /Ao menos ele sempre o diz, Sr. Sagara... Mesmo que aos outros não pareça o meio apropriado. É por isso que nos damos tão bem. Eu consigo entendê-lo./ - sentando-se na cadeira da frente, com o olhar desfocado e rezando para que ele somente voltasse.

Na porta da Delegacia, o canadense conseguiu ouvir essa última frase de Ohana, graças a sua audição apurada e somente fechou os olhos, parando para pensar se estava mesmo fazendo a coisa certa: deixando sua mulher para caçar alguém que rouba dos ricos. Então, a imagem da criança aparece em sua mente. Era para parar esse tipo de atrocidade que Logan resolveu encontrar o culpado! Isso estava acima do certo e do pertinente, passava a ser uma questão de vida. Senão sua, ao menos, das futuras vítimas em potencial do assassino. Pedindo para uma viatura levá-lo até o Hospital Geral de Tóquio, o mutante era a figura da raiva incontida!
Não demora muito para chegarem ao hospital e muito menos para chegarem até o quarto 6 da ala da UTI, ainda mais acompanhado por dois policiais.
Aqueles que guardavam a porta batem continência e abrem caminho para a pequena comitiva. Assim que entram, o ar abafado e viciado da sala invade Logan. Era um misto de remédio e morte, muito comumente encontrado nos hospitais, porém, mais acentuado naquele pequeno cubículo. Uma mulher jazia adormecida ao lado da criança que, naquele instante, parecia não contar com mais de dez anos, nas poucas partes que não continham tubos e agulhas para tentar manter a vida. Um curativo em cada um dos olhos deixava claro que a perda da visão tinha sido mesmo total. Instantaneamente, Logan pensa em James! Pensa em como a mulher deitada na minúscula cadeira deveria ter sofrido, parado de sofrer e juntado forças para recomeçar o sofrimento novamente... Era apenas isso que ela poderia fazer. Ou então, rezar. Mas isso nem mesmo passou pela mente do canadense. Afinal, não é o que ele faria num caso desse... Chegando mais perto da criança, o mutante tenta sentir algum cheiro significante, em meio a tantos aromas conhecidos. Nada! Também, já havia passado algum tempo desde o ataque, tempo demais pra qualquer pista permanecer ali:

Mulher: /Quem é você?!/ - despertando de supetão e tomando a defesa da criança, como um animal que cuida dos filhotes.

Wolvie: /‘Tô ajudando a polícia a encontrar quem fez isso.../ - apontando para a criança.

Pronto! Não bastou mais nada para que a mulher iniciasse a chorar, apoiando-se no colchão ralo da cama com ambas mãos:

Mulher: /Ela é só uma criança! Quem faria isso a uma criança?!/ - olhando firmemente para Logan.

Wolvie: /Alguém que nunca teve uma, ou se achou maltratada na infância... Mas isso, tanto faz, senhora. Porque nada justifica matar os outros e, quando eu encontrar quem fez isso, tenha a certeza de que os motivos vão importar menos ainda.../ - proferindo a última frase entre estranhos grunhidos.

A mulher desvia o olhar do mutante. Não gostou do que encontrou nele. Mesmo sendo uma vítima, sabia que naquele olhar a morte não encontrava guarida, pois era muito mais do que isso: era sofrimento, real sensação de vingança e/ou justiça:

Mulher: /O senhor já teve um filho, não?/ - passando a mão nos cabelos ralos da criança, sem encontrar resposta nas máquinas que lhe sustentavam a vida soando sempre da mesma forma monótona.

Wolvie: /Sim... Já tive.../ - limitando-se a isso.

Mulher: /Então, deve saber que nenhum ato impensado pode trazê-lo de volta. Ou amenizar a dor... Nos meses que estou aqui já passei por várias sensações. No início, o ódio tomou conta de mim, depois a vingança. Conforme o tempo foi passando e a situação permanecia a mesma, passei a procurar outros meios: entrei em contato com várias seitas, tentando encontrar uma resposta de Deus, tentando entender por que ele faria isso... Não consegui! Nenhum deles sequer parecia entender meu sofrimento. Minha dor. Então, passei a ficar mais tempo com meu filho Ken. Passei a perceber que, mesmo estando desacordado, havia muito tempo que o havia "esquecido". Havia muito que não sabia mais quais seus desejos e anseios... Até que, mexendo numa das gavetas dele, encontrei seu diário. Oh! Desculpe-me, o senhor deve estar achando isso uma história totalmente inútil, não?/ - fazendo o famoso cumprimento que leva o tronco para a frente.

Wolvie: /Não! Pelo contrário... Tem muito de mim mesmo nas suas palavras, continue.../ - retribuindo o sinal.

Mulher: /Foi quanto percebi que ele mesmo havia plantado essa "semente" de tristeza... Talvez, por minha própria culpa, mas isso, não sei se um dia eu saberei. Ele fugiu de casa naquela noite, ia se matar na manhã seguinte! Não tinha mais vontade de viver... Segundo o diário, a culpa era dele mesmo. Suas últimas palavras foram: "não aguento mais viver. Amo vocês, meus pais, mas não vejo saída para minha dor". E essa "dor", nada mais era do que não ter achado seu lugar no mundo. Agora, eu me pergunto: o que uma criança de dez anos sabe sobre seu lugar!? Deixei de culpar o assassino, a mim ou a minha família. Deixei, mesmo, de culpá-lo. Afinal, ele não conseguiu seu intento. Ainda está vivo e, segundo os médicos, irá acordar um dia. Então, quando isso acontecer, eu estarei ao lado dele e o farei perceber como a vida é bela e como todos temos um lugar nela! Mesmo nas condições em que ele se encontra... Sei que existe um lugar para ele e sei que seu filho também encontrou seu lugar. Pois é para isso que estamos aqui. Conseguirmos encontrar nosso lugar no mundo. Conseguirmos entender que as menores atitudes nossas são importantes e repercutem no mundo ao nosso redor. Eu entendo isso agora. Entendo que minhas ações afetam meu filho e entendo que a ausência delas também afetou, porém, a falta de entendimento o fez buscar o caminho aparentemente mais fácil. E deu no que deu... Sua vida será muito mais difícil daqui para frente. Mas tenho esperança de que a dificuldade o fortaleça e o faça compreender a vida./ – dá uma pausa, olha para Logan novamente – /Muito obrigada por ouvir meus singelos pensamentos... Foi muito importante para mim!/ - cumprimenta-o e volta a sentar-se.

O mutante nada disse. Tinha muito nas palavras dela que, de certa forma, o confortava, o fazia perceber que ele não era inteiramente culpado pela morte de James. Contudo, pensar que isso tinha sido o melhor para o filho, pois ele tinha "encontrado seu lugar", era um salto que Logan não pretendia dar tão cedo. Mesmo sabendo de tudo que Psylocke falou, um imenso vazio vivia em seu peito. Pela impotência de fazer algo. E era esse mesmo vazio que o impulsionava a achar o assassino. Assim, teria como fazer alguma diferença para outros. Afinal, era isso que tinha feito a vida toda, sempre que vestia o uniforme e saia com os X-Men. Ele sabia o que significava perder quem se amava e, em nenhum momento teve de passar pelo que aquela senhora passava: Viver cada dia na esperança de seu amor acordar. Saber que seu corpo estava ali, sem, contudo, conter sua essência. Era uma situação diferente e fazia ter pensamentos diferentes. Logan ainda não podia entender. Apesar de ter notado em si uma certa modificação, especialmente depois de conhecer Ohana, sua vida ainda era, na maior parte do tempo, preto no branco. Os tons de cinza que cismavam em aparecer algumas vezes, o desconcertavam. Faziam-no pensar em assuntos dos quais não tinha controle e sempre era necessário voltar a "aclarar" a mente e parar de deixar-se levar por eles. Ao menos, desse modo, parecia ter controle sobre sua sanidade e era isso que importava! No momento, o que importava era encontrar o assassino e matá-lo. Impedindo que outras pessoas inocentes tivessem suas vidas ceifadas!

Wolvie: /Her... Não tem problema! Agora, se me dá licença, tenho que tentar encontrar quem fez isso/ - e saiu, sem esperar resposta.

Numa outra parte da cidade, Yukio perambulava com os pensamentos fervilhando em sua mente. Vários momentos repassam como um flashback. Cenas em que Logan aparecia, ora como salvador, ora como amante. Mescladas naquilo que foi uma vida, definitivamente, agitada. A velha ninja sorria, às vezes. Outras, deixava claro que seus pensamentos estavam perdidos em antigas promessas não cumpridas. Claro, todas elas tinham sido feitas pela própria japonesa, já que Logan nunca havia deixado de cumprir uma promessa. De qualquer modo, era doloroso sempre pensar nele. Pensar em quantas vezes tinha se obrigado a parar de amá-lo, em vão... Sabia que ele dificilmente se apaixonava, mas, quando o fazia, era pra valer. Foi assim quando conheceu Mariko e o tempo todo que pranteou sua morte. Estava sendo assim naquele instante, contudo, com outra mulher... Yukio odiava Ohana, sem nem mesmo conhecê-la! Sabia que estando casado, Logan jamais teria algo com ela e isso a enraivecia de tal forma que ela queria nunca ter conhecido o canadense!

Yukio: "Ah! Como eu fui tola! Se tivesse feito aquilo que me pediram, jamais estaria sofrendo assim! Era tão simples: manter o canadense longe de todos, vivendo embriagado em meus braços! Mas eu consegui cumprir com isso? Não! E agora, sofro as consequências... Me deixei apaixonar... Mas, Yukio — a ninja pensava – você nunca teve tantas alegrias em sua vida. Ah! Ele é tudo o que eu sempre quis e, ao mesmo tempo, o que nunca desejei... Acho que tudo faz parte do "ser Wolverine", não? E, em seus atos, acabou me dando uma das maiores felicidades do mundo: ser mãe! Nunca pensei ser capaz de criar uma criança, mas foi isso o que sempre desejei e Amiko chegou para provar que eu sou capaz! Que mesmo um coração endurecido é capaz de ter amor e de fortalecer esse amor..."

Ia totalmente despreocupada pela rua, perdida em ideias que não tinha há anos! Aliás, ideias que pensava estarem esquecidas nalgum buraco profundo, soterradas pela difícil vida levada. Mesmo assim, seus sentidos estavam alertas, talvez, apenas um tanto embotados pelo barulho da rua, suas luzes, mesmo assim, seria capaz de perceber uma aproximação, não seria?

Amiko: /Yuuuuuuu! Está dormindo?! Estou te seguindo há dois quarteirões!/ - pondo a mão no ombro da mãe adotiva.

O golpe vem rapidamente, mas, do mesmo modo que vem, é rechaçado por um golpe bastante forte e preciso onde a força empregada no golpe de Yukio é usada contra ela mesma! Assim que se vê no chão, ela fala:

Yukio: /Hei! Onde diabos você aprendeu isso?!/ - levantando-se e limpando a poeira.

Amiko: /Desculpe, mãe! Não tive a intenção!/ - ajudando-a e pedindo desculpas com o corpo - /Vi esse golpe na tevê, bastante útil, não?/

Yukio: /Se você pretende se voltar contra quem te criou, é mais que útil! Eu nem percebi que você estava me seguindo! Acho que perdi meus "dons".../ - levantando a sobrancelha e continuando a caminhar.

Amiko: /Claro que não! Você sempre será a minha sensei, Yukio! Acho que estava é pensando no Logan-san, não?!/ - rindo e seguindo a mestra.

Yukio nada responde, apenas balança a mão negativamente, fazendo a jovem mulher parar de andar para poder rir:

Amiko: /Não perca as esperanças! Um dia ele vai parar de correr o mundo e vai sossegar em seus braços!/

Yukio: /Ele casou, Amiko-chan! Casou e nem nos convidou! Acredita?/ - parando em frente a uma casa de classe média.

Amiko: /O quuuueeeeeeeee? Casou? Com quem? Como assim? Ele não faria isso, faria?!/ - entrando e deixando os sapatos num singelo aparador de madeira, na entrada da casa.

Yukio: /Eu não a conheci ainda, mas ele me disse que se casou nos EUA e que, como viria passar a lua-de-mel aqui, decidiu não nos convidar. Deixou claro que eu não iria, mesmo que convidasse e eu insisti que se a tivesse convidado, você iria!/ - começando os afazeres do jantar.

Amiko: /Hein? Eu não iria sem você, Yu! Não, não!/ – juntando a palavra negativa ao sinal com a cabeça.

Yukio: /Obrigada, Amiko! Mas eu faria questão que fosse... Sei o que ele significa para você!... Pegue o aparador, sim?/

Amiko: Hai! (sim!) /E eu sei o que ele sempre significou pra você, Yukio-sama! Por isso, não teria coragem de deixá-la aqui e ir me divertir na festa de casamento dele!/ - abrindo uma das portas embutidas e pegando um belo aparador de madeira com motivos orientais em laca.

A noite passa sem maiores comentários sobre Logan ou sobre seu casamento. Amiko havia ficado ressentida, era possível ver por seu olhar perdido e pelos dois copinhos de saquê que ela insistiu em tomar, mesmo com o desagrado de Yukio. Mais cedo que de costume, ambas foram dormir, afogando na noite seus sentimentos de desagrado e ressentimento. Afinal, nada melhor do que um dia após o outro para apagar certas feridas...

A caçada de Logan estava apenas no começo. Tinha pedido para ser levado até a cena do primeiro crime: uma mansão nos arredores de Tóquio, de um requinte e luxo somente vistos na Era Meiji (uma Era onde os samurais estavam com os dias contados e onde o Ocidente influenciava tanto nos modos de vestir quanto nas construções. Essa mansão era um desses casos. Tinha um estilo arquitetônico totalmente ocidental). Como todos os presentes haviam sido mortos, não existia interesse dos familiares em voltarem a viver ali, naquele lugar amaldiçoado pelos deuses!
Esse era o lugar perfeito para iniciar uma pesquisa: ninguém para atrapalhar, nenhuma papelada para preencher. Só seria melhor se estivesse com Ohana ali... Ou, talvez não. Definitivamente, a ruiva não iria conseguir deixá-lo compenetrado o suficiente. O balanço de seu cabelo, os reflexos vermelhos em contraste com a pele branca e as duas safiras incrustadas, onde Logan cismava em se perder, sempre que podia e tinha tempo para estar com ela, não seriam as companhias ideais para alguém que tenta desvendar um crime! Soltando um sorriso maroto, o canadense espanta os próprios pensamentos e volta a ficar com a expressão carrancuda habitual.
Para alguém que apenas olhasse, podia parecer que nada estava sendo feito, além de um passeio pelos corredores da mansão. Contudo, para um observador mais atento, era fácil perceber as nuances dos movimentos quase felinos do mutante.
Logan procurava uma pista, qualquer que fosse, capaz de levá-lo até um comparsa, um bar ou mesmo um outro lugar qualquer, mais sólido do que aquele estranho lugar que se negava a mostrar seus segredos.
A cena do crime, apesar de passado tanto tempo, ainda estava "fresca" para o canadense. Para cada poça de sangue apagada pelo tempo, Logan sentia o cheiro da morte, podia determinar, sem sombra de dúvida, cada um dos lugares onde mais de uma dezena de pessoas foram mortas, entre serviçais e moradores. Podia, até mesmo, estipular o momento da morte, de acordo com a quantidade de hormônios dispersos no ar e sua permanência no local, após tanto tempo. Assim que sente um cheiro, milhares de informações vão para seu cérebro, catalogadas, durante quase duas centenas de anos, com uma rapidez digna dos mais modernos computadores.

"Foi um trabalho mais que limpo!— pensava, feliz por não ter com quem exteriorizar aqueles pensamentos de morte — Não consigo sentir nenhum cheiro diferente em toda a casa! Seja quem for, nunca foi atingido! Pois, se sangrasse, um ml que fosse, eu ia sentir... Droga! ‘Tô num mato sem cachorro... Vou ter que ver se tenho mais sorte no próximo lugar..."— repassando novamente o caminho, tentando ver se não tinha deixado algum detalhe escapar.


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