texto em itálico são pensamentos

palavras em negrito são enfáticas na entonação

os nomes de quem fala estão antes de cada fala, em negrito apenas para que saibamos quem são

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UM MOMENTO SÓ NOSSO...

Enquanto essa batalha desenrolava-se, na mansão ninguém poupava esforços para tentar apaziguar a dor e o sofrimento dos companheiros.

Jean estava na enfermaria pegando vários remédios e bandagens; calmantes e anti-inflamatórios.

Fera estava cansado, mas não corria risco de vida. Teria somente que começar a se alimentar devagar e, com o tempo, recuperaria as forças. Mas teria, com certeza, de fazer fisioterapia para os músculos.

Enquanto isso, Ohana tentava administrar seu tempo entre James e Bobby, pois este estava perdendo muito sangue e corria o risco de morrer! A única maneira era ficar acariciando a cabeça de seu filho enquanto estancava o sangue do Homem de Gelo telecineticamente. Sua mente, porém, vagava entre incertezas e tristezas; buscava um culpado e se culpava; queria saber de Logan, mas também tinha medo de seu estado atual...

O silêncio incômodo era a única certeza ali...

O Professor X, assim que verificou como estavam todos e ficou feliz, pois Logan havia retornado, entrou em contato com os outros Institutos para saber das notícias.

A grande maioria havia morrido ou estava extremamente ferida. Muitos não responderam ao seu chamado telepático e deixaram o velho professor preocupado. Era necessário fazer alguma coisa! O ataque de Metabolisis surtiu seu efeito e desfalcou os X-Men de forma violenta.

Na verdade, apenas os mais antigos conseguiram responder e dizer que estavam bem, ao menos...

Anjo, Bishop, Sam, Jubileu, Rachel e Moira responderam, dizendo que estavam em outros lugares nos momentos dos ataques aos Institutos de Londres, Japão, Rússia e Escócia.

As filiais no Brasil, na África e no Canadá pareciam ter sumido do mapa!

Nesse instante, Scott entra pela porta, muito machucado, mas com cara de vitorioso. Ele conseguiu derrubar o oponente e o tinha prendido a uma das árvores do jardim, para um futuro interrogatório. Como o bom líder que era, bateu os olhos na situação caótica da sala e perguntou onde estava Ororo e Jean; deu ordens para que Ohana tirasse os feridos dali e, mesmo sem energia, os levasse para o Labmed; ao que a ruiva assentiu. O Professor respondeu onde todos estavam, imediatamente rumou para a entrada da mansão a tempo de ver surgir da mata Logan acompanhado de uma cambaleante Ororo.

Andando apressadamente, ele ajuda a carregar a africana.

Scott: Quer dizer que voltou pro nosso lado? Seja bem-vindo...

Wolvie: Eu nunca saí dele, caolho. Fui despejado!

Scott ri e ambos têm um momento de trégua.

Wolvie: Cadê Ohana e o guri?

Scott: Estão no Labmed...

O olhar vago que o líder dos X-Men dá ao velho combatente foi o suficiente para que ele olhasse para Ororo e, após um assentimento de cabeça dela, corresse com toda sua força para o Labmed. Passou como um míssil pela sala, quase trombando com o Professor, enquanto este dizia em sua mente: *Bem-vindo, Logan! Creio que a etapa mais difícil de sua vida, acaba de chegar...* e o Prof. completa, para si mesmo: "ao menos, desta vez, você a está vivendo de verdade..."

Nem preciso escrever o fato da porta do Labmed quase ir abaixo com o empurrão do canadense e, muito menos, dizer da felicidade que brotou nos olhos dele assim que sentiu o cheiro dela e de James, ambos vivos! Ele olha para Jean que cuidava com desvelo de Bobby e percebe que Fera já havia sido medicado.

Jean sorri. Um sorriso meio triste, meio feliz pelo retorno dele.

Jean: *Sabia que ia voltar, Logan! Você tinha muito a perder dessa vez, não?*— ela "fala" na mente dele.

Wolvie: *Eu sempre tenho muito a perder, Jeannie... É por isso que eu sempre volto!*— sorri para ela.

O olho dela dirige-se para uma maca mais à frente, onde Ohana estava sentada ao lado de alguém. Ela percebe a presença dele quando este toca de leve seu ombro. O homem deitado na maca estava de olhos fechados, respirava com dificuldades e tinha as feições extremamente parecidas com as de Logan, não fosse pela espessa barba e pelas rugas... Aparentava ter entre 85/90 anos e segurava firmemente a mão de Ohana.

Logan constata o pior... Todo o cheiro que aquele senhor emanava era de James. A imagem dele, jovem, abraçando-o na porta da mansão, há algumas horas aparece em sua mente. Aquilo era impossível! Não podia ser!

Cerrando os dentes, ele segura as lágrimas que teimam em brotar, tentando imaginar o quanto seria pior se chorasse... Chorasse por cada segundo perdido ao lado de seu filho; chorasse por nunca ter tido a real oportunidade de ser pai, enfim, chorasse por não poder ter uma vida normal!

Sabendo que o pai tinha chegado, James abre os olhos devagar, com preguiça e esboça um leve sorriso, cansado, devido à idade, mas não menos feliz. Ele sabia que tinha muito a falar e pouco tempo, sabia que de nada adiantaria, porém, via-se na obrigação de "jogar as sementes" esperando que as palavras certas encontrassem reverberação no coração daqueles a quem tanto amava!

James: Já não era sem tempo, pai... – a voz sofrida, de um velhinho, dizia; enquanto os pensamentos de um jovem fervilhavam em sua mente, muitas vezes perdendo-se na barreira da voz e da fadiga.

Logan nada diz, não esboça uma expressão; a batalha interna era grande demais! Se tentasse falar ou concordar, choraria e isso era inadmissível!

Ohana: Já acordou, James! Você precisa descansar mais, filho...

James: De que vai me adiantar o descanso quando tenho tão pouco tempo e tanto para dizer, mãe?! Eu dormi foi demais, isso sim!

A ruiva não segura as lágrimas. Deixá-las cair era um alívio, como se a cada uma que caísse, James fosse viver um segundo a mais.

Ele a acaricia no rosto. Para ela, não havia muito a ser dito. Apesar de ter certeza do quanto ela sofreria, também sabia o quanto ela suportaria melhor, graças às palavras que ele lhe disse, momentos antes: "Você não devia fazer isso... Não cai bem em você, mãe". Elas ficarão pra sempre gravadas na memória, acalentando-a.

Não! Ele tinha que aproveitar cada segundo para tentar amenizar o sofrimento no coração de seu pai. Ao que parece, os papéis se invertiam e quem ele achava ser mais capaz de suportar, estava se mostrando mais sensível possível. Seu querido e amado pai ao qual ele passou poucos momentos de sua vida, momentos esses capazes de demonstrar todo seu caráter e nobreza! Foi através da lição dele, quando pula a janela para não ferir aqueles que ama, que James aprendeu a importância da amizade, do respeito e do amor. Um simples gesto para quem tem anos e anos pela frente; a diferença, para alguém que é fugaz como uma borboleta...

Levantando-se com a ajuda de Ohana, ele chama Logan para perto de si e inicia, sem nem mesmo saber o efeito de suas palavras. Pela primeira vez, ele não sabia o fim; não sabia como as palavras seriam recebidas por ele, e isso o deixava inseguro e frustrado.

James: Pai! Não há problema nenhum em chorar... Não vai me deixar infeliz ou preocupado, ao menos, não mais do que eu já estou...

Ele pega nas mãos fortes daquele homem sofrido, mãos que não possuíam cicatriz alguma, lisas como de alguém que jamais fez qualquer esforço físico. Quisera James que seu cérebro se recuperasse assim, que não gravasse nada e que para ele, jamais um filho houvesse cruzado seu caminho! Tudo seria tão mais fácil... "É... Tão mais artificial" Ele pensa.

James: Bom, ao que parece, será um monólogo, então? – e, sem obter resposta alguma dele, continua – Tudo bem! Pai, você me ensinou uma das lições mais importantes que existe: o valor da amizade e do amor. Não faz ideia de como isso é importante para qualquer ser vivo! É isso o que nos diferencia de alguns animais.

Ao ouvir essa palavra, Logan encara o filho nos olhos. Ao menos, ele havia mexido no ponto certo para chamar sua atenção.

James: Sei que nada pode ser dito para amenizar as dores de vocês, porém, eu queria ao menos tentar fazê-los enxergar o quanto vocês são importantes para mim. Não importa se eu vivi alguns dias, meses ou anos. A base que vocês me deram foi imensa e indelével!

Ohana: Ficamos muito felizes com isso, filho... Nós*

Wolvie: Eu não fico feliz porr@ nenhuma! Como vou ficar feliz vendo você morrer?! – ele até mesmo cospe enquanto grita.

Vira-se para Ohana e, segurando-a pelos ombros esbraveja:

Wolvie: ‘Cê só pode ‘tá brincando, né? Fique feliz por você mesma, porque eu... Eu tô a fim de matar alguém hoje!

James: Será que pode ser eu?! Já vou viver pouco mesmo e, assim, ao menos você não precisa descontar sua inconformação e raiva nas pessoas que ama!

A pergunta faz o sangue de Logan gelar! Ouve o resto da frase de costas e ouve também os largos soluços de choro que o filho dá. A imagem de Mariko pedindo para ser morta vem em sua mente e nesse instante, ele deixa uma lágrima escorrer... Solta os ombros de Ohana, sente o joelho fraquejar e balbucia:

Wolvie: E-eu não queria que você morresse... Eu daria minha vida pela tua, guri! – ainda de costas.

James: E você acha que eu quero morrer?! A vida é o que é, pai! Há momentos em que ser super-herói faz a diferença e, em outros, ela vem e cobra o seu preço! É claro que eu não estou feliz, mas não quero partir vendo você escorraçar aqueles que te amam! Não quero eu ser a desculpa pra que você volte a ser aquilo que mais detesta! – faz uma pausa estratégica e completa: Eu te amo, pai!

Pronto! Ao ouvir aquele pequeno discurso tão cheio de verdades, umas cruas e amargas; outras tão doces como o mais puro mel; Logan ignora a pose e chora de soluçar, indo sentar-se ao lado do filho, pegando Ohana pelo braço com carinho e fazendo-a sentar-se em sua perna.

A ruiva há muito tempo não fazia nada além de chorar baixinho, senta-se e abraça o pescoço de Logan, escondendo o rosto em seu ombro.

Wolvie: Guri, ‘cê foi a coisa mais importante e melhor que eu fiz na minha vida! Eu sempre soube que ela era escrota, mas nunca pensei que ela fosse se superar e fazer tua mãe sofrer! Eu ‘tô acostumado, mas ela... – o "durão" não consegue terminar a frase.

Engole seco e, nesse momento, James sorri e tem um forte espasmo que o faz se deitar à contragosto na maca.

Em sua mente passa um turbilhão de sensações e ele tem a certeza de que não estará sozinho do lado de lá!

Uma linda mulher com características orientais e de cabelos púrpura aproxima-se dele, com uma cicatriz em forma de raio vermelho no lado esquerdo do rosto; James sabia que essa era Psylocke, ex-integrante dos X-Men, morta por Dentes-de-Sabre.

Psylocke: Seja bem-vindo, James! A partir de agora eu estarei ao seu lado para ajudá-lo a sair de seu corpo. Não creio que vá ter dificuldades com isso, mas ao mesmo tempo é um prazer poder rever todos os X-Men! – ela sorri, estendendo a mão e tocando uma das mãos de James.

Para os que viam a cena, parecia estranho. James estendia a mão para o nada, sorrindo, como se todos os seus problemas houvessem acabado!

Jean vem ver como ele está e, checando manualmente os sinais vitais dele, abaixa a cabeça, indo abraçar Ohana enquanto encostava uma das mãos no ombro de Logan.

Jean: Ele está fraquíssimo! Vou tentar algum contato telepático para ver se ele tem mais algo a dizer a vocês... São seus momentos finais... *James?... Você pode me ouvir?*

James: *Posso sim, Jean! A Psylocke está aqui! Ela veio me ajudar.*

Jean: *O quê?! Mas...*

Psylocke: *Sou eu mesma, Jean.*

Jean:  *Isso... Isso é incrível!*

Psylocke: *Quem tem a sorte de ter contato com a Aurora Rubra, de certo modo, torna-se imortal, minha amiga. É por isso que eu posso estar aqui hoje! E eu recebi ordens de trazer James comigo e, depois dele, levar cada um dos X-Men!*

A voz suave da tão querida amiga preenche a mente de Jean que faz uma conexão mental com Logan e Ohana, permitindo que eles também escutassem.

Wolvie: *Betsy! É mesmo você?*

Psylocke: *Sim, Logan! Sou eu mesma. Vim porque tenho uma importante tarefa com cada um de vocês. Cada um, ao seu tempo, receberá uma visita minha e, com isso, fará parte da Aurora Rubra! Ficando vivo para sempre!*

Wolvie: *C’umé que tu pode falar isso? Cê morreu, gata! Isso não faz de você imortal, uma vez que a gente vive enquanto está na lembrança...*

Psylocke: *Em um ponto você está certo, não sou como vocês, mas estou aqui para provar que a morte não é o fim e, se não posso estar sempre entre vocês, isso não me faz menos viva...*

Wolvie: *... Ou morta...*  – ele completa.

A ninja sorri, os anos podiam passar, mas Logan sempre tinha alguma piada na manga, para os mais estranhos momentos. Discutir com ele seria inútil e tomaria um tempo que ela não dispunha. Segurando totalmente na mão imaterial de James, ela o levanta devagar, fazendo-o deixar seu corpo e ir colocar-se ao lado dela, com a imagem física de uma criança.

Psylocke: *Se você tem mais algo a dizer, James, esse é o momento.*

James: *Eu só quero dizer que amo a todos vocês e espero estar sempre na lembrança! Vou ficar contando os dias esperando por vocês!*

Psylocke: *Na verdade, há tanto a ser feito que o tempo passará mais veloz do que imagina, querido.*

O momento era de total emoção para todos os presentes e para todos da casa. Psylocke havia ampliado o elo psíquico que Jean criou e todos podiam ouvir, mesmo aqueles que pareciam desacordados, como Bobby, iam levantar-se com a leve impressão de terem ouvido Betsy e James despedindo-se.

Juntando suas últimas forças e usando um pouco da força dos presentes, Betsy consegue ficar visível para Jean, Ohana e Logan, por alguns segundos, fazendo-os também ver James na forma de criança.

Psylocke: Diga para o Warren que ele é meu anjo...

Ambos aparecem como seres etéreos e, depois dessa imagem, desaparecem e o elo psíquico é desligado.

Nenhum deles tinham sentido ou visto algo assim antes! O silêncio era a melhor manifestação naquele momento! Logo depois, a energia voltou e Ciclope, juntamente com o Professor X, apareceu no Labmed, visivelmente afetado com tudo o que aconteceu.

Jean: E-ela nunca se esqueceu do Warren...

Ohana chegou perto do corpo do filho e o cobriu com o lençol. Era um alívio saber que ele estava bem, mesmo se aquilo tivesse sido uma espécie de alucinação coletiva causada pelo estresse e pelo cansaço, ninguém ali se importava! O importante era que eles estavam bem, e unidos!

Abraçada a Logan, Ohana chorou suas últimas lágrimas; mas essas eram de felicidade. Embalando-a no abraço, Logan fazia "shiiii" baixinho e pensava em um monte de coisas que viu e ouviu durante sua vida, muitas das quais pareciam fazer sentido somente naquele instante! Ele não conseguia chorar, não havia o que chorar! Porque, ao invés de acabar tudo com a morte, ela era apenas uma ponte para outra dimensão; uma, onde eles estariam juntos e felizes. Um flash de frases de Kurt Wagner – o Noturno – invadiram sua mente, várias delas sobre religião, igreja, orações etc.

Com isso, o canadense começou, pela primeira vez, a se questionar sobre a morte. Ele nunca tinha pensado Nela antes, já que era virtualmente indestrutível. Mas Ela também viria, algum dia, para ele. Teria a forma de Betsy? Ou de Mariko? Isso imaginando que ele morra antes de Ohana, porque, senão, essa seria a melhor forma que a Dama da Escuridão poderia ter!

Pensando assim, ele abraça a ruiva de forma possessiva e a faz soltar um gemido, ao que ele retorna à realidade e a solta.

Wolvie: Her... Desculpa, ruiva! Eu me empolguei nos meus pensamentos. – E, dirigindo-se ao Professor – Charlie, a gente tem que fazer alguma coisa com esse Metabolisis! Não acredito que o que ele fez foi fraco. Ao que parece, desfalcou não só a gente, ‘tô certo?

Prof. X: Está mais do que certo, meu amigo! Ele atacou todos os Institutos do mundo ao mesmo tempo. Concordo que tenhamos que agir, mas antes temos que cuidar dos nossos. Não podemos correr o risco de sofrer mais perdas! Além do que, temos uma cerimônia para realizar... – diz isso olhando para o corpo que jazia na cama.